segunda-feira, 2 de abril de 2012

A MPB na reta da aposentadoria

Em show lotado neste sábado, no Rio, Nana Caymmi, a grande Nana Caymmi, anunciou sua aposentadoria. "Já dei o que tinha que dar. Estou me aposentando aos poucos. Tenho 50 anos de disco e ganhei um de ouro. Então, eu quero que o mundo se exploda. Hoje a música é outra, é bumbum, é aeróbica", ela disse.

Nana Caymmi é brincalhona, desbocada, e isso pode ser só um desabafo dela. Seu irmão, Danilo, diz que “é cascata”, e que a cantora tem vários compromissos marcados.

Esperamos que seja mesmo só cascata. Nana Caymmi está com 70 anos e mantém o prestígio da grande cantora que sempre foi. Está com público também. Os números da sua apresentação no Rio me deixaram feliz: 2.500 ingressos postos à venda se esgotaram com antecedência.

Mas ela tem razão quando diz que “hoje a música é outra, é bumbum, é aeróbica". Pode aparecer até quem diga que sempre teve esse tipo de coisa no Brasil. Mas do jeito que está está, com este lixo cultural tomando todos os espaços, assim nunca foi. Nunca vimos este país dominado desse jeito por tanta coisa ruim.

É de se temer o efeito disso para a nossa cultura. Que país vai se formando com o abandono da qualidade musical que sempre foi um ponto forte por aqui?

Logo saberemos. Mas um efeito desse domínio do lixo é que ficou impossível ouvir algo de bom em lugares públicos, com a música bem feita fazendo parte do cotidiano do brasileiro. Ouvir música boa hoje só é possível na nossa própria casa e mesmo assim bem baixinho para que o vizinho não reclame da nossa música atrapalhando o sertanejo universitário dele.
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POR José Pires


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Imagem: Capa de "Sem poupar coração", o último álbum de Nana Caymmi, que faz 50 anos que vem cantando o que há de melhor e fazendo isso da melhor forma.


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