quinta-feira, 19 de abril de 2012

O lugar da mulher

Em poucos lances, o ex-presidente Lula demoliu nos últimos dias um conceito de marketing que foi muito importante na eleição de Dilma Rousseff: o da presença dela na presidência da República como uma conquista política das mulheres brasileiras. Nunca vi nisso senão enganação, ainda mais no caso de uma candidata totalmente tutelada e imposta por um dedaço do então presidente. Porém, independente da minha visão sobre o engodo, muitos eleitores votaram em Dilma levados por este argumento político.

E o que vem acontecendo desde que ela tomou posse é o contrário da sua valorização como mulher. De uma forma que soa até como escracho, os brasileiros vêm tomando conhecimento que neste governo a mulher que está na presidência não manda nada.

É de forma humilhante que Lula vem passando por cima do poder da presidente. Isso vem acontecendo desde a formação do governo Dilma, com os melhores cargos tomados por indicações dele. Mas ele nem dissimula mais sobre o peso decisivo de seu poder. Agora, de forma agressiva ele tomou a frente das operações políticas que resultaram na criação da CPI do Cachoeira e convoca e dirige reuniões com líderes da base aliada como se fosse dele o poder presidencial.

Nesta semana Lula tem despachado no Hospital Sírio-Libanês, onde está em tratamento contra o câncer. Lá, recebeu nesta quarta-feira o vice-presidente da república, Michel Temer, o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves. Na segunda-feira, ele já havia se reunido com os líderes no Senado do PMDB, Renan Calheiros (AL), e do PTB, Gim Argelo (DF), e o do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e também com o ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Lula também dá ordens ao presidente do PT, o deputado Aluizio Falcão (SP). Além disso, enquanto Dilma viajava para os Estados Unidos ele ordenou uma reunião dos ministros em Brasília para avançar na questão da CPI do Cachoeira. Os participantes não avisaram Dilma. Estavam presentes Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, Ideli Salvatti, das Relações Institucionais. Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, além do governo na Câmara e no Senado. Tudo o que foi colocado por Lula foi aprovado por todos.

Evidentemente, essas são maquinações suas que a imprensa conseguiu descobrir. Não se pode esquecer que nos bastidores o ex-presidente deve estar exercendo de forma ainda mais firme o controle de um governo que deveria ser de Dilma.

E isso porque a presidente da República já havia tido uma longa reunião com ele, quando expôs sua opinião desfavorável à abertura de qualquer CPI, em razão dos riscos que isso pode oferecer ao seu governo. Lula não aceitou as ponderações da presidente e continuou tocando as coisas da mesma forma que vinha fazendo.

O papel que Lula vem desempenhando nos últimos dias é essencialmente uma afronta aos valores da República, que tem no poder presidencial um conceito até de preservação do sistema político. Mas muito mais que isso, o ex-presidente vem submetendo a presidente da República a uma humilhação pública. Com isso, ele também afronta as mulheres brasileiras em seu direito de ocupação igualitária dos espaços profissionais e políticos.

Afinal, na eleição de Dilma diziam que o Brasil estava elegendo sua primeira mulher presidente. E agora Lula está mostrando que quem manda é ele.
.....................
POR José Pires


....................
Imagem: Dilma e Lula em propaganda eleitoral. A promessa de mais poder para a mulher era só mais uma peça de campanha.


Nenhum comentário: