Em entrevista à imprensa, posou de analista dos efeitos da internet sobre a mídia impressa. Como sempre, deve ter recebido de seus assessores explicações resumidas sobre sobre o assunto e já fala como especialista. E como das outras vezes, claro que saiu bobagem.
Vejam o que ele disse: “O jornal [impresso] fica tão velho que todos os jornais criaram blogs para informarem seus leitores junto com os internautas do mundo inteiro”.
Os jornais criaram blogs, é verdade. Mas para informarem seus leitores, antes os jornais criaram sites. E ao menos por enquanto e muito mais no Brasil, destes sites é que vem a maior parte das informações que são transformadas em conteúdo da quase totalidade dos blogs.
Só estão fora desta influência direta os blogs com o conteúdo exclusivamente pessoal, mas estes, em sua maioria, são de uma espécie muito particular. E mesmo quando são muito bem escritos e lidando com criatividade com as ferramentas da WEB não me parecem se alinhar na categoria. Estão mais para diários pessoais ou obras com um tom próximo da literatura, sem a interferência direta que se espera de um blog.
Os sites nascidos da imprensa ainda são o suporte da internet atualmente. A Folha de S. Paulo, a revista Veja, o Estadão, e tantos outras publicações impressas, podem até estar com os dias contados como alguns prevêem, mas ainda são suas redações que dão o tom da internet brasileira. E acho que não será diferente, mesmo que tais publicações deixem de existir nas bancas. A apuração de notícias, o jornalismo investigativo, todo este trabalho cotidiano em busca de informações exige uma estrutura técnica e financeira que blog algum pode dar conta. E tem também a cooperação que só uma redação pode proporcionar para reportagens de maior fôlego.
Lua está como sempre falando besteira. E o interessante é que na tentativa de desqualificar os jornais, acabou é valorizando o objeto da crítica. O presidente inzoneiro, nosso Apedeuta Maior, anuncia que vai fazer um blog e fala... dos jornais.
A imprensa é imprescindível para a existência dos blogs, por mais original que seja a linguagem do blogueiro. Este quadro pode mudar, é claro, mas ao menos por enquanto não se vê um caminho para o total desligamento entre blogs e a imprensa. E nem longe no futuro vejo um tempo em que o blog seja um instrumento com esta autossuficiência. O que se vê, inclusive, é que a linguagem dos impressos vai dando forma ao conteúdo editorial da internet, óbviamente com as adequações exigidas.
Existe também uma confusão sobre o que pode ser definido como um blog. A definição é polêmica até entre os que vivem este processo desde o início. Lula não é do ramo. Daí a sua confusão. Ele deve até pensar que o que o seu capitão, o José Dirceu, publica na internet é um blog. E não é. É um material de propaganda política que jamais teria surgido em publicações impressas, pois o leitor não aceitaria a fajutagem.
Mas o que é um blog? Existem muitos por aí que não merecem esta definição, já que são clippings da imprensa e de sites da internet. Para mim, não basta intercalar uma rápida opinião pessoal entre um ou outro recorte de notícias para que o negócio seja definido como blog.
"Blogs" feitos desse modo são na verdade sites travestidos de blogs para fugir ao comparativo com os sites de fato ou para entrar em um nicho de comunicação mais, digamos assim, simpático. Pode ser também uma artimanha para o uso de material informativo de terceiros, muitas vezes um material de alto custo, sem o risco de complicações autorais.
Um blog exige estilo pessoal e uma interferência contínua em todo o material postado, especialmente quando a informação é colhida por outros veículos. Sem isso, o que se faz é mera pirataria de material alheio, o tal clipping de que falei.
Lula vai escrever o blog? É claro que não, já que mal sabe escrever bilhetes e comete erro ortográfico até em frases curtas, como já foi mostrado em fotografia de uma anotação rápida sua. Conforme o que disse de sua mãe, Lula também nasceu analfabeto. A diferença é que teve tempo e dinheiro para estudar e não o fez.
A manutenção de um blog também exige a busca de informação o tempo todo. E não só na internet. Aqui, os livros também tem seu papel. E não acredito que sejam dispensados em um prazo no espaço de nossas vidas. Se é que um dia isso ocorrerá.
Aliás, tendo em vista a precariedade de certas matérias primas indispensáveis para a manutenção das novas tecnologias, não está descartada uma reversão aos tempos do uso do papel. Alguns minérios essenciais estão com previsão de esgotamento para menos de vinte anos. Isso se o consumo se manter como está. Mas isso é outra história.
Continuando, a feitura de um blog exige um índice de leitura que fatalmente mataria Lula de azia. Não acho apropriado chamar de blog um espaço produzido por uma equipe muito bem paga de jornalistas, marqueteiros e toda uma variedade de profissionais ligados à comunicação. É o que vai ser feito para Lula assinar como se fosse um blogueiro.
Ademais, Lula já tem uma rede de capachos na internet que fazem blogs que podem ser chamados de Blog do Lula. É a rede de blogs oficiais e oficiosos de apoio ao governo, alguns pagos com boquinhas, privilégios e outros até com dinheiro suspeito. São os Blogs do Lula e já existem há muito tempo.
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POR José Pires