Pelas contas até agora, o presidente Jair Bolsonaro já criou problemas diretos com a França, Noruega e Alemanha, colocando-se de forma errada em uma questão essencial hoje em dia nas relações comerciais em todo o mundo, a não ser, é claro, que seu governo tenha o interesse em estabelecer parceria preferencial com países despreocupados com o desmatamento, poluição, enfim com a desatenção a problemas locais que contribuem para o aquecimento global.
As encrencas de Bolsonaro se devem à sua língua grande e a dificuldade de compreensão, em proporção inversa à quantidade de bobagens que expele toda vez que é confrontado com algo muito além da sua capacidade de entendimento, na maioria das vezes em questões básicas.
Bolsonaro costuma justificar seu desconhecimento, alegando que tem dificuldade em dar respostas sensatas apenas sobre assuntos do conhecimento exclusivo de especialistas. Isso é conversa piada. O presidente se embaralha em assuntos que saem na imprensa todos os dias. Na maioria das vezes são perguntas até bastante simples que recebem dele reações agressivas ou sem sentido, típicas de gente desqualificada que sofre quando é revelada sua ignorância.
Os problemas criados por Bolsonaro com autoridades européias nem podem ser colocados em um âmbito ideológico. Merkel é conservadora, o governo de Macron também não pode ser tido como esquerdista. Além do mais, já faz um certo tempo que esta questão que deixa o presidente muito nervoso não divide as opiniões políticas na Europa. O aquecimento global já um consenso, até porque o continente europeu já sente o efeito, com perspectivas preocupantes na saúde das populações e na agricultura. A desconfiança na atualidade entre os europeus com o tema do meio ambiente só existe entre lideranças de extrema-direita, com certa relação com um fascismo de caráter valentão, mais próximo de briga de rua do que de alguma ideologia.
O mundo andou bastante na questão ambiental. Até o chamado princípio de precaução ficou para trás, porque em muitas situações a realidade já comprova o que já vem deixando de ser projeção científica. Infelizmente neste tema a classe dirigente brasileira também ficou para trás. Até as piadas são velhas demais, defasadas em pelo menos uma década, como na repetida gracinha que se faz toda vez que numa cidade qualquer enfrenta-se uns dias de frio.
A política de cabeça-dura de Bolsonaro no tema do meio ambiente soa desse jeito, como piada velha, o que vem confirmar seu perfil de tiozão do churrasco. O perigo é que o tiozão está no mais alto cargo da República, de onde desmonta mecanismos de investigação e controle sobre o meio ambiente, elimina regras importantes. E com isso monta uma bomba-relógio contrária ao interesse nacional. Até aqui, só nos resta ter a esperança de que qualquer consequência negativa no plano mundial seja de longo prazo. Um colapso ecológico traria de imediato a necessidade de uma intervenção de países preocupados com a própria sobrevivência de suas populações.
Mas não é preciso temer apenas o futuro. O boquirrotismo bolsonarista já traz consequências negativas de alto peso. Pode-se esquecer a abertura do mercado europeu, no acordo de livre comércio que ligaria Mercosul e União Européia, que viria bem não só pelas necessidades urgentes da nossa economia como também pela relação direta com um continente onde existe um vigor de cultura e inteligência, com as tecnologias para enfrentar os dilemas que na atualidade colocam em risco muito mais que a economia mundial. Mas no nosso caso, já está mais que claro que só vai dar pra fazer algo de bom acontecer globalmente para o Brasil quando Bolsonaro não estiver mais no poder.
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POR José Pires
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