quarta-feira, 25 de março de 2020

Olavo de Carvalho e Bolsonaro, o "olavete" mais perigoso do Brasil

Pelo que Jair Bolsonaro vem falando nos últimos dias sobre o novo coronavírus e que teve uma definição completa no discurso presidencial desta terça-feira, nosso inviável presidente resolveu ganhar projeção internacional na área médica, talvez até para levar um próximo Prêmio Nobel. Será o Nobel da “gripezinha”. Com a notória audácia dos ignorantes, Bolsonaro resolveu confrontar a opinião de quase todos os especialistas no controle de epidemias e da classe política, além de tentar ordenar aos brasileiros que saiam do confinamento e marchem em sentido contrário aos povos de quase todos os países que lutam contra o contágio do vírus.

Felizmente para os brasileiros, Bolsonaro está falando sozinho. O bolsonarismo trouxe este fenômeno político ao país, de um governante que faz uma proposta enquanto todo o país quer exatamente o contrário. O pronunciamento da noite de terça-feira não tem o apoio de ninguém, a não ser de seguidores ainda fanatizados por um mito que poupou aos adversários o trabalho de desconstruí-lo. 

Os dedos de uma só mão fazendo arminha servem para contabilizar os que acreditam na incrível tese do presidente: o dono da rede de lanches gourmetizados Madero, o Véio da Havan e também outro velhaco, o Véio da Virgínia, ele mesmo, Olavo de Carvalho, mas este não conta como simples seguidor. Ele está por detrás da construção desta, digamos, concepção de Bolsonaro sobre a pandemia que já matou mais de 15 mil pessoas pelo mundo afora e que não dá sinais de parar, grande parte da mortandade ocorrendo em países de economia muito mais forte que a do Brasil e com muitos mais recursos na área da medicina, além de melhor organização e equilíbrio social.

Nas páginas de Olavo de Carvalho nas redes sociais pode ser consultado toda a base do percurso politicamente errático de Bolsonaro nos últimos meses, a partir da agressiva confrontação pessoal com os outros poderes — que teve até incitação à militância contra o Congresso Nacional e o STF —, até chegar a estas receitas estrambóticas contrárias às ações contra o coronavírus, totalmente em desarmonia com a quase a totalidade dos brasileiros e, repito, de praticamente o mundo todo.

A página de Olavo virou um repositório de fake news em relação ao assunto, ele mesmo produzindo materiais absurdos, como a incrível tese de que até este momento o coronavírus não fez nenhuma vítima. Ele repete o tempo todo que fazem “a mais vasta manipulação da opinião pública que já aconteceu na história”. O vídeo foi compreensivelmente apagado pelo Youtube.

Na visão de Olavo, a população da Espanha está em uma alucinação coletiva ao chorar seus mortos, que nesta quarta-feira já chegou a 3.434 falecidos, ultrapassando a China, onde começou a pandemia. Do mesmo modo, se formos levá-lo a sério, os italianos também vivem um surto ilusório ao derramar lágrimas pelos mortos da maior tragédia no país desde a Segunda Guerra Mundial. Olavo afirma que o confinamento vem de uma histeria criada pela manipulação feita por poderes que ele, como sempre, não aponta com objetividade. Também não passa a informação de como arrumar leitos hospitalares para os doentes se a curva de contágio não for achatada.

É claro que o guru de Bolsonaro vem fazendo a cabeça do presidente nesta questão do novo coronavírus. Suas falas batem com o que Olavo vem publicando há meses e tudo se juntou de forma explosiva agora, na confrontação do presidente com as ações coletivas para conter a propagação do vírus. Bem, uma coisa é um velho professor disparando asneiras de seu escritório nos Estados Unidos e outra coisa muito diferente é um presidente da República repetindo os disparates no Brasil, feito um papagaio.

Olavo afeta a sanidade mental de um grupo cada vez mais reduzido de basbaques discípulos. O problema sério é que um desses idiotas políticos é o presidente do Brasil. Então passamos a ter um “olavete” que coloca em risco a integridade física de todos os brasileiros. O ensandecido professor não pensou nisso, o que é muito comum da parte dele, na irresponsabilidade com que espalha teorias absurdas, acolhidas por despreparados como se fossem ideias originais, de alta compreensão da vida humana.

O claro endoidecimento de Olavo é um problema individual, para o qual, quando situado apenas na esfera do debate político, cabe somente refutação intelectual. Já com Bolsonaro é muito diferente. O país precisa anular de forma democrática o grave perigo deste político eleito para a presidência da República, que no cargo se comporta como um Nero em seus piores momentos como imperador romano.
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POR José Pires

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