domingo, 3 de agosto de 2014

Um olhar de fora sobre o papel político do Hamas

A esquerda tem o defeito grave de sempre estabelecer de imediato um lado quando está à frente de uma questão. É que estão fazendo neste conflito em Gaza, no contra-ataque de um país a um grupo terrorista. E digo contra-ataque porque não se deve esquecer que tudo começou com a morte de três jovem israelenses. Logo depois veio o assassinato igualmente horrível de um jovem palestino. E isso com o Hamas lançando mísseis sobre Israel. Os autores da morte do palestino foram logo identificados pelo governo de Israel e presos. São extremistas israelenses. Não se sabe nada dos assassinos dos garotos israelenses, apesar de ser óbvio que o Hamas teria condição de descobrir com facilidade os autores da atrocidade. Mas o obstáculo para que isso aconteça vem de uma diferença que o governo brasileiro não tem observado nesta questão: de um lado está um grupo político extremista armado e do outro temos um país, Israel.

O erro de escolher de imediato um lado no conflito já começa por dar uma equivalência que não existe entre as partes do conflito. O Hamas é um grupo terrorista islâmico que nem é exclusivamente palestino. É um grupo de combate e de militância com financiamento e origem ideológica em países da região com regimes teocráticos, todos eles sem nenhum respeito à democracia. E já que temos no Brasil um apoio esquerdista entusiástico, é bom que se diga que os países que estão por detrás disso não respeitam as minorias e nem mesmo direitos básicos das mulheres. Neles, o Estado prende, tortura e mata uma pessoa apenas por causa da forma de fazer sexo. É preciso ter também a consciência de que o plano político e religioso é o da implantação universal desse modelo.

O Brasil não tem embaixador para chamar de volta do Hamas. Ou será que tem? O Hamas não é unanimidade nem entre os palestinos, apesar do poder extremo imposto pela força que alcançaram sobre este povo. Ou será que os que fazem uma gritaria contra Israel pensam que poderiam discutir este assunto com tal liberdade se vivessem entre os palestinos? Não poderiam. Em Israel hoje governa uma direita detestável, porém o debate é livre no país, a imprensa critica o governo e até são criados grupos de apoio aos palestinos. Onde o domínio é do Hamas a opinião só pode ser a favor de sua política.

Volto a repetir que esta é a diferença entre um país e um grupo armado. A presidente Dilma Rousseff fez parte de um grupo desses no Brasil — nos anos 60 — e talvez não tenha ainda adquirido consciência dessa diferença. Na época em que ela cometia o erro de pegar em armas os brasileiros viviam sob uma ditadura, mas aqui tínhamos na oposição uma maioria de pessoas fazendo um combate democrático ao poder arbitrário dos militares. Cada forma de agir tinha objetivos muito diferentes. A luta armada implantaria no Brasil uma ditadura comunista, o que já é muito ruim, mas em nossa situação teria o agravante de ser um regime tutelado por país estrangeiro. Documentos comprovam isso. Já a oposição democrática queria a liberdade no país, tese que felizmente foi a vitoriosa.

Hoje isso está muito claro até documentado, mas naqueles tempos um país estrangeiro democrático poderia acreditar que Dilma e seus companheiros armados eram parte representativa da oposição à ditadura brasileira e confiáveis no restabelecimento da democracia. E não era nada disso. Eram grupos isolados da sociedade, com origem ideológica e comando em países estrangeiros. E em caso de vitória passariam em armas qualquer um que discordasse, a começar pela oposição democrática à ditadura. Até fizeram isso entre eles. Pois uma visão superficial de fora sobre o que acontece em Gaza pode também criar uma imagem ilusória, numa confusão de propósitos muito perigosa.

Em Gaza temos o Hamas num papel belicoso e tutelado por forças externas. Deixar de apontar de forma consistente a influência negativa desse grupo sobre a causa palestina pode acabar fortalecendo sua posição fundamentalista de composição de uma sociedade. O Hamas busca anular as outras forças políticas da região, especialmente quem deseja uma democracia autêntica numa nação palestina. A forma que o governo do PT vem agindo até agora só contribui para a implantação de uma ditadura sobre os palestinos. Mesmo que isso possa vir de uma derrota de Israel, será apenas trocar uma opressão por outra, talvez ainda pior. É esta análise que Dilma e seus companheiros não fazem. Ou talvez façam. Nunca se deve esquecer que até hoje eles acham que estavam certos no plano de substituir uma ditadura por outra em nosso país.
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POR José Pires

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