segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Cesare Battisti, a herança do PT que ninguém manda embora

Ao tentar viajar para a Bolívia de forma clandestina o terrorista italiano Cesare Battisti transgrediu normas elementares de asilo político e até de respeito pessoal ao país pelo qual foi acolhido. Com isso, deu ao presidente Michel Temer uma oportunidade política para decidir pela sua extradição para a Itália, onde é condenado por crimes violentos. A extradição de Battisti ajudaria a reconduzir o Brasil a uma imagem de um pouco mais de respeito à verdadeira Justiça no plano internacional, no que se refere a indivíduos que usam a política para extravasar índoles de pura crueldade. Bastaria uma assinatura de Temer para despachá-lo para resolver suas pendengas com seu próprio povo, mas aí Temer teria de ser o que nunca foi e nem conseguiu chegar perto, mesmo com a oportunidade que o destino lhe deu: um estadista.

Já se sabe que tudo estava pronto para resolver o caso de Battisti, inclusive com um avião da FAB à disposição para levá-lo para a Itália. Porém, no último momento Temer teve a mão segurada por Gustavo Rocha, advogado que comanda a assessoria jurídica do Palácio do Planalto. Ele impediu o presidente de assinar o documento. A revelação é do jornalista Rocco Cotroneo, do Corriere della Sera. E o assessor Rocha (ora vejam: uma daquelas informações ao revés, de que tanto falo) é advogado de Eduardo Cunha, o deputado corrupto que foi preso pela Lava Jato. As histórias se cruzam. Com um mau resultado, como sempre.

A história de Cesare Battisti também faz cruzamento com o que há de pior no projeto de poder do PT, seja na má índole de vários de seus dirigentes ou da ideologia inclemente que faz uso do que for necessário para se impor. Battisti é um dos pequenos bandidos que se juntaram ao extremismo de esquerda na Itália no final do século vinte. O terrorista é condenado por quatro homicídios, todos com vítimas sem nenhuma relação com política. O grupo que acolheu o ladrão (era isso que ele fazia antes) chamava-se Proletários Armados pelo Comunismo e era um dos bandos de extrema-esquerda que aprontavam horrores na Itália dos anos 70, época em que a Brigada Vermelha sequestrou e matou o líder democrata-cristão Aldo Moro, então primeiro-ministro italiano. Cabe lembrar que a Itália vivia em plena democracia, inclusive com o Partido Comunista e outras agremiações comunistas na legalidade.

O asilo a Battisti não é algo à parte do modo petista de fazer política. Está plenamente inserido na visão de poder do PT, tanto é assim que na acolhida do criminoso houve um grande esforço do próprio ministro da Justiça no segundo mandato de Lula, o dirigente petista Tarso Genro. O Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) já havia rejeitado o pedido de refúgio. Lula teve também a oportunidade de assinar a extradição, decidida pelo STF com a condição da autorização presidencial, mas não o fez. O fator político do apoio a Battisti vem de laços ideológicos do partido de Lula anteriores à sua fundação, do modo de pensar de dirigentes com relação ideológica antiga e até sentimental com o regime de Fidel Castro e de outros países comunistas. Gente que até hoje não julga condenável este passado. Ao contrário, ainda acreditam que este é o caminho.

O caso de Battisti tem inclusive forte semelhança com a estranha ligação do PT e inclusive de Lula, de forma pessoal, com os seqüestradores do empresário Abílio Diniz, terroristas egressos do movimento comunista MIR chileno que praticaram o crime no Brasil exatamente nos dias anteriores à eleição presidencial de 1989, que Lula perdeu para Fernando Collor. Mesmo tendo sido prejudicados pelo episódio, o PT e Lula mantiveram incondicional apoio aos criminosos, que foram presos. A estranha relação de dependência ideológica e sentimental até hoje não ficou bem explicada. Temer teve a oportunidade de simbolicamente fechar as portas para esse tipo de política. Mas deu para trás e deixou tudo do mesmo jeito que estava.
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POR José Pires

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Imagem- O agradecimento de Cesare Battisti em janeiro de 2012, no encontro com Tarso Genro, já no governo do Rio Grande do Sul

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