domingo, 18 de julho de 2010

Collor, Lula e Dilma: a matemática do poder sem escrúpulos

Finalmente um marqueteiro conseguiu criar um jingle que expressa de forma altamente precisa o significado da candidatura da petista Dilma Rousseff. Foi o marqueteiro do ex-presidente Fernando Collor, agora candidato ao governo de Alagoas.

O jingle trabalha com o enlace entre Lula e Collor, na forte aproximação entre eles depois que passou o ressentimento com a vitória agressiva de Collor sobre Lula na primeira eleição direta para presidente após a ditadura, acontecida em 1989.

Com poucas palavras, o marqueteiro captou o sentido das duas forças que pareciam tão díspares e que em menos de duas décadas fecharam o conhecido círculo de acomodação política tão natural na história deste país. E da união entre o significado de Collor e o de Lula, pode nascer Dilma Rousseff.

Isso é bem demonstrado pelo trecho do refrão, que fecha o jingle e coloca de forma marcante o que interessa eleitoralmente a Collor em Alagoas.

É Lula apoiando Collor
É Collor apoiando Dilma
(Pelos mais carentes!)

É Lula apoiando Dilma
É Dilma apoiando Collor
(Para o bem da nossa gente)

É Lula apoiando Collor
É Collor apoiando Dilma
(Pelo mais carentes!)

É Lula apoiando Dilma
É Dilma apoiando Collor
E os três pelo bem da gente!


O marqueteiro concentrou nessas poucas estrofes o que vem sendo discutido em milhares de reportagens, artigos e até muitos livros. Até o populismo exagerado é o tom certo dessa aliança de de seus frutos, que podem ser tanto o Collor governador como a Dilma presidente.

É um hino dessa época, a canção da alma e da razão petista. Numa outra frase do jingle está a síntese do que o lulo-petismo quer para o país. “Deixa que com o povo me entendo eu” é a frase inicial da música. É o personalismo e a atuação política acima das instituições e da lei, algo que Collor tentou e foi impedido e que foi retomado por Lula com mais sucesso.

A trajetória dos dois políticos é bastante reveladora sobre o comportamento do brasileiro, principalmente na política, onde mandam os acomodamentos que nada tem a ver com programas partidários ou ideologias. O que vale é a vantagem pessoal ou de grupos restritos, ou, numa melhor definição desses interesses, de bandos.

A inter-relação entre o presidente cassado e o que faz tudo para ser cassado — equação que no final resulta em Dilma e que o marqueteiro pegou muito bem no jingle eleitoral de Collor — serve para explicar não só este tipo de comportamento que deformou inclusive um partido que parecia incorruptível e destinado a mudar esses procedimentos comuns da nossa política ou que pelo menos subiu ao poder com esse compromisso. Essa inter-relação acabou virando linguagem, muito forte no jornalismo e na blogosfera oficial e oficiosa do PT e que também contamina a vida intelectual, especialmente a das universidades.

Fatos fundamentais na relação entre o petista e Collor são bem reveladores também sobre o comportamento do universo petista. Servem muito bem para entender conceitos e formas de agir que são vitais na manutenção desse poder.

Esse jeito de levar a vida chega a ser curioso e tem até seu lado cômico, se pudermos observar tais tretas com distanciamento emocional. Nenhum adversário agrediu Lula da forma que Collor fez, inclusive enquanto esteve no poder, no entanto o ex-presidente é poupado de qualquer crítica por dirigentes petistas e, por extensão, da rede de comunicação estimulada e mantida pelo partido e governo, espalhada por órgãos de comunicação no interior do país e especialmente forte na internet.

Ao mesmo tempo que poupam gente como Collor, este comportamento distorcido leva os petistas e simpatizantes a atacarem políticos com histórias coerentes e muito bem relacionadas com o respeito à ética e a democracia. Patifes são até adulados, já os políticos com posição crítica sofrem ataques, com o uso até da máquina de governo, em dossiês e quebras criminosas de sigilo fiscal.

Fazem o mesmo com instituições ou empresas que nem de longe podem ter seus defeitos comparados com o de Collor e a quadrilha que ele levou ao primeiro governo eleito pelo voto direto após o Regime Militar. Ou mesmo de um José Sarney, um Renan Calheiros, Romero Jucá, e tantos outros.

Este modo de agir dos petistas e seus agregados é tão fora de propósito que muitas vezes guarda em si terríveis contradições. É o caso, por exemplo, do ataque cerrado feito à Rede Globo, na repetição exaustiva de que a vitória de Collor teria ocorrido forçosamente, pela manipulação do noticiário sobre o debate eleitoral feito à época.

Ora, mesmo que concordássemos com esta visão (o que não é o meu caso), a emissora só poderia ter feito isso tendo à mão o material do próprio debate, com as cenas agressivas de Collor frente a um Lula acovardado. Anteriormente houve também os vídeos com a ex-namorada de Lula, Miriam Cordeiro, envolvendo a filha dos dois, além de outros ataques feitos por Collor e seus parceiros, entre eles inclusive outro aliado atual bem próximo do PT, o senador Renan Calheiro.

O vídeo produzido e colocado no ar pelo agora companheiro Collor pode ser visto aqui. Ainda é um jogo sujo dos mais espantosos, mesmo depois do surgimento na cena política de mensalão, aloprados, dossiês e quebras criminosas de sigilo fiscal. Nele, Miríam Cordeiro afirma que Lula lhe ofereceu dinheiro para que ela abortasse e ainda o acusa de ser racista.

E este vídeo é apenas a parte documentada das calúnias da máquina de propaganda de Fernando Collor. E o fato é que, da parte dos petistas, não se lê uma palavra contra Collor. Como se fosse uma ironia, a posição crítica sobre aquele período sujo é mantida hoje pelas pessoas que Lula e seus companheiros atacam.

Porém, contra a Rede Globo o ataque permanece agressivo, com a insistência neste raciocínio equivocado e imutável da manipulação do debate. Já o ator principal da agressão à Lula é poupado, quando não acontece de ele até ser elogiado em público pela suposta vítima. É um comportamento tão maluco que a ex-namorada e mãe da filha do petista jamais foi perdoada. É tratada até hoje como se fosse uma víbora. Mas o político que montou os ataques recebe elogios de Lula e até é abraçado com alegria, como mostra a foto.

Por isso o jingle de Collor merece ser apontado como peça histórica e seu autor tem até que ser elogiado, pela ligação eleitoral feita de forma eficiente usando a soma simbólica entre Collor mais Lula e mais Dilma, uma equação contínua que dá sempre um mesmo resultado.

Para ouvir o jingle do Collor, mais Lula e mais Dilma, clique aqui. É para ouvir no Windows Player, que irá abrir assim que você clicar. Não se preocupe, pois não há nenhum risco de que seja roubado algo de seu computador.
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POR José Pires

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