sexta-feira, 23 de julho de 2010

Bolivarianismo no osso

Mas ninguém avisa o Lula de nada? Essa agora do presidente venezuelano Hugo Chávez romper relações com a Colômbia é mais uma surpresa que vem em má hora para o nosso estrategista do olho no olho.

Até o Maradona fica sabendo das novidades do bolivarianismo antes de Lula. E esse enredo juntando as FARCS — que deve receber de Chávez não só suporte logístico em território venezuelano, como também pode estar tendo apoio militar — parece coisa combinada com o vice do candidato José Serra, que andou falando na ligação do PT com as FARC.

O assunto bate aqui na campanha eleitoral de Lula, com sua candidata à frente. E ninguém pergunta para Dilma se as FARC também estão lutando pela democracia na Colômbia, como ela diz que fazia na luta armada no Brasil na década de 70.

E os problemas que a Venezuela tem pela frente não podem ser resolvidos com o olho de Lula nel ojo de Chávez. O último petista que tentou uma conversa franca com o presidente venezuelano foi José Dirceu, o então capitão da equipe lulo-petista (ele prefere dirceu-petista), que voltou corrido de lá.

A derrocada do bolivarianismo de Chávez é um dos pontos cruciais do modelo de diplomacia implantado por Lula. E também já era. Um pouco antes dessa maluquice do rompimento com a Colômbia, Chávez já havia mostrado ao mundo o espetáculo grotesco da exumação dos restos de Bolívar.

Vale a pena assistir a este espetáculo simbólico bem significativo do estado atual da esquerda latinoamericana. Aqui tem o melhor vídeo que encontrei na internet. A atuação de Chávez é tão grotesca que a blogosfera petista ficou calada e cheguei até a ver em um importante blog governista uma gozação do vídeo. Dá a impressão que entre a esquerda brasileira Chávez subiu no telhado.

Bem, se ele não se apressar com medidas de recuperação, logo seu bolivarianismo também estará exigindo uma exumação. Não vou deixar passar o trocadilho: a Venezuela está no osso. A política chavista enfiou o país na recessão, em um momento em que todos os países da América do Sul apresentam crescimento. A inflação também está bem alta, a maior do continente. A previsão para este ano é de mais de 30% e a medida mais marcante de Chávez até agora foi a de ameaçar colocar nas ruas a Guarda Nacional para impedir que os comerciantes aumentem os preços.

É curioso como essa esquerda latinoamericana tem dificuldade de repassar e compreender informações básicas. Fidel Castro, por exemplo, poderia dar uns conselhos para seu apadrinhado. Tudo bem, que o ditador cubano não tenha com Lula essa relação de confiança, mas não é essa a impressão que temos da sua amizade com o venezuelano.

Chávez entrou numa loucura econômica de colocar o governo venezuelano à frente do setor privado em quase tudo. Seu governo quer definir até a cor dos cabelos das atrizes de televisão. Ora, com uma boa observação da história do regime cubano, que já passou por isso tudo, é seria possível evitar muitas burradas.

Nos primeiro anos da revolução cubana, o governo castrista privatizou até carrinhos de lanche (e isso não é modo de dizer ou piada minha: os carrinhos de lanche foram de fato privatizados). Era um dos pontos morais de Che Guevara como administrador.

Existem várias linhas em economia, mas ninguém discute o fato de que o Estado não pode vender cachorro-quente e nem peito de frango, como Chávez está fazendo na Venezuela. Até os chineses já compreenderam isso.

Afundada na recessão e penando com a inflação, a Venezuela está também com graves problemas de infra-estrutura, o que resultou inclusive o apagão energético atual, estranho paradoxo em um país exportador de petróleo, mas o genial modelo bolivariano conseguiu isso.

Mas alguém esperava algo diferente do bolivarianismo inventado por Hugo Chávez? Quem é sensato sabia que ia dar nisso. Mas Lula e o PT apostaram nesse projeto, tanto que passaram os dois mandatos tentando tocar para a frente esta parceria alucinada, se metendo em questões internas de países como a Bolívia, o Equador e até Honduras. E fazendo isso com políticos comprovadamente ruins da cabeça como Evo Morales, Zelaya, Rafael Correa e o redivivo Daniel Ortega, da Nicarágua.

Bem, quem se associa a maluco está fadado a administrar as loucuras inevitáveis do condomínio. Corre Lula, corre. Como o Maradona ainda está na Venezuela, além de resolver as pendengas guerreiras de Chávez pode-se até criar uma copa só para a companheirada bater uma bola bolivariana. Com um bom olho no olho, talvez até a Colômbia entre em campo. 
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POR José Pires

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