terça-feira, 12 de junho de 2018

Bolsonaro e a solução para acabar com a pobreza

Jair Bolsonaro nada entende de economia, conforme ele mesmo já confessou, no entanto ele tem uma receita muito própria para resolver o grave problema da desigualdade social: basta que os pobres não tenham mais filhos. O presidenciável defende um rígido controle da natalidade para a população mais pobre e faz isso bem do jeitão dele. É impressionante a capacidade de síntese de Bolsonaro na defesa das asneiras que lhe vem à cabeça. “Quem não tem condições de ter filhos não deve tê-los”, ele disse, deixando claro que não temia a repercussão. “É o que defendo”, ele disse, “e não estou preocupado com votos para o futuro”. Era uma valentia de ocasião, vinda de um político com uma carreira de horizonte reduzido, que jamais esperaria um dia ser levado a sério. Uma presidência, talvez até a de qualquer clube de militares de reserva, era algo fora de seu alcance. A fala de Bolsonaro é de dez anos atrás. Foi recuperada pela Folha de S. Paulo e publicada nesta segunda-feira.

Parece que o candidato antevia um programa de governo para atacar vários problemas nacionais, concentrando a solução na restrição da parição entre os pobres. Sua medida atingiria também outro grande pepino, o da Educação. É melhor colocar a explicação na singular forma de expressão dessa sumidade da política brasileiro. “Não adianta nem falar em educação porque a maioria do povo não está preparada para receber educação e não vai se educar”, ele disse, completando com sua mágica solução: “Só o controle da natalidade pode nos salvar do caos”. Na fala desencavada pela Folha, ele junta também a pena de morte ao controle de natalidade (“rígido”, conforme ele diz), como remédios eficazes contra a violência.

Quando falou essas coisas em 2008, Bolsonaro acenava para um universo eleitoral restrito, de onde tirava o que bastava para manter sua carreira de deputado e a eleição de seus filhos. Sua longa carreira e a da família foi sustentada durante muitos anos por fortes declarações desse tipo, com propostas radicais e até violentas, sempre procurando embates que lhe dessem projeção. Mas ficava só nisso, sem ir além da retórica da grosseria e do apelo a medidas extremas. Sua atuação parlamentar é uma das mais fracas em proposições de leis e na influência sobre os trabalhos da Câmara Federal. Foi sempre um deputado do chamado baixo clero, sem empenho na formulação de projetos e com pouca capacidade de influir no debate dos problemas nacionais.

A impressionante coleção de besteiras que saíram da sua boca em sete mandatos consecutivos vinha da ocupação exclusiva com a manutenção dos votos para as eleições consecutivas, garantindo também as de seus filhos. Adulava um eleitorado adepto de soluções violentas. As barbaridades que dizia eram uma sedução a quem acredita que o uso de medidas radicais serve para resolver qualquer questão. O problema é que agora, como presidenciável bem situado nas pesquisas, suas obrigações vão muito além da contemplação dos preconceitos e ressentimentos de uma parcela menor de eleitores.

A extraordinária popularidade que caiu sobre Bolsonaro, de uma forma que até para ele foi uma grande surpresa, vem fazendo os jornalistas desencavarem esse tipo de pérolas, que são um tesouro para os adversários. Com sua truculência, ele produziu um vasto material para os rivais usarem contra sua candidatura. O presidenciável vive uma versão pessoal da famosa frase atribuída ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ele jura nunca ter dito, mas que grudou no tucano do mesmo jeito, aquela com o pedido para esquecerem o que escreveu. Como em matéria de escrita Bolsonaro é praticamente do mesmo nível do ex-presidente Lula, ele vai acabar implorando apenas que esqueçam o monte de besteiras que falou.
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POR José Pires

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