sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Bolsonaro: quiproquó na própria casa

Desde a campanha eleitoral Jair Bolsonaro vem batendo no discurso de que sua eleição permitirá uma relação diferente com o Congresso Nacional. Seu ponto de vista é o de um governante eleito sem compromisso direto com os parlamentares, dispensando com isso obrigações políticas que poderiam emperrar as reformas que o país precisa. O processo é mágico. Por esta visão, votações na Câmara dos Deputados e no Senado teriam apenas o referencial do interesse da Nação, algo como o dístico da sua campanha: o Brasil acima de tudo.

Pois é, tem aquela frase antiga do jogador Garrincha, muito boa e engraçada, num comentário sobre um plano perfeito de jogo do técnico, que o levou a perguntar se alguém já tinha combinado com os russos. Com Bolsonaro, o descuido foi doméstico. No esquema perfeito de relação com os políticos faltou combinar antes com sei próprio partido. O PSL rachou com uma briga entre seus notáveis, toda registrada e já repassada pela imprensa, numa das mais cômicas disputas internas que já se viu na política nacional, até com um detalhe muito interessante: os bolsonaristas fazem reuniões secretas pelo WhatsApp. Vejam a falta que faz uma daquelas tias do WhatsApp que alavancaram seu candidato a presidente para explicar aos meninos que não é bem assim.

A briga no partido do Bolsonaro é por espaço e poder a partir do ano que vem na Câmara e mistura a ganância pela presidência da Casa e o comando do partido. Embolados no furdunço destacam-se Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, os dois deputados federais mais votados, e Major Olímpio, campeão de votos para o Senado por São Paulo. Em meio ao bate-boca, brilham talentos estratégicos, como o do filho de Bolsonaro, que segreda aos correligionários — mas para ficar só no grupo de WhatsApp — que por ordem do presidente eleito faz armações contra a tentativa de reeleição de Rodrigo Maia, do DEM, mas não podia ficar falando disso porque “o Maia pode acelerar pautas bombas”. O garoto é de ouro. Deve ser o Ronaldinho do presidente eleito.

O PSL começará a próxima legislatura rachado, em clima de ódio que dificilmente será aplacado com a reunião já convocada pelo presidente eleito.Ninguém adiantou se terá transmissão secreta em tempo real pelo WhatsApp. O eleitorado está ansioso, até porque com Bolsonaro no papel de pacificador é sinal de que a coisa está mesmo muito feia. Haja articulação para tamanha encrenca. Pelo visto o plano daquela relação muito fácil com a classe política terá de ser trabalhado melhor. Antes, Bolsonaro terá que organizar seu partido na Câmara. E depois disso convém não esquecer que ele terá pela frente muitos russos com quem combinar.
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POR José Pires

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