sexta-feira, 28 de junho de 2019

A Espanha dá uma mão amiga para o Mercosul

Se deve aos esforços da Alemanha e da Espanha o acordo comercial finalmente fechado nesta sexta-feira entre o Mercosul e a União Européia, depois de décadas de negociações. Foram esses dois países que atuaram para vencer a forte resistência de governantes que temem os efeitos do acordo sobre o setor agrícola da Europa.

Esta é a abertura de um mercado de altíssima importância estratégica e de grande poder aquisitivo, podendo permitir ao Brasil fugir da dependência de sua balança comercial com determinados países, entre esses a China. Além das vantagens comerciais, existe a chance da criação de associação técnica e cultural com um continente altamente desenvolvido, que sempre dispôs da melhor qualidade em arte e tecnologia.

Foi principalmente da Espanha a insistência que impulsionou este acordo histórico. O governo espanhol organizou uma carta favorável ao pacto e articulou sua assinatura por vários países. A iniciativa da carta foi do presidente espanhol, Pedro Sánchez, que é do Partido Socialista.

O empenho do socialista é uma demonstração de pragmatismo que poderia servir como uma lição política para Jair Bolsonaro, que desde que assumiu o governo vem acenando no plano internacional para políticos de direita que só rendem encrencas e idiotices ideológicas.
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POR José Pires

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Desinformação, abafamento do debate público e da busca da verdade

Em novas informações sobre o rompimento da barragem em Brumadinho, na última terça-feira a Delegacia de Meio Ambiente de Minas Gerais havia divulgado que houve uma detonação de explosivos no complexo, antes do rompimento que no inicio deste ano causou o desastre ambiental, matando ao menos 245 pessoas.

A Vale negou de imediato que tivesse havido qualquer detonação no local. Mas nesta quinta-feira a empresa confirmou ter feito detonações no dia do rompimento da barragem. No entanto, alegam que as duas detonações ocorreram depois da tragédia. Agora a empresa afirma que as bombas foram detonadas às 13h33 e às 14h30 nas minas Córrego do Feijão e Jangada. A barragem B1 rompeu às 12h28.

É muito estranho que tenham explodido bombas exatamente uma hora depois de um desastre da dimensão do rompimento de Brumadinho, mas de qualquer forma, ao negar as explosões ficou evidente a tentativa de desinformação da parte da Vale. Essas grandes empresas com atividade que trazem risco ao meio ambiente agem sempre assim, atuando com a contra-informação ao invés de facilitar a transparência.

Claro que a transparência deveria ser prioridade depois de um desastre. É uma questão de ética social, respeito à população e o atendimento do que é necessário para sanar os danos de sua responsabilidade. Mas o controle da informação começa antes do desastre. É uma prática permanente dessas empresas, com o uso do peso publicitário de sua marca nos caixas das empresas de comunicação, na chantagem financeira e o domínio de liderancas políticas, pelo que proporcionam de ganho para orçamentos de municípios e estados.

Com alto poder financeiro e político, abafam as vozes críticas, evitam o debate entre a população, não permitem a existência do jornalismo independente e de organizacões sociais que poderiam abrir espaço para a discussão séria sobre os aspectos técnicos e políticos da sua atividade. É claro que este fechamento à opinião pública é anticientífico. Quando não se pode apontar hipóteses contrárias ao sentimento imposto de que tudo está indo muito bem, fica muito mais difícil lidar com riscos e suas consequências.
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POR José Pires

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Imagem- Destruição na região de Brumadinho. Foto de Vinicius Mendonça, Ibama

Weintraub e suas tuitadas do barulho

O ministro Abraham Weintraub faz tanta besteira que nos força até a perguntar que raios de coisa esse sujeito usa para vir com suas gracinhas totalmente fora do decoro do cargo. Calma, não há uma insinuação de que Weintraub faça uso de drogas ilícitas. Nada disso. Ele pode ser um cachaceiro, por exemplo e ter suas geniais ideias enquanto enche a cara com colegas.

O próprio Lula bebia além da conta, pelo menos antes do retiro forçado em Curitiba. Francamente, não vejo problema nisso, a não ser que haja excesso e quando o sujeito procura esconder, como era o caso do chefão petista, que teve até que ser impedido pelo STF de expulsar um jornalista estrangeiro que escreveu sobre seu hábito etílico. E em muitas ocasiões públicas era evidente o abuso da branquinha.

Mas o problema de Weintraub pode ser mesmo de personalidade. E personalidade incorrigível, porque é evidente que ele pensa que suas atitudes idiotas são um diferencial de imagem que pode reforçar politicamente sua atividade e ajudar o governo. Desde o início desse governo os brasileiros esperam que se dê no mínimo uma ordem básica no Ministério da Educação, pois Bolsonaro arrumou um sujeito que parece que pensa que lacração nas redes sociais é política pública.

O ministro correu para o Twitter nesta quinta-feira para dar um pitaco sobre a prisão do militar da Aeronáutica, flagrado pela polícia na Espanha com uma maleta cheia de cocaína. A tuitada de Weintraub: “No passado, o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”.

Bem, o que se sabe mesmo é que Bolsonaro não conseguiu montar um governo com quadros qualificados, mas Weintraub extrapola o limite desta baixa qualidade. Essa tuitada irresponsável demonstra seu despreparo. Ele sequer compreende a gravidade dessa prisão, com a óbvia necessidade do governo administrar com todo cuidado este incidente para amenizar a repercussão mundial, além de evitar que o problema político cresça na proporção do desejo da oposição de esquerda.

Ora, um sujeito que não tem noção da complicação política dessa prisão de repercussão internacional não serve para ocupar um cargo de primeiro escalão e muito menos para estar no comando de um ministério. Parece que já passou da hora de Bolsonaro dar uma canetada para Weintraub dispor de mais tempo vago para tentar suas lacraçõezinhas nas redes sociais.
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POR José Pires

quarta-feira, 26 de junho de 2019

O sumiço de Paulo Guedes

Não que eu esteja me queixando de falta de animação no governo Bolsonaro, mas vocês repararam no desaparecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes? Não, ele não está em viagem para o Japão, com o presidente Jair Bolsonaro. Guedes não faz parte da comitiva que foi à reunião do G20. O motivo da sua ausência não foi divulgado.

Bem, nem é preciso dizer que a situação do ministro não é a de um “Posto Ipiranga”, como Bolsonaro vive dizendo desde a campanha eleitoral, para justificar que também de economia ele não entende nada. Mesmo a reforma da Previdência que segue no Congresso Nacional não é a de Guedes. A que ele mandou foi toda desmontada pelos parlamentares. Fizeram uma nova, aproveitando inclusive para aparecerem como os bonzinhos que excluíram as maldades do ministro. Nesta reforma não tem a marca essencial da proposta do governo, mesmo que Bolsonaro não estivesse sabendo, que seria a mudança para um sistema de capitalização.

Era o grande lance de Guedes, a salvação da lavoura, como se dizia antigamente. Como fazer sem o remédio essencial, a panacéia indispensável para evitar que o Brasil afunde estrondosamente em um buraco sem fundo? Era o que dizia Guedes, em tom de ameaça que atingia várias gerações, desgraçando o futuro até dos nossos tataranetos.

Mas não foi só com a Previdência que o ministro perdeu o comando para o Congresso. Estimulado pelo vazio de articulação do governo Bolsonaro — problema agravado pelo estilo de pouca conversa de Guedes e sua fixação obsessiva na Previdência — Rodrigo Maia puxou também para o Legislativo outros temas importantes da economia, como a mudança no FGTS, autonomia do Banco Central e a reforma tributária.

O presidente da Câmara montou uma equipe que em matéria de prestígio faz sombra para o ministro da Economia. Para cuidar da pauta econômica ele chamou Samuel Pessôa, Bernardo Appy, Marcos Mendes e Marcos Lisboa. Todos liberais, cada um deles com mais experiência na atividade pública que o ministro Guedes e juntos formando um ministério que faz do Posto Ipiranga de Bolsonaro um postinho largado de beira de estrada de terra.

Na prática, mudanças na economia estão sendo pensadas pelo Legislativo. A hábil puxada de tapete de Maia minou o respeito e a credibilidade de Guedes. Seu sumiço terá algo a ver com este desprestígio? Pode estar pensando em uma carta de demissão, planejando cumprir a ameaça que fazia o tempo todo, achando que dessa forma obrigaria os políticos a acatarem suas ordens sem nenhuma discussão.
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POR José Pires

A espera demorada pelo escândalo de Glenn Greenwald

Quando Glenn Greenwald apareceu com a notícia dos vazamentos de mensagens roubadas dos celulares de integrantes da Lava Jato já havia a desconfiança de que ele não tinha em mãos material comprovando que Sérgio Moro tivesse agido fora da lei como juiz. Um indício da falta de solidez dos vazamentos veio da primeira publicação pelo The Intercept, quando foram apresentados diálogos que não continham nenhuma incorreção grave entre Moro e promotores do Ministério Público. Quem é do ramo sabe que matérias desse tipo costumam ser editadas para serem divulgadas em série, mas jamais se começa com o conteúdo de menor impacto.

Na minha opinião, o que Greenwald e seus companheiros da esquerda esperavam era que mesmo sendo de pouca relevância, o material teria condições de criar o clima para o STF libertar Lula. Também desestabilizariam o governo de Jair Bolsonaro. Esperavam uma demissão do ministro Sérgio Moro, o que equivaleria a um enfraquecimento político muito grave desse governo. No entanto, ocorreu o contrário. Foi muito rápida a percepção da relação de fortalecimento mútuo entre Moro e a Lava Jato. Mais que isso, no chamado imaginário dos brasileiro o ministro Moro mantém o prestígio do juiz da Lava Jato.

O site de Greenwald não pode ser levado a sério do ponto de vista jornalístico. É um site ativista de esquerda, daqueles que sempre estiveram na linha de frente da defesa de Lula e do projeto político da esquerda. Greenwald nunca se preocupou com o alto nível de corrupção os governos do PT nem com a destruição econômica que gradativamente foi criada por Lula e Dilma Rousseff. No Brasil ou no exterior, suas falas sobre Lula e os acontecimentos políticos do país não diferem de qualquer militante esquerdista, desses que sem nenhum espírito crítico idolatram às cegas o chefão petista.

Depois de fazer o serviço de militante, usando seu site na tentativa de atingir Moro com vazamentos que parecem de origem criminosa, Greenwald correu para a Folha de S. Paulo procurando turbinar o material com a credibilidade de um grande jornal, mas aí ficou fortalecida a impressão de que ele não tem a posse de diálogos que impliquem no descrédito do ex-juiz da Lava Jato. A chamada escandalosas de capa para a matéria deste domingo da Folha não combinava com o conteúdo fraco da reportagem. E não faz nenhum sentido que já com alguns dias de polêmica o jornal encampasse o assunto trazendo diálogos ainda menos relevantes do que os que já haviam saído no site de propriedade de Greenwald.

Segundo a matéria, Greenwald levou tudo para a Folha, em um pacote que contém textos, áudio, fotos e vídeos. Tem até diálogos de jornalistas com procuradores, o que colocou a direção da Folha numa situação nada ética, da cumplicidade de fuçar nas conversas privadas (e essas sim com sigilo de fonte) de seus concorrentes. Mas independente da falta de respeito, o que se pergunta é onde está, afinal, a bomba de que Greenwald vem falando desde que começou a vazar conversas privadas de autoridades.

Na edição desta terça-feira da Folha, o editorial do jornal parece encaminhar este assunto à sua devida condição, bem aquém do escândalo que a esquerda esperava criar. O editorialista repete o que já foi escrito em vários lugares e foi dito por muita gente, que a condenação de Lula se deu em três instâncias, o que desmonta o raciocínio de que houve uma condenação combinada pelo celular. O texto afirma também que as mensagens “talvez tenham sido obtidas de forma criminosa”, o que para muitos é praticamente uma certeza. E diz também que “ainda não se atestou a autenticidade das mensagens”, que, digo eu, é um procedimento impossível neste caso. Não há materialidade alguma nem fonte.

Essas afirmações vindas de um editorial do jornal que há poucos dias aceitou fazer uma parceria com o The Intercept na publicação das mensagens subtraídas de conversas privadas talvez tenham sido escritas para situar o assunto em seu devido nível, como especulação política e não a bomba jornalística sonhada pela esquerda. É possível até que essa esfriada tenha vindo a partir de uma discussão interna sobre a responsabilidade do jornal. De qualquer forma, se o material entregue por Greenwald fosse de alto impacto, o leitor da Folha já teria lido a notícia no domingo. E o jornal não estaria agora publicando um editorial que parece a confissão de que o escândalo do ano deu chabu.
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POR José Pires

Governo na contramão do bom senso


A proposta de construção de um autódromo no Rio de Janeiro, com o objetivo da cidade sediar o Grande Prêmio de Fórmula 1 já em 2021, pelo menos serve para demonstrar que o eleitor do Rio errou novamente na escolha de um comando para tirar o estado da desgraçada situação em que se encontra. Com Jair Bolsonaro de animado apoiador desse despropósito, todo o Brasil tem a oportunidade de apreciar mais uma prova de um dos grandes erros coletivos da nossa história, para o qual só é páreo a eleição de Fernando Collor, em 1998, mas pelo menos ali o povo tinha a justificativa da falta de hábito, afinal não se votava para presidente neste país desde 1960.

Porém, da eleição de Collor para cá não faltou tempo para o brasileiro aprender a votar melhor. No entanto, deu Wilson Witzel no Rio e Bolsonaro como presidente da República. Por isso temos que suportar o tempo todo ideias estapafúrdias como esta, que por sinal já rendeu para Bolsonaro um papelão internacional. A única compensação que este sujeito sem noção nos dá é que sua impulsividade demole de imediato as besteiras.

Nesta segunda-feira, depois de uma reunião com Witzel e o executivo da Fórmula 1, Chase Carey, ele deu uma animada declaração em entrevista coletiva, afirmando que “há 99% de chance” do Grande Prêmio ir para o Rio. De imediato foi desmentido por Carey, o que rendeu um vídeo muito engraçado, com mais um vexame do presidente fazendo sucesso na internet.

Duvido que esse negócio vá para a frente. Já é notório entre os cartolas do mundo todo o risco de grandes obras esportivas no Brasil, pelo que já aconteceu com as Olimpíadas e com a Copa do Mundo, duas encrencas que ocorreram também no Rio. Nesta associação com políticos brasileiros existe o perigo grave da desmoralização internacional, mas a parceria pode acabar até dando cadeia.

Não é preciso se aprofundar na avaliação da condição atual do Rio de Janeiro, como de todo o Brasil, para apontar a falta de sentido prático do governador do Rio e de Bolsonaro no uso do dinheiro público. A proposta é tão absurda em meio à falência econômica do país e a permanente desgraça em que vive o Rio, que ambos caem imediatamente em suspeição.

A única justificativa para construir um autódromo no Rio hoje em dia seria para o uso do espaço para alojar desabrigados pelas chuvas, quando vier novamente aquele sofrimento de todo ano, quando se alagam moradias, comércio e indústria, encostas desabam, neste estado de calamidade que é o cotidiano de tantas cidades atualmente em nosso país.
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POR José Pires

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Imagem- O executivo da Fórmula 1 dá uma freada de 99% na animação de Bolsonaro
Foto de Walter Campanato, Agência Brasil

terça-feira, 25 de junho de 2019

O desbocado Ciro ataca: outra vez a treta é com o vereador Fernando Holiday

Ciro Gomes com certeza é um sujeito que tem bastante dinheiro, mas deve preparar o bolso para pagar mais uma indenização para o vereador paulistano Fernando Holiday, que já tem um processo contra ele, por ofensa. Ciro já foi condenado em primeira instância e dificilmente não perderá no final. Ofendeu de forma lamentável o vereador, que é um dos criadores do MBL, chamando-o de “capitão do mato” só porque Holiday, que é negro, pensa muito diferente dele sobre conceitos raciais e a forma de atuar nesta questão.

Nesta terça-feira o assunto voltou a ser discutido com Ciro no programa Morning Show, da rádio Jovem Pan. E o candidato derrotado recentemente na eleição para presidente da República fez um ataque ainda mais violento ao jovem parlamentar do MBL. Chamou-o de nazista. Foi tudo bem do jeitão do Ciro, que nunca fundamenta as desqualificações que faz a quem não pensa como ele. Para o político cearense, dizer que alguém é nazista, xingar a mãe, chamar de corno ou corrupto, tudo é a mesma coisa.

Certamente receberá outro processo, mais um previsivelmente com decisão contra ele. Por sinal, no programa da Jovem Pan, Ciro até faz um desafio nesse sentido. Ele costuma falar suas besteiras e pedir que o processem, como se isso validasse seus argumentos ou, sei lá, fosse uma comprovação de que ele é um cabra muito macho. Pois isso para mim é uma ofensa também ao trabalho da promotoria, dos juízes, de quem faz valer a lei neste nosso país. E tem lei para punir este comportamento lamentável, que é ainda pior vindo de quem deveria dar bom exemplo, já que tem um papel político importante.

Já passou da hora de Ciro parar com esta continuada postura de desrespeito não só aos adversários como também à Justiça. Consertar caráter não é serviço da Justiça, mas existem meios para obrigar o sujeito a ter mais respeito com o próximo. Como ele dá prosseguimento às ofensas, se gaba disso e ainda desdenha a autoridade que o acabou de condenar, talvez fosse o caso de aplicar-lhe uma condenação pelo desafio jocoso, com uma indenização bem pesada, bastante alta mesmo, afinal é a pedido do réu.
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POR José Pires

O Lula livre e a liberação da impunidade para toda a criminalidade

Não deixa de ser muito lucrativo politicamente a exploração que Lula e seu partido vêm conseguindo obter com o vazamento de conversas de Moro e de procuradores da Lava Jato divulgadas pelo site The Intercept, de Glenn Greenwald. A manipulação política desses vazamentos, agora compartilhados por Greenwald com a Folha de S. Paulo, serve também ao propósito da vitimização de Lula e do PT internacionalmente, além de se encaixar na sua defesa jurídica.

Tudo isso é um atraso preocupante para um país com tamanhas complicações e que mereciam, ou melhor, exigem prioridade, mas o caso serve pelo menos como demonstração da capacidade de articulação da esquerda, que por meio do esquema de poder petista estabeleceu uma estrutura que ainda se mantém com vigor em variadas instituições.

Existem também interesses poderosos fora do projeto político da esquerda, de juízes que temem a continuidade do rigor da Lava Jato, além de bancas de advocacia que há décadas ganham muito dinheiro com o interminável rolar de processos na viciada maquina da Justiça. E que não se pense que esta geringonça de fazer fortunas se atém ao crime do colarinho branco. Também rolam milhões na defesa do crime organizado, de chefões do narcotráfico, de qualquer ricaço que tenha matado em alguém ou se envolvido em crime, precisando se manter acima da lei. A prisão em segunda instância acaba com uma mina de ouro.

O montante da lucratividade política com esses vazamentos é ainda mais interessante se atentarmos para o quase nada que até agora apareceu de relevante nas conversas que primeiro saíram no The Intercept e passam a ser exploradas pela Folha de S. Paulo. De fato, Glenn Greenwald é um grande empreendedor. Tem recebido uma atenção desmedida simplesmente ameaçando com revelações de alto impacto, que diz ter em mãos, mas que não apareceram ainda, três semanas depois da primeira publicação muito mixa. Neste domingo, a Folha soltou reportagem com alarde na chamada de capa, mas outra vez sem nada de relevante.

O objetivo desse pessoal é evidentemente beneficiar Lula e desmoralizar a Lava Jato. Para isso, já faz tempo que a Folha de S. Paulo vem pautando matérias e até pesquisas pelo Data Folha, o instituto da mesma empresa que edita o jornal. Então não chega como grande novidade a associação com o The Intercept. A esquerda quer Lula livre, sem ter nenhuma preocupação com o que pode vir junto, num pacote de impunidade que deve beneficiar até o crime comum. Tampouco se sensibilizam com o risco social do clima de desesperança que pode ser criado no país. O negócio é soltar Lula e acabar com o ritmo de Lava Jato que o povo aplaude.

Com os vazamentos, queriam a queda de Moro. Isso só não aconteceu por causado do efeito inesperado, com a revelação de relação estreitíssima da imagem de Moro com a da Lava Jato. Ambos são indivisíveis na percepção da população, como sinônimos de Justiça e fim da impunidade dos poderosos. Outro questão, sobre a qual pouco se fala, é a esperança dos brasileiros de que a seriedade e o rigor da Lava Jato se aplique também ao crime comum. Por isso não se deve descuidar do interesse dos grandes chefões do crime organizado no clima de impunidade que a esquerda vem procurando criar de forma absolutamente imperdoável.

Como juiz, Moro é autor de uma sentença que pode ser situada historicamente com uma das manifestações jurídicas mais importantes da necessidade do controle das grandes organizações do crime no país. Ele condenou Fernandinho Beira-Mar a 29 anos e oito meses de prisão em regime fechado. A mulher e um filho do traficante também foram sentenciados.

Beira-mar comandava um esquema criminoso que envolvia muito dinheiro, com movimentações inclusive em compra de gado e fazendas. E fazia isso da cadeia. Na época, Beira-Mar vivia trocando de presídio, mantendo-se no comando de sua quadrilha. Até que foi parar em Catanduvas, no Paraná, quando entrou na jurisdição de um juiz muito sério sobre o qual só muitos anos depois o país teria notícias.

A condenação foi em agosto de 2008. Lula já havia escapado do mensalão, embora toda a cúpula do PT tenha sido condenada. Sérgio Moro era praticamente um desconhecido. Atualmente, ele é acusado até do prestígio e da fama que adquiriu em razão do seu rigor com criminosos de colarinho branco. Mas não existiam nessa época os holofotes de televisão e a falação e likes em redes sociais. Nesse confronto com bandidos perigosos e violentos, o juiz Moro, a Polícia Federal e o MP sustentavam-se apenas com a coragem pessoal de cada um.

Uma afirmação de Moro na sentença contra Fernandinho Beira-Mar tem uma interessante relação com o que vive o Brasil hoje em dia. Vejam o que ele escreveu: “Pelas circunstâncias dos crimes, é de se concluir que o condenado faz do crime a sua profissão”.

Pode-se fazer um Control C e Control V, aplicando a frase diretamente ao ex-presidente Lula, que cumpre pena em Curitiba e que tem seus companheiros agora envolvidos nesta tentativa de desmoralização da única esperança dos brasileiros de resolver o grave problema da segurança do país, com o fim da impunidade, que tem que começar dando uma tranca dura em bandidos de qualquer espécie.
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POR José Pires

domingo, 23 de junho de 2019

Folha de S.Paulo entra no jogo do Intercept, dando chancela aos ataques a Sérgio Moro e contra a Lava Jato

Com a publicação pela Folha de S. Paulo neste domingo de mais uma parte dos vazamentos em poder do site The Intercept, o jornalista Glenn Greenwald tenta dar uma requentada na denúncia que tem em mãos. O problema é que o novo material é tão fraco que diminuiu ainda mais a tentativa de escândalo que começou no site de sua propriedade. A chancela de um grande veículo nacional era necessária para dar ao vazamento a credibilidade que até agora estava difícil dele garantir. Greenwald é um ativista político. Seu site é marcadamente ligado ao PT e seus puxadinhos, especialmente o Psol, partido pelo qual seu marido é deputado federal. E para ter efeito, esse tipo de denúncia precisa aparentar independência.

Antes da publicação em seu site, o material foi oferecido por ele à Rede Globo. Greenwald queria uma reportagem no Fantástico, mas não houve acordo com a emissora por causa de sua recusa em revelar o conteúdo e a forma como os vazamentos chegaram às suas mãos. A partir daí, nas entrevistas que deu quando começou a polêmica, ele passou a insinuar que a Globo estaria protegendo Moro. Foi desmentido com firmeza. Segundo a emissora, o dono do The Intercept queria um cheque em branco. “Não damos cheque em branco a ninguém, especialmente a Greenwald”, disse Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo.

Essa história tem a aparência de crime cibernético da maior gravidade e existe até a suspeita de envolvimento de estrangeiros no hackeamento das conversas. Já apareceu até a comprovação de uma fraude criminosa. Na última quarta-feira o Estadão publicou reportagem em que diz que a Polícia Federal descobriu que um hacker tentou se passar pelo ministro Sérgio Moro e mandou mensagens para procuradores em nome do ministro.

Neste domingo, o ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que foi coordenador da Lava Jato, disse ao site O Antagonista que a Folha de S. Paulo errou ao publicar o “material apócrifo e de origem criminosa”. Sua consideração sobre este fato é lógica. “O primeiro de seus erros [da Folha] foi dizer que A Interceptadora recebeu de fonte anônima, enquanto está claro que este site conhece e protege a Fonte. Assim, nenhum jornal sério iria trabalhar no material sem que a fonte fosse compartilhada”, ele disse.

De fato, existe uma complicação nesta dubiedade do The Intercept e de seu dono. Greenwald se esforça para dar ao caso um status de exercício da liberdade de imprensa e do respeito ao jornalismo investigativo. Porém, seu comportamento de ativista anula a credibilidade jornalística. Não é de hoje que ele atua em ataque à Lava Jato e na defesa de Lula e do projeto petista. Durante o processo de impeachment foi intensa sua atividade no exterior, para criar a imagem internacional de um golpe antidemocrático à cassação de Dilma Rousseff. Com este vazamento, ele segue na mesma ladainha.

Ainda sobre esta confusão deliberada que procura-se fazer entre o direito do sigilo da fonte e cumplicidade com vazamento criminoso, Fernando Gabeira já havia trazido uma interessante questão, em um artigo publicado há cerca de duas semanas. Ele escreveu o seguinte: “The Intercept diz que a fonte foi protegida por algumas semanas. É um sinal de proximidade. Há uma diferença entre proteger a fonte e proteger apenas seu anonimato”.

Mas independente dos meios utilizados neste caso, não há dúvida alguma sobre o objetivo de desacreditar a Lava Jato e favorecer Lula. Não há nenhuma preocupação com os perigos decorrentes do sucesso deste plano. Crime organizado, narcotráfico, milícias, a bandidagem em geral estará agradecida pelo clima de impunidade. Corruptos também aplaudirão balançando seus dólares e jóias. A esquerda tampouco tem o menor cuidado com o risco de conflitos sociais, como aliás nunca teve. Mesmo com o vasto histórico de quebradas de cara, eles mantêm a crença de que serão favorecidos com o caos.

O material publicado pela Folha é mais do mesmo, na estratégia de Greenwald de criar uma desestabilização dos adversários mais pela ameaça de denúncias que supostamente guarda na gaveta do que pelo sai publicado. Não há nada que incrimine Moro ou os procuradores nesta leva de vazamentos, tão mixos quanto os anteriores. Na tentativa de criar uma desarmonia, incitando movimentos de rua contra Moro, teve até um artifício bobinho, de revelar uma mensagem com críticas de Moro a um protesto feito pelo MBL, em 2016, em Porto Alegre.

A articulação política em torno deste assunto pretendia estimular um avanço da esquerda e beneficiar Lula. Mas até aqui, o resultado é outro. Tentaram acossar Moro e acabaram por demonstrar uma sintonia muito forte entre sua imagem e a da Lava Jato. E a esquerda fica com a fama de defender a impunidade. Mas pode vir mais coisa por aí. Há alguns dias, mesmo com a precariedade desse governo os bolsonaristas conseguiram juntar uma quantidade considerável de gente nas ruas. Pois graças a esses vazamentos, este próximo 30 de junho ganha uma pauta de aceitação geral: o combate à corrupção e a defesa da Lava Jato. É provável que façam uma manifestação de grande sucesso, associando o bolsonarismo à operação de combate à corrupção de maior popularidade na história do país.
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POR José Pires


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Imagem- Foto de Marcelo Camargo, Agência Brasil

quinta-feira, 20 de junho de 2019

The Intercept e Glenn Greenwald na briga contra Jean Wyllys

Andou rolando pelas redes sociais uma denúncia de que Jean Wyllys vendeu seu mandato de deputado a David Miranda, marido de Glenn Greenwald, dono do site The Intercept, que publicou conversas privadas entre Sérgio Moro e promotores. O assunto parece ser um fake news bastante escrachado. Mas o jornalista Claudio Dantas, do site O Antagonista, revela nesta quinta-feira que Greenwald e Jean Wyllys tiveram uma briga feia há pouco mais de um ano, quando Greenwaald chegou a ameaçar o então deputado do Psol de publicar no The Intercept material de denúncia contra ele.

A encrenca ocorreu quando Jean tentava aproximar o Psol de Israel. O deputado viajou na época para Israel e Greenwald, que é judeu, não gostou da tentativa de aproximação política. Ele escreveu no Twitter o seguinte: “Existe um pequeno grupo no PSOL (liderado por Jean) que quer torná-lo um partido pró-Israel – o que faria dele um caso único entre os partidos de esquerda do mundo democrático”. O então deputado pelo Psol acusou Greenwald de publicar mentiras contra ele no The Intercept, citando falsas declarações de seus assessores.

A briga entre os dois envolve acusações de homofobia e antissemitismo. Greenwald pediu aos leitores do site que enviassem material contra Jean Wyllys para divulgação no The Intercept. Ainda em seu site, Greenwald publicou uma violenta charge que mostra Jean Wyllys fazendo um selfie junto ao corpo de um palestino assassinado. Vejam a “ética jornalística” dessa figura que agora está no ataque midiático a Sérgio Moro.

E tem outra coisa: como os ataques a Jean Wyllys no The Intercept e pelo Twitter ocorreram próximo da eleição e o parceiro de Greenwald também foi candidato pelo Psol, o caso pode se enquadrar em assassinato de reputação para provocar a derrota de um concorrente. Cabe apontar que o site de Greenwald tem audiência entre eleitores do deputado que acabou renunciando, em favorecimento do marido do jornalista, que assumiu a vaga pelo Psol.

Outro fato que aponto em mais este caso lamentável da política brasileira protagonizado por Glenn Greenwald é que a briga pelo mandato aconteceu entre dois políticos com uma votação mixuruca. Ambos foram favorecidos pelo esquema de mando de Marcelo Freixo sobre a máquina do Psol no Rio de Janeiro. Ele foi um dos mais votados no estado e levou para Brasilia estes dois psolistas de pouquíssima votação. Jean Wyllys teve apenas 24.295 votos. David Miranda foi ainda menos votado: só 17.356 votos.
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POR José Pires

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Veja aqui a matéria de O Antagonista

A família Maluf, Lula livre e a luta pela volta da impunidade

Três filhos de Paulo Maluf foram condenados pela juíza Silva Maria Rocha, da 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo, pelo crime de lavagem de dinheiro. Flávio Maluf foi sentenciado a oito anos de prisão em regime fechado. Ligia Maluf Curi e Lina Maluf Alves da Silva foram condenadas a quatro anos de reclusão, mas em regime semiaberto.

A condenação tem relação com o recebimento de propinas quando Maluf foi prefeito de São Paulo. A dinheirama dessa corrupção girou pelo exterior, nos esquemas de lavagem de dinheiro, que há alguns anos levou às condenações de Flávio e seu pai pela Justiça da França. Pai e filho já foram réus pelo mesmo crime nos Estados Unidos, quando Maluf teve seu nome incluído na lista de procurados da Interpol. Em 2005, Flávio e Paulo Maluf também ficaram presos no Brasil, durante 40 dias. A família de Maluf também já foi condenada pela Justiça britânica a devolver uma fortuna de quase R$ 80 milhões à Prefeitura de São Paulo. E Maluf está atualmente em prisão domiciliar.

A condenação de agora de Flávio Maluf e as duas irmãs serve para dar uma ideia do ritmo vagaroso que um processo pode ter no Brasil, quando o acusado tem muito dinheiro e boas relações políticas. Esta ação já está com mais de 12 anos. Como a condenação é de primeira instância, os três filhos de Maluf podem apelar em liberdade.

E os velhos tempos da impunidade podem voltar com ainda mais vigor, caso dê certo o plano da esquerda de derrubar a prisão em segunda instância. Ninguém mais irá para a cadeia com uma segunda condenação. Se for atendido o desejo do PT e de seus puxadinhos como o Psol e assemelhados, que querem a liberdade de Lula, então o clima de impunidade que será criado no país vai fazer voltar os velhos esquemas de impunidade, no qual processos de ricaços jamais chegam ao fim.
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POR José Pires

Sérgio Moro dá a volta por cima nos vazamentos do The Intercept

Havia uma boataria de que coincidindo com o depoimento de Sérgio Moro nesta quarta-feira no Senado o site The Intercept publicaria novos e impactantes trechos das mensagens trocadas entre o ministro da Justiça e procuradores. No entanto, o que o site de Glenn Greenwald trouxe na quarta-feira foi ainda mais fraco como denúncia do que o material anteriormente publicado. Greenwald vem exagerando no suspense desde que começou a revelar trechos de conversas de integrantes da Lava Jato. Com ar de intimidação, o jornalista afirma que tem mais mensagens guardadas, insinuando que ainda não mostrou o material mais comprometedor.

Parece-me estranho que alguém tão alinhado a Lula — como é o caso de Greenwald — estabeleça uma estratégia começando o ataque à imagem do ex-juiz da Lava Jato com o conteúdo muito fraco que vimos até agora. Conversas mais comprometedoras poderiam criar desconfiança na população sobre o caráter de Moro, talvez obrigando Bolsonaro a tomar uma atitude contra seu ministro. É claro que a desestabilização do governo Bolsonaro é parte do pacote desses vazamentos, o que é de uma burrice sem tamanho. Alinhar Bolsonaro e Lava Jato como alvos comuns coloca Bolsonaro em uma companhia que fragiliza a oposição.

Tenho a impressão também que da forma que o processo se desenrolou a partir das publicações feitas sem rigor jornalístico, vai ficando cada vez mais difícil colocar a opinião pública contra Moro, se é que existiu alguma vez essa oportunidade. O ataque frontal demonstrou que é maior do que parecia a relação simbólica entre Moro e a Lava Jato, com todo seu referencial de fim da impunidade, da Justiça deixando de prender apenas criminoso pobre para enfim pegar os poderosos, do maior rigor contra o crime em todas suas instâncias.

No imaginário popular e no respeito da classe política, Moro e Lava Jato se tornaram indivisíveis, o que foi também fortalecido em razão do objetivo evidente do que vem fazendo o site de Greenwald, que é soltar Lula e reposicionar o PT e seus puxadinhos como forças eleitorais. O dono do The Intercept nem sequer procura disfarçar seu ativismo. Em uma das entrevistas que deu no exterior sobre os vazamentos, entre tantas mentiras que vem espalhando sobre nossa realidade política, ele diz que Lula é “um gigante” e que como governante o petista “tirou milhões da pobreza”. A conversa é de ativista, nunca de jornalista, mas ele sempre foi assim.

Durante o processo do impeachment de Dilma Rousseff, o dono do The Intercept foi um dos ativistas que mais espalhou no exterior falsas informações sobre o processo no Congresso Nacional que resultou na cassação da petista. É o que vem fazendo agora, com este material que chegou às suas mãos sabe-se lá de que jeito.

O efeito é que não foi o esperado. Em vez de derrubar o prestígio de Moro, os ataques reforçaram a ligação de sua imagem com a da Lava Jato, que na atualidade tem um prestígio inatacável junto aos brasileiros, até pela esperança popular de que o rigor aplaudido contra os corruptos se volte também contra o crime comum, que atormenta todo o país. O que se nota é que Moro encarna essa esperança, enquanto os beneficiários das matérias do The Intercept significam um retrocesso à impunidade e a continuidade da insegurança.
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POR José Pires

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Imagem- Foto de Marcelo Camargo, Agência Brasil

domingo, 16 de junho de 2019

A demissão de Joaquim Levy e um presidente desgovernado

Joaquim Levy já está fora da presidência do BNDES. Ele formalizou sua demissão neste domingo ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Vai entregar o cargo na manhã de segunda-feira a Guedes e depois falará com a imprensa. No sábado, Levy foi tratado com desrespeito pelo presidente Jair Bolsonaro em entrevista. Estava zangado com a nomeação de Marcos Barbosa Pinto como novo diretor de Mercado do banco estatal.

Costuma-se dizer que o estilo é o homem. No caso de Bolsonaro é também um modelo de gestão. Ele é capaz de ser escandaloso com uma simples discordância como presidente da República, que poderia ser resolvida numa reunião de trabalho com o mínimo de prejuízo político e profissional para as partes envolvidas. Imaginem a dificuldade agora para Guedes arrumar um bom substituto para Levy. Seja quem for o novo presidente do BNDES, o sujeito terá de enfrentar um clima de baixeza moral e insegurança. Ao aceitar o cargo, ele próprio já começa em um papel de pouco respeito próprio.

Na noite de sábado, Marcos Barbosa Pinto já havia pedido demissão. Fez isso de forma equilibrada, como devem ser os rompimentos profissionais e também os políticos. Em nota, ele afirmou que não continuaria no cargo “diante do descontentamento manifestado pelo presidente da República”. Noutro trecho fez uma defesa que aponta sutilmente para o desastre que pode ser para o mercado profissional a forma de relacionamento imposta por Bolsonaro. “Tenho muito orgulho da carreira que construí ao longo dos anos, seja no governo, seja na academia, seja no mercado financeiro”, ele escreveu.

O desfecho ficou assim, com o subordinado dando uma excelente lição de moral ao chefe truculento e desqualificado. Toda essa confusão por causa de algo menor em relação à quantidade de problemas que o Brasil precisa enfrentar vem da péssima formação de Bolsonaro, aprendida na escola da vida fácil dos políticos do baixo clero. Ele não tem noção nem de bons modos. Qualquer um que encare trabalhar para alguém assim deve ir preparado para enfrentar desrespeito e humilhação. É claro que profissionais de verdade não serão atraídos para um governo com este, digamos, modelo de gestão.

Este episódio demonstra como Bolsonaro é um desastre político e administrativo, de um modo que nunca aconteceu antes em nossa história recente. É impossível estabelecer uma relação de trabalho em seu governo, onde não se sabe que rumo tomar. Bolsonaro é um sujeito autocrático, de base simplória. Muitos são assim na política. Só funcionam em proveito próprio e num âmbito restrito, como políticos de baixo clero ou encaixados em cargos nomeados de menor relevância. Porém, aí está esta figura tosca como presidente do país. Um autocrata é sempre negativo no comando de uma nação e neste caso Bolsonaro é o pior exemplo. É um autocrata que não sabe o que fazer no governo.
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POR José Pires

Joaquim Levy e Bolsonaro: fim de caso

É provável que o presidente do BNDES, Joaquim Levy, já esteja oficialmente fora do cargo nesta próxima segunda-feira. Pelo menos se ele tiver vergonha na cara, pois do jeito que Jair Bolsonaro o tratou nesse sábado, terá de dobrar de forma muito humilhante a espinha para se manter no cargo.

Levy nomeou Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de Mercado de Capitais do BNDES. Acontece que ele já trabalhou como assessor do banco durante o governo do PT, o que deixou Bolsonaro muito zangado. A consequência disso em danos para a atividade do banco estatal, só Bolsonaro sabe. Como ele tem informantes preciosos, pode ser que tenha sido avisado sobre o risco de alguma tática gramscista que desestabilize o capitalismo brasileiro.

Vejam o que Bolsonaro disse: “Eu já estou por aqui com o Levy. Falei pra ele demitir esse cara [Marcos Barbosa Pinto] na segunda-feira ou eu demito você, sem passar pelo Paulo Guedes”.

Ora, o sujeito que Levy nomeou é um profissional do mercado. Foi sócio da Gávea Investimentos, fundada por Armínio Fraga. Se esses dois forem comunistas, já faz tempo que estão enganando muito bem. Não é possível que Bolsonaro não saiba ainda que não é por ideologia que esse pessoal do mercado financeiro vive pulando de um governo para o outro. O próprio Levy foi ministro da Dilma. Será que ele pensa que sua presença agora como presidente do BNDES em seu governo é por amor à causa?

E como se vê, sobrou até para o Guedes, que também vai ficando com cada vez menos respeitabilidade para tocar seu trabalho. A verdade é que o tal “mercado”, de que essa tigrada fala com uma idolatria até meio pecaminosa, já deve estar ressabiado e se perguntando quanto mais de sapos suportará a goela do Guedes.

Mas Bolsonaro disse mais uma coisinha que servirá para a meditação de Levy neste fim de semana. A fala do presidente, aliás, tem mesmo a ver com sua cabeça: “Essa pessoa, o Levy, já vem há algum tempo não sendo aquilo que foi combinado e aquilo que ele conhece a meu respeito. Ele está com a cabeça a prêmio já há algum tempo”.

Estressante o clima, não é mesmo? Já rolam os papos de que dentro da própria equipe econômica já acham insustentável a situação de Levy. E segundo o site O Antagonista, o próprio Armínio Fraga, que foi sócio do diretor do BNDES cuja nomeação deixou Bolsonaro enfurecido, disse que Levy deveria pedir demissão antes de segunda-feira.

De fato, a sugestão é sensata. Para usar uma imagem que Bolsonaro gosta muito, o namoro gorou. Ou era um casamento? Não importa, o que vale é o que fica como aprendizado, com uma lição muito importante que todo liberal deveria levar em conta.

Levy teve oportunidade de fazer a constatação pelas duas vias, igualmente humilhantes para ele. Esse negócio de liberalismo parece que não funciona muito bem com governos populistas. À direita ou à esquerda, dá sempre em encrenca.
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POR José Pires

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Lula livre, fim da prisão na segunda instância e o crime organizado rindo à toa

Já se sabe há um bom tempo que sutileza é algo que não se deve esperar de Gleisi Hoffmann, de modo que não foi surpresa que ela tenha entregado nesta quinta-feira todo o conteúdo do pacote que contém a soltura do Lula, no plano que vem sendo turbinado com o vazamento de mensagens roubadas de promotores da Lava Jato e de Sérgio Moro.

Em entrevista para O Globo, a deputada e presidente do PT disse o seguinte: “Não só o Lula, mas outras pessoas também podem ser soltas, porque toda a Lava Jato foi contaminada por esses métodos utilizados por eles. A questão das delações premiadas pode mudar também”.

Como ficou claro, o objetivo é desmontar todo o aparato legal que permitiu o combate à corrupção de uma forma que nunca havia acontecido antes no Brasil. O plano é soltar Lula, derrubar a prisão em segunda instância e conforme palavras da própria presidente do partido do criminoso condenado, acabar com a delação premiada.

Se medidas como essas fossem anunciadas na Chicago dos anos 20 seriam recebidas por Al Capone e seus capangas com rajadas de metralhadora para o alto em comemoração. Em Gotham City a notícia faria um sorriso rasgar de lado a lado a cara do Coringa. Enquanto por aqui, no Brasil, a euforia também é grande, em expectativa prazerosa que junta políticos, advogados, jornalistas, juízes, assassinos, estupradores, narcotraficantes, além de evidentemente contar com a zoação e likes de hackers.
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POR José Pires