quinta-feira, 29 de junho de 2023

A clarividente Janja prevê as delícias do futuro político de aliados e o triste destino de desafetos de seu poderoso marido

Os petistas andam animadíssimos com o andamento da perseguição política a Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, que, como eu já escrevi, além da vingança contra a Lava Jato tem também objetivos eleitorais muito lucrativos ao PT no Paraná. Neste caso, a deputada Gleisi Hoffmann é grande interessada, até pelo benefício partidário que ela pode obter com a cassação dos mandatos dos dois parlamentares, mas também porque esta reviravolta serve para abafar sua péssima gestão política, no aspecto eleitoral, do partido no estado.


Ela manda há muitos anos no PT estadual. E o partido não avança entre os paranaenses: não tem nenhuma prefeitura em cidades importantes, nunca elegeu o prefeito da capital, jamais teve um governador, não tem ninguém no Senado e está com uma séria dificuldade de revelar gente nova e qualificada na política. Este problema é tão grave que na última eleição estadual teve que lançar Roberto Requião, que já está com 82 anos.


Requião foi governador por três vezes e também foi senador em um único mandato. Em 2018 foi fragorosamente derrotado ao tentar a reeleição. Em 2014 tentou a quarta eleição para governador e perdeu no primeiro turno. No ano passado, quando o PT teve que apelar para sua candidatura ao governo estadual, Requião havia entrado recentemente no partido de Gleisi, depois de sair corrido do MDB, onde esteve por 40 anos. Foi candidato ao governo do Paraná e perdeu feio a eleição, sendo derrotado no primeiro turno.


A derrubada do mandato de Dallagnol tem como objetivo dos petistas a anulação dele como liderança política estadual, para abalar sua influência nas eleições municipais. Na minha visão, o golpe eleitoral contra o ex-procurador federal pode ter um efeito contrário, fortalecendo ainda mais sua imagem. E isso parece já estar ocorrendo. No caso de Moro, pode haver o mesmo efeito-rebote se os petistas obtiverem sucesso no golpe contra seu mandato de senador. O ex-juiz federal pode crescer politicamente ainda mais no Paraná, pois terá também a imagem de vítima política de um grave erro judiciário que carregará também a suspeição de ser uma armação política em favor da impunidade.


A cassação injusta de Dallagnol parece praticamente acertada e o golpe contra o mandato de Moro vem sendo dado como vitorioso entre os petistas, que até já brigam para ocupar seu lugar no Senado. Um dos cobiçosos é filho de Requião, o outro é o deputado Zeca Dirceu, filho do deputado cassado e ex-ministro José Dirceu — na esquerda paranaense é vicejante o filhotismo.


Gleisi também quer muito o lugar de Moro, caso dê certo o golpe, mas para isso, antes tem que disputar com Zeca Dirceu no partido. Nesta briga, ela ganhou Janja como aliada. A mulher do Lula já trata Gleisi como “futura senadora”, como fez no Twitter nesta quarta-feira. O processo contra Moro ainda está para ser decidido no TSE estadual, mas é possível que Janja tenha alguma informação de cocheira, ou melhor, de alcova. 


Na sua tuitada, dona Janja exibe dotes de clarividente: antecipa o resultado de uma questão que está para ser julgada. Qual será o segredo judicial assoprado na intimidade, nos ouvidos da primeira-dama, que tem o marido como principal beneficiado pelo terrível desarranjo nas altas cortes do Judiciário?


Não é só a falta de compostura como primeira-dama que causa espanto — parafraseando o marido dela, nunca se viu algo assim na história deste país, uma intromissão tão deselegante e fora da alçada de uma pessoa de quem o país espera atitudes dignas, gestos mais afeitos à democracia. É uma falta de respeito, diga-se, que soa também como confissão de que a quebra da segurança jurídica e do desrespeito aos direitos da população avança de tal modo sobre a democracia brasileira que não se tem mais o pudor de tornar público uma confiança que parece vir de uma capacidade ímpar de prever más-notícias para a oposição.


Bem, ainda há muito para ser percorrido, não só até a decisão sobre o mandato de Moro como senador bem votado, como também no caso de dar certo o golpe cujo sucesso os petistas comemoram por antecipação. Neste caso, vale o aviso de que a decisão absurda não poderá afetar os direitos políticos do cassado, que estará livre para fazer política. Desse ponto em diante, os petistas e demais aliados do golpe eleitoral terão de disputar, já na largada, 33,5% dos votos válidos — 1.953.159 de paranaenses com seu direito de voto cassado injustamente.


Evidentemente, a não ser que se obtenha segredos poderosos de alcova, não dá para prever nada com exatidão em política, mas não tenho dúvida sobre a influência que a palavra de Moro terá sobre esta faixa decisiva de eleitores, podendo se ampliar bastante junto à população, claro que dependendo de trabalho político e de comunicação a ser feito. Estou falando no curto prazo, mas a questão temporal não ajuda em nada na ambição petista.


Ainda em um raciocínio sobre a imoralidade de uma cassação do mandato de senador, esta autoridade conferida por uma decisão tão incorreta pode ser mantida no ano que vem, nas eleições municipais em todo o estado, quando duvido também que Gleisi e os petistas serão vistos de outro modo nas cidades paranaenses que não seja o de políticos que desrespeitam o voto livre, apelando para golpes baixos nos tapetões das altas cortes.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

segunda-feira, 26 de junho de 2023

A decepção francesa com Lula: o PT e seu chefão perdem confiança entre a esquerda europeia

O jornal Folha de S. Paulo mostrou neste domingo os custos em hospedagem das viagens oficiais de Lula e sua equipe ao exterior. Foram R$ 7,3 milhões. A viagem para a China foi a de maior custo: R$ 1,8 milhão em cinco dias. Apenas a hospedagem, sem contar os demais gastos, como por exemplo, pagamentos de alimentação, aluguel de veículos e até de intérpretes. Não está incluída na reportagem da Folha esta última viagem à Europa, quando o petista passou pela Itália, Vaticano e França.


Lula fez 12 viagens oficiais ao exterior neste primeiro semestre de seu terceiro mandato, o dobro de Jair Bolsonaro, no mesmo período de 2019. Como justificativa, a equipe de Lula usa exatamente o governo anterior, alegando que fazem um esforço para retomar relações diplomáticas com o mundo e melhorar a imagem do Brasil.


Ora, isso não é exatamente verdade. Todo mundo sabe que Lula gosta de bater perna. Foge do trabalho duro, para ele, da leitura de documentos e análises, do estudo de planos de transformação administrativa e econômica. Da condução prática de mudanças, muitas delas urgentes, que os brasileiros precisam desesperadamente.


O chefão petista é um eterno deslumbrado com a atenção internacional, achando muitas vezes que o respeito é pelo seu carisma e prestígio pessoal, esquecendo-se do peso que tem no mundo um país da dimensão do Brasil. Como presidente deste país, até um energúmeno como Bolsonaro acabava atraindo o interesse mundial. É mais ou menos pela mesma razão que acontece o mesmo com um energúmeno de esquerda.


Lula também não parece ter notado muitas mudanças na realidade, em comparação com o que era o mundo nos seus primeiros mandatos. Ele está atrasado mentalmente pelo menos duas décadas. Esperava a mesma recepção do “Este é o cara!”, quando ainda desfrutava do mito do sindicalista que virou presidente no maior país da América do Sul. Hoje em dia o mundo já sabe com quem está lidando. E não só pelo histórico de mais de dez anos de corrupção, fraudes e o abalo econômico mais forte sofrido pelo nosso país, como resultado de quatro mandatos consecutivos arrasadores do PT.


Lula vem reforçando esta má impressão em cada saída que dá. Cada fala sua reforça o efeito negativo no exterior, bem longe da consagração que esperava. Ora, é necessário muito mais que uma cervejinha entre amigos para fazer a paz entre um autocrata criminoso com armas nucleares e um povo aguerrido que defende com honra seu território e a existência de seu país.


Em cada uma dessas viagens de Lula, o resultado negativo para a imagem do Brasil foi cada vez mais pesado. O país não deixou de ser pária. Agora é papagaio de Vladimir Putin. A própria alegação de consertar o estrago produzido por Bolsonaro na imagem externa brasileira não vale mais, dado o saldo negativo das suas declarações estapafúrdias sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia.


Obcecado em ter um papel destacado no plano internacional, Lula tem em pauta a exploração em benefício próprio do conflito criado pela Rússia com a Ucrânia. No entanto, toda vez que ele toca nesse assunto, só sai asneira. Até Joe Biden já perdeu a paciência com o petista. Há dois meses a Casa Branca cortou o papo do petista: "Neste caso, o Brasil está papagueando a propaganda russa e chinesa sem observar os fatos em absoluto".


Na semana passada, Lula recebeu outra resposta dura, desta vez de uma publicação emblemática da esquerda, o semanário Liberation. O petista saiu na capa da publicação durante a última viagem à Europa. O Libération sintetizou a opinião sobre Lula, grafando em português: “Decepção”. Pois é, o engodo petista não convence mais nem a ingênua claque de fãs europeus, composta por intelectuais e jornalistas totalmente desinformados das barbaridades imorais da esquerda brasileira.


A reportagem do jornal francês afirma que Lula é um “falso amigo do Ocidente”, em referência à posição do petista sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, com suas opiniões que favorecem Putin. O Libération também aponta as relações muito próximas entre o presidente brasileiro e o ditador Nicolás Maduro, questionando se Lula não tem “conhecimento dos abusos cometidos na República bolivariana do autoritarismo”.


Desde a semana passada os governistas tentam minimizar a importância do posicionamento editorial do Libération. No entanto, não só os petistas, mas toda a esquerda brasileira deveria avaliar profundamente esta mudança de visão de uma imprensa que tinha até então apenas elogios aos esquerdistas nativos na cobertura da política no Brasil.


Mais que uma eventual reportagem, a matéria de capa do Libération, com sua firme declaração de descrédito, pode estar apontando novos rumos de relações, em um ambiente que até agora favorecia o PT. A matéria deve ter origem em debates que já estão ocorrendo nos meios políticos de esquerda e da intelectualidade francesa, com a percepção do semanário de uma mudança de opinião de seus próprios leitores sobre o comportamento da esquerda latinoamericana.


A “decepção”, expressa de forma inteligente na nossa própria língua, é uma referência específica à traição petista aos valores democráticos do Ocidente. É também uma descoberta, ainda que tardia, do desequilíbrio político e moral de petistas e agregados, concentrado no discurso asqueroso pró-Rússia do idolatrado Lula e na criminosa cumplicidade com seus achegados ditadores bolivarianos.


Entre o público e a intelectualidade francesa já estará brotando uma consciência sobre a vida bandida do PT e da esquerda brasileira, mantida encoberta até agora por meio de intenso lobby militante? Tomara que sim. Será como uma vitória política e espiritual da dignidade humana de um Albert Camus sobre a vilania intelectual — ainda que brilhante — de um Jean-Paul Sartre.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

quinta-feira, 22 de junho de 2023

O turismo trágico da OceanGate Expedition e as ilusões dos consumidores de lendas

A implosão do submarino turístico da OceanGate Expedition, durante o trajeto até os destroços do Titanic, mostram que não são só pessoas desavisadas e sem escolaridade que podem cair numa enrascada na qual se pode perder até a vida. Para embarcar na viagem a passagem era de 250 mil dólares. Nem é preciso converter: é bastante dinheiro em qualquer moeda.


A implosão que matou os cinco ocupantes já havia sido detectada dias atrás por um navio da marinha dos Estados Unidos. A informação é do jornal "The Wall Street Journal", publicada nesta quinta-feira. O barulho foi captado pela embarcação americana no domingo, dia 18, poucas horas depois do submarino mergulhar no Atlântico Norte. Portanto, toda essa cobertura folhetinesca de alguns dias, com mistérios forçados e falsas esperanças, carecia dessa informação fundamental.


Embora tenha feito outras viagens, a engenhoca era experimental e não contava com aprovação de nenhum órgão regulador. A coisa era tão precária que os ocupantes da aventura firmavam um documento abrindo mão de qualquer responsabilização da OceanGate Expeditions, aceitando inclusive a possibilidade de “lesões físicas, deficiência, trauma emocional ou morte”. Ora, é praticamente uma confissão de absoluta falta de segurança. E mesmo assim havia quem pagasse o altíssimo ingresso para arriscar a vida.


Não só por causa do alto custo, no último domingo embarcaram na loucura pessoas com capacidade de conhecimento sobre a precariedade da viagem ao fundo do mar. Havia um milionário britânico ganhador de recordes no Guinness, um francês que já havia feito várias imersões no local do naufrágio do Titanic e um empresário britânico de origem paquistanesa também milionário, junto com seu filho. O quinto passageiro era Stockton Rush, diretor e fundador da empresa.


Mesmo se não houvesse o desastre, o pagamento era por uma das viagens mais desconfortáveis que pode existir. O jornal espanhol La Vanguardia, onde encontrei a melhor ilustração sobre a condição difícil dos passageiros (veja na imagem), definiu muito bem a nave como “uma lata de sardinhas de luxo”. A medida total era de 6,5 metros de comprimento por 3 metros de largura e 2,5 de altura. Ninguém podia ficar de pé e para ver alguma coisa por alguns minutos era necessário se arrastar até uma janela estreita de vidro.


Era obrigatório um revezamento para aproveitar uma só escotilha na proa, de onde se via para fora da nave, claro que iluminado por um farol. Esta janela era de apenas 55 centímetros — uma vez e meia a tela de um computador. A escuridão nas águas é total. A temperatura dentro da nave era de quatro graus. Não era possível fazer nenhuma necessidade fisiológica, o que exigia que os passageiros estivessem convenientemente aliviados antes da prazerosa jornada.


O objetivo da expedição, como todos sabem, era ver os destroços do Titanic, que afundou em 1912, no Oceano Atlântico, uma montoeira de restos de navio como outro qualquer, numa escuridão total. Claro que hoje em dia pode-se assistir a estas cenas ou até de restos melhores de naufrágios, em vídeos que estão espalhados pela internet.


A desastrosa viagem era uma das vigarices mais caras do planeta. A OceanGate oferecia como suvenir da viagem um copo de isopor amassado pela pressão das águas que envolvem o que restou do Titanic. Puxa vida, quem é que pode querer um negócio desses? O suvenir aparece em propagandas da empresa que organiza a expedição. É igual a qualquer copo de isopor amassado com a mão. Ao ser apresentado orgulhosamente para uma visita, o anfitrião com certeza tem que explicar que a joça foi amassada ao lado do Titanic.


A OceanGate já estava plenamente avisada, pelo menos há cinco anos, de que promovia um pacote turístico muito perigoso. O próprio presidente da empresa, Stockton Rush, já havia sido alertado em carta de 2018 sobre a possibilidade de resultados “catastróficos” no uso de seu submergível para fins turísticos. O aviso foi do Comitê de Veículos Subaquáticos Tripulados da Marine Technology Society, segundo o New York Times.


Com toda razão, havia uma preocupação com os negócios comerciais do setor. O comitê temia resultados negativos para “para todos na indústria”, diz a carta. Foi o que ocorreu com a implosão. Eles também cobravam da OceanGate uma certificação de avaliação de risco marítimo conhecida como DNV-G. Bem, agora é tarde.


O desastre, no entanto, pode servir para aumentar o mito sobre o Titanic, uma lenda fajuta que já foi explorada de todos os modos. A implosão do submarino da da OceanGate revelou que havia até um picareta nativo que buscava lucrar com viagens desse tipo nesta mesma empresa. No Brasil, quem vendia pacotes para passeios no submergível que implodiu perto dos destroços do Titanic era a agência de viagens do senador Marcos Pontes, o astronauta fajuto do Lula e de Jair Bolsonaro.


A agência do senador vendia o pacote como “uma das mais incríveis aventuras que oferecemos: ver de perto o navio mais conhecido do mundo, o Titanic!”, assim mesmo, com exclamação e tudo. A propaganda só foi retirada depois da imprensa ter procurado a agência para explicações.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

terça-feira, 20 de junho de 2023

Flavio Dino, o ministro lacrador e as respostas que ainda não foram dadas sobre o 8 de janeiro

Dias atrás, Flávio Dino andava se gabando da sua capacidade de enfrentar o debate político com a oposição, frisando que estava aberto à participação em qualquer discussão proposta pelos parlamentares. O ministro da Justiça estava todo cheio de si — e como! — com supostas entortadas que havia dado em bolsonaristas que o interpelaram em comissões da Câmara. Houve um alarde nas redes sociais, na maior parte estimulado pela máquina governista, naquele estilo de memes que falam em “humilhar”, “triturar”, “calar a boca” e outras expressões bobocas contra adversários, garantindo que Dino é um bamba do debate político.


Claro que a parte elogiada é apenas um destaque de horas de discussão, mas acontece que a oposição também faz os seus recortes, acabando por levar vantagem nas redes sociais. Ninguém está interessado nas conversas fiadas do petismo, haja visto as lives de Lula com apenas seis mil pessoas acompanhando. No entanto, o ministro de Lula pensa que coloca em prática uma estratégia genial, partido para o ataque a parlamentares, com ironias e desprezo pelos questionamentos recebidos. É evidente que ele se julga um comunicador inigualável.


Pois eu penso que o efeito é contrário. Ao entrar no nível de certos deputados, precários na formação pessoal e política, o que ocorre é o fortalecimento desses políticos em suas bases. De forma alguma o público bolsonarista está disposto a comparar qualidades, abandonando por exemplo, a adoração por este ou aquele político da direita, substituindo seu apoio para presentear o ministro da Justiça por causa de suas supostas tiradas humilhando a oposição. Se fosse desse modo a percepção dessa gente, Jair Bolsonaro não teria sido eleito e por pouco, quase reeleito contra Lula.


Também não é verdade que Dino tenha ido tão bem assim nas suas participações recentes na Câmara. Ironia é algo que raramente vai bem em debate político, além de que é necessário muita habilidade para que não haja o entendimento do desrespeito ao cargo que o sujeito ocupa, por mais idiota que ele seja e por mais que se renha divergência com seus posicionamentos. No desrespeito à pessoa, atinge-se o sentimento corporativista e até o do eleitor.


Neste padrão de idiotia e posicionamento equivocado, outro exemplo que dou ;e que por mais que alguém sensato não apóie as baboseiras de petistas, não é aceitável assistir a um ataque grosseiro que desrespeite o cargo do imbecil. É isso que Dino vem fazendo, até porque não diferencia bem a resposta entre um questionamento razoável e um ataque pesado.


Esta figuraça que Lula, em reunião de ministério — 37 ministros! — afirmou que na hora do almoço tem que “receber menos comida”, não deveria dar também no seu chefe uma das patadas de que se orgulha tanto? Nos embates que teve com bolsonaristas, Dino não foi tão desrespeitado quanto nesta gozação de Lula por causa de seu excesso de peso, muito além do que a saúde pede, vá lá — mas não precisa humilhar.


Mesmo quanto aos embates na Câmara, o ministro sabe que computadas no geral, suas performances não são tão vitoriosas. Já vi vários recortes em que ele perde feio. Tanto é assim que a bancada governista está fazendo de tudo para que ele não deponha na CPI do 8 de janeiro, onde comparecem parlamentares capacitados, que não vão cair nas suas manipulações precárias, que parecem bullyings bobocas contra incapazes.


Dino não tem resposta aceitável para documentos oficiais avisando sobre o perigo que rondava a Praça dos Trâs Poderes, que comprovam que houve no mínimo omissão durante os atos de vandalismo em Brasília. Mas pode ter ocorrido coisa pior da parte do governo quanto a acontecimentos que, mesmo quem acompanhava distante da capital do país percebia que exigia maior cuidado das forças de segurança.


A suspeita mais séria é de que o governo Lula pode ter deixado a coisa correr, para faturar politicamente com a invasão e destruição de prédios públicos. Não é fácil a situação, para se inocentar os petistas precisam alegar incompetência. O interesse do governo do PT deveria ser o de comparecer para esclarecer tudo isso, mas Dino peleja para não ser convocado a depor. A bancada governista quer blindar todas as autoridades do governo que estavam no dia do vandalismo em Brasília.


As pessoas já sabem que o governo Lula está totalmente perdido. Lula não apresentou propostas durante a campanha eleitoral e pelo jeito não tem nenhuma noção do que oferecer a um país repleto de dificuldades. O sujeito está com a cabeça no passado, é um político anacrônico que vinte anos depois ainda tenta se sustentar politicamente com Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida.


Mas tem uma maneira de dar uma consertada na inoperância. Uma boa medida era o pessoal começar a trabalhar, algo que o próprio ministro da Justiça poderia começar a fazer na sua área, que tem graves problemas para os quais até agora ele nada fez. A insegurança dos brasileiros é triste, com alguns lugares tomados por uma condição de opressão e terror. Em várias cidades brasileiras é perigoso até sair na rua. Tem muita mulher que nem se arrisca a sair para os exercícios fundamentais para a saúde.


As milícias paramilitares tomam conta das cidades brasileiras, com o PCC avançando seu domínio agora também no controle da Amazônia. A corrupção está presente nos ambientes públicos de uma forma que até parece normal, o que Dino pode conferir inclusive dentro do governo. Sei que Lula e seus parceiros no Judiciário estão mais interessados em proclamar uma plutocracia no Brasil, mas podiam ao menos fingir que estão fazendo alguma coisa contra os corruptos, não?


O que não devia acontecer é algo como a visita feita pelo ministro da Justiça ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após a operação da Polícia Federal que há alguns dias atingiu Luciano Cavalcante, ex-assessor do deputado. Numa das buscas a PF encontrou mais de quatro milhões de reais em dinheiro vivo. Cá pra nós, visitar o deputado, em um encontro que parece um pedido de desculpas, não é algo que pega bem para um ministro lacrador. Por que Dino não deu de dedo em Lira, como fez com políticos bolsonaristas? Perdeu uma lacração.


Sobre o temperamento de lacrador de Dino, o jornal Estadão pesquisou para saber o que anda fazendo o ministro de um dos ministérios mais importantes de Lula: ele nada fez nesses seis meses de governo. No domingo, o jornal publicou uma matéria sobre sua produtividade. As ameaças e propostas de Dino não saíram do papel. Nestes seis meses de governo, seu ministério fica devendo muita coisa. As críticas aos reajustes de planos de saúde, suas ameaças a postos de combustíveis que não baixassem os preços, os pesados ataques às big techs, a “ação rápida” que disse que faria para combater grupos criminosos que fraudam apostas esportivas, nada disso teve resultado prático.


O ministro também falou na possibilidade de censura prévia ao músico Roger Waters por apologia ao nazismo. O músico, que foi do Pink Floyd, é de fato um antissemita conhecido, mas o problema é que este racista apoiou Lula na última eleição até com vídeos. Outra façanha de Dino que ficou apenas no discurso foi o aviso de que poderia usar o princípio da extraterritorialidade contra torcedores que ofenderam o jogador Vini Jr, mas de novo foi só papo, o que é lamentável.


Pensem no efeito que teria a entrada do ministro brasileiro em terras espanholas, acompanhado da nossa PF, para prender pessoalmente os ofensores do jogador do Real Madrid e da Seleção Brasileira. As redes sociais iriam explodir com essa lacração internacional, mas até aqui a ameaça do intrépido Dino fazer justiça na Espanha ainda dorme na gaveta.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Dallagnol e Sergio Moro: a força moral que os ataques do PT dá aos seus maiores inimigos políticos

A perseguição política sofrida pelo ex-deputado Deltan Dallagnol tem um outro objetivo muito importante, além da destruição da carreira política do procurador da Lava Jato que levou Lula para a cadeia. O próprio Lula está aproveitando o arranjo de forças políticas contrárias a Dallagnol para uma ação que costuma promover para favorecer o PT em toda eleição: a manipulação do cenário político, de modo que fique mais fácil ganhar o voto do eleitor.


Ele fez isso na eleição presidencial. Desmontou planos de outros partidos ainda no primeiro turno. Derrubou outras no segundo, como fez, por exemplo, com Ciro Gomes e a sua aliada de governo, Simone Tebet. Se intrometeu nas campanhas estaduais, com barganhas sabe-se lá a que preço, desfazendo candidaturas e oferecendo cargos se fosse eleito presidente, como acabou acontecendo. É o que ele faz sempre, até com abusos, o que vai ficando cada vez mais fácil, agora que estão quase para proclamar a plutocracia neste país. E depois posa como carismático sedutor de multidões.


Esta manipulação, para manter o poder e ganhar um pouco mais, segue adiante em vários lugares. Nesta forçação de barra contra Dallagnol, que conta inclusive com a ajuda de forças do Judiciário, Lula e seu partido pretendem mexer no cenário político do Paraná, onde Gleisi Hoffmann tem sua base eleitoral. O PT vai muito mal neste estado, o que serve para mostrar a real capacidade de articulação da presidente nacional do PT. Já faz muito tempo que os petistas não ganham eleições em cidades importantes do Paraná, sendo que em algumas delas têm dificuldades até para eleger vereadores.


Gleisi tem altos motivos para odiar a Lava Jato. Ela foi denunciada por receber dinheiro da Odebrecht nas eleições de 2008, 2010 e 2014. Os processos a atingiram até no âmbito familiar. A petista foi casada com Paulo Bernardo, ex-ministro de Lula. Ambos são réus da Lava Jato, em processo que está para ser julgado pelo STF. Do jeito que anda o padrão moral do nosso país, mais uma absolvição não causará surpresa em ninguém.


Porém, mesmo limpando sua ficha na Justiça, no Paraná o partido terá de encarar a má situação eleitoral, causada pela gestão política de nível muito precário de Gleisi, que sempre mandou na sigla no estado. O PT nunca ganhou uma eleição para o governo estadual. A própria Gleisi disputou o cargo em 2014 e teve uma participação pífia. Ficou em terceiro lugar, com votação muito baixa.


Um embate eleitoral que já estava previsto para os petistas nas eleições municipais do ano que vem é com Deltan Dallagnol e Sergio Moro, figuras das mais simbólicas da Lava Jato. Por isso também a ferocidade dos ataques petistas aos dois parlamentares.


Moro e Dallagnol foram eleitos em 2022, demonstrando que estão com o prestígio firme no Paraná. Dallagnol foi o deputado federal mais votado e Moro se elegeu senador com votação bem à frente do segundo lugar, embora tenha enfrentado uma eleição difícil, com o PT se aliando até a antigos adversários na tentativa de derrotá-lo. O ex-juiz federal teve também que fazer uma campanha às pressas, depois dos petistas terem derrubado sua candidatura em São Paulo, também ao Senado.


O mandato de Moro também está bastante ameaçado, enfrentando ações do PT e de partidos que sempre serviram de puxadinho para o partido de Lula, agora ainda mais animados com a oferta de cargos no governo petista. O problema para Gleisi e Lula é que a cassação de Dallagnol deu-lhe mais projeção nacional, fortalecendo muito mais seu perfil de combatente contra a corrupção, agora com o acréscimo de vítima de perseguição de poderosos que não aceitam o fim da impunidade.


Tudo indica que nessas eleições municipais no Paraná, ao invés de abalar a influência política de Dallagnol, a cassação pode dar-lhe um papel de maior peso eleitoral. O mesmo fenômeno, de efeito contrário ao interesse do PT e de seus aliados nos ataques à Lava Jato, pode ocorrer se conseguirem atingir o mandato de senador de Sergio Moro.


Nesta situação, não será preciso grande esforço de marketing e organização política para que Dallagnol e Moro atuem como vítimas do esquema nacional montado nos sistemas político e judiciário por interessados em submeter o país à corrupção, estabelecendo a impunidade no país.


Moro e Dallagnol nos palanques municipais de cidades paranaenses parece projetar o contrário do que pretendiam Gleisi e Lula, na montagem do cenário eleitoral ideal no Paraná. O ódio petista, que o próprio Lula confessou que alimentou durante os anos de cadeia, pode ter turbinado o prestígio de cabos-eleitorais que vão atrapalhar bastante o PT no ano que vem.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

domingo, 11 de junho de 2023

As engrenagens do destino político de Deltan Dallagnol e Arthur Lira

O Brasil vem vivendo uma séria instabilidade jurídica cercada de avisos de que deveria ser contida, sob o risco de tornar inviável qualquer forma de relação social, afetando até mesmo a economia do país, por causa da dificuldade do investidor, estrangeiro ou daqui mesmo, saber que raios pode acontecer no setor em que ele coloca seu dinheiro. No caso do investimento estrangeiro, cabe destacar, essa instabilidade é duplamente negativa: afasta o investimento produtivo, ao mesmo tempo que promete ganho fácil para quem se dispor ao uso da manipulação, da propina, dos arranjos que envolvem os que mandam na política e no meio jurídico.


Não faltam os avisos de que por este caminho não é possível a construção de um projeto nacional viável, mas parece que temos um país surdo ao alerta de perigo. Na semana que passou tivemos acontecimentos que simbolizam muito bem esta caminhada para o abismo, dois deles que se juntam no entranhamento que embola a vida nacional. Houve a cassação pelo TSE do mandato do deputado federal e ex-procurador Deltan Dallagnol e logo depois o STF decidiu, também por unanimidade, arquivar a denúncia de corrupção passiva contra o presidente da Câmara, Arthur Lira.


Tem muita gente que tem antipatia por Deltan Dallagnol, assim como existe hoje na opinião pública uma influência muito forte de mídia e propaganda contra a aplicação com rigor de leis contra a corrupção. Mas o que deve ser compreendido é que o que se faz contra Dallagnol nada tem a ver com defeitos dele próprio ou da Lava Jato. O que se busca nesses ataques é a destruição da consciência nacional que já ia se formando, da necessidade do estabelecimento da honestidade em todas as esferas e da punição de quem rouba ou comete outros crimes.


Uma observação atenta dos casos de Arthur Lira e de Deltan Dallagnol mostram que estamos em meio a um processo em andamento, com as engrenagens se acertando para que o Brasil se dê mal, muito mal. Essa corja quer cometer um crime perfeito. A armação que vem sendo construída para abrir as porteiras do liberou geral, com a impunidade garantida para corruptos, vem impondo também a intimidação de quem deseja um país livre de corruptos.


Os resultados estão sintonizados com um conjunto de ações, movidas muitas vezes por partes interessadas, sem o respeito sequer à lógica, como foi feito com o caso de Dallagnol. O TSE votou com unanimidade presumindo que algo poderia acontecer. Ora, se a lei desandar desse jeito, a instabilização será geral. Os tribunais avançam cada vez mais para leituras fora do processo, substituindo a materialidade pela imaginação. 


Na política este é um procedimento praticamente consagrado. A realidade fica por conta da narrativa que vai sendo construída, numa rede que entretece acontecimentos — eventuais ou articulados — anteriores e posteriores ao que se quer impor como uma verdade política ou jurídica. É curioso esta técnica de abre-e-fecha de gavetas, enquanto a realidade política vai mudando. Ou sendo mudada.


No dia 16 de maio Dallagnol teve o mandato cassado pelo TSE, com base na Lei da Ficha Limpa, para logo depois, em 6 de junho, o STF arquivar a denúncia contra o presidente da Câmara, Arthur Lira. O arquivamento que favoreceu Lira foi no mesmo dia em que a Câmara deu o reconhecimento oficial da cassação de Dallagnol. Coincidências acontecem.


A cassação de Dallagnol é absolutamente fora da legalidade. Na data de sua demissão do Ministério Público ele não respondia a nenhum processo administrativo-disciplinar (PAD). É falsa a alegação para a cassação. O que pesou foi a vontade de cassar o ex-procurador, substituindo a presunção de inocência pela certeza de que ações contra ele iriam certamente resultar em impedimento de que ele fosse candidato. Isso pode ser chamado de julgamento por premonição. As altas cortes decidem por adivinhação, não com o apoio de provas.


Sua eliminação da Câmara dos Deputados só pode ser vista como vingança por outras coisas, feitas como procurador da Lava Jato, em ataques de adversários por razões no mínimo subjetivas, nas narrativas fabricadas sem contato com a realidade. O interesse é político e ideológico. Ainda que num ato falho, o próprio Lula já havia definido muito bem essa atitude, durante encontro efusivo com Nicolás Maduro, quando deu o conselho para que ele crie uma “narrativa” para abafar as denúncias de tortura e assassinato de adversários que pesam contra o cruel ditador da Venezuela.


Ao menos nisso, Lula está certo. É mesmo uma questão de “construção de narrativas”, na sua interpretação muito pessoal do debate muito atual sobre a deformação que se faz dos fatos. No entanto, neste caso o chefão do PT aponta como positivo o que na verdade é altamente negativo. Ele vê como uma qualidade política a construção de discursos que manipulam os fatos. Bem, eu nunca tive dúvida de que Lula é um adorador de fake-news — o inesperado é esta confissão pública.


Desse modo, a destruição do mandato de Dallagnol se deu a partir de uma alegação jurídica que nada mais é que exercício de premonição, com o sepultamento de mais de 300 mil votos de eleitores paranaenses. A narrativa teve não só a interpretação posterior dos fatos. Antes houve a própria construção do cenário que justifica a condenação. Não é só uma questão de contar o que aconteceu, mas de elaborar o que vai ser narrado.


O caso da absolvição de Lira está em plano parecido ao da condenação de Dallagnol. As razões para prejudicar o ex-procurador foram se juntando com ares de casualidade. As ações contra Dallagnol,  que nunca chegaram a constituir um PAD, são normais a um procurador que contrariou interesses poderosos. Também não é preciso ser especialista da matéria jurídica para saber de certos passos para ir-se armando, passo a passo, supostas motivações de uma jogada mais alta em tapetões superiores. 


Claro que do mesmo modo que serve para condenar, a movimentação dessas engrenagens podem ir no sentido da absolvição. Não é preciso também ser “jurista” — algo que, a acreditar no que escreve-se na imprensa, parece que hoje em dia serve para identificar qualquer advogado — para saber como são articuladas essas peças. Basta derrubar a condenação na segunda instância, por exemplo, para dar início à subida ao poder de um político que ajude no desmonte de avanços que estavam levando corruptos poderosos para a cadeia.


É interessante o itinerário até o julgamento do STF que tirou da gaveta o processo contra Arthur Lira, para favorecê-lo. O caso é de um assessor parlamentar dele, preso em 2012, no aeroporto de Congonhas, tentando embarcar para Brasília com mais de 106 mil reais escondidos no corpo. Na época, Lira era um deputado desconhecido. A passagem de avião do assessor foi paga com o cartão do parlamentar. Quando foi pego pela Polícia Federal, o assessor afirmou que o dinheiro era de Lira.


A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) só foi analisada em 2019. Já havia maioria formada na Primeira Turma do STF para torná-lo réu e claro que a defesa de Lira recorreu da decisão. Então, em 2020 o ministro Dias Toffoli suspendeu com um pedido de vista a análise do caso. Com tudo engavetado, ficou aberta a eleição posterior de Lira, como o novo presidente da Câmara dos Deputados para o biênio 2021-2022. A reeleição em fevereiro de 2023 também estava garantida legalmente. 


Providencialmente, o caso só saiu agora da gaveta. Mas espere aí: não havia a decisão de 2019  de torná-lo réu? Bem, houve uma mudança total do entendimento do caso, por causa de transformações criadas por outros julgamentos. Cabe lembrar que em novembro de 2019 Lula foi solto. Caiu a prisão em segunda instância. 


Subiram então aos palcos da da mídia e da internet, agora sem nenhum pudor de exibição pública, uma porção de defensores de uma amenizada geral na aplicação das leis. Houve uma campanha cerrada da esquerda comandada por Lula contra o instituto legal da delação. Outro ponto que deve ser lembrado é que foi em 2021 que o Centrão entrou com tudo no governo de Jair Bolsonaro. Engrenagens giravam, garantistas de desmandos, à esquerda e à direita.

 

Em abril deste ano, a própria PGR recuou e desistiu da acusação contra Lira. A defesa de Lira também pode nos ajudar a observar as engrenagens em andamento. Seus advogados alegaram que depois dele quase virar réu em 2019, casos semelhantes foram rejeitados e anulados pelo Judiciário. Outro argumento foi sobre a Lei Anticrime, que impede o recebimento da denúncia baseado unicamente nas declarações de um delator. Essa lei é de abril de 2021. Mesmo sem fazer juízo de valor, não há como não notar engrenagens se acertando.


O julgamento começou em 2019, mas havia sido paralisado pelo pedido de vista de Toffoli quando já existiam votos suficientes para abrir a ação penal. A maioria da Turma tinha seguido o voto do relator, ministro Marco Aurélio Mello, aposentado no ano passado.


Na semana que passou, cinco ministros votaram pela rejeição da denúncia: André Mendonça, Dias Toffoli, Luiz Fux, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Anteriormente, Moraes e Barroso haviam aceitado a denúncia, assim como o ministro Marco Aurélio, que foi o relator originário. André Mendonça entrou agora em seu lugar e votou diferente.


Essa é uma novidade interessante. O Tribunal tem um posicionamento consolidado de que o voto já lançado pelo ministro aposentado não pode ser renovado pelo ministro que o substituiu. Os togados resolveram mudar essa praxe, depois de uma questão de ordem do ministro Mendonça, que citou diretamente a manifestação da PGR pela rejeição da denúncia e “as inovações legislativas sobre a matéria”. 


Quem há de discordar da argumentação do ministro na sua questão de ordem? De fato, muita coisa mudou enquanto o processo estava na gaveta. Mas nem cabe pedir data venia para lembrar das engrenagens que se movimentam, muitas vezes, como neste caso, até com peças novas aplicadas com o maior cuidado nos lugares certos.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Lula e o ditador chavista Nicolás Maduro: amizade antiga, compromissos eternos

Lula e seu partido são uma infelicidade para o Brasil, ainda mais agora, quando o país necessitava quase desesperadamente de um governo de transição, com um perfil moderado, com habilidade e disposição para acabar com essa desunião improdutiva entre os brasileiros, focando no interesse comum de encaminhar a vida nacional para uma condição ao menos razoável.


São imensas as necessidades deste país, mas nada pode ser feito antes que as pessoas se entendam sobre o que é básico, reatando nossas vidas ao menos à normalidade. Propostas mais audaciosas, transformações radicais em qualquer setor, essas coisas poderiam ficar para depois, até porque não é possível fazer grande coisa sem arrumar a casa e estabelecer um mínimo de entendimento do que realmente se quer para o país, independente do ponto de vista político ou ideológico que se queira dar a esses passos adiante.


Claro que essa pauta nunca foi do PT, embora Lula, no início de seu primeiro mandato, tenha fingido ter em mente algo parecido, com o compromisso simbolizado pela “Carta aos brasileiros”, que mais que apaziguar o mercado, tinha o propósito de amenizar o clima de temor com a vitória do PT. Mas não demorou para que os petistas mostrassem que de fato havia motivo para se ter medo.


Enquanto apaziguava os ânimos com a carta, Lula foi construindo na escuridão o mensalão, que é interpretado mais como um processo de corrupção do que pelo seu real objetivo: o de dominar completamente o Legislativo, articulando um domínio total do governo sobre o país. O mensalão não era só um plano de propinas para parlamentares. O controle das votações no Congresso Nacional tinha como objetivo impor o projeto petista de poder.


Foi por mero acaso que Lula e seu partido acabaram sendo desmascarados. Um conflito sobre pagamentos de caixa dois ao PTB levou a uma reclamação pública do então deputado e presidente do partido, Roberto Jefferson, com a denúncia de que o governo do PT estava comprando deputados. Estava em curso o plano de hegemonia petista, bancado por verbas públicas. Foi em 2005 que surgiu o escândalo. Na época, Lula disse que não sabia de nada.


Num detalhe pouco lembrado da entrevista que revelou o mensalão, dada pelo cacique político do PTB à Folha de S. Paulo, Jefferson conta que Lula caiu no choro quando ele contou sobre o pagamento de mesadas a parlamentares. Fingimento do chefão petista, é claro. Lula passou anos repetindo seu jargão conhecido, de que “não sabia de nada”.


Depois, veio o petrolão, dando continuidade ao processo de corrupção, que teve continuidade no segundo mandato de Lula e avançou nos governos de Dilma Rousseff. Não foi só de commodities que viveu o petismo. O petrolão foi um forte produto de exportação da era petista, os esquemas de corrupção que envolvem empreiteiras brasileiras foram levados até para a África. É interessante que os identitários não reclamem aos companheiros petistas por esta destruição moral em países libertados do colonialismo e jogados na miséria nos esquemas exportados por um governo de esquerda.


Nem os Estados Unidos foram poupados da roubalheira. No último ano do governo de Dilma Rousseff, a Odebrecht e a Braskem foram obrigadas a assinar acordos de leniência e pagar US$ 3,5 bilhões, como multa por envolvimento no esquema de corrupção, “o maior caso de suborno internacional da história”. O acordo, que ressarciu também o Brasil e a Suiça, foi feito no âmbito da Operação Lava Jato. Com os americanos não houve jeito do STF brasileiro interferir, perdoando ou até deixando de condenar corruptos.


A Venezuela de Nicolás Maduro também entrou nessa festa, só que por lá a impunidade venceu, até porque o próprio Maduro pegou diretamente sua parte. Embora Lula diga que a ditadura de Maduro é só uma questão de narrativa, denúncias de corrupção dão cadeia — e até a morte — é para quem denuncia. É mais ou menos o que pode começar a acontecer por aqui. Tranquilizem-se, poderei até dizer que avisei, porém, só com o meu advogado.


Por enquanto, ainda podemos dar os números. A ditadura chavista está em segundo lugar em distribuição de suborno pela Odebrecht. O cálculo é de cerca de 98 milhões de dólares, entre 2006 e 2015. Rolou muita grana nas campanhas do chavismo, azeitando a “democracia” que tanto orgulha Lula. Uma das campanhas de Maduro foi presenteada pela empresa com 30 milhões de dólares.


Essa farra milionária teve um custo alto para os cofres brasileiros, pois conforme o próprio Maduro disse na sua visita ao Brasil, eles nem sabem direito quanto é que devem ao Brasil. Isso falando em números oficiais, pois ninguém vai se ocupar com uns milhõezinhos não oficializados. A mamata correu enquanto Lula mandava no governo, seja com ele como presidente ou a sua apadrinhada Dilma Rousseff. O chefe sempre foi ele, que nunca sabe de nada.


Mas e o tapete vermelho, nesses dias de euforia incontida com o ditador venezuelano? Ora, que ninguém venha alegar a existência de compromissos ou de cumplicidades, usando esses “lawfares” de intimidação contra os que só querem o bem da América Latina. O tapete vermelho foi só uma deferência oficial própria de inocentes narrativas democráticas.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires