quarta-feira, 4 de maio de 2011

Senhores, o meio ambiente merece mais respeito

Pelo nível de seriedade da argumentação dos debatedores de uma questão é possível constatar num tempo relativamente curto as intenções deste ou daquele lado e descartar logo gente que pouco está interessada em aprofundar o assunto. Esta discussão sobre o Código Florestal mostra isso de forma exemplar.

Agora entrou na conversa a inflação, trazida pela CNA, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Na voz da senadora Kátia Abreu, sua presidente, ecoa na imprensa impressa e na internet a argumentação de que a não-aprovação do Código nos termos que interessam aos ruralistas vai fazer recrudescer a inflação revivida nas gestões continuadas do PT.

É lamentável que uma lição de economia tão fantástica tenha vindo tão tarde para resolver uma questão que perturbou durante anos os mais variados governos. José Sarney teria se salvado para a História com algo assim, ele fracassou de forma espetacular em vários planos contra a inflação. E o ex-presidente Collor achava que iria derrotá-la com um tiro. Pois a coisa era mais fácil do que ele pensava: bastava dar um teco no Código Florestal.

Uma organização de classe importante como a CNA deveria trazer subsídios mais sérios para um debate desses. Os fazendeiros, grandes empresários do campo e a indústria que gravita em torno do ramo podiam, por exemplo, explicar como um país como o Brasil, que nem de longe é a maior economia do mundo e muito menos o maior produtor agrícola é hoje o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Podiam também contar a razão de adotarem procedimentos na criação e engorda de animais que não são prejudiciais para a saúde humana apenas depois de forçados (e muito forçados) por países estrangeiros.

Apesar de eu ter um lado claro nesta questão, sou da opinião de que a votação da matéria no Congresso devia ter sido feita de forma mais aprofundada, buscando abrir um debate enriquecedor sobre o assunto, que, evidentemente, não termina agora na votação, seja qual for o resultado a que cheguem os parlamentares brasileiros.

Uma das falhas do processo vem do próprio relator da matéria, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB), que está num lado oposto ao que eu penso, o que me deixa bastante satisfeito, pois não há nada pior do que estar do mesmo lado de políticos como este líder comunista. Não esqueçamos que pouco tempo atrás, o projeto da vida de Rebelo era transformar o Brasil numa China ou mesmo numa Albânia, conforme ele e seus correligionários foram mudando de "farol", um termo que décadas atrás os comunistas gostavam muito para identificar a centro ideológico que os atraíam feito mariposas.

Outra falha muito grave foi a condução da parte da chamada classe produtora do campo, especialmente dos grandes proprietários representados pela CNA, que perderam a oportunidade de comparecer com equilíbrio a um debate de altíssima importância em nossa atualidade e também para um futuro com horizontes nada tranqüilos.

No encaminhamento do Código Florestal, Rebelo seguiu uma linha rígida demais. Fugiu ao papel de relator, colocando-se de pronto ao lado das forças econômicas de ruralistas e corporações e indústrias sem o interesse na preservação ambiental e, penso eu, com uma visão atrasada sobre o papel da agricultura numa Nação.

Não à toa, o comunista Rebelo e a senadora e fazendeira Kátia Abreu se encantaram um com o outro, o que não surpreende quem conhece a história do marxismo e, principalmente, sua aplicação em vários países, no chamado "socialismo real". O marxismo foi tão estúpido quanto o capitalismo na questão do meio ambiente nas décadas passadas, com a diferença que o capitalismo se renovou bastante nesta questão. É a impressionante capacidade de assimilação do capitalismo e a quase nenhuma do comunismo, uma razão essencial da sua derrocada.

Rebelo é o comunista que ainda não aprendeu que é preciso no mínimo amenizar o modelo sugador de recursos naturais que destruiu tantos países no e que foi especialmente danoso na esfera comunista. Kátia Abreu é uma liderança pré-capitalista. Tem dificuldade em aceitar até a implantação de regras trabalhistas decentemente razoáveis para os trabalhadores do campo.

Kátia Abreu e seus liderados querem o de sempre: afrouxamento de regras e anistias por terem desrespeitado leis ou até por dinheiro emprestado de bancos públicos e jamais pagos. Na defesa de seus interesses buscam fazer valer até o encabrestamento da opinião pública, sem nenhuma preocupação em atuar politicamente para uma melhor compreensão dos brasileiros sobre esta matéria tão séria e que deveria ser um ponto essencial nas suas atividades de agricultores e pecuaristas: o meio ambiente.

Ouve-se falar muito da falta de vocação agrícola por parte do Movimento dos Sem Terra, o MST, que por isso seria uma organização com um espectro basicamente revolucionário que apenas usa a questão da terra para a concretização de seus planos políticos. Concordo em boa parte sobre isso, mas o que falar do outro lado, dos ruralistas? Do mesmo modo é composto por gente que não mete as mãos na terra e pouco compreendem dos riscos dessa exploração excessiva do nosso chão, até mesmo para a sustentabilidade de seu próprio negócio.
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POR José Pires

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