Não deixa de ser muito lucrativo politicamente a exploração que Lula e seu partido vêm conseguindo obter com o vazamento de conversas de Moro e de procuradores da Lava Jato divulgadas pelo site The Intercept, de Glenn Greenwald. A manipulação política desses vazamentos, agora compartilhados por Greenwald com a Folha de S. Paulo, serve também ao propósito da vitimização de Lula e do PT internacionalmente, além de se encaixar na sua defesa jurídica.
Tudo isso é um atraso preocupante para um país com tamanhas complicações e que mereciam, ou melhor, exigem prioridade, mas o caso serve pelo menos como demonstração da capacidade de articulação da esquerda, que por meio do esquema de poder petista estabeleceu uma estrutura que ainda se mantém com vigor em variadas instituições.
Existem também interesses poderosos fora do projeto político da esquerda, de juízes que temem a continuidade do rigor da Lava Jato, além de bancas de advocacia que há décadas ganham muito dinheiro com o interminável rolar de processos na viciada maquina da Justiça. E que não se pense que esta geringonça de fazer fortunas se atém ao crime do colarinho branco. Também rolam milhões na defesa do crime organizado, de chefões do narcotráfico, de qualquer ricaço que tenha matado em alguém ou se envolvido em crime, precisando se manter acima da lei. A prisão em segunda instância acaba com uma mina de ouro.
O montante da lucratividade política com esses vazamentos é ainda mais interessante se atentarmos para o quase nada que até agora apareceu de relevante nas conversas que primeiro saíram no The Intercept e passam a ser exploradas pela Folha de S. Paulo. De fato, Glenn Greenwald é um grande empreendedor. Tem recebido uma atenção desmedida simplesmente ameaçando com revelações de alto impacto, que diz ter em mãos, mas que não apareceram ainda, três semanas depois da primeira publicação muito mixa. Neste domingo, a Folha soltou reportagem com alarde na chamada de capa, mas outra vez sem nada de relevante.
O objetivo desse pessoal é evidentemente beneficiar Lula e desmoralizar a Lava Jato. Para isso, já faz tempo que a Folha de S. Paulo vem pautando matérias e até pesquisas pelo Data Folha, o instituto da mesma empresa que edita o jornal. Então não chega como grande novidade a associação com o The Intercept. A esquerda quer Lula livre, sem ter nenhuma preocupação com o que pode vir junto, num pacote de impunidade que deve beneficiar até o crime comum. Tampouco se sensibilizam com o risco social do clima de desesperança que pode ser criado no país. O negócio é soltar Lula e acabar com o ritmo de Lava Jato que o povo aplaude.
Com os vazamentos, queriam a queda de Moro. Isso só não aconteceu por causado do efeito inesperado, com a revelação de relação estreitíssima da imagem de Moro com a da Lava Jato. Ambos são indivisíveis na percepção da população, como sinônimos de Justiça e fim da impunidade dos poderosos. Outro questão, sobre a qual pouco se fala, é a esperança dos brasileiros de que a seriedade e o rigor da Lava Jato se aplique também ao crime comum. Por isso não se deve descuidar do interesse dos grandes chefões do crime organizado no clima de impunidade que a esquerda vem procurando criar de forma absolutamente imperdoável.
Como juiz, Moro é autor de uma sentença que pode ser situada historicamente com uma das manifestações jurídicas mais importantes da necessidade do controle das grandes organizações do crime no país. Ele condenou Fernandinho Beira-Mar a 29 anos e oito meses de prisão em regime fechado. A mulher e um filho do traficante também foram sentenciados.
Beira-mar comandava um esquema criminoso que envolvia muito dinheiro, com movimentações inclusive em compra de gado e fazendas. E fazia isso da cadeia. Na época, Beira-Mar vivia trocando de presídio, mantendo-se no comando de sua quadrilha. Até que foi parar em Catanduvas, no Paraná, quando entrou na jurisdição de um juiz muito sério sobre o qual só muitos anos depois o país teria notícias.
A condenação foi em agosto de 2008. Lula já havia escapado do mensalão, embora toda a cúpula do PT tenha sido condenada. Sérgio Moro era praticamente um desconhecido. Atualmente, ele é acusado até do prestígio e da fama que adquiriu em razão do seu rigor com criminosos de colarinho branco. Mas não existiam nessa época os holofotes de televisão e a falação e likes em redes sociais. Nesse confronto com bandidos perigosos e violentos, o juiz Moro, a Polícia Federal e o MP sustentavam-se apenas com a coragem pessoal de cada um.
Uma afirmação de Moro na sentença contra Fernandinho Beira-Mar tem uma interessante relação com o que vive o Brasil hoje em dia. Vejam o que ele escreveu: “Pelas circunstâncias dos crimes, é de se concluir que o condenado faz do crime a sua profissão”.
Pode-se fazer um Control C e Control V, aplicando a frase diretamente ao ex-presidente Lula, que cumpre pena em Curitiba e que tem seus companheiros agora envolvidos nesta tentativa de desmoralização da única esperança dos brasileiros de resolver o grave problema da segurança do país, com o fim da impunidade, que tem que começar dando uma tranca dura em bandidos de qualquer espécie.
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POR José Pires