quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ética é coisa do passado

O ex-governador Olívio Dutra disse anteontem em entrevista à Rádio Guaíba que o mensaleiro José Genoíno não devia ter assumido o mandato de deputado e não demorou para vir um ataque pesado de dentro do próprio PT. Quem deu a bronca foi o deputado André Vargas, secretário de Comunicação do partido. O ataque foi feio e com certeza é coisa combinada com os de cima. A bordoada forte é para evitar que haja ecos internos no partido das críticas feitas por Dutra, que disse inclusive que sua saída do Ministério das Cidades ainda no primeiro mandato de Lula foi para o governo oferecer cargos em troca de apoio .

O deputado lembrou que Olívio Dutra recebeu o apoio dos companheiros de partido quando teve seu indiciamento pedido pelo Ministério Público, em 2002. Ele era então governador do Rio Grande do Sul e foi acusado de conivência com o jogo do bicho. O assunto foi tema de CPI na Assembléia estadual. E para deixar o recado ainda mais claro, Vargas ironizou a demissão dele do cargo de ministro. “Ele não superou a saída do Ministério das Cidades”, ele disse.

A fala do deputado André Vargas: “Quando ele passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo. Para quem teve a compreensão do conjunto do partido em um momento difícil, ele está sendo pouco compreensivo. Ele já passou por muitos problemas, né?”

Olívio Dutra é figura histórica da maior importância no PT. Surgiu no sindicalismo gaúcho e foi o primeiro prefeito petista de Porto Alegre. É um dos primeiros fundadores do PT. Está nas fotos do dia da criação do partido, no Colégio Sion, em São Paulo. Aparece ao lado de Lula e do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Em 1986 foi eleito deputado federal e dividiu apartamento em Brasília com o então colega constituinte Luiz Inácio Lula da Silva.

Estou situando o alvo do ataque do deputado petista para mostrar como estão as coisas no PT. Hoje é um outro tempo. Um partido que vive uma situação em que pode mover sua bancada de deputados para defender uma Rosemary Noronha (Rose, na intimidade) e chamar para isso até o ministro da Justiça não vai admitir de forma alguma que uma voz importante traga divergência ética e ainda mais pública sobre uma questão que parece até programática: a defesa incondicional da cúpula do partido condenada à prisão pelo Supremo Tribunal Federal.

Vargas pegou pesado com o companheiro Olívio Dutra, o que é bem seu estilo. Ele é homem de José Dirceu no partido. O deputado já andou fazendo ataques grosseiros à oposição e à imprensa e também aos ministros do Supremo. Atua firme na defesa da trinca de quadrilheiros condenada à prisão pelo STF: José Dirceu, Genoíno e Delúbio Soares.

Jamais tive simpatia política por Olívio Dutra. Porém, numa comparação de valor histórico e capacidade política o deputado que o atacou perde longe, bem longe. Se ele não tivesse a guarida política de camaradas graúdos como Dirceu nem estaríamos falando hoje em dia de alguém como André Vargas. Mesmo se fosse eleito deputado, seria um dos mais obscuros do time do baixo clero, aqueles que saem no noticiário nacional apenas quando estão envolvidos com ladroagem.

Mas é um fato que na atualidade o deputado é uma das figuras mais importantes do PT e isso diz muito sobre os caminhos tortos do partido onde Olívio Dutra brilhou e hoje é uma figura menor. Daquela memorável noite no Colégio Sion para cá o PT amassou muita lama e a origem ética é só um rastro quase apagado lá atrás. Se a cerimônia fosse hoje, com certeza o companheiro Lula preferiria ter ao seu lado não o bigodudo sindicalista gaúcho. Talvez até pedisse pro Olívio dar seu lugar para a Rose.
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POR José Pires
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Imagem - Hoje a história é diferente: "Ô Olívio, sai daí para dar lugar para a companheira Rose..."

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