terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Sabrina Bittencourt e o confuso caso de um alegado suicídio

Houve uma comoção com o anúncio do suicídio de Sabrina Bittencourt, ativista que atuou nas denúncias de abuso sexual de João de Deus e que também vinha apontando outros líderes religiosos como abusadores. O alegado suicídio da ativista criou um impacto nas redes sociais quando veio a público no domingo em uma nota da ONG Vítimas Unidas, da qual Sabrina participava. A nota afirmava que ela se suicidara em Barcelona na noite de sábado. A imprensa passou a tratar do caso, porém sem nenhuma confirmação de fato da sua morte. Logo após, um filho de Sabrine desmentiu a versão da ONG, afirmando que a morte de sua mãe ocorrera no Líbano.

A história é confusa e cercada de versões contraditórias, o que acabou contribuindo para suspeitas sobre a veracidade do suicídio. Três dias após o anúncio da morte, até agora não houve nenhuma confirmação oficial. O filho Gabriel Baum, que tem apenas 16 anos e se apresenta em vídeos como “ativista social”, foi quem afirmou que o suicídio foi Líbano. Ele disse ter visto a mãe pela última vez em Paris, antes de ela viajar a Barcelona e finalmente para o Líbano. O que ele anda dizendo sobre o assunto também não faz sentido. Em entrevista para a revista Época, publicada nesta segunda-feira, disse o seguinte, por meio de mensagens trocadas com o repórter: "Nenhuma polícia, governo ou hospital atestará a morte de minha mãe. Não vou dar esse prazer para eles".

Outra afirmação do filho de Sabrine à Época também contribui para tornar confusa uma história que poderia ser resolvida de um modo simples, com a apresentação do atestado de óbito, obrigatório em qualquer país. A declaração de Gabriel parece coisa de panfleto esquerdista: "Minha mãe não é propriedade do Estado. O Itamaraty ou qualquer governo corrupto do mundo jamais terá qualquer informação sobre a minha mãe".

Já foi aberta uma página em memória no Facebook, mas por enquanto os posts seguem a toada usual das redes sociais: sem objetividade e apelando para a emoção. Um dos administradores da página é o filho da ativista, que publicou vários posts, mas até o momento nenhum deles com informações objetivas sobre o alegado suicídio.

A página de Facebook da ONG Vítimas Unidas trata o caso da mesma forma confusa. Maria do Carmo Santos, fundadora da ONG, que informou primeiro sobre o alegado suicídio — dizendo que ocorrera em Barcelona para logo ser corrigida pelo filho da ativista — posta vídeos em que fala de supostos perseguidores, faz lamentações pessoais sobre cansaço e problemas de saúde, mas não vai ao ponto que interessa: a confirmação da morte. A ONG que ela preside é feminista radical e a página de Facebook está envolvida nessas guerras de redes sociais, com discussões centradas em um universo muito fechado, com trocas de acusações e denúncias deterministas demais pelo grau de gravidade na vida das pessoas, sejam vítimas ou quem sofre a denúncia.

Em um texto publicado nas redes sociais, que teria sido o último publicado por Sabrine Bittencourt, ela cria para si própria o perfil de uma heróica combatente pelas vítimas de abuso, fala de perseguições e até aponta nomes de pessoas, fazendo acusações graves. O texto é escrito em tom de despedida, começando com a seguinte afirmação: “Marielle me uno a ti”. Ela também cita de forma crítica a ministra Damares Alves, o que me parece muito esquisito do ponto de vista psicológico. Soa mais como uma pontificação política, seguindo o tom, por sinal, da composição de todo o texto, elaborado de uma forma que parece querer atingir um objetivo político.

Espero francamente que eu esteja certo nas minhas dúvidas. Primeiro porque desejo que Sabrine Bittencourt esteja viva, por ela e pelos que a amam de verdade. Depois, no meu distanciamento pessoal desta confusa história, penso que a situação brasileira anda complicada demais e perigosa de uma forma que nunca se viu antes, de modo que tudo vai se complicar ainda se houve de fato um suicídio, que já vem sendo tratado pela imprensa com um emocionalismo e de forma apressada, sem a devida confirmação dos fatos. Essa imprensa atual, que corre a divulgar apressadamente tudo o que aparece, precisa corrigir com urgência esse comportamento que adere à histeria ao invés de se pautar pelo equilíbrio do profissionalismo.

Na minha visão, paixões políticas e o sensacionalismo da esquerda e da direita que atualmente influencia muito a luta pelos direitos civis e o respeito aos direitos humanos só atrapalham na resolução de problemas graves que envolvem até violência física e o domínio cruel de seres humanos. Tomara que Sabrina reapareça e resolva-se tudo isso apenas como um lamentável mal-entendido.
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POR José Pires

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