Os petistas andam animadíssimos com o andamento da perseguição política a Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, que, como eu já escrevi, além da vingança contra a Lava Jato tem também objetivos eleitorais muito lucrativos ao PT no Paraná. Neste caso, a deputada Gleisi Hoffmann é grande interessada, até pelo benefício partidário que ela pode obter com a cassação dos mandatos dos dois parlamentares, mas também porque esta reviravolta serve para abafar sua péssima gestão política, no aspecto eleitoral, do partido no estado.
Ela manda há muitos anos no PT estadual. E o partido não avança entre os paranaenses: não tem nenhuma prefeitura em cidades importantes, nunca elegeu o prefeito da capital, jamais teve um governador, não tem ninguém no Senado e está com uma séria dificuldade de revelar gente nova e qualificada na política. Este problema é tão grave que na última eleição estadual teve que lançar Roberto Requião, que já está com 82 anos.
Requião foi governador por três vezes e também foi senador em um único mandato. Em 2018 foi fragorosamente derrotado ao tentar a reeleição. Em 2014 tentou a quarta eleição para governador e perdeu no primeiro turno. No ano passado, quando o PT teve que apelar para sua candidatura ao governo estadual, Requião havia entrado recentemente no partido de Gleisi, depois de sair corrido do MDB, onde esteve por 40 anos. Foi candidato ao governo do Paraná e perdeu feio a eleição, sendo derrotado no primeiro turno.
A derrubada do mandato de Dallagnol tem como objetivo dos petistas a anulação dele como liderança política estadual, para abalar sua influência nas eleições municipais. Na minha visão, o golpe eleitoral contra o ex-procurador federal pode ter um efeito contrário, fortalecendo ainda mais sua imagem. E isso parece já estar ocorrendo. No caso de Moro, pode haver o mesmo efeito-rebote se os petistas obtiverem sucesso no golpe contra seu mandato de senador. O ex-juiz federal pode crescer politicamente ainda mais no Paraná, pois terá também a imagem de vítima política de um grave erro judiciário que carregará também a suspeição de ser uma armação política em favor da impunidade.
A cassação injusta de Dallagnol parece praticamente acertada e o golpe contra o mandato de Moro vem sendo dado como vitorioso entre os petistas, que até já brigam para ocupar seu lugar no Senado. Um dos cobiçosos é filho de Requião, o outro é o deputado Zeca Dirceu, filho do deputado cassado e ex-ministro José Dirceu — na esquerda paranaense é vicejante o filhotismo.
Gleisi também quer muito o lugar de Moro, caso dê certo o golpe, mas para isso, antes tem que disputar com Zeca Dirceu no partido. Nesta briga, ela ganhou Janja como aliada. A mulher do Lula já trata Gleisi como “futura senadora”, como fez no Twitter nesta quarta-feira. O processo contra Moro ainda está para ser decidido no TSE estadual, mas é possível que Janja tenha alguma informação de cocheira, ou melhor, de alcova.
Na sua tuitada, dona Janja exibe dotes de clarividente: antecipa o resultado de uma questão que está para ser julgada. Qual será o segredo judicial assoprado na intimidade, nos ouvidos da primeira-dama, que tem o marido como principal beneficiado pelo terrível desarranjo nas altas cortes do Judiciário?
Não é só a falta de compostura como primeira-dama que causa espanto — parafraseando o marido dela, nunca se viu algo assim na história deste país, uma intromissão tão deselegante e fora da alçada de uma pessoa de quem o país espera atitudes dignas, gestos mais afeitos à democracia. É uma falta de respeito, diga-se, que soa também como confissão de que a quebra da segurança jurídica e do desrespeito aos direitos da população avança de tal modo sobre a democracia brasileira que não se tem mais o pudor de tornar público uma confiança que parece vir de uma capacidade ímpar de prever más-notícias para a oposição.
Bem, ainda há muito para ser percorrido, não só até a decisão sobre o mandato de Moro como senador bem votado, como também no caso de dar certo o golpe cujo sucesso os petistas comemoram por antecipação. Neste caso, vale o aviso de que a decisão absurda não poderá afetar os direitos políticos do cassado, que estará livre para fazer política. Desse ponto em diante, os petistas e demais aliados do golpe eleitoral terão de disputar, já na largada, 33,5% dos votos válidos — 1.953.159 de paranaenses com seu direito de voto cassado injustamente.
Evidentemente, a não ser que se obtenha segredos poderosos de alcova, não dá para prever nada com exatidão em política, mas não tenho dúvida sobre a influência que a palavra de Moro terá sobre esta faixa decisiva de eleitores, podendo se ampliar bastante junto à população, claro que dependendo de trabalho político e de comunicação a ser feito. Estou falando no curto prazo, mas a questão temporal não ajuda em nada na ambição petista.
Ainda em um raciocínio sobre a imoralidade de uma cassação do mandato de senador, esta autoridade conferida por uma decisão tão incorreta pode ser mantida no ano que vem, nas eleições municipais em todo o estado, quando duvido também que Gleisi e os petistas serão vistos de outro modo nas cidades paranaenses que não seja o de políticos que desrespeitam o voto livre, apelando para golpes baixos nos tapetões das altas cortes.
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Por José Pires