quinta-feira, 5 de março de 2015

Pagando a língua

Como é bom ver um bravateiro tendo que prestar contas de suas ameaças públicas. Estou falando do ministro da Educação, Cid Gomes, que terá de ir até a Câmara dos Deputados explicar o que quis dizer exatamente quando falou que por lá tem "tem uns 400, 300 deputados achacadores". O ministro foi governador do Ceará por duas vezes consecutivas, porém é mais conhecido como irmão do Ciro Gomes. Está no ministério pela cota pessoal do ex-deputado, que durante a campanha eleitoral prestou serviço ao projeto do PT, primeiro tentando puxar o PSB para a grande aliança que os petistas sempre armam para facilitar suas vitórias eleitorais e depois batendo firme em Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tornou-se candidato e o obrigou a sair do partido. Se Campos não tivesse morrido no acidente de avião com certeza Ciro Gomes estaria na linha de frente das tropas de choque, em ataque à candidatura.

O ministro Cid Gomes é boquirroto igual o irmão e também é grosseiro. No Ceará os dois comandam a política local com mão de ferro e são capazes até de gestos violentos, como costuma fazer Ciro Gomes em comícios, ameaçando fisicamente seus adversários e até descendo do palanque para arrumar briga, pouco se importando com o risco para mulheres e crianças. Tem vídeo na internet mostrando isso. O costume dos dois de usar o poder para bater forte na política cearense certamente deixou Cid Gomes distraído quando ao equilíbrio de forças muito diferente no plano federal. Daí seu insulto generalizado à Câmara Federal.

O momento escolhido também não podia ser pior. O irmão de Ciro Gomes resolveu xingar os deputados exatamente quando a presidente Dilma Rousseff precisa ao menos contornar os graves problemas que ela mesma arrumou com a Câmara. Ao saber da fala do ministro, o presidente da Câmara levou ao plenário um pedido de convocação para que ele se explique. O requerimento foi aprovado, com apoio inclusive da base aliada do governo. Gostei dessa, embora saiba que isso pode estar ocorrendo só por causa dos conflitos de ocasião entre líderes parlamentares e o governo Dilma. Habitualmente na política brasileira eles costumam se acertar nos bastidores depois de jogos de cena como este.

Mas não seria mal que essa postura da Câmara virasse uma prática. Seria uma política que pode-se chamar de "falou-levou" e que podia se espalhar pelo conjunto das relações da política no Brasil, incluindo nisso a imprensa, acabando com o clima de bravatas e fofocas que a eliminou a lógica e a razão do debate político. Isso obrigaria os políticos a terem responsabilidade sobre o que sai de suas bocas. Não estou falando de perdigotos, é claro. E no geral, esta posição daria bastante qualidade às relações entre as pessoas, aumentando o nível de um país que parece estar cansado de tanto tempo na sarjeta.
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POR José Pires

Um comentário:

Anônimo disse...

O QUE PREJUDICA O BRASIL É O QUE OS POLÍTICOS FALAM OU FAZEM...??? QUE DIFERENÇA FARIA USAREM A CÂMARA E O SENADO PARA LAVAREM ROUPAS SUJAS...NÃO COMPREENDI A MORAL DA CRÔNICA...???
RONEI FLECK 01042015