quinta-feira, 2 de abril de 2015

Disse que não disse

Sei que o governo do PT já tem ministérios demais, o que não é culpa exclusiva da presidente Dilma Rousseff. Isso vem do projeto de um partido que tem no fatiamento do Estado uma forma de se perenizar no poder manipulando a gulodice dos políticos por cargos e benefícios pessoais. Dilma já está com 39 ministros, mas devia criar mais uma pasta: o ministério da tradução do que realmente sua equipe quer dizer e do significado do que eles fazem. E como para o PT não existe mesmo esta divisão republicana entre Estado e partidos, o novo ministro poderia ajudar os brasileiros a entender inclusive o que dizem os líderes do PT.

Essa confusão entre o que é dito e seu real significado não é de hoje, mesmo que vários jornalistas e articulistas escrevam como se estivessem contagiados pela retórica petista, avaliando o governo Dilma como se este existisse isolado do projeto petista. Já com Lula presidente este ministro explicador teria bastante trabalho. Com a própria Dilma aconteceram vários episódios ainda em seu primeiro mandato, quando uma liderança do governo dizia algo muito claro e logo aparecia um porta-voz governista ou mesmo a Dilma explicando que não era bem aquilo que havia sido dito.

É um governo bizarro. A gente ouve uma coisa e eles dizem que foi outra. Ainda no começo do mandato anterior de Dilma ficou famoso o episódio em que o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que "os idiotas perderam a modéstia". Foi um pouco antes de sua demissão do cargo e é claro que ele se referia aos colegas petistas, restando como única dúvida se havia a inclusão da própria presidente da República no rol de idiotas imodestos. E modesta ela também nunca foi. A coisa é antiga, mas é verdade que ultimamente aumentou bastante o número de frases e atos que o governo do PT diz que não entendemos bem. Um dos últimos foi do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, numa colocação feita em palestra na Universidade de Chicago, quando ele disse o seguinte: "Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil, mas... Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno".

Pois querem saber o que entendi na primeira vez que eu li essa espantosa declaração? Eu entendi que o ministro da Fazenda quis dizer que Dilma tem um desejo genuíno de acertar, mas não tem a capacidade de efetivar o que quer. É muito simples. E isso que ele disse na palestra em Harvard os brasileiros sentem no cotidiano, sem falar nos “desejos genuínos” dela que felizmente não são colocados em prática, como naquela vez que ela propôs ao mundo o diálogo com os terroristas cortadores de cabeça do Estado Islâmico.
Mas, voltando às palavras do ministro Levy, até agora o governo vem tentando nos convencer de que ele não disse aquilo que ele disse. E é desse jeito com muitas outras falas, até mesmo de gente do governo que é pega em maracutaias e diz coisas que não são bem aquilo que disseram, entenderam? Bem, sei que tantos ministérios já pesam demais no bolso dos brasileiros, mas podiam fazer só mais um para explicar afinal o que esse pessoal anda dizendo.
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POR José Pires

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