quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O filho de Jair Bolsonaro atravessando nas relações externas

Quem afinal representa o deputado Eduardo Bolsonaro na sua viagem aos Estados Unidos. Talvez o papai eleito presidente? Já se sabe do nepotismo que deu poder político à família Bolsonaro, mas esta viagem vem sendo uma tremenda atravessada em assuntos que não dizem respeito a um deputado federal. Nos Estados Unidos, o filho de Bolsonaro se comporta como chanceler, ditando regras diplomáticas, conceituando bem do jeitão dele mudanças nas relações externas do Brasil, uma delas a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, numa imitação do que já foi feito por Donald Trump, decisão criticada de imediato pela União Europeia e por países árabes

Existe o risco disso comprometer relações comerciais com países árabes, mas de qualquer forma, o Brasil deixa de ter uma posição independente na região, assumindo desnecessariamente um lado em um conflito violento e interminável. Mas Eduardo Bolsonaro procurou aliviar a tensão sobre os problemas sérios que podem ser criados com esta absurda decisão. Preparem-se, porque não é fake news. De fato, ele falou que para compensar, o Brasil pode se posicionar contra o Irã. Sempre segundo o inusitado diplomata, este país não é bem visto na região. “A maioria ali é sunita”, informa o estrategista, que obviamente deve saber pouco sobre o comportamento histórico dos sunitas. Mas sigamos com suas ideias. Diante disso, ele disse, como o Irã “quer dominar aquela região”, quem sabe “a gente não consiga um apoio desses países árabes”. Ah, bom, então digo eu: teremos problemas APENAS com o Irã. E estaremos ao lado dos sunitas naquele conflito. Ufa!

Este é o ritmo próprio do governo de Jair Bolsonaro. Preparem-se que vem muito mais por aí. Como é natural em pessoas acostumadas a um universo muito simples e restrito, Bolsonaro nem percebe o ridículo internacional nessa diplomacia carregada de nepotismo, ainda mais seu garoto não sendo lá uma sumidade com pelo menos algo inteligente para falar. O filho do presidente eleito brasileiro foi recebido por Jared Kushner, genro de Trump. Ficou uma situação engraçada, tipo política internacional em família.

Para piorar, o deputado fez questão de posar com um boné escrito “Trump 2020”, numa antecipação besta de uma reeleição que já está claro que não será fácil para o presidente americano. Não faz sentido buscar mais uma encrenca, entrando em uma briga que já está muito feia, entre republicanos democratas. Claro que estou falando do interesse nosso país. Mas o deputado poderia raciocinar que a mudança de governo nos Estados Unidos será exatamente no meio do mandato do pai dele.

Como diz o general Humberto Mourão, “cada dia uma agonia”. Imaginem o que vem por aí, de um presidente que nem tomou posse e permite essas atravessadas. A intromissão de Eduardo Bolsonaro é um desrespeito inclusive ao presidente Michel Temer, que certamente não é essas coisas como político nem como pessoa, mas enfim, hay gobierno. Neste caso, respeito é até uma questão de protocolo. E nesta feia atravessada tem até um componente político, ao desperdiçar o efeito internacional do próprio Bolsonaro já como presidente anunciando a mudança da embaixada. É o problema da afobação, do despreparo e da falta de planejamento. Fico na espera para saber o que Bolsonaro ganha com esses atropelos, sempre lembrando que se o valentão gosta de enfrentar problemas não precisa criar nenhum novo, porque subindo a rampa do Palácio do Planalto ele os terá de sobra.
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POR José Pires


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O deputado brasileiro com o boné com a propaganda da reeleição de Donald Trump.
Foto de Paola de Orte, Agência Brasil

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