Se referendar a indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixador nos Estados Unidos o Senado brasileiro vai dar um dos cheques em brancos mais arriscados da sua história recente. É evidente que o garoto do presidente Jair Bolsonaro vai ser um problema no cargo. Acho difícil que os senadores encarem o comprometimento por esta indicação imoral, com uma carga de nepotismo e favorecimento familiar de abalar a credibilidade mesmo de uma instituição que não é lá essas coisas em matéria de senso de responsabilidade.
Não é apenas o inglês de Eduardo Bolsonaro que o desqualifica para a função. O filhão de Bolsonaro esteve hoje na FIESP, em visita para pedir apoio dos empresários e sair na mídia. A notícia é de O Globo. O deputado quer que os empresários intercedam junto a senadores para facilitar sua aprovação na sabatina e na aprovação pela Comissão de Relações Exteriores e no plenário do Senado.
O nível da argumentação de Eduardo antecipa que se ocorrer de fato, essa sabatina vai ser um espetáculo. Ele procurou ganhar a simpatia da plateia apelando para a velha tática de jogar uns contra os outros, que depois de ser muito usada pelo PT agora é também um hábito da direita. “No final das contas, os senhores não são os malvadões que exploram os empregados, mas aqueles que dão o pontapé inicial na geração de empregos”, ele disse, garantindo que sua relação com Donald Trump será um diferencial nas relações comerciais com o Brasil.
Suas palavas: “Conto com o apoio dos senhores (…) para poder dizer [aos senadores] que essa abertura que tenho na Casa Branca vai ajudar muito a acelerar os acordos comerciais”. Ele vem repetindo essa bobagem desde que seu paizão anunciou que iria dar-lhe esse presente, sem que ninguém tenha lhe perguntado de onde ele tirou essa ideia de que é a partir de uma relação pessoal que os americanos pautam seus interesses comerciais. Só por esta visão provinciana e totalmente equivocada, já caberia dispensar o pretenso embaixador.
Por este raciocínio, o período que o Brasil deveria ter tido mais facilidade com os Estados Unidos seria o de Fernando Henrique Cardoso como presidente. Seus dois mandatos foram praticamente em paralelo com o governo de Bill Clinton. E nunca houve um brasileiro com tanta intimidade com um presidente americano como FHC com Clinton. No entanto, a coisa não foi fácil para o Brasil.
Caberia também questionar o deputado de influência internacional como é que ficaria se Trump perder a eleição no ano que vem. Ora, um embaixador nomeado a partir dessa premissa iria ficar numa situação difícil, não é mesmo? Se Trump não se eleger o presidente terá de chamar o embaixador de volta. E lançar nota oficial de protesto contra os eleitores americanos.
Com a estratégia sem sentido que ele e seu pai vêm tocando junto a Donald Trump, se o Partido Democrata ganhar as eleições, no popular, o bicho vai pegar. Claro que neste cenário político a grave complicação nas relações do Brasil com os Estados Unidos não dependerá de quem vai estar na embaixada brasileira em Washington. Mas é melhor que não seja o filho do presidente que berra para o mundo qual é o seu voto nesta eleição.
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POR José Pires
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