quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Bolsonaro e Luciano Bivar: não tem mais negócio entre os parceiros do PSL

O Brasil acordou nesta terça-feira com a notícia sobre a Polícia Federal cumprindo mandado de busca e apreensão em endereços ligados ao deputado federal Luciano Bivar, presidente do PSL. Como se sabe, o presidente Jair Bolsonaro tem um conflito com o deputado, numa briga em público pelo controle do PSL, que envolve a dinheirama do fundo partidário.

Em 2019 o partido presidido por Bivar deve ficar com R$ 115,1 milhões. Há poucos dias, em matéria sobre as encrencas entre Bolsonaro e Bivar, o jornal O Globo fez a soma do quanto vai ganhar o PSL com o fundo partidário e o fundo eleitoral. Estão sentados? O partido vai ficar com 737 milhões de reais.

Ter um partido na mão, mesmo que seja um partideco, é um negócio tão lucrativo quanto fundar uma igreja. Por isso mesmo certos salafrários montam um partido depois de fundar a igreja. A briga pelo controle do PSL, com Bolsonaro no ataque tendo ao lado os três filhos, vai demolir o PSL e prejudicar ainda mais a base política do governo, que já não tem unidade alguma.

De fato, Bolsonaro é um fenômeno: nem com a caneta na mão consegue reunir em torno de uma base política sólida. Incompetente como nenhum outro presidente anterior, ganha até de Fernando Collor na incapacidade de articulação. desse jeito vai passar todo seu governo fazendo compras no varejo.

Políticos como Luciano Bivar merecem rigorosa investigação, sendo evidente que em um sistema partidário decente ele teria dificuldade até para entrar em um partido, quando mais ser o dono. No entanto é muito curioso como esta operação da PF se ajusta de forma perfeita ao interesse do presidente da República.

No mínimo, tudo isso dá a impressão de que Bolsonaro andou se articulando, mesmo que do jeito dele muito conturbado, aproveitando-se de informações confidenciais. Esta operação da PF levou dois meses para ser autorizada. Dá tempo para muita manobra. Se além de sistema partidário decente, neste país houvesse também mais atenção ao cumprimento de leis, a situação poderia ficar complicada para o presidente.

Na semana passada ocorreu um estranho diálogo entre Bolsonaro e um desavisado que estava entre o pessoal que costuma ficar à espera do presidente na saída do Palácio do Alvorada. O sujeito apontou a câmera do celular e disse: “Eu, Bolsonaro e Bivar, juntos por um novo Recife”. Imediatamente, Bolsonaro falou: “Esquece o PSL, tá ok? Esquece”. Depois, ainda pediu “Cara, não divulga isso, não. O cara [Luciano Bivar] está queimado para caramba lá. Vai queimar o meu filme. Esquece esse cara, esquece o partido”.

Não tem como deixar de desconfiar que Bolsonaro seguia um roteiro estabelecido a partir de informações de bastidores, para lá de privilegiadas. Sim, eu sei que não tem presidente que não tenha feito isso, mas explicitamente desse jeito é algo inédito. Cabe a suspeita do uso do cargo em proveito próprio, na disputa de poder dentro do partido que no ano passado acolheu às pressas sua candidatura a presidente. Sendo comprovado, isso configura crime, além de não haver dúvida de que é absolutamente imoral.

Mas é claro que para ir a fundo nisso teríamos que ter um sistema partidário decente, além de existir o cumprimento de leis, conforme o que eu já disse anteriormente quando relacionei os fatos a um país que ainda precisa sofrer reformas rigorosas de alto a baixo.
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POR José Pires

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Imagem- Bolsonaro faz pose festiva com Luciano Bivar, no dia em que fechou negócio
para sua entrada no PSL, em março do ano passado

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