quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Ética na gaveta

Ética nunca foi o forte do governo Lula, mas parece que agora, como diz a rapaziada de quadrilhas menores, liberou geral. Agora só falta Lula fechar a Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Desmoralizada já está.

O caso do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, já se arrasta há meses. Temos também o caso dos cartões corporativos (veja abaixo), que agora começa a dar problemas em vários ministérios. Isso sem falar no mensalão e outros casos que, se Lula não viu, muito menos a Comissão de Ética do governo. A gaveta do Planalto deve estar cheia. Além do tapete, é claro, que deve ter montes e montes de sujeira por debaixo.

Ao acumular a presidência do PDT com o exercício do cargo de ministro do Trabalho, o ministro Lupi desrespeita o código de ética criado pelo próprio governo, mas não quer sair de nenhum de nehum dos cargos. Diz que não está indo contra a ética.

Mas se Lula tem até seu filho Lulinha encalacrado em negócios suspeitos faz de conta que nada acontece, será que o ministro Lupi não tem razão? O problema ético do governo deve ser mesmo a existência Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
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POR José Pires

Ética? Põe no cartão da Igualdade

Por falar em ética, no caso dos cartões corporativos do governo Lula, que pagam até a cervejinha, e que estourou agora com certo atraso, o mais sintomático é que os gastos mais absurdos tenham sido feitos pela ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro.

A revista Veja fez um apanhado dos gastos da ministra em 2007. Vale a pena recordar, por isso fiz o resumo que publico abaixo. Mas lembrem que os números são do ano passado, antes da ministra ter seus gastos questionados.

E a gastança continua. Segundo dados do Portal da Transparência, Matilde Ribeiro já pagou este ano, com cartão corporativo, R$15 mil, sendo R$11,2 mil com o aluguel de carros. Mas vamos à farra do ano passado.
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POR José Pires


OS GASTOS DA MINISTRA DA IGUALDADE RACIAL 

126 000 reais em aluguel de carros
A maior parte dos gastos se refere a aluguel de veículos. Em 2007, a ministra gastou com isso 126.000 reais. Se decidisse alugar um Vectra, o veículo mais caro oferecido pela sua locadora habitual, a Localiza, ela gastaria 116.000 reais por ano. Então a Veja pergunta que tipo de carro a ministra aluga.

35 700 reais em hotéis e resorts
No ano passado, a ministra pagou 67 contas em hotéis – média de 5,5 contas por mês. Seu favorito é o confortável Pestana, um cinco-estrelas, na Praia de Copacabana. Ela esteve por lá 22 vezes no ano passado, ao custo total de 10.000 reais.

4 500 reais em bares, restaurantes e até padaria
No Rio de Janeiro, ela gosta do restaurante Nova Capela, famoso reduto da boemia carioca, e o bar Amarelinho, onde é servido o chope mais gelado da cidade. Em São Paulo, a ministra Matilde é assídua na padaria Bella Paulista, que fica aberta 24 horas por dia e é freqüentada pelos notívagos paulistanos.

460 reais em free shop
Questionada pela revista sobre este estranho gasto, a ministra disse que usou o cartão pago com dinheiro público "por engano" e que "o valor já foi ressarcido à União".
4 800 reais despesas diversas


171 500 reais no total

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Tem recado aí

Pelo visto política é a arte de... mandar recados. Prestem atenção nos jornais e até na televisão. Em qualquer notícia política e até mesmo na voz de comentaristas políticos aparece sempre que este ou aquele político falou isso ou fez aquilo para “mandar um recado”. Para o presidente da República, para o partido, para a Câmara ou o Senado, para o governador deste ou daquele estado e até mesmo para o prefeito de Catolé do Rocha. Tem recado pra todo mundo.

Político vive mandando recado. Por que o José Dirceu deu entrevista para a revista Piauí? Para mandar recado. O Sarney deixou de pintar o bigode? Só pode ser recado. Até o implante de cabelo do deputado cassado deve ter sido recado. E a coisa vem de longe. Quem não se lembra daquela ocasião quando o então presidente Collor apareceu sem a aliança de casamento e a imprensa dizia que era recado para alguém?

Político manda recado até quando dá depoimento para a Polícia Federal, para o Ministério Público ou até mesmo para o Supremo Tribunal Federal.

Estou falando isso porque o Delúbio Soares deu depoimento à Justiça na última quinta-feira e citou vários colegas petistas. É uma lista boa: ele citou Silvio Pereira, Valter Pomar, Joaquim Soriano, Romênio Pereira, José Genoino, Jorge Bittar, Marta Suplicy e Aloizio Mercadante, todos maiorais do PT.

E a imprensa já está dizendo que o tesoureiro do PT na época do “mensalão” está mandando um recado ao partido.

Que coisa! Esse pessoal não conhece e-mail?
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POR José Pires

domingo, 27 de janeiro de 2008

Paulo Patarra, um bravo jornalista

O jornalista Paulo Patarra morreu na segunda-feira passada, aos 73 anos, vitimado por um câncer na garganta. Patarra fumou durante 61 anos. Passou seu último ano de vida sem poder falar, depois que a doença obrigou a retirada da laringe e das cordas vocais. O cigarro é mesmo um vício terrível: horas antes da operação,em 2006, o jornalista fumou um último cigarro. Não duvido que tenha desejado uma última tragada antes de ir.

Mas Patarra era mesmo um bravo. Estava bem humorado em sua última entrevista, feita por escrito e publicada em abril do ano passado pelo ABI Online, site da associação Brasileira de Imprensa. Depois de quatro horas de entrevista − feita no hospital − escreveu nas anotações do repórter: “Falamos, não? Imagina só se eu não estivesse mudo!”.

Conheci Patarra no jornal Ex, em São Paulo, na década de 70, ele já um jornalista consagrado e eu recém-chegado em São Paulo com 16 anos e trabalhando na imprensa alternativa que fazia oposição à ditadura militar. Como criador da revista Realidade, uma as mais importantes publicações da nossa história jornalística, ele já era uma lenda nos meios jornalísticos. Pedira demissão da Editora Abril, onde tinha um bom cargo, e investiu sua indenização no jornal. Com a entrada de Patarra, o Ex teve um forte crescimento e passou a ser ainda mais visado pelos militares.

A edição com a reportagem sobre a morte do jornalista Vladmir Herzog, em outubro de 1975, colocou o jornal ainda mais no foco repressivo. O jornal, que já vinha crescendo,com a injeção do capital e do talento de Patarra saltou de 7 ou 8 mil exemplares para 30 mil e, na edição da morte de Herzog, tirou 50 mil exemplares em duas edições.

Mas o que era para se tornar a grande publicação alternativa do país acabou tendo morte prematura sob a pressão do regime militar. Vista de longe, a capa com a morte de Herzog (acima, à esquerda) pode até não parecer grande coisa. Mas para fazer aquilo era preciso muita coragem, já que o resultado podia ser tanto a prisão quanto a morte. Os aplausos para quem combate uma ditadura são sempre tardios.

Mylton Severiano da Silva, o Myltainho, um dos editores do Ex, conta que colegas do sindicato dos jornalistas de São Paulo chegaram a ir até a redação no dia do fechamento da matéria para pedir que nada fosse publicado. “Foi patético”, ele conta em uma ótima entrevista no site de Luiz Maklouf Carvalho. “Nós, implacáveis, decididos a publicar, e os colegas jurando que estavam tentando nos proteger ao pedir que não publicássemos”. Além de contar a história do Ex, Myltainho também faz um importante relato sobre nossa história política recente, com destaque para a importância de Patarra na modernização da imprensa brasileira.

Mas o jornal acabou tendo que fechar. A Polícia Federal apreendeu 50 mil exemplares de uma edição extra e, logo após, foi determinada a censura-prévia, o que impossibilitaria totalmente a feitura de um jornal como o Ex. Desse modo, a ditadura militar forçou sua falência.
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POR José Pires



A última entrevista

Trabalhei novamente com Patarra em 1978 na revista Repórter Três. A publicação durou apenas duas edições, mas marcou época na imprensa brasileira. Vocês podem ver aí ao lado, na página de apresentação da revista, parte da equipe na qual eu orgulhosamente estou incluído. Patarra está na primeira foto: como sempre, sorridente. Eu estou na última foto, jovem e cabeludo. A revista tinha uma equipe ótima. Além de Patarra como diretor de redação, alguns dos colegas de então eram: Hamilton Almeida Filho, o Haf, Mylton Severiano da Silva, o Myltainho, Narciso Kalili, Lourenço Diaféria, José Hamilton Ribeiro, Jayme Leão, Caco Barcelos e Fernando Morais.

Myltainho garante que a revista acabou por causa da censura a um cartum meu, mas acometido por uma impressionante amnésia em relação àquele período, não lembro desse episódio. O que me lembro da Repórter Três é que gostava muito da convivência com tantos mestres e ainda mais de Patarra, que era uma pessoa muito afetuosa. Então eu já tinha um pouco mais de idade, 19 anos, e, a não ser do caso do cartum censurado, lembro de tudo o mais; recordo que além de coragem e talento, nele se destacava uma imensa generosidade.

Lembro do miúdo Patarra ocupando todos os espaços: falante, criativo, corajoso. Uma pessoa estimulante, o colega que queremos como amigo. Myltainho, que o conheceu mais do que eu, tem uma definição ótima para ele: "um sujeito elétrico, de um bom senso afiadíssimo, peitudo apesar do físico esquelético".

Leiam sua última entrevista para a ABI, clicando aqui. Até o final Paulo Patarra, estava mesmo “falando” muito. Em quantidade e qualidade.
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POR José Pires

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Por que no te callas, Requião?

Até terça-feira passada Jozeléia Nogueira era procuradora-geral do governo do Paraná. Agora, ela é autora de uma das melhores frases desses últimos anos, com uma fala que expõe o comportamento autoritário e grosseiro de Requião. O governador a ofendeu em público, como faz com todos, levando a procuradora a pedir demissão do cargo. Respaldada nesta atitude pessoal muito digna, a frase da ex-procuradora adquire um caráter histórico.

Ela saiu dizendo o seguinte: “Em público, diante da imprensa e de todos os demais secretários de Estado, as agressões verbais [de Requião] ultrapassam todos os limites da tolerância, da civilidade e, com todo o respeito e sinceridade, de educação também”.

A frase da ex-procuradora sintetiza o modo de governar de Requião, caracterizando bem seu estilo pessoal, de comportamento agressivo, truculento e de modos extremamente grosseiros. O governador é famoso pela grosseria. Ele destrata seus secretários até com palavrões e hoje, no estado, é difícil encontrar uma categoria profissional que ele não tenha xingado ou ameaçado. A reação da ex-procuradora é muito importante, pois até aqui seus subordinados têm agüentado calados o cotidiano de agressões.
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POR José Pires

Patadas e também burradas

O estilo de Requião fez dele uma das estrelas do Youtube, site que disponibiliza vídeos na internet. O governador do Paraná protagoniza os mais bizarros da área política. Ele aparece ofendendo manifestantes, fazendo ironias com a política militar do estado, desrespeitando as mulheres, enfim brigando e agredindo os mais variados setores.

Seu descontrole também é responsável por burradas muito engraçadas. Ele já usou uma das reuniões de governo − televisionadas pela TV Educativa − para atacar um plano internacional para dominar a amazônia brasileira e que, na verdade, é apenas um jogo eletrônico criado para a publicidade do guaraná Antárctica (veja aqui). Em sua ansiedade, Requião interpretou como verdadeiro o jogo virtual.No Youtube ele aparece também comendo mamona em reunião com o presidente Lula, numa das cenas mais famosas do nosso besteirol político (veja aqui)

E aqui você pode ver Requião fazendo piada de mau-gosto com os idosos, dizendo que atividade esportiva da terceira idade tem que ser acompanha pelo camburão do necrotério. Não há dúvida: é um governador com alto índice de patadas.
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POR José Pires

Sadomasoquismo como forma de governo

A ex- procuradora Jozeléia Nogueira teve mais dignidade que os demais marmanjos que cercam Requião e vivem sob regime de patadas. É uma relação política estranha, que parece alimentada por um sadomasoquismo político muito particular. É um cotidiano pesado, agravado também pelas piadas de mau-gosto de Requião.

Mas parece que tem gente que gosta. Houve uma ocasião, há cerca de três anos, que uma deputada de sua base política defendeu a má-educação do governador em uma reunião com professores universitários. Os professores haviam sido ofendidos por Requião. A deputada disse, em reunião pública, que as grosserias deviam ser desculpadas por serem decorrentes da personalidade do governador.

Por esta fala, a deputada foi vaiada no ato. E esta extraordinária tese em defesa da grosseria foi com certeza um dos motivos para que ela não tenha sido reeleita.
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POR José Pires

Criança também sofre no Paraná

E enquanto o governador surta em seu gabinete e até em público, o Paraná colhe péssimos índices em todas as áreas. É o mais pobre estado do sul do Brasil, tem a pior renda per capita e baixos índices de desenvolvimento.

No mesmo dia em que a ex-procuradora se demitia por ter sido ofendida em público, a Unicef apresentava um estudo que revela que o Paraná apresenta os piores números em mortalidade infantil. A taxa de mortalidade infantil é considerada pelo Unicef como um indicador básico de desenvolvimento humano.

O Paraná está na pior situação na região. Entre menores de cinco anos o estado tem 22,3% de mortes por mil nascidos vivos no ano de 2006 enquanto Santa Catarina está com 19,0% e Rio Grande Sul com 16,0%. Segundo a Unicef, as crianças do Paraná com menos de dois anos também são as mais desnutridas do sul do país.
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POR José Pires

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Agora é a economia mesmo, estúpido!

Ontem eu observava aqui neste blog que fazia alguns dias, bem poucos, que o presidente Lula não disparava alguma sandice nos ouvidos brasileiros. Eu dizia até que era ainda mais estranho, pois um assuntão, o da recessão americana, quicava na área, para usar uma hipérbole de seu gosto. Falei cedo. Ele resolveu falar besteira para o mundo.

Ontem deu um pito no presidente George W. Bush. Ainda não sabemos qual será sua próxima ação, para onde será dirigida uma firme descompostura para que o mercado financeiro se arranje. Que ele não acorde invocado. Pode acabar ligando para dar um esporro no presidente do Federal Reserve, o Banco Central americano.
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POR José Pires

De olho na agenda

É claro que fui dar uma olhada na agenda do Lula para hoje. Nenhuma reunião com o ministro da Fazenda. O homem está calmo. Ou cego. Ou os dois.
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POR José Pires

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Conspiração

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, culpa a mídia pelo “clima” em torno da febre amarela. É suspeito mesmo: esse alarde com a febre amarela só pode ser coisa da imprensa marrom.
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POR José Pires

Teste divino

Agora é que vem a grande prova se Deus é brasileiro ou não. Com Edison Lobão assumindo o ministério das Minas e Energia tem que chover e muito. Senão fica comprovado que o de cima tem mesmo outra cidadania.
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POR José Pires

Vejam a piada publicada em um site americano e que corre pela internet. A nossa imagem no exterior está como o diabo gosta.
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POR José Pires

Vaia educativa

O ministro da Educação, Fernando Haddad foi tocado do 30º Congresso Nacional da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação). Haddad chegou ao congresso e foi recebido com vaias por militantes do PSTU e de correntes de profissionais da educação ligadas ao partido e à central sindical Conlutas.

O ministro foi praticamente posto pra foras pelos militantes que tinham como um dos gritos de guerra “eu sou de luta, sou radical, não sou capacho do governo federal".

Os gritos dos manifestantes também foram de “fora já daqui!”. Alguns jogaram bolinhas de papel em Haddad, que sentado na primeira fila, era defendido com gritos por militantes da CUT (Central Única de Trabalhadores).

O ministro pretendia falar durante o congresso, mas diante do clima de confronto, resolveu deixar o local.

Tirante a ironia da má-educação em um congresso de trabalhadores da Educação, sempre é bom ver autoridades petistas tomando do próprio remédio − atitudes ferozes e desequilibradas que eles próprios tinham quando estavam fora do poder. Não deixa de ser um remédio para que aprendam a se comportar quando voltarem a ser oposição.
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POR José Pires

Recordar é viver

Haddad tomou a vaia no sábado e hoje no meio da tarde tem reunião com Lula. Parece maldade. Logo agora que o presidente já tinha esquecido das vaias do PAN?
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POR José Pires

Look final

Fidel Castro sempre cuidou muito bem da imagem, mas agora no finalzinho cometeu um deslize fatal. Passou a vida de uniforme de guerrilheiro e vai entrar para a história vestido com um agasalho esportivo.
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POR José Pires

Calote em legítima defesa

A desobediência civil está firme no Rio de Janeiro. Moradores de bairros da zona sul e da zona norte da cidade anunciam que não vão pagar o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU), principal receita de qualquer município. É um movimento organizado. Associações de moradores exigem que a a prefeitura carioca cumpra suas obrigações com serviços básicos (limpeza e asfalto, por exemplo), que por lá também estariam em falta.

Com a ameaça de calote, o prefeito do Rio, Cesar Maia, está mais alucinado que de costume.

Boa essa. É torcer para que a moda pegue. Bem que viria bem um movimento desses no plano federal. Lula iria ficar de cofre vazio.
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POR José Pires

Caladão

Lula não deve estar bem da saúde. Não falou nenhuma besteira na semana passada. E olha que ele tem um assuntão: a recessão nos EUA.
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POR José Pires

O culpado, o culpado

Falando nisso, a recessão nos EUA é herança maldita de quem?
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POR José Pires

Inversão de valores

Vai entender um negócio desses. O governo Lula não consegue gastar o dinheiro do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Dos R$ 16,5 bilhões previstos em 2007, apenas R$ 5,4 bilhões foram gastos.

Já com o pagamento de diárias a funcionários públicos, assessores e ministros no ano passado, gastaram de R$ 1,7 bilhão nos últimos quatro anos, o que dá R$ 1,2 milhão por dia.

Pra mim a equação é simples: tem que mudar a gastança de lugar.
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POR José Pires

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Gil diz ao povo que fica

Gilberto Gil não vai mais deixar o Ministério da Cultura. Recentemente ele dizia que havia incompatibilidade entre o ministério e sua carreira artística e que também precisava curar uma lesão nas cordas vocais e por isso deixaria de ser ministro.

Pois agora decidiu ficar. “Eu continuo mais do que nunca”, ele disse. Não é nada espantoso vindo de quem vem: era só gogó mesmo.
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POR José Pires

Jogando conversa fora

Repercute bastante a idéia do ministro de Assuntos Estratégicos (o famoso ministério Sealopra), Roberto Mangabeira Unger, de fazer a transposição de águas da região do semi-árido nordestino. Mangabeira está em viagem pela Amazônia, para onde foi levar suas idéias futurísticas.

O ministério de Mangabeira, pelo jeito, é o ministério de jogar papo fora. Ou, como diziam os antigos, da conversa fiada. Em um texto de dez páginas lançado em Belém surgiu a idéia de fazer um aqueduto levando água da Amazônia para o nordeste. Foi criticado, é claro, pelo absurdo.

Mas a viagem está sendo bastante útil. Para Mangabeira. Ele já foi informado que só em Manaus, onde vivem mais de 1,8 milhão de habitantes, quase 700 mil não dispôs de água encanada em suas casas. Agora ele promete que vai pensar primeiro em utilizar a água da Amazônia na própria Amazônia. Não deixa de ser um avanço.
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POR José Pires

Pela defesa do Brasil

O ministério de Mangabeira − que não sei por que é chamado de Extraordinário em um governo em que praticamente tudo é fora do comum − também está envolvido em um estudo muito importante e com certeza até mais urgente que construção de aquedutos.

É o Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Nacional de Defesa, um grupo de trabalho que vai apresentar um plano estratégico de defesa nacional. E é claro que o plano já tem apelido: é o PAC da Defesa.

O grupo de trabalho, presidido pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e coordenado por Mangabeira, também terá a participação dos ministros da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciência e Tecnologia, além dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

O grupo deve apresentar até 7 de setembro deste ano um plano estratégico de defesa nacional. Até lá, os brasileiros devem rezar para que não aconteça nenhuma ameaça grave, como um ataque de nação estrangeira, uma hecatombe nuclear, coisas assim. Se algo acontecer antes de 7 de setembro, sem o plano do Mangabeira estaremos fritos.
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POR José Pires

O mundo não confia nos políticos

Se os marcianos vissem essa, chegariam à conclusão de que sim, existe vida inteligente na Terra: 900 milhões de terráqueos não confiam nos políticos. O resultado é de uma pesquisa feita pelo Gallup International para o Fórum Econômico Mundial, a entidade que organiza os encontros de Davos.

O Gallup ouviu 61,6 mil pessoas em 60 países o que, pelo método da pesquisa, equivaleria à opinião de 1,5 bilhão de pessoas. 60% dessas pessoas acham que os políticos são desonestos.

O estudo afirma também que apenas 8% dos pesquisados no mundo confiam nos políticos. Na América Latina a desconfiança é ainda maior: só 4% confiam.

E se você está achando que ainda é muita gente confiando nos políticos, tem uma coisa que explica: o Brasil não entrou na pesquisa.
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POR José Pires

Que viagem

Falando em político, está explicado porque os nossos vivem viajando. Estudo divulgado pela ONG Transparência Internacional revela que, dos R$ 80 milhões de verba de gabinete recebidos no ano passado, R$ 20 milhões foram para viagens.

É muita viagem. Deve ser para seguir o exemplo de Lula: esse viaja até na maionese.
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POR José Pires

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A morte ronda os homens de bem

Em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, a jornalista Eliane Cantanhede noticia que a Polícia Federal identificou e fez malograr um plano para matar um gerente do Ibama contrário aos interesses de madeireiros da região Norte. A intenção era simular um assalto à mão armada e matar o gerente do Ibama Roberto Scarpari, que passava as férias no Rio de Janeiro.

Com a morte de Scarpari, que trabalha em Altamira, no Pará, fazendeiros e madeireiros teriam um pouco mais de sossego para destruir florestas. Ele é um desses funcionários públicos que realmente faz o seu serviço. E com isso atrapalha bastante essa gente.

Segundo Cantanhede, o gerente do Ibama foi um dos responsáveis, por exemplo, pela autuação da Amazônia Projetos Ecológicos, que mantinha castanhais no Pará. A empresa foi notificada para desocupar mais de um milhão de hectares e multada por queimada de áreas florestais.

O plano para matá-lo forjando um assalto à mão armada tinha evidentemente a intenção de esconder o caráter político do crime, que desse modo seria visto como apenas mais um em meio à violência que domina o Rio.

A jornalista da Folha fica apenas no atentado frustrado pela PF, mas o fato fez meu raciocínio avançar além disso. E me lembrei da morte do indigenista Apoena Meirelles.

Meirelles era funcionário da Funai e foi morto com dois tiros, no interior de uma das agências do Banco do Brasil de Porto Velho, em 9 de outubro de 2004. O sertanista era tido como um lutador pela causa dos índios e tinha boas relações com indígenas de todas as etnias. Era um dos poucos brancos por quem os índios tinham consideração e devido a essa respeitabilidade serviu como mediador, resolvendo sérios conflitos e evitando graves conseqüências. “Apoena vivia no meio dos índios porque gostava, não porque era preciso. Acho que tinha sangue de índio”, disse um dia o índio Raimundo Nonato Karitiana.

Apoena Meirelles presidiu a Funai no fim da década de 1980. Era filho de indigenista e foi de um antigo líder Xavante que seu pai tirou o seu nome. Foi ele quem fez o primeiro contato com os índios Cinta-larga, em 1967. Sua morte até hoje permanece inexplicada. O sertanista estava envolvido na investigação sobre o garimpo ilegal em Rondônia, na mesma região em que ocorreu a matança de 32 garimpeiros em abril de 2004.

A conselheira da Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira, disse ao site "Amazônia à Vista" em outubro de 2006 que Meirelles detinha informações importantes. Um dia antes de morrer ele disse em uma reunião que pretendia “desmontar as falcatruas” que existiam na Reserva Roosevelt, local dos garimpos clandestinos.

Não tenho uma conclusão fechada sobre o assassinato do indigenista, mas o plano frustrado no Rio fortalece a suspeita de que Apoena Meirelles foi vítima de uma trama criminosa que deu certo.
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POR José Pires

O agente Lobão

Em vários resumos biográficos sobre Edison Lobão, senador e futuro ministro de Lula, está dito que ele é jornalista, o que surpreende muita gente, inclusive a mim, pois pouco ou nada se sabe de sua carreira na imprensa. É certo que tampouco se sabe de algo útil que ele tenha feito nessas décadas em que atua como político,mas de sua atividade jornalística sabe-se menos ainda.

Pois o excelente Janio de Freitas traz um oportuno esclarecimento sobre este sombrio tópico biográfico, apenas transparecido em seu currículo. Pois foi nas sombras mesmo, servindo à ditadura militar, que Lobão fez “jornalismo”, em atividade que certamente deve ter sido muito importante como um impulso inicial na sua carreira política.

Leiam o que Janio de Freitas escreve em sua coluna de hoje, uma ótima contribuição para a memória brasileira, sempre tão embaralhada e ainda mais nestes tempos:

“Parece esquecida, nos perfis de Lobão publicados nos últimos dias, a sua carreira jornalística. É verdade que, em termos propriamente jornalísticos, não foi menos destalentoso do que em sua carreira na Câmara e no Senado, onde o máximo que demonstrou foi a persistência de permanecer, já por umas duas décadas, entre os mais inúteis. Na imprensa, porém, útil Edison Lobão foi. Como "repórter e cronista político" do 'Diário de Brasília', prestou serviços diários aos chefões da ditadura. Seus textos eram como recados saídos do Planalto, de serviços militares ou de informações, e armações de políticos governistas contra opositores. Seu ar soturno caia-lhe muito bem. E assim também quando deu continuidade em lugar mais apropriado -o partido da ditadura, a Arena- ao papel que escolhera na vida. Sem imaginar a retribuição que a democracia de Lula e do PMDB lhe ofertaria.”

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POR José Pires

Lobão no poder

E o Lobão está mesmo confirmado para o ministério de Minas e Energia. Esta é uma posse que promete. Mancha Negra, os Irmãos Metralha, Capitão Gancho, Madame Min, Maga Patalógica e João Bafo-de-Onça certamente não vão faltar.
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POR José Pires

A saúde do ditador cubano

Parece até um desmentido. Depois do presidente Lula, em viagem a Cuba, ter dito que Fidel Castro, de 81 anos, está com uma “saúde formidável” e pronto “para retomar seu papel político histórico no mundo globalizado e na humanidade”, o ditador cubano escreveu um artigo no Granma reconhecendo que tem sérias limitações de saúde.

No jornal ele tem um espaço pessoal, onde escreve numa coluna chamada “Reflexões do presidente Fidel Castro”. Parece dono de jornal do interior, imagem que não fica longe do que é hoje a imprensa cubana.

Nunca se sabe exatamente o que o falastrão Lula quer dizer com suas frases, já que algumas de suas afirmações não duram três dias, mas se Fidel estaria pronto para retomar um papel político, a única interpretação possível é que ele estaria pronto para reassumir − ou retomar − o poder.

Pois não está. E é o próprio Fidel que afirma isso, um dia depois do petista falar de sua “saúde formidável”. No Granma, ele escreveu o seguinte: “Não estou em condições físicas de falar diretamente com os cidadãos do município onde fui indicado para as eleições”. E mais uma fala de Lula fica desacreditada.
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POR José Pires

Recuerdos de Lula y Fidel Castro

O Granma, órgão oficial do regime cubano, noticiou a visita de Lula a Fidel Castro de forma bastante romântica. Segundo o jornal, os dois tiveram um “encontro amistoso e fraternal”, quando lembraram “de maneira especial” a idéia “de um deles de criar o Fórum de São Paulo”. A matéria não esclarece de quem foi a idéia, mas deve ter sido de Castro.

O Fórum de São Paulo é um organismo que reúne diversos partidos e organismos políticos da esquerda latino-americana, entre eles as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), guerrilha de esquerda envolvida com traficante de drogas e responsável por assassinatos e seqüestros na Colômbia. Hoje as FARC mantêm seqüestradas mais de 600 pessoas.
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POR José Pires

Y el mensalón?

A visita de Lula saiu com destaque no Granma, inclusive com fotografia. Já sobre o “mensalão”, o grande fato do governo petista, até hoje nada foi publicado na imprensa cubana. Até hoje os cubanos nada sabem sobre o caso.
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POR José Pires

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Renovação

O filho do senador Edison Lobão, que deve assumir o ministério de Minas e Energia − com o Lobinho ficando com sua vaga no Senado − é suspeito em fraude de R$ 30 milhões. Já o filho do senador José Sarney pode ser indiciado pela Polícia Federal. Ele é investigado por movimentação de cerca de R$ 3,5 milhões nas vésperas da eleição de 2006.

Pelo visto, também na corrupção não há porque temer pela falta de renovação. Há muita opção jovem no setor.
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POR José Pires

Diagnóstico

Em visita a Cuba, Lula disse que Fidel Castro está com “uma saúde impecável”. É... talvez como a saúde no Brasil que, para Lula, está próxima da perfeição.
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POR José Pires

Agora vai

Enquanto não resolve seus problemas com a Comissão de Ética Pública, que pediu sua demissão, o ministro do Trabalho e presidente do PDT, Carlos Lupi (ele merece ser chamado de ministro do Trabalho acumulado), quer se espalhar pelo exterior. Ele disse que vai criar, até o final do ano, cinco representações do ministério em países com grande número de trabalhadores brasileiros.

Pelo que Lupi promete, as representações vão ser uma festa: “Lá o brasileiro vai poder escutar música popular e comer um feijãozinho amigo para matar a saudade”.

Bem que o ministério do trabalho podia oferecer um “feijãozinho amigo” também para os trabalhadores daqui do Brasil. Para matar a fome mesmo.
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POR José Pires

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Relato sobre a ética agredida pela corrupção

Enquanto aguarda o nascimento de sua neta, o jornalista Ricardo Noblat escreve em seu blog na internet sobre a experiência de ser avô. Tem saído crônicas muito boas, apesar de alguns exageros que devem ser relevados nessa situação, especialmente no caso de Noblat, um avô de primeira viagem. E, pelo que ele conta, a mulher dele é pior; no bom sentido, é claro.

Hoje Noblat escreve uma crônica que acho que deve ser passada à frente. É um ótimo relato sobre a experiência de um jornalista envolvido em um trabalho ético e de qualidade técnica, elemento que no jornalismo é relacionado diretamente à liberdade de expressão e apego à transparência política.

E o que isso tem a ver com a neta do Noblat? Bem, nesta crônica ele fala das pressões sobre quem labuta pela ética neste país, especialmente em regiões onde a corrupção estendeu seu domínio. No caso, o jornalista fala da época em que era editor em Brasília, do Correio Braziliense − onde fez um excelente trabalho criando um jornal com excelente conteúdo, além de uma beleza gráfica e editorial como poucos veículos brasileiros já tiveram − ele teve até um filho agredido com extrema violência por sequazes de políticos que dominam a capital do país.

Mas fiquem com o texto do Noblat, um relato muito importante sobre estes tempos sombrios.
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POR José Pires


DIÁRIO DE AVÔ
O pior ano de nossas vidas

Ricardo Noblat

Estava na minha sala de Diretor de Redação do Correio Braziliense quando o telefone tocou e eu atendi. "Pai, me deram uma surra. Foi a turma do Luiz Estevão. Estão me levando para o hospital", comunicou-me André, meu filho mais velho, na época aluno de jornalismo do Centro Estudantil Universitário de Brasília. Foi entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 1998 para governador de Brasília, disputada por Cristovam Buarque (PT), candidato à reeleição, e Joaquim Roriz (PMDB), que antes governara a cidade duas vezes. Roriz venceu.

Ao longo da campanha, André havia sido advertido mais de uma vez por estudantes, cabos eleitorais do candidato ao Senado Luiz Estevão de Oliveira - sim, o único senador cassado até hoje por quebra de decoro. Meteu-se com desvio de dinheiro público para a construção da sede do fórum da Justiça do Trabalho, em São Paulo. "Avise ao seu pai para deixar de falar mal dos nossos candidatos senão vai sobrar pra você", dissera um dos estudantes a André. Luiz Estevão era aliado de Roriz. E até então eu me dava razoavelmente bem com ele.

Corri para o hospital onde André foi atendido. Depois fomos prestar queixa numa delegacia onde encontramos os agressores. Convocado por eles, ali chegara para aconselhá-los um dos responsáveis pela segurança da campanha de Roriz. Rebeca, Gustavo e Sofia nos esperavam aflitos no portão de casa. Começava assim a fase mais assustadora e repleta de conflitos da nossa vida em família até hoje. Não tinha como provar que o senador eleito mandara bater em André. E ele jurava para amigos comuns que seria incapaz de encomendar tamanha crueldade.

Roriz, mais do que Luiz Estevão, não se conformava com a mudança na linha editorial do Correio patrocinada por seu presidente, o jornalista Paulo Cabral. O jornal deixara de ser chapa-branca. Não poupava de críticas nem mesmo aqueles que sempre tratara como seus fraternais "amigos". Era o caso dos dois. Uma das empresas de Luiz Estevão construíra o prédio do jornal. Como governador, Roriz premiara o Correio com gordas verbas de publicidade. Eleito para governar Brasília pela terceira vez, imaginou que poderia amansar o jornal. Não amansou.

Na noite do dia 18 de fevereiro de 2000, Gustavo assistia no Parque da Cidade ao show de uma banda de rock quando três rapazes se aproximaram dele e um o atingiu com uma navalhada no rosto. Pode ter sido um estilete. Os rapazes não trocaram uma palavra com Gustavo. Fugiram em seguida. No momento em que Gustavo deixava o local acompanhado de amigos, um rapaz alto e louro se ofereceu para ir com ele até o hospital mais próximo. Era o subsecretário da Juventude do governo Roriz, ex-líder do bando que há dois anos surrara André.

Pedi garantias de vida a José Carlos Dias, ministro da Justiça. A Comissão de Direitos Humanos do ministério investigou as agressões e concluiu que elas tiveram "motivação política". Durante 15 meses meus filhos viveram sob a proteção de policiais militares e de agentes particulares de segurança. Gustavo foi obrigado a se submeter a uma operação plástica. Por pouco não ficou com parte do rosto paralisada. Certa noite, minha casa foi alvejada por um tiro disparado por desconhecidos de dentro de um carro.

Sentia-me culpado diante de Rebeca e dos meus filhos. Eles pagavam pelo que eu fazia ou deixava de fazer como jornalista. Gustavo e Sofia eram os mais inconformados com as restrições à sua liberdade. Mais de uma vez Rebeca sugeriu que fôssemos morar em outra cidade. Por telefone, passava o dia monitorando os filhos e os seguranças deles. Em dado instante achamos mais prudente tirá-los de Brasília. Gustavo e Sofia foram estudar na Inglaterra. André, na Espanha. A casa se esvaziou de repente.

O êxito pouco ensina. Aprende-se mais com o fracasso. Momentos alegres são passageiros. Os tristes deixam marcas para sempre. A sabedoria está em tirar proveito desses. Não sugiro a ninguém que se autoflagele. Sou cristão e nem por isso admiro o martírio. Mas estou convencido de que a perseguição movida contra mim, e que alcançou a minha família, serviu para consolidá-la de vez. Rebeca não permitiu que os filhos se tornassem adultos medrosos. E eles aprenderam com o episódio a dar mais valor uns aos outros e à própria vida em família.

(E aí, Luana? Por que não vem logo? Daqui a pouco serei obrigado a contar as histórias dos meus pais, e as dos pais deles para preencher o tempo enquanto você não chega.)

sábado, 12 de janeiro de 2008

É disso que elas gostam?

Naomi Campbell e Hugo Chávez juntos? É sobre um suposto namoro dos dois que a imprensa anda falando. O boato, é claro, começou na Venezuela e vinha desde uma entrevista feita pela modelo com o presidente venezuelano em outubro para a revista brtânica GQ, mas segundo o jornal espanhol El País a notícia ganhou mais credibilidade quando foi confirmada pelo jornalista venezuelano Nelson Bocaranda, considerado muito bem informado sobre a vida de Chávez.

Bocaranda perguntou em sua coluna no diário El Universal: “Futuro black & White?” E brincando com o título de um livro de García Márquez, “O Amor nos tempos do cólera”, o jornalista venezuelano escreveu que o romance parece mais “um amor em tempos de dengue e mal de Chagas”, problemas enfrentados pela Venezuela na saúde.

Na entrevista para a revista, Naomi Campbell perguntou para Chávez se ele admitiria alguma vez ser fotografado sem camisa como fez o presidente da Rússia, Wladmir Putin. Ele então respondeu: "Por que não? Quer tocar meus músculos?"

Além de Chávez, a modelo já entrevistou para a GQ o piloto de fórmula-1 Lewis Hamilton e quer entrevistar, para as próximas edições, Nicolas Sarkozy e Fidel Castro. Para o encontro com Castro o suposto namorado Hugo Chávez pode ser de muita valia.

E a direita deve estar torcendo para que ela consiga um tempo a sós com o ditador cubano. Quem sabe, um encontro com Naomi Campbell não mata o velho?
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POR José Pires

Agora vai

O senador Edison Lobão terá um fim de semana mais atarefado que vestibulando em véspera de prova. Ele está estudando os assuntos do ministério de Minas e Energia, que deverá assumir na semana que vem.

Reportagem da Folha de S. Paulo de hoje informa que Lobão está se esforçando. "Estou lendo alguma coisa que chega às minhas mãos. A imprensa, por exemplo, está escrevendo muita coisa técnica. Todos os dias saem até informações boas", ele disse.

E ele disse mais: falou que “está se informando sobre energia elétrica, sobre hidrelétrica, sobre gás, sobre petróleo”.

Está certo. Como vai dirigir um setor vital para a infra-estrutura do país e que está próximo, bem próximo do desabastecimento, tem que estudar bastante para pegar o jeito da coisa. O melhor mesmo é aproveitar todo o tempo até a nomeação. E se assumir o cargo no meio da semana, ele ainda tem a segunda-feira e a terça para dar uma repassada no que aprendeu.
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POR José Pires

Em família

Com Lobão no ministério de Minas e Energia, a república petista assume de vez sua cara apropriada. E o Senado também se aperfeiçoa, pois na vaga de senador de Lobão entra seu suplente que, por coincidência, é também o filho Lobinho. E este Lobinho não é daquele tipo bonzinho que não come porquinhos.
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POR José Pires

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A Telemar pode fazer um 21

Uma nota postada na página eletrônica de Lauro Jardim no site da Veja é assunto que vai movimentar bastante a política nos próximos dias. Com certeza vai virar reportagem destacada na edição que sai neste fim de semana, podendo até ir para a capa da revista.

Segundo o jornalista, o grupo Telemar/Oi já acertou a compra da Brasil Telecom. A compra não é permitida pela legislação em vigor, com o objetivo de impedir a concentração do setor da mão de poucas operadoras, o que justamente deve ocorrer com a conclusão do negócio.

Feito o acerto para a compra, agora é preciso que seja alterada a lei que regulamenta as telecomunicações, herança tucana que o colunista de Veja garante que já está pronta para ser eliminada. Ele diz que a mudança vai acontecer ainda este mês e que o negócio entre as duas operadoras teve o consentimento prévio do Palácio do Planalto.

Acontece que a Telemar, empresa que pode fazer a compra milionária e com isso formar uma superoperadora, é aquela que injetou R$ 15 milhões na Gamecorp, a empresa de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula.

Com a lembrança da história de Lulinha – o gênio eletrônico da família – a mudança do decreto pelo governo para permitir a compra, o que já é uma coisa muito suspeita, fica com a aparência ainda mais estranha. Parece que já foi acionada aquela receitinha, infelizmente comum no Brasil, de colocar o privado acima do interesse público.

A história da Gamecorp, a fantástica empresa de Lulinha, é um escândalo. Só não deu em nada porque estamos no Brasil, uma terra com muitas oportunidades para quem detém o poder e com pouco espaço para a Justiça. E, além disso, temos também uma oposição genuinamente brasileira, de gente que no substancial acaba se acertando.

Antes do pai virar presidente, Lulinha trabalhava como monitor no zoológico de São Paulo, onde ganhava 600 reais por mês. Com Lula lá, sua vida deu um salto. Entrou como sócio na Gamecorp, que apenas em um ano recebeu um aporte de 5,2 milhões da Telemar. Hoje o capital investido pela Telemar na empresa de Lulinha está em 15 milhões de reais.

A Veja já havia detectado em outubro de 2006 um lobby para mexer na legislação em vigor para favorecer a Telemar. E apontou Lulinha como uma das peças-chave no negócio. “O filho do presidente foi acionado para defender interesses maiores da Telemar junto ao governo que o pai chefia. Em especial, em setores em que se estudava uma mudança na legislação de telecomunicações que beneficiava a Telemar”, publicou a revista em reportagem na qual conta toda a história dos negócios da lucrativa empresa do filho do presidente Lula.

A revista revelou que, em reunião com Daniel Goldberg, titular da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE), Lulinha e seu sócio, Kalil Bittar, “sondaram o secretário sobre a posição que a SDE tomaria caso a Telemar comprasse a concorrente Brasil Telecom”, a fusão que agora está sendo anunciada e que ainda não é permitida por lei.

Segundo Veja, o escândalo em torno dos negócios suspeitos de Lulinha abortou a tentativa de mudar a legislação na época. A revista denunciava, então, que a associação com Lulinha envolvia “a queda de barreiras legais que impedem a atuação nacional de empresas de telefonia fixa”. O governo lula também estaria orientando fundos de pensão para vender fatias de sua participação acionária no setor das telecomunicações.
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POR José Pires

Cadê a turma da liberdade de expressão?

A Brasil Telecom também é dona do portal de internet IG, o que significa que se acontecer a venda para a Telemar um importante setor das comunicações fica sob o poder de apenas uma empresa. É o monopólio se estabelecendo em um meio importante como a internet.

E o interessante é que, neste caso, não se escuta a gritaria que os petistas costumam fazer até em questões menores que supostamente atingem as comunicações no país. Nas instituições ocupadas por essa gente e nos blogs que lhes dão apoio fica todo mundo caladinho.
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POR José Pires

Política em família

Em seu blog na internet o jornalista Reinaldo Azevedo lembrou que um dos controladores da superoperadora que pode surgir com a fusão da Telemar com a Brasil Telecom é Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez. O outro é Carlos Jereissati, da La Fonte.

Sérgio Andrade é amigo pessoal de Lula que, aliás, tem laços firmes com a família Andrade Gutierrez desde que militava na oposição. Marília Andrade, prima de Sérgio Andrade e herdeira da construtora, era amicíssima de Lula antes dele ser presidente. Entre outros agrados, ela hospedou Lurian em seu apartamento em Paris na década de 90, logo depois dos fortes ataques de Collor a Lula e a fragorosa derrota do petista.

A Andrade Gutierrez foi também a maior doadora individual de recursos à campanha de reeleição de Lula em 2006. Deu para a campanha R$ 6,4 milhões, a metade de todo o volume doado pelas empreiteiras.

Essa forte relação é bastante reveladora de como imensas forças econômicas estabelecem vínculos com a política de tal forma que tornam impossível transformações de qualidade. No caso da construtora Andrade Gutierrez, até o acaso da vida ajudou. Enquanto a empresa seguia firme em suas relações com o regime militar e os governos civis que vieram a seguir, herdeiros seus estabeleciam pontes sentimentais com liderança petistas que depois viriam a ocupar o poder.
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POR José Pires

Em família mesmo

E o outro sócio é Carlos Jereissati, cujo sobrenome revela parentesco poderoso: é irmão de Tasso Jereissati, poderoso cacique tucano que foi, inclusive, presidente do partido até alguns meses atrás.

São coisas que explicam com bastante propriedade – muita propriedade mesmo! – o fato de não existir oposição. E também ajudam a entender as dificuldades para consertar o país.
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POR José Pires

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Pegando en nel pié de Chávez

Corre na internet uma boa piada sobre o presidente venezuelano Hugo Chávez. Só pode ser coisa de la oposición.

“Hugo Chávez, prohibe fiesta en honor a los Reyes Magos. Si un rey lo mandó a callar, tres lo mandarían a la mierda.”
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POR José Pires

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

No mesmo ninho

Certos títulos de reportagens são mesmo uma piada, mesmo que o assunto seja da maior seriedade. Chamada de hoje da Folha de São Paulo: “Brasil participou da Condor, diz Passarinho”.
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POR José Pires

Acorda Piauí

A revista Piauí pretende-se muito moderninha, mas tem alguma coisa errada em sua relação com a internet. Só se fala da reportagem feita com o ex-deputado (cassado por falta de decoro) José Dirceu e no site da revista ainda não foi colocada a edição de janeiro que traz o assunto. Até hoje lá está a edição de dezembro.
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POR José Pires

Sonhando alto

Na reportagem com José Dirceu salta também o mais novo presidenciável da praça. É ele mesmo que se lança, com toda a modéstia. Para seu padrão, é claro. Disse o seguinte: “Se eu ainda tivesse a petulância de me candidatar à Presidência, era capaz até de ser eleito”.

É isso aí. Já tenho o slogan; "Já que não teve a Revolução, vamos de Mensalão.
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POR José Pires

Aviso à praça

Quanto aos desmentidos, bingo nosso. Dirceu já começou a desdizer aquilo que foi bem anotado e transcrito na reportagem. Ontem mesmo, por meio de sua assessoria o deputado cassado disse que ao falar sobre o PT gaúcho não teve a intenção de apresentar denúncia e que apenas repetiu acusações feita pela oposição ao partido no Estado.
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POR José Pires

A desbocada continua a mesma

Dêem uma doce limonada para Heloísa Helena e dela a ex-senadora faz um monte de limões azedos. Dirceu também a cita na reportagem da Piauí. “Ela votou contra a cassação do Luiz Estevão. Votou mesmo, e por motivos impublicáveis”, ele disse.

Heloísa Helena, é claro, ficou uma fera. Ou um pouco mais que isso, já que a ferocidade parece ser seu estado natural. E passou a xingar seu ex-correligionário e atual desafeto.

E também a falar besteira, outro dom que nela parece natural. Disse que Dirceu procurou agredi-la “como mulher” e depois afirmou que ele “se mostra um velho, machista e canalha”.

E com isso não atingiu nem os machistas e muito menos os canalhas, mas ofendeu os velhos que não são nem uma coisa nem outra.
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POR José Pires

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

José Dirceu confessa crimes

Umas das cenas mais marcantes do documentário, Entreatos, dirigido por João Moreira Salles, é o momento em que, no início de uma reunião, José Dirceu (então deputado e presidente nacional do PT) mostra sua contrariedade com a equipe de filmagem que estava no local. A equipe dirigida por Salles acompanhava a campanha de Lula em sua primeira eleição com autorização do candidato presidencial, mas mesmo avisado disso Dirceu continuou não gostando da coisa.

Hoje, passado alguns anos, com Dirceu já cassado por falta de decoro e réu por formação de quadrilha e corrupção ativa perante o Supremo Tribunal Federal (STF), dá para entender a sua precaução.

Naquele final de 2002 José Dirceu já tinha bastante experiência para saber que só haveria vantagem em abrir a intimidade de uma campanha eleitoral se eles, Lula, os petistas e ele próprio, fossem políticos progressistas autênticos e não o engodo que foi desmascarado logo depois.

Mas José Dirceu acabou fazendo nesses últimos meses exatamente aquilo que procurou impedir há cerca de cinco anos atrás. Ele permitiu que a repórter Daniela Pinheiro, da revista Piauí (propriedade do mesmo Salles, ô grude!), o acompanhasse numa viagem de 6 dias por três países. A reportagem, publicada em 12 páginas da revista que hoje chega às bancas de São Paulo, dá um bom material para a Procuradoria-Geral da República e para a oposição. Nela, Dirceu revela, de própria voz, métodos escusos usados pelo PT para se fortalecer e manter-se no poder. Leia um trecho, que extraí do blog E Você Com Isso, de Marcelo Soares, que teve a presteza de copiar da revista e postar ontem no final da noite.

"[Dirceu]Disse que a construção da sede do PT, em Porto Alegre, 'foi feita só com dinheiro de caixa dois. Era com mala de dinheiro'. Lembrou que quando foi feita a denúncia, que atingia em cheio o governo de Olívio Dutra, 'a gente estava com eles, não os abandonamos em nenhum minuto'.

(Sobre as críticas de outras correntes do PT em relação ao mensalão) " 'Esse pessoal é assim. Chegava para o Delúbio e falava: 'Delúbio, preciso de 1 milhão'. Como é que alguém vai arrumar esse dinheiro assim, de uma hora para outra?', disse, referindo-se ao ex-tesoureiro do partido sob a acusação de ter montado o esquema irregular de financiamento de campanha. 'Aí, quando não recebiam o dinheiro, diziam que estavam sendo preteridos porque eram de uma outra corrente, de uma outra ala, que a direção era autoritária. O pobre do Delúbio tinha que ir aos empresários conseguir doações. Aí, estoura o mensalão e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles'."

Neste trecho, José Dirceu praticamente confessa crimes praticados pelo PT e coloca seus correligionários gaúchos numa situação complicada. Provavelmente ele vai desmentir, dizer que a repórter anotou errado, que é uma campanha contra ele e o PT, mas agora é tarde. Já abriu o bico.

Seis dias com uma repórter, em viagem pelo exterior? Ora, ora, e depois dizem que macaco velho não põe a mão em cumbuca.
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POR José Pires

Deletando a transparência

O governo Lula adiou o controle sobre as ONGs. A entrada em vigor de mecanismos de controle dos repasses de dinheiro público a Estados, municípios e organizações não governamentais fica para depois. As novas regras, anunciadas em julho do ano passado com o objetivo de evitar desvio de verbas federais, só entrarão em vigor depois das eleições municipais.

O adiamento foi atribuído pelo governo a problemas tecnológicos e a atrasos no treinamento de pessoal.

Está certo. É problema tecnológico mesmo. Controlar agora pode afetar o funcionamento das urnas eletrônicas.
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POR José Pires

Bolsa eleitoral

Mais um trabalho de Lula em função da tecnologia foi a edição da Medida Provisória (MP) para ampliar o Bolsa Família. Às escondidas, três dias antes de acabar o ano, ele deu um bônus de R$ 30 reais para adolescentes de 16 e 17 anos. Antes, o benefício era apenas para famílias com crianças até 15 anos, no limite de até três beneficiadas.

Uma família que tenha três filhos de até 15 anos e dois de 16 ou 17, por exemplo, que pelo critério atual recebe R$ 112,00, passa a receber R$ 172,00.

A MP pode ser derrubada, mas Lula criou uma situação difícil para os deputados. Deu um golpe indecoroso no Legislativo. A “bondade” de Lula combina com o ano eleitoral, período difícil para combater um aumentozinho na Bolsa Família.

O que esse governo não faz em função da tecnologia, hein? Tudo para que a urna eleitoral funcione direitinho.
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POR José Pires

Um graçola na Fazenda

Já há algum tempo que Lula e sua turma riem da cara dos brasileiros. Não contentes em agir sem nenhum compromisso com a ética ou ao menos trabalhar com conceitos razoavelmente equilibrados de administração pública, eles também fazem piada, tripudiam da opinião pública e gozam as críticas, mesmo aquelas vindas de pessoas ou grupos sem compromisso político-eleitoral com a oposição.

Foi assim com o “mensalão”, quando Lula e PT cairam na gargalhada juntos. Foi também do mesmo jeito durante o processo de Renan Calheiros ou mesmo agora durante a votação da CPMF e tantos outros episódios lamentáveis deste governo. Até em tragédias comoventes, como no desastre com o avião da TAM em Congonhas que matou 200 pessoas, quando o assessor de Lula, Marco Aurélio Garcia, foi flagrado pelo janelão do palácio do planalto fazendo gestos obcenos.

Eles se divertem. O engraçadinho agora foi o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que para negar que tenha havido quebra de palavra com o aumento de impostos em 2007, disse o seguinte: ”O compromisso do presidente Lula era de não promover alta de impostos em 2007. E de fato não o fez. Estamos fazendo em 2008, o que está dentro do programado.”

Mantega resolveu acumular cargos. Além da Fazenda, agora é ministro da Piada.
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POR José Pires

Duplicidade de função

Não estará havendo invasão da parte de Mantega nas atribuições de outro ministério? Até agora, pelo menos, o papel de bobo da corte de Lula era do ministro Gilberto Gil.
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POR José Pires

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Deu chabu no show do Chávez

E o show da libertação de reféns da FARC na Colômbia, patrocinado por Hugo Chávez e para a qual Marco Aurélio Garcia, assessor da presidência brasileira para Assuntos Internacionais, foi todo lépido e fagueiro tirar uma casquinha para o governo Lula, hein? Top, top, top!

Um apelo ao semancol

Ainda há tempo para uma última retrospectiva? Não temam, não é nada longo. Ao contrário, é até bem sintético e certamente um dos textos mais úteis publicados na imprensa no ano passado aqui no Brasil. Devia ser objeto de meditação obrigatório de cada brasileiro pelo conteúdo desmitificador do hábito nacional de tratar de modo extraordinário e elevar às alturas aquilo que não passa de obrigação básica.

É uma entrevista publicada pela Folha Online em novembro com o virologista Robert Gallo, um dos descobridores da AIDS, doença sobre a qual o Brasil ostenta o estranho orgulho de ter estabelecido um programa de combate que seria um “modelo” internacional. É isso que Gallo refuta, com respostas categóricas e muito interessantes, menos pela questão da doença, mas pelo ataque preciso à gabolice crônica que até se tornou uma plataforma de governo com Lula como presidente da República.

Destaquei da entrevista o trecho que aponta um dos mais graves defeitos deste país e que não deve ser tratado de modo pitoresco. É o tom excessivamente elevado no auto-elogio – o melhor nisso, o melhor naquilo – que sempre vem junto com a proporcional falta de profundidade e equilíbrio na análise e resolução dos problemas nacionais.

Uma boa idéia seria que este trecho fosse lido no início de cada sessão do Congresso Nacional, saísse todos os dias publicado no Diário Oficial, afixado em todas as repartições públicas e embaixadas no exterior, nas escolas e universidades e também nos locais de trabalho das empresas privadas. E, para fixar melhor o assunto na cabeça do brasileiro, fosse ajuntado ao tradicional boa noite do final do Jornal Nacional. No momento da despedida, o apresentador do JN diria também: e não esqueçam da entrevista do Robert Galo.
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POR José Pires


A entrevista com Robert Gallo
Folha Online - O programa brasileiro de combate à Aids é visto como um modelo nessa área...
Robert Gallo - Não fique tão orgulhoso. Vocês não são um modelo.

Folha Online - Por quê?

Gallo - O que vocês estão liderando, que caminho estão apontando? O Brasil trata seu povo, assim como os Estados Unidos. Qual é o modelo? Modelo para quem? Eu não entendo...

Folha Online - Talvez porque o tratamento é gratuito e atinge um grande número de pessoas, além de a epidemia estar razoavelmente controlada aqui.

Gallo - Todos são tratados na Suíça, na Alemanha, na Itália, na Inglaterra, no Canadá. Por que vocês seriam um modelo?

Folha Online - Então o senhor não concorda com isso?

Gallo - A realidade é o seguinte: quando você diz que é um modelo, está implícito que todo mundo deve seguir você. Mas a maioria dos países já faz isso [tratar gratuitamente os pacientes com Aids]. Apenas países que são muito, muito pobres não fazem isso. Vocês são modelos para quem? Se você quer saber se o Brasil está fazendo um bom trabalho com respeito ao tratamento contra a Aids, eu digo que sim. E isso é ótimo, maravilhoso. Mas se você diz que o Brasil é um modelo, isso significa que vocês são uma lição para mim. Por que vocês seriam uma referência para mim? Talvez sejam um modelo para a África do Sul, para alguns países, mas não para o mundo inteiro, já que a maioria dos países realmente trata seus pacientes com Aids.