domingo, 31 de outubro de 2010

Bem além dos 3% de insatisfeitos

Ué, não eram apenas 3% dos brasileiros que não queriam nada com o Supremo Apedeuta? Não é isso que dizem os números desta eleição.Até o momento em que escrevo, com 99,96% dos votos apurados, é 43,95% para Serra e 56,05% para Dilma. Isso contando apenas os votos válidos.

A bem da verdade, são os votos de Lula, que se colocou de tal forma na eleição que Dilma muitas vezes nem parecia a protagonista de sua própria campanha.

Lula também usou a máquina pública da forma que quis, para montar o cenário perfeito para sua candidata. Foram meses em que a agenda do governo brasileiro foi submetida ao interesse da candidatura Dilma, primeiro na apresentação da desconhecida ao país e depois na combinação de eventos entre os assuntos de Estado e o interesse eleitoral da campanha petista.

A máquina pública foi utilizada inclusive na montagem de cenas de Dilma com personalidades estrangeiras de prestígio, entre elas o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para uso posterior em campanha, como de fato foi feito nos programas de televisão no primeiro turno e também no segundo.

Depois, Lula também montou da forma que quis o cenário eleitoral, sempre usando a caneta presidencial e sabe-se lá o que mais. Forçou alianças, impediu candidaturas estaduais e até passou uma rasteira no companheiro Ciro Gomes, que teve sua candidatura presidencial derrubada à canetadas.

Nunca se viu no Brasil tal abuso de poder, mas mesmo assim Lula não fugiu à sina de ter de disputar um segundo turno. A façanha de ganhar eleição pra presidente no primeiro turno ainda é privilégio de Fernando Henrique Cardoso. E o que deixa Lula ainda mais fulo é que o feito ocorreu com derrotas dele e ainda por cima por duas vezes.

Lula brigou de forma encarniçada, abusou do poder, se colocou de forma personalista numa eleição que parecia a dele. Por isso é impossível não ver nessa votação de Serra uma manifestação contrária a seu governo neste clima de plebiscito criado no país. E temos também os votos nulos e brancos, que somam mais de 7 milhões, além da abstenção, que ficou num percentual impressionante da votação total: 21,50%.

Se juntarmos todos os votos, bem mais de 50% dos brasileiros não estão satisfeitos com a forma que o Brasil vem sendo conduzido.

É bem além da ínfima porcentagem de insatisfeitos com seu governo que saem de pesquisas de institutos que trabalham inclusive para o PT. Os números são outros, muito acima do que tentam forjar como índice de popularidade e aprovação para um governante que faz um péssimo uso da faixa que leva no peito, ou melhor, na barriga, como ele diz. Esta eleição mostra que os brasileiros que não se dobraram são muito mais que os tais 3%.
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POR José Pires

Sai dessa, Zé...

Mas falemos também do candidato José Serra. O tucano colocou-se numa situação em que outro candidato jamais esteve em nossa história recente. É uma posição bem estranha, pois ele perde de duas formas.

Se ganhar a eleição, terá sempre que ouvir que não foi por méritos próprios, mas que foi levado ao poder pelo voto evangélico e pela força eleitoral deste ou aquele político, com o ex-governador e senador eleito, Aécio Neves, podendo levar uma vantagem nesta teoria caso haja uma boa votação para Serra em Minas Gerais.

E se perder a eleição, bem, perder sempre é ruím, mas para Serra pode ser um pouco pior. Se não for eleito a culpa vai ser exclusivamente dele, porque vai aparecer sempre alguém dizendo que havia indicado outra estratégia eleitoral, não só no primeiro turno como no segundo.
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POR José Pires

Preparando-se para o pior

Corre na internet uma piada sobre o Tiririca que muitos contam como se fosse uma declaração verdadeira do deputado de mais de um milhão de votos conquistados com palhaçada. Como Tiririca tem que provar que é alfabetizado, ele concordaria em se submeter a uma prova escrita... desde que seja corrigida por Lula.

A piada é boa e apóia-se na compreensão do despreparo de Lula. É apenas uma das piadas em cima deste grave defeito para o qual o Brasil parece nem querer acordar. Porém, o sucesso dessas tantas piadas sobre a obtusidade pessoal de Lula fazem tanto sucesso que é evidente que muito mais de 3% dos brasileiros têm os olhos bem abertos para o desastre que foi o período Lula que, infelizmente, pode não acabar no dia de hoje.

Em janeiro o Supremo Apedeuta sai do poder e deve-se começar então a desconstrução de sua imagem. Será um processo natural que virá com os resultados do que ele fez até agora. E neste último ano sua equipe teve que fazer malabarismos fiscais para que não aparecesse ao menos a parte disso que afeta diretamente a economia.

O restante deste desastre que é seu legado já está à vista, mas a maioria se esforça para não ver e nem escutar, já que parte da herança lulista é feita de tiros e gritos de horror das vítimas da violência cotidiana em nossas cidades.

Sem a caneta numa mão e a chave do cofre em outra e também sem o suporte diário de uma máquina de propaganda trabalhando a imagem de um presidente — aí sim vale o chavão — "como nunca se viu neste país", é muito difícil que sua imagem não vá se esboroando.

Lula vai deixar um legado terrível que deve criar muitas dificuldades para o presidente que será eleito hoje, seja Dilma ou Serra. Se eu achasse que o país tem bastante tempo pela frente (o que não acontece, até pelos graves problemas mundiais relacionais aos recursos naturais do planeta) até veria com bons olhos a eleição de Dilma, pois o próprio percurso de seu governo livraria de vez o Brasil dos danos do PT, diminuindo a influência nefasta desse partido sobre o país.

Mas acontece que a solução dos problemas brasileiros não depende apenas de esforço interno e enfrentamento dos riscos que se desenham para nós não estão limitados ao que pode ser feito entre nossas fronteiras.

É difícil do brasileiro colocar isso na cabeça, assim como é também difícil que isso entre na mentalidade tecnocrática de alguém como Dilma, mas pela primeira vez na história mundial a humanidade chega numa situação em que qualquer arrumação econômica e social tem que ter em vista o ponto crucial em que estão os recursos naturais do planeta, muitos deles a menos de vinte anos do esgotamento total e outros praticamente no final, inclusive recursos essencias para tecnologias modernas como deste computador onde teclo este texto ou do celular que tem sido vendido aos brasileiros como uma grande conquista social e econômica (não contam também que todo dinheiro dessa "conquista" vai pro estrangeiro).

Quatro anos de Dilma vão atrasar bastante a preparação do Brasil para enfrentar este difícil processo mundial, que não é para daqui uma centena de anos. É algo que até quem já passou dos trinta anos ainda terá tempo de ver, penso eu que com muito pesar. E para formar estruturas para enfrentar a barra pesada que vem aí não basta dar Bolsa Família para pobre e ficar acreditando na redenção social e econômica do país com os recursos do pré-sal — e o triste é que parece que isso não é só discurso eleitoral; eles parecem mesmo crer nisso.

Mas isso é conversa que não ganha eleição. Tanto que ninguém tocou neste assunto e o deputado que ganhou mais votos tinha um slogan equivocado que dizia que "pior do que está não fica". O Brasil pode ficar pior do que está, sim. E poderemos ver isso hoje.
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POR José Pires

Um governo de faz de conta e do conto-do-vigário

Todo o dia tem uma notícia nova sobre os problemas que Lula deixa para seu sucessor. O leitor tem que ser muito atento, pois a maioria dos jornais e sites deixam a denúncia desses males por conta de uns poucos colunistas ou colocam como notícia na parte de baixo das páginas.

E a máquina de propaganda do governo também faz um serviço pesado que acaba abafando qualquer problema que seja levantado de forma mais eficaz pela imprensa.

Isso quando não são os próprios assuntos que vão sendo pautados pelo Palácio do Planalto. Daí factóides vão sendo tratados como se fossem fatos verdadeiros e até conclusivos. Isso ocorre com a riqueza virtual do petróleo descoberto na camada do pré-sal. Ainda nem se sabe de fato como chegar até este petróleo, se é que ele está em condições de ser extraído. Mas sabe-se que para isso ocorrer levará pelo menos uma década. Entretanto, Lula passou os últimos dois anos de seu mandato falando do assunto como já fosse dinheiro em caixa. E Dilma seguiu na cantilena. Parte de suas promessas de campanha se baseiam nesta fonte de financiamento.

Não existe nenhum país que tenha alcançado equilíbrio social apenas pelo fato de ter grandes reservas de petróleo e está aí a Venezuela (um dos membros da Opep) para comprovar isso. E aí entramos nós, sempre os maiorais, é claro. O Brasil vai ser o primeiro a fazer isso. Só falta chegar no petróleo do pré-sal, mas isso é detalhe para um governo que deu pitaco até no vazamento de petróleo no golfo do México.

O governo Lula trata o assunto como se o dinheiro do pré-sal já estivesse pronto para ser gasto. A candidata do PT passou todo esse segundo turno falando em seu programa eleitoral de TV e de rádio sobre o que pretende fazer em seu governo com os recursos do pré-sal, um discurso que pode ter convencido muito eleitores desprevenidos.

É um governo construído em cima de factóides desse tipo. E a imagem de Lula se escora nestas miragens sem substância alguma. Alguém duvida que ele vai ser atingido de imediato quando os brasileiros perceberem que caíram em um conto-do-vigário da maior irresponsabilidade?
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POR José Pires

Tiririca é a cara de quem?

Hoje mesmo podem ser lidas outras notícias sobre a situação difícil legada por Lula. Num site pode-se ler que a indústria nacional perde espaço nas prateleiras dos supermercados, onde produtos nacionais são substituídos por importados. Os produtos vem de vários países e não são mais brinquedos vagabundos de plástico. O jornal O Estado de S. Paulo contatou em um hipermercado que, de 17 liquidificadores, 10 eram importados, havendo entre eles um modelo trazido do México. O jornal fez uma lista grande em que os produtos nacionais sempre perdem em grande proporção para os importados.

A desindustrialização é um fato. Para ficar apenas em um exemplo, na Black&Decker há dez anos, 80% dos produtos vendidos pela companhia no mercado local eram fabricados no Brasil. Atualmente esse porcentual é de 50%. A lista de substituição do nacional pelo estrangeiro é bem grande. Vamos citar mais um dado: hoje, 87% dos aparelhos de DVD comercializados no Brasil são importados.

E isso é apenas um pouco do legado de Lula. Se tem uma monstruosa crise estrutural sendo gerada na indústria, noutros setores não é diferente. Pode pegar qualquer um: meio ambiente, agricultura, saúde, emprego, educação, segurança, em todos os prognósticos não são nada bons, em alguns o desastre já acontece agora.

Na segurança, por exemplo, o país pode até ter inveja da paz que reina no Iraque, tanto em quantidade de mortos quanto no risco que o cidadão corre no cotidiano. Indo para outro site, podemos ler que um jornalista foi assassinado com um tiro na nuca em Paraíba do Sul, a 147 km do Rio de Janeiro. Nem importa o motivo do crime, pois notícias assim já fazem parte do cotidiano do brasileiro. Há menos de uma semana seis pessoas foram mortas e nove ficaram feridas numa chacina na Baixada Fluminense. Mílicias tomam conta de bairros inteiros em grandes cidades. Jovens são assassinados todos os dias em execuções sumárias. A violência já tomou conta de cidades médias e até de cidades pequenas.

Temos muito mais problemas. O legado de Lula é grande. E estou entre os chamados 3% que acreditam que esses dramas brasileiros vem do despreparo de Lula. O petista não sabe governar. Aliás, quando foi que se soube que Lula parou algumas horas atrás de sua mesa de trabalho? Ele faz política o tempo todo e como nunca montou uma boa equipe, já que seu partido e aliados estão na mesma escala de incompetência, temos um país desgovernado.

O caso Erenice comprova isso que estou falando. Pega em flagrante usando a Casa-Civil como esquema de favorecimento de amigos e familiares, a ministra que ocupou o lugar de Dilma Rousseff colocada lá pela própria, teria a obrigação de acompanhar toda a rotina administrativa do governo enquanto o presidente Lula sai a saracotear pelo país vendendo seu peixe e fazendo campanha eleitoral.

Mas é óbvio que isso Erenice não fazia. E aí é que está o verdadeiro problema. Até a corrupção é fichinha perto do evidente desgoverno que esta situação comprova. Se nem Erenice e muito menos Lula cuidavam da administração, quem é que estaria fazendo isso? Acho que não precisa responder, não?

Por variados interesses, alguns até para não contrariar o auto-engano e abrir á frente dos olhos uma realidade nada agradável, boa parte dos brasileiros faz de conta que as coisas estão indo bem no país em que todos tem um celular (ou mais de um), mas a maioria não tem esgoto tratado e mais de dez milhões não tem nem água em casa.

Mas, voltando ao Tiririca e o avaliador ideal para sua prova de alfabetização, hoje Lula saiu em defesa do deputado de mais de um milhão de votos.

Ainda em campanha eleitoral neste dia de eleição, Lula votou em São Bernardo do Campo e falou mal do candidato da oposição. O petista votou logo de manhã e saiu dando declarações favoráveis à Dilma e contrárias ao Serra. Ele sabe que imediatamente sites, rádios e televisões divulgam o que ele fala. Faz propaganda de caso pensado.

Mas Lula aproveitou para defender Tiririca. Eis o que ele disse: "O Tiririca é a cara da sociedade. Acho uma cretinice o que estão tentando fazer com o Tiririca. Estão desrespeitando 1,5 milhão de pessoas que votaram nele. Então, que não deixassem ele ser candidato. Acho que tem de fazer prova é quem está pedindo para ele fazer prova".

Parece uma auto-defesa, bem na linha de seu pensamento de que as leis devem ser atropeladas, conforme a conveniência do momento. Se Tiririca engambelou a lei e botou sua candidatura em campo mesmo sendo analfabeto, deixa isso pra lá. Lula não tem valores morais. Nunca teve. O problema é que ele expressa e age dessa forma com a faixa de presidente no peito, ou "na barriga", como ele diz.

Este é outro legado de Lula. Esta queda moral talvez seja sua mais problemática herança, fortalecida em dois mandatos onde atuou de forma desavergonhada contra as leis em variados setores, conforme o interesse de seu governo, da sua família e dos companheiros. Na telefonia, no meio ambiente ou na legislação eleitoral, nada ficou em pé quando barrava tais interesses.

Se Tiririca for mesmo “a cara da sociedade”, certamente não é a sociedade pela qual muitos brasileiros vêm lutando com muito esforço. Tiririca é “a cara da sociedade” de Lula e seus companheiros.
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POR José Pires

sábado, 30 de outubro de 2010

Pelo Twitter, o PT entra na história da internet

Dentre os políticos que marcaram esta campanha eleitoral, poucos deixaram uma impressão tão negativa como o deputado estadual petista Rui Falcão. No início da campanha de Dilma, Falcão era um de seus mais poderosos coordenadores, mas foi forçado a ficar nos bastidores praticamente escondido depois que foi descoberto o tal “núcleo de inteligência” dentro da campanha petista. O tal núcleo — nada inteligente, por sinal — se dedicava a espionar adversários e foi acusado até de espionagem interna no PT.

Há cerca de duas semanas, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. acusou Falcão de ter furtado o dossiê com dados fiscais violados de tucanos e familiares do presidenciável José Serra. Segundo ele, o deputado petista “copiou” o conteúdo de sua investigação contra os tucanos, então armazenado num computador pessoal que estava num flat pago pelo próprio PT para Amaury ficar em Brasília.

Só o envolvimento neste lance já bastaria para o petista entrar de forma nem um pouco louvável para a história desta eleição, mas ontem o petista conquistou também a fama de ser o primeiro político brasileiro obrigado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a conceder direito de resposta no microblog Twitter, o que fixa seu nome definitivamente na história da internet.

É provável até que Falcão seja o primeiro político no mundo a fazer isso. É o PT conquistando glórias. O TSE concedeu o primeiro direito de resposta no Twitter por causa de dos “tweets” postados pelo deputado, que também é vice-presidente nacional do PT.

Num primeiro “tweet” ele afirmou o seguinte: “Cuidado com os telefonemas da turma do Serra. No meio das ligações, pode ter gente capturando seu nome para usar criminosamente…”.

Em outro “tweet, ele escreveu: “…podem clonar seu número, pode ser ligação de dentro de presídios, trote, ameaça de sequestro e assim por diante. Identifique quem liga!”.

Na ilustração estão as mensagens da página do deputado no Twitter. Para aumentar, clique na imagem. O nível é o mesmo de tantas manifestações feitas nesta eleição, que propagam boatos e atacam de forma desleal os adversários políticos. E algo bastante grave por vir de um membro da alta direção do PT, mas também é uma providencial comprovação de que é das lideranças petistas que vem o baixo nível que observamos no conjunto das manifestações de petistas em sites e blogs.

A primeira reação de Falcão foi pela via óbvia do respeito ao TSE, ou, como ele escreveu logo acima do direito de resposta, “A decisão da mais alta Corte Eleitoral deve ser respeitada e cumprida”.

Porém, logo depois o petista passou a seguir a linha definida pelo chefe, o presidente Lula, de fazer galhofa com a lei e os tribunais. Num de seus últimos “tweets” ele fazia a seguinte piada: “Quero agradecer a @joseserra_ e aos seus eleitores pela audiência ao meu twitter. Se soubesse disso antes, teria dando uns 10 dir.de resp.”. Ele fez também outras gozações com a decisão do TSE, o que mostra que o estilo Lula de lidar com a lei pegou mesmo no PT.

A profissão de Rui Falcão é o jornalismo, o que ao menos na teoria o qualificaria para compreender que não é nenhuma glória ser o primeiro político obrigado a conceder direito de resposta por ter usado o Twitter de forma ofensiva numa campanha eleitoral.

Mas suas piadinhas parecem indicar que ele ainda não entendeu os danos à sua imagem. Ou então é nervosismo. Afinal, com esta medida do TSE eternizam de maneira nada digna ele e seu partido na história da internet.
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POR José Pires

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Comando delicado











































































Ontem no programa eleitoral de Dilma Rousseff surgiu novamente a curiosa cena em que a candidata do PT tenta controlar um cachorro que não mostra nenhum disposição em aceitar seu comando. É o cachorro do José Dirceu, um labrador que ele abandonou na casa oficial que Dilma herdou quando passou a ocupar seu lugar na Casa Civil.

Dilma não deve gostar nem um pouco, mas naquele casa ela não é o macho alfa. A candidata lança na água um pedaço de pau para o cachorro pegar e isso pelo menos ele faz. Mas quando o animal volta e ela se abaixa para receber de volta o objeto, ele desguia para direita e cai fora como o pedaço de pau na boca. Vejam nas cenas acima. Na última, o cachorro do José Dirceu se manda, deixando Dilma na mão.

É o ponto em que o marqueteiro teve que dar uma escurecida na cena e fazer uma fusão rápida para não evitar um vexame para Dilma. Porém, não é a perda do controle sobre o cachorro do José Dirceu o que mais preocupa o Brasil. Mas a metáfora criada de forma involuntária pelo marqueteiro vem bem para ilustrar os problemas que podem surgir caso Dilma se eleja neste domingo.

Se Dilma Rousseff vencer a eleição neste domingo, deve se intensificar no PT uma luta interna pelo controle do poder que, desta vez, não terá a presença de Lula atenuando com seu peso histórico os níveis da disputa e até impedindo que a luta entre os grupos petistas atingisse a figura do presidente da República.

Neste caso, sortudo como é, ele acabou ganhando com as quedas ocorridas com o mensalão. Muitos dos companheiros que apearam forçosamente do poder, sendo o próprio Dirceu um deles, iriam dar um trabalho danado, pois se até eram de pular no lago para pegar o pedaço de pau, não aceitariam com muita facilidade vir até a mão de Lula com toda a obediência.

Hoje não existem dúvidas sobre o poder que Dirceu teria, caso não tivesse sido atropelado pelo mensalão. O Brasil certamente teria dois presidentes da República. E não seria improvável que o oficioso tivesse mais poder que o oficial.

Com esta turma não podendo atuar às claras, Lula teve que compartilhar menos o poder neste segundo mandato. Mas se Dilma ganhar, esta turma volta com tudo. E isto não tem nada a ver com propaganda do adversário: é um fato. Em política um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar.

Dirceu até já avisou: um mandato de Dilma é melhor que o de Lula, pois aí é o projeto partidário que vai para o governo. E quem tem um peso danado no comando deste "projeto partidário" é o próprio Dirceu, que aproveitou o primeiro turno para aniquilar várias lideranças petistas.

Também a exigência da disputa de um segundo turno veio reforçar o poder dos companheiros em um possível mandato de Dilma, na medida em que diminuiu bastante o mito da figura de Lula como o indicador máximo da vitória. E Lula, bem, Lula certamente tem um peso simbólico muito forte no partido, mas a máquina partidária está em outras mãos.

Vamos esperar até domingo e torcer, é claro, para que não dê Dilma. Mas se isso acontecer, tenho aimpressão de que Dilma ainda vai ter saudade desse teimoso cachorro do José Dirceu.
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POR José Pires

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Manifesto do PT usou o nome de Ruth Rocha contra a vontade da escritora

Documento petista algum resiste a uma análise aprofundada. Como se viu logo no ínicio desta eleição, não dava pra confiar nem mesmo no programa de governo da Dilma Roussef. A própria candidata havia rubricado página por página do documento, mas depois voltou atrás. E seu programa de governo foi pro lixo com rubrica e tudo

Nessa Lula ficou calado, mas bem que poderia ter dito que nunca na história deste país um programa de governo durou tão pouco. Pode ser até outro recorde mundial de seu governo.

Pois agora o PT está com problemas em mais um documento importante da campanha. É no manifesto dos artistas e intelectuais em apoio a Dilma, lançado com grande alarde no Rio de Janeiro há menos de duas semanas. O problema é de assinatura falsa, o mesmo que já havia sido denunciado no dia seguinte ao lançamento pelo cineasta José Padilha, diretor do filme "Tropa de elite 2". Hoje quem veio a público anunciar que usaram também seu nome no manifesto sem que ela consentisse foi a escritora Ruth Rocha.

Padilha chegou a divulgar uma nota oficial, publicada também no site do filme "Tropa de elite2", negando que tivesse assinado qualquer apoio à Dilma, ao contrário do que foi anunciado em evento com a candidata acompanhada de artistas e intelectuais, quando seu nome foi lido em público como se ele estivesse apoiando a petista. Na ocasião foi lido também o nome de Ruth Rocha.

O cineasta não assinou e teve peito para reclamar. Sabemos como isso funciona. Com Padilha a treta não funcionou. Como adquiriu prestígio com dois filmes de muito sucesso, o que deve ter dado a ele uma relativa independência financeira, o cineasta pode denunciar o uso indevido de de seu nome num manifesto eleitoral. É claro que nisso influiu também sua dignidade pessoal, comprovada pelo seu gesto, mas quantos outros podem fazer o mesmo, com a maioria dos mecanismos de financiamento na área cultural ligados direta ou idiretamente ao governo?

Deve ser difícil para um artista ou intelectual comprar uma briga dessas, tendo depois de apelar para uma Petrobrás da vida ou até de passar o chapéu em busca de financiamento em empresas privadas, tantas delas sujeitas á pressões políticas.

É simples desse jeito. Está cada vez mais difícil viver e trabalhar com independência hoje em dia na área cultural, de tal forma que até para se encaixar em prêmios internacionais tem pesado mais o dedaço governista que o mérito artístico. A indicação do filme "Lula, o filho do Brasil" para competir pelo "Oscar" prova isso.

Nós sabemos muito bem disso e os petistas ainda mais, pois foi de forma deliberada, até com alto planejamento, que teceram as redes que hoje aprisionam pelo bolso (ou estômago) intelectuais e artistas. Isso tem acontecido também em outras áreas vitais para a democracia, como no jornalismo e até na publicidade.

É preciso coragem para romper esta teia. Por isso sempre é bom quando a gente pode falar de atos como o da escritora Ruth Rocha, que hoje denunciou o uso de seu nome. Ela também não assinou o manifesto. Seu nome foi colocado no alto do manifesto sem que ela soubesse de nada.

Ruth Rocha divulgou uma carta aberta afirmando que não apóia Dilma e que mesmo que apoiasse não foi consultada para o uso de seu nome. O texto é endereçado á própria candidata do PT, como o título de "Carta á candidata Dilma".

Mais esta denúncia de apropriação indébita de uma assinatura famosa coloca agora em dúvida todas as demais assinaturas do apoio a Dilma. Quando é que vai sair um documento sobressalente autenticando cada nome em cartório? Coisa do PT só dá para acreditar se for assim. E dependendo também qual é o cartório que autentica, pois um poder cartorial como o do PT saberia ajeitar muito bem uma legitimação.

O manifesto de artistas e intelectuais teve a liderança do sociólogo Emir Sader, que posa (o próprio Sader escreveria "pousa", não é Reinaldo Azevedo?) de intelectual militante, mas que já teve vantajosas sinecuras do governo petista.

Na ocasião do desmentido do cineasta José Padilha, Sader desconversou com uma conversa songamonga, dizendo o seguinte: " Eu recebi a informação com a confirmação de Padilha. Mas se ele diz que não, então tudo bem". Agora vamos ver como ele justifica a colocação da assinatura de Ruth Rocha no documento, sem que ela nem ter sido consultada.

Até agora já são dois nomes importantes da nossa cultura que nem sabiam do manifesto. Isso tem cheiro de estelionato político, não é? E nem vem com a conversa de que dois nomes é bem pouco entre centenas de signatários, pois a denúncia de Ruth Rocha vem aumentar a desconfiança de que muitos com o nome colocado sem consentimento no manifesto podem ter se calado por temor em confrontar a máquina petista.

Porém, desta vez Sader não pode vir com lorota, pois muito precavida, Ruth Rocha já antecipa em sua carta aberta que este tipo de coisa é imperdoável. "Os mais distraídos dirão que, na correria de uma campanha... “acontece“. Acontece mas não pode acontecer", ela escreve acertadamente.

Apesar da modéstia de quem afirma que não lhe cabe "considerações próprias a estudiosos em geral, jornalistas, economistas ou cientistas políticos", a escritora produziu um texto claro em que situa de forma concisa o papel de cada governante nas transformações ocorridas no país desde o final da ditadura militar em 1985. Ela inclui até o desacreditado ex-presidente Sarney e não deixa de fora nem o mais contestado dos nossos presidentes, Fernando Collor, ambos, conforme o texto, tendo trazido "contribuições para a reconstrução nacional após o desastre da ditadura".

Pena que Dilma não tem o perfil de quem dá atenção ao que o outro tem a dizer e nem poderia ser diferente, pois de outro modo ela não teria chegado onde chegou dentro do esquema petista. É difícil também que qualquer petista faça outro esforço que não o de buscar amenizar a repercussão desta "Carta à candidata Dilma Rousseff". O texto de Ruth Rocha poderia ter um bom efeito sobre a soberba que cerca este governo e sua candidata e que envolve seus apoiadores.

A escritora repõe os méritos políticos do que temos hoje de bom no país, tirando as transformações feitas no Brasil daquela esfera do "nós fizemos tudo", que o gogó petista quer fazer da nossa história recente e até do período que vai até Cabral. Para ela, o que temos aí vem de um conjunto de esforços, com os variados governos eleitos pelo voto desde a abertura política, cada um fazendo sua parte.

Resumindo, ela diz o seguinte: "O PT tem a ver com isso. O PSDB também tem assim como todos os cidadãos brasileiros. Mas não foi o PT quem fez, nem Lula, muito menos a Dilma. Foi a democracia. Foram os presidentes desta fase da vida brasileira. Cada um com seus méritos e deméritos".

Ruth Rocha é mais conhecida como autora de livros infantis. Pois no final ela dá um merecido puxão de orelha nos que usaram de forma abusada seu nome. Como se estivesse falando para a própria candidata, ela finaliza o texto da seguinte forma:

"Hoje eu penso como deva ser tratada a nossa democracia. Pensei em três pontos principais.

1) desprezo ao culto à personalidade;

2) promoção da rotação do poder; nossos partidos tendem ao fisiologismo. O PT então...

3) escolher quem entenda ser a educação a maior prioridade nacional.

Por falar em educação. Por favor, risque meu nome de seu caderno. Meu voto não vai para Dilma."

Bem, como estamos num segundo turno evidentemente além da Dilma só tem outro candidato. E é improvável que alguém que se expressa como Ruth Rocha vote nulo ou se abstenha em um momento tão importante da nossa democracia. Temos aí mais um voto importante que não aceita o controle que querem impor ao Brasil.
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POR José Pires

sábado, 23 de outubro de 2010

O caso Celso Daniel na ante-sala do presidente Lula


O PT e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, viraram réus num processo em que são acusados pelo Ministério Público de participar de uma quadrilha que cobrava propinas em Santo André. A Justiça aceitou a denúncia. Está de volta o conhecido caso Celso Daniel, que envolve também o assassinato do então prefeito petista de Santo André, em janeiro de 2002. A propina é grande: R$ 5,3 milhões foram desviados dos cofres públicos.

Carvalho foi secretário municipal em Santo André entre 1997 e 2002, na prefeitura administrada pelo PT. Era o braço direito de Celso Daniel. O prefeito foi seqüestrado, torturado e morto no dia 18 de janeiro de 2002 depois de um jantar com Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que na época era seu segurança. Sombra é acusado de ter encomendado o crime e vai a júri popular a partir de novembro.

Para o Ministério Público, Daniel foi morto porque queria que a propina fosse destinada apenas ao PT e não para os envolvidos. Até sua morte, ele era o principal coordenador da campanha presidencial de Lula.

Desde a época do crime, Carvalho vem trabalhando para que o caso fosse encerrado como um crime comum. Com esta denúncia, aceita pela Justiça, o chefe de gabinete de Lula virou réu, acusado da participação em um esquema que seria o precursor do mensalão.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, na citação a Justiça pede que Carvalho receba o aviso em sua casa ou no “gabinete pessoal da Presidência da República”. Seria melhor no gabinete da Presidência, não? Afinal foi ali, numa função tão próxima de Lula, que ele fez todos os esforços para que o caso Celso Daniel fosse enterrado lá atrás.

Mas agora felizmente está de volta o caso. E já numa instância em que há uma obrigação de seu aprofundamento. E digo felizmente, sem nenhuma relação com alguma satisfação pessoal pelo envolvimento de uma alta figura do governo Lula. É que, se o PT até vive bem com seus fantasmas escondidos no porão, a Nação não tem a mesma tranqüilidade com tanta coisa encoberta e que exige explicação mais convincente.

Mas a situação de Gilberto Carvalho está bem complicada nesta denúncia do Ministério Público. Vejam um pedaço da denúncia aceita pela Justiça, em que ele é citado: “Ele concorreu de qualquer maneira para a prática dos atos de improbidade administrativa na medida em que transportava o dinheiro (propina) arrecadado em Santo André para o Partido dos Trabalhadores".

Mais um trecho da denúncia, onde fala-se também do ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, acusado de participação direta na morte de Celso Daniel e que é companheiro de Carvalho entre os réus: "O valor arrecadado era encaminhado por Ronan ao requerido Sérgio e chegava, em parte, nas mãos de Gilberto Carvalho, que se incumbia de transportar os valores para o Partido dos Trabalhadores".
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POR José Pires

Depois do alvoroço, o PT só quis abafar o caso


O que mais me chocou no assassinato de Celso Daniel não foi o amplo espectro de corrupção que se gestava ali e que acabou tomando conta de fato do governo Lula. O Ministério Público diz que no esquema de Santo André estavam as pegadas iniciais do mensalão e isso fica evidente já que, ao que parece, Celso Daniel não condenava a propina, mas apenas o direcionamento para os bolsos dos envolvidos. Sua morte teria sido causada exatamente porque ele queria que o uso fosse exclusivamente do partido.

Esta corrupção política não me surpreende. Conheço essa turma muito tempo antes do Lula botar os pés enlameados no Palácio do Planalto e também tenho um metro bem diferente para a análise da política.

Estão falando bastante de “metro” hoje em dia, expressão que voltou por conta de seu uso em debates políticos, então me deixem falar do meu metro.

É no indivíduo que está a chave para a compreensão dos acontecimentos. Por mais influência que a História tenha sobre os rumos do mundo, até para entender o processo histórico é preciso ter os olhos atentos ao sentimento humano, a capacidade individual de transformar ou de fazer retroceder. Para entender um caso como este da morte brutal de Celso Daniel é só observar bem as reações humanas. Cada indivíduo se revela em sua atitudes quando ao caso. Até os que só agem nos bastidores.

Logo que foi descoberto o cadáver do prefeito o PT, tendo Lula à frente, criou uma comoção nacional denunciando uma conspiração direitista, — palavras do próprio Lula na época — que estaria planejando matar petistas. Celso Daniel seria só um desses mortos. Até o então presidente Fernando Henrique Cardoso teve que intervir prometendo proteção ao PT e uma ampla investigação para deter a conspiração denunciada por Lula.

Porém, poucos dias depois do enterro de Celso Daniel, os petistas mudaram de opinião e passaram a insistir na tese do crime comum. A “conspiração direitista” foi esquecida. Nem o Lula, que no enterro de Daniel falou até em Che Guevara, se manifestou mais sobre o crime. E vejo que até a imprensa não se lembra desse alvoroço criado por Lula e o PT. Depois, numa mudança abrupta, todos os figurões do partido passaram a agir para abafar o caso.

Mas não eram todos amigos de Celso Daniel? E aí é que a medida humana faz ver as verdadeiras intenções de pessoas que abandonam de imediato um caso em que alguém tão próximo foi morto de forma tão cruel. Não tem como não suspeitar. Qual é a pessoa que tendo um amigo assassinado dessa forma (Daniel foi barbaramente torturado antes de levar um tiro à queima-roupa no rosto) não lutaria de todas as formas para esclarecer tudo?

É o que os irmãos de Celso Daniel vêm fazendo. E os petistas amigos do prefeito morto fazem o contrário. Deixando a questão política de lado e nos concentrando no aspecto humano deste drama, de um amigo sendo torturado barbaramente e depois morto, a situação de quem tenta impedir o esclarecimento do caso é muito suspeita.
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POR José Pires

Um "crime comum" pra lá de fantástico


Nesta morte do Celso Daniel este lado humano foi muito pesado. Todas as pessoas que o cercavam quando ele era vivo e tinha poder político passaram a agir para que o assasinato não fosse investigado a fundo. Com a exceção dos irmãos do político petista, todos agiram para que sua morte fosse esquecida, agarrando-se com teimosia e de forma suspeita à tese do crime comum.

Logo depois de sua morte o partido de Celso Daniel foi para o poder, onde permanece até hoje, passados quase oito anos. E e se alguma movimentação houve neste período da parte dos que eram seus amigos quando ele estava vivo, esta movimentação foi sempre no sentido contrário ao do esclarecimento do crime.

A tese do crime comum foi agitada o tempo todo, como se fosse uma bandeira política do partido. E não se admitia de forma alguma que as investigações fossem retomadas.

Mas a família de Celso Daniel não concordou e buscou um esclarecimento do assassinato. E foram muito pressionados por isso. Seus dois irmãos nunca aceitaram a tese de crime comum e se movimentaram de forma admirável pelo esclarecimento dos fatos. Por isso foram ameaçados de morte e tiveram que sair do país. Hoje eles vivem na França, onde são reconhecidos oficialmente como exilados brasileiros.

A denúncia sobre a propina na prefeitura admnistrada por Celso Daniel e que teria sido a origem da sua morte, agora aceita pela Justiça após investigações do Ministério Público, é em bases parecidas com o que um desses irmãos do prefeito, João Francisco Daniel, vem dizendo desde que aconteceu o crime. Já na época do crime ele afirmava que seis dias depois da execução do prefeito o atual chefe de gabinete de Lula o procurou e disse, na presença de duas testemunhas, que entregava o dinheiro a José Dirceu.

João Francisco disse em depoimento na CPI dos Bingos que Carvalho contou isso para ele “três vezes” e que o chefe de gabinete de Lula dizia também que sentia medo de transportar tanto dinheiro (uma vez foi R$ 1,2 milhão) em seu Corsa preto. Entre outras coisas, por causa de histórias como essa é que o irmão de Celso Daniel pelejou para que o caso não fosse encerrado com a versão de crime comum.

Já Gilberto Carvalho, que hoje trabalha na maior proximidade com Lula, no gabinete ao lado da sala da Presidência da República e em contato diário com o presidente, que se prolonga até em finais-de-semana e em ocasiões íntimas, já que os dois são muito próximos há bastante tempo, nunca usou este poder que não fosse para brecar o interesse da imprensa sobre o assunto e tentar impedir qualquer aprofundamento da investigação. Ele fez tudo o que podia para que o inquérito concluísse com a versão de crime comum.

É uma história pesada, bem pesada. E não só porque envolve o assassinato de uma pessoa fundamental no esquema de poder que depois viria a governar o país, mas também por esta estranha atitude dos companheiros de partido e até de amigos bem próximos do morto de tentar encerrar o caso de qualquer forma.

É o “crime comum” mais estranho que já se viu e não só pela importância do morto. Depois do assassinato de Daniel morreram tantas pessoas ligadas diretamente ao caso e em circunstâncias tão incomuns que até num filme policial pareceria demais. Contando o prefeito, foram oito mortes.

Foi assassinado até o garçom do restaurante onde Sombra e Celso Daniel jantaram antes do crime. Antônio Palácio foi morto em fevereiro de 2003 e no mesmo mês mataram uma pessoa que havia presenciado sua morte. O sitiante que foi a primeira pessoa a identificar o corpo do prefeito abandonado em uma estrada foi assassinado com dois tiros em dezembro de 2003. O legista Carlos Delmonte Printes, que fez a autópsia no corpo de Celso Daniel foi encontrado morto em outubro de 2005 em seu escritório.

Essas mortes dariam para compor um enredo extraordinário, mas tão estranho, que haveria dificuldade até de ser aceito por um diretor de cinema. Se os responsáveis pelos dois filmes da Tropa de Elite estiverem atrás de uma boa história, aí está. Mas terão que cortar muita coisa, para que a platéia aceite o filme extraordinário que um caso desses pode dar.
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POR José Pires

Tem de tudo neste enredo


A morte de Celso Daniel é mesmo coisa de cinema. A ação mais “cinematográfica” foi a do bandido Dionísio Aquino Severo, um dos seqüestradores de Celso Daniel. Dionísio cumpria pena em um presídio quando foi resgatado do pátio da prisão por um helicóptero. Os guardas do presídio nada fizeram para conter a fuga. Isso tudo ocorreu antes da morte do prefeito e dá a impressão de que ele saiu apenas para fazer o serviço.

Poucos meses depois do crime, Dionísio foi preso novamente. Então disse ao delegado Romeu Tuma Júnior que sabia muito sobre o caso, mas só falaria em “condições especiais”. Não deu tempo. Foi assassinado dentro da prisão dois dias depois.

Eu disse que era coisa de cinema. Tuma Júnior entrou no caso porque na época da morte de Celso Daniel era ele o titular da delegacia seccional de Taboão da Serra, sob cuja jurisdição estava a cidade de Juquitiba, município onde o corpo foi encontrado.

É difícil que um delegado experiente não fizesse as ligações correspondentes entre a fuga espetacular e o crime. Os investigadores da delegacia chefiada por Tuma Júnior chegaram à conclusão que o helicóptero que deu fuga a Dionísio fora alugado na região do ABC.

Recentemente Tuma Júnior esteve envolvido numa complicação política que preocupou bastante o governo Lula. No cargo de Secretário Nacional de Justiça, ele foi acusado de ter relações muito próximas com um dos chefes da máfia chinesa e enfrentou este problema com a maior tranqüilidade. Tuma Júnior foi exonerado do cargo, mas no final acabou sendo inocentado. E o assunto foi esquecido pelo governo.

Para um crime comum, a morte de Celso Daniel tem complicações demais, não acham? E foi muito intensa a atuação de Gilberto Carvalho para que prevalecesse esta tese. Ele não sossegou nem depois que passou a ocupar a sala ao lado da do presidente Lula.

Entre as muitas atuações para forçar uma finalização das investigações da morte de Celso Daniel como um simples crime comum, uma das mais surpreendentes foram os telefonemas entre ele e o acusado de ser o mandante do crime, o Sombra, e o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado petista e um dos líderes do partido. Greenhalgh foi incumbido pelo partido de acompanhar o caso de perto.

Os grampos telefônicos foram feitos a pedido do PT e depois descartados como prova. Mas de qualquer forma estão disponíveis na internet para mostrar as maquinações.

Primeiro o diálogo entre Carvalho e o Sombra:
Carvalho: “É, eu vou agora, marcamos às três horas na casa do José Dirceu. Vamos conversar um pouco sobre a nossa tática da semana, né? Porque nós vamos ter que ir pra contra-ofensiva”.
Sombra: “Vou falar com meus advogados amanhã. A nossa idéia é colocar essa investigação sob suspeição. Arrumar um jeito de...”
Carvalho: “É, acho que é um bom caminho”.


E agora, o diálogo entre Carvalho e Greenhalgh:
Greenhalgh: Olha, deixa eu te falar. Está chegando a hora do João Francisco ir depor e antes e antes do depoimento quero conversar com você para ele não destilar ressentimento lá.
Carvalho: “Pelo amor de Deus, isto vai ser fundamental. Tem que preparar bem aí o cara, porque este cara vai...”


Não é muito esforço em volta de um simples comum? Mas o caso está de volta e agora na esfera da Justiça, com uma acusação de propina que atinge o homem mais próximo do presidente da República hoje em dia. A propósito, parece ser o único que sobrou dos que subiram ao poder com Lula.
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POR José Pires

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Vamos organizar a bagunça

Para não ficarem dizendo que só critico o presidente Lula, vou dar uma sugestão. É quase uma questão de ordem que pode ajudar muito na sua relação com a imprensa e evitar mal-entendidos, como no caso da versão criada por ele para a agressão ao candidato José Serra.

Basta Lula avisar aos jornalistas antes de começar a falar se está se manifestando como presidente da República ou como chefe de desordeiros.
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POR José Pires

Lula, o nosso Rojas, e sua fogueteira

Como faz sempre depois de cometer alguma besteira, Lula submergiu. Depois do papelão de ontem, quando disse que o candidato José Serra havia sido atingido apenas por uma bolinha de papel, o Supremo Apedeuta foge da imprensa. Hoje, depois de participar de uma cerimônia na Base Aérea de Brasília, os jornalistas perguntaram se ele não havia se precipitado em sua declaração. Ele deu um sorriso, acenou de longe e deu no pé.

Na década de 80 os petistas ficavam fulos quando o saudoso jornalista Paulo Francis dizia que Lula, ainda começando a carreira política, devia ser tratado à chicotadas. Pois é. Mas não é só nisso que Francis revelou dotes de profeta.

A faixa presidencial tem que ser respeitada. Mas o homem que a usa atualmente merece algum respeito? O que vimos o presidente da República fazer foi a incitação da violência. Em qualquer das duas situações, seja pela sua cínica versão da bolinha de papel ou da agressão mais violenta, que foi comprovada em reportagem do Jornal Nacional, Lula agiu de forma desequilibrada e desonrosa.

No momento em que Serra foi atingido na cabeça, havia um início de conflito num local público, com muitas mulheres e crianças. A provocação veio de cabos-eleitorais de Dilma Rousseff, que foram ao encontro da comitiva do candidato do PSDB. É óbvio que o pior foi evitado apenas porque os tucanos agiram de forma equilibrada, contornando a situação perigosa criada pelos petistas.

Mesmo que fosse apenas uma bolinha de papel, havia ocorrido algo muito grave, um acontecimento que deveria ser condenado de imediato por qualquer pessoa de bom senso. Até para que não seja repetido nesta e em nenhuma outra eleição. Mas o que a liderança petista fez? Se reuniram para encontrar uma sacada marqueteira e se aproveitarem do episódio.

Daí deve ter surgido a lembrança do episódio do goleiro Rojas fingindo ter sido atingido por um rojão num jogo importante contra do Chile contra a Seleção Brasileira, no Maracanã. E o presidente da República está aí para fazer o papel de provocador de campanha eleitoral. Lula não respeita a faixa há bastante tempo. Então ele e sua candidata saíram falando disso como se fossem espertos.

O que se sabe agora com certeza é que Lula fez o papel de Rojas, repassando a farsa da inofensiva bolinha de papel. É ele o farsante. É ele o Rojas. Porém, naquele caso do goleiro chileno havia também uma fogueteira que lançou o rojão das arquibancadas. Não havia nada combinado entre o chileno e a fogueteira, como agora entre os petistas, mas com Lula como Rojas, o papel de fogueteira pode ficar com a Dilma.
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POR José Pires

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Marketing da violência

Que Lula e o PT sempre culpam a vítima, isso todo mundo sabe, mas o presidente da República passou dos limites fazendo gozação com a agressão sofrida pelo candidato José Serra ontem no Rio de Janeiro. A gente sabe também que Lula não respeita a solenidade do cargo de presidente da República, aliás de cargo algum, mas faria bem alguém que o alertasse que, num caso desses, o papel do presidente brasileiro não é o de acirrar os ânimos.

Um presidente deve unir os brasileiros e zelar por uma disputa eleitoral democrática e evidentemente pacífica. É claro que escrevemos isso só para constar, pois pedir equilíbrio ao Lula é o mesmo que pedir para Dilma não mentir.

Não há muito o que se possa fazer com um político que faz piada até com prisioneiros políticos, como ele fez quando comparou os prisioneiros políticos do regime de Fidel Castro com os criminosos comuns presos no Brasil.

Porém, a coisa está ficando grave. Eles já estão treinando com marqueteiros os desaforos contra as vítimas. Por volta das 14 horas, no Rio Grande do Sul, Lula comentou a agressão a Serra dessa maneira: "A mentira que foi produzida ontem pela equipe de publicidade do candidato José Serra é uma coisa vergonhosa (...) aliás, ontem deveria ser denominado o dia da farsa, o dia da mentira".

O petista comparou o episódio com o ex-goleiro da seleção chilena, Roberto Rojas, que fingiu ser atingido por um sinalizador em 1989, em um jogo entre Brasil e Chile. Vou colocar na íntegra: "Venderam o dia inteiro que esse homem tinha sido agredido. Se vocês não viram ainda, vocês pegam o que foi divulgado e assistam para ver que é uma mentira mais grave do que a mentira do que a do Rojas, o goleiro do Chile, que no Maracanã caiu e fingiu que um foguete tinha atingido ele".

Pois bem, de manhã em Curitiba a candidata Dilma Rousseff, que como o chefe estava em campanha eleitoral no sul do país, quase foi acertada por uma bexiga cheia d'água atirada de um prédio. Logo depois, fazendo ironia com a agressão a Serra, ela comentou o seguinte: "Não sou o Rojas para ficar fazendo firula com isso porque, ao contrário dele, me esquivei."

É um jogo casado, é claro. É irresponsável, acirra os ânimos e estimula a violência. Como disse, vindo do PT e do Lula não causa surpresa alguma. A novidade é que agora estão fazendo isso treinados por marqueteiros.
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POR José Pires

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Psol e seus caciques de extrema-esquerda

Já vou avisando que não é piada. É notícia séria, o Psol rachou. Isso mesmo, a ex-senadora Heloísa Helena, atualmente vereadora em Maceió e que tentou voltar ao senado mas acabou sendo derrotada, rompeu com a direção nacional do partido.

Heloisa Helena renunciou à presidência do partido, desgostosa com a posição definida pela Executiva Nacional, que optou neste segundo pelo "voto crítico" em Dilma Rousseff, seja lá o que for esse negócio. Voto crítico? Parece algo parecido com o que eles faziam no PT antes de sairem para formar o Psol. Vão acabar tomando outro pé na bunda e ainda podem causar um estranhamento com seus poucos eleitores.

Dá a impressão de que Heloísa Helena só não sai do Psol porque apesar de ser uma baba, a legislação eleitoral brasileira ainda não permite que ela crie o PHH, ou Partido da Heloísa Helena, que além da sigla bem bacana teria garantida sua unidade literalmente de uma só. Isso, é claro, se a Heloísa Helena puder se aguentar, não?

A bem da verdade, o Psol só não acabou nesta última eleição porque seus líderes apelaram para o recurso de todo cacique político, que é o de usar a sigla para privilegiar determinadas candidaturas, em alguns casos uma só. Tivemos até a patética cena do candidato à presidência, Plínio de Arruda Sampaio, usando um debate nacional para pedir votos para os três candidatos mais conhecidos.

Com isso elegeram três deputados federais, os de sempre, Ivan Valente e Chico Alencar, e o novato Jean Wyllys, eleito com a alta votação de Alencar, 240.724, a segunda maior do Rio. No Rio Grande do Sul o partido não alcançou o quociente eleitoral de 200 mil votos e Lucana Genro ficou de fora apesar da boa votação, 129.501 votos, a oitava do estado.

Seu plano é se eleger vereadora em Porto Alegre daqui a dois anos. Se Heloísa Helena se reeleger vereadora em Maceió o Psol vai ter duas das mais conhecidas vereadoras do Brasil. Não deixa de ser uma marca.

Resta saber qual é a diferença entre o Psol e os outros partidecos dominados nos estados por um grupo pequeno de caciques que usam a sigla em proveito de pouquíssimas candidaturas. Está aí um bom estudo para ser feito: o surgimento na política brasileira de caciques políticos de extrema-exquerda.
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POR José Pires

Lembrete

Falei no post abaixo da nova pesquisa do Ibope e da abalizada opinião do deputado Ciro Gomes. Mas vale lembrar também um fato dos mais simples: estes mesmos institutos que erraram, ou melhor "erraram" a maioria dos resultados não só nas eleições presidenciais, mas também nas eleições para governador e para o Senado, são os mesmos institutos que afirmam que a taxa de aprovação de Lula é altíssima.
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POR José Pires

E lá vem de novo o Ibope

Pesquisa nova do Ibope é sempre o sinal de festa na blogosfera petista. Bem, mas para quem acredita em qualquer coisa, mesmo que sejam coisas absurdas como a candidatura Dilma, dar credibilidade para pesquisa eleitoral é tarefa das mais fáceis.

E esta pesquisa que acabou de ser divulgada pelo Jornal Nacional também ajuda muito. É fácílimo para um petista acreditar nela. Como diz a moçada, o Ibope está pegando pesado. Estão dando 56% para a Dilma e 44% para o Serra nos votos válidos e 49% a 43% nos votos totais. Serra cai e Dilma sobe.

Sendo assim, acabou a eleição, não? O eleitor nem precisa votar. Mas é impossível esquecer que no primeiro turno o Ibope errou até na pesquisa de boca de urna. E erro grande, de cinco pontos. O Ibope dava 51% para a Dilma e ela teve 47%.

E o que estamos fazendo aqui neste segundo turno? Pelo Ibope o Brasil vive uma ficção. No dia 30 de setembro o instituto dizia que a disputa se resolveria no primeiro turno com Dilma tendo 50% dos votos, Serra 27% e Marina 13%. E as urnas deram Dilma com 46,91%, Serra com 32,61% e Marina com 19,33%, números que nos trouxeram a esta ficção, o segundo turno. O Ibope errou feio até com as margens de erro. Eu escrevi errou? É melhor botar aspas: "errou".

Um instituto desses pede a análise de um especialista, alguém que conhece bem seus meandros, até porque é bem antiga sua relação com o Ibope. É o deputado Ciro Gomes, um político que trouxe uma grande novidade para a política brasileira: mora no Ceará e tem o título eleitoral em São Paulo.

O nome de Ciro vem sendo usado há anos como joguete pelos institutos para esquentar pesquisas. Em todas as eleições nos últimos 15 anos, meses antes do início de qualquer discussão sobre o assunto na mídia sempre surge o nome de Ciro com excelentes índices. Isso só no início, até os institutos irem acertando o quadro conforme seus interesses. Até agora Ciro nunca fez parte desses interesses, por isso sempre foi descartado em cada eleição. Ia sendo puxado para baixo, até seu índice ter pouca influência no acerto.

Mas o deputado não é bobo. Ele mesmo fez a denúncia em uma entrevista para a televisão e classificou como farsa a citação de seu nome nas alturas. "Como é que alguém pode ter 17% se nem aparece na televisão?", ele perguntou.

Foi nesta mesma entrevista que Ciro afirmou que o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro "vende até a mãe para ganhar dinheiro". Diante da surpresa do jornalista, ele reafirmou: "Mas vende e vende mesmo!"

Até hoje Montenegro não deu nenhuma resposta convincente à afirmação do deputado. Não procurou reparação na Justiça, nem qualquer outra satisfação. Ficou por isso mesmo, na frase afirmativa de Ciro, que hoje faz parte da coordenação de Dilma Roussef, naturalmente a favorecida por esta última pesquisa: "Mas vende e vende mesmo!"
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POR José Pires

E eis que aparece o Chico Buarque

E afinal Chico Buarque entrou na campanha da Dilma Rousseff. Chico é a completude de qualquer campanha do PT. Sem ele, a coisa fica como a aquela musiquinha chata da Adriana Calcanhoto que fala em “avião sem asa, fogueira sem brasa”, “nenê sem chupeta, amor sem Julieta”, e por aí vai. Calcanhoto deixaria a musiquinha completa se tascasse lá um “PT sem achaque, eleição sem o Buarque, sou eu assim sem você”.

Ficaria bacana, não? Um dia ainda vou me dedicar à composição musical. Duas ou três músicas por ano (a média do Chico deve ser mais baixa), o direito de ser chamado de gênio e de se vitimizar quando algum crítico aponta qualquer imperfeição. Tirando essa função de se encontrar com uma carrada de petistas a cada quatro anos, é um vidão.

E mesmo na política ainda dá para se fazer de ofendido se houver alguma cobrança posterior, que é o que Chico Buarque faz quando algum jornalista traz este tema em alguma entrevista. Ele apóia Fidel Castro, faz campanha para o Lula, mas ninguém pode pedir qualquer explicação sem que seja acusado de estar fazendo patrulha sobre o grande compositor da MPB. É o problema de fazer política como se fosse um garoto mimado.

Mas não é com a mesma delicadeza que exige posteriormente de seus críticos que Chico Buarque dá suas opiniões. No encontro com Dilma nesta terça-feira, no Rio de Janeiro, para justiticar o apoio ele soltou uma frase feita de lascar. E é bem interessante, pois o artista consagrado teve fala de marqueteiro, seguindo na mesma linha do apoio geral a Dilma e de sua propaganda.

Chico Buarque passou a vida toda sendo tratado como garoto bonito e talentoso e não foi diferente desta vez. Isto sempre foi bem boboca, mas tem piorado e ficou até patético pois todos da sua geração já estão pra lá de maduros. É sempre a mesma cena. O compositor aparece em cena. Nada fala de proveitoso e muito menos aprofunda qualquer questão e ficam todos maravilhados com o mito. E as mulheres representam o papel de excitadas à frente de um senhor de idade que já deve estar de saco cheio deste papel.

Chico já é um homem já de idade. Já completou 66 anos. Só a disciplina partidária e o papel histórico de liderado político que ele encarna há tempos podem explicar sua entrada numa fria dessa. E ser liderado pelo Emir Sader é fim de carreira, não?

Para expressar o apoio a Dilma, Chico veio com uma frase de lascar. Vai na íntegra: “Essa mulher de fibra, que já passou por tudo, não tem medo de nada. Vai herdar o senso de justiça social, um marco do governo Lula, um governo que não corteja os poderosos de sempre, não despreza os sem-terra, os professores, garis. Um governo que fala de igual para igual com todos, que não fala fino com Washington, nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai".

Já não é nada honesto tentar criar esta contraposição em favorecimento ao governo Lula dizendo que a oposição despreza sem-terra e professores, mas que negócio é esse de "garis"? Chico deve estar lembrando daquela fala fora do ar sobre os garis feita pelo Bóris Kasoy, mas que acabou vazando nos microfones do telejornal que ele apresentava. É preciso ser tão rasteiro assim, fazendo de um deslize tolo de um jornalista mais uma desqualificação da oposição?

Duas coisas. Primeiro é feio um artista falando igual a um político do baixo clero. De alguém assim exige-se mais profundidade. Depois, também de um artista o esperado é que ele traga inteligência e equilíbrio para a política, buscando estimular um debate fora do interesse meramente partidário.

E só se o Chico Buarque for um petista idiota e fanatizado para ele acreditar que nós da oposição podemos todos ser encaixados nesta divisão simplória que o governo Lula quer fazer do país.
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POR José Pires

O compositor que mudou de idéia

O compositor inspirado veio com o chavão de sempre, de apoiar Dilma na herança lulista. Bem, não deixa de seguir o notório pensamento leninista da sucessão feita dentro do próprio grupo, sem alternância como qualquer outra força da sociedade civil. É mais ou menos como se faz no regime autoritário cubano, para o qual Chico Buarque já fez até poesia.

Como é impossível tirar de Dilma qulquer conceito que dê sustentação à sua candidatura, seus apoios acabam sendo justificados no mito de Lula e nos mitos do governo petista fabricados pela propaganda.

Tirando o Lula da candidatura de Dilma o que é que sobra? Bem, sem isso Dilma não se elegeria nem deputada federal em São Paulo. O espantoso é que um homem com idade para ter bastante experiência política não preste atenção ao risco de colocar alguém assim no governo do país.

O compositor também seguiu a toada marqueteira de buscar uma comparação com o governo de Fernando Henrique Cardoso. Desde que fez aquela locução vergonhosa para o marqueteiro Duda Mendonça no programa eleitoral de Lula na última eleição ele não se recuperou.

Daí a comparação como o governo FHC, de dezesseis anos atrás. Esse é outro cacoete dos apoios a Dilma e, neste caso, ninguém se importa com a injustiça que possa ser feita com o candidato José Serra, que foi um crítico em vários sentidos daquele governo.

E no caso específico do apoio a Dilma, o compositor mostra que muda de idéia de forma bem rápida. Em abril deste ano, ele dizia em entrevista à revista Brazuca que entre Dilma e Serra, “não haveria muita muita diferença”, um raciocínio político tolo e bem próprio de quem fez a ecolha de votar em Dilma “porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula”, como ele disse à revista.
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POR José Pires

O dia em que Chico tentou falar grosso com Drummond

Chico Buarque é militante disciplinado, desde quando apoiava o PCB, o antigo Partidão. Dessa personalidade de militante vem uma história ridícula, outra grosseria sua, desta vez como o falecido poeta Carlos Drummond de Andrade.

Foi contada pelo próprio Drummond, que disse que uma noite, na década de 80, recebeu um telefonema do Chico Buarque. Já era mais de meia-noite. O poeta até fez ironia: “O Chico Buarque me telefonando naquela hora só poderia ser coisa muito importante”.

Ele recebeu o compositor em seu apartamento, que chegou acompanhado de um homem. Era alguém da embaixada da Nicarágua, país que estava então sob governo dos Sandinistas. Os dois vinham falar de uma crônica publicada por Drummond no jornal do Brasil sobre o fechamento do jornal La Prensa pelo governo sandinista. E exigiam que Drummond reconsiderasse as críticas feitas ao regime autoritária que começava a ser instalado na Nicarágua. Drummond conta que botou Chico e o funcionário do governo nicaragüense pra fora de sua casa.

Essa história é só para mostrar que não devemos ter nenhum espanto com isso que o compositor fez anteontem. Pra quem já tentou enquadrar até o Drummond, é fichinha dizer que a oposição “fala fino” com Washington.

Chico não teve o escrúpulo em buscar para seu apoio a Dilma uma referência que pelo menos respeitasse a história pessoal de Serra, que ele, Chico, conhece muito bem. E veio com essa bobagem de “um governo que fala de igual para igual com todos, que não fala fino com Washington, nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai", que tem até um conteúdo machista,. Pra quem tem a fama de compositor com “alma feminina” fica mais feio ainda.

E essa conversa de “falar fino” é um perigo na voz de Chico, um artista que por estes anos todos vem “falando fino” com a ditadura de Fidel Castro em Cuba, sem alterar o tom de voz nem após as exigências recentes dos próprios cubanos por uma abertura na ilha dominada por Castro durane anos e agora repassada a seu irmão, Raul Castro. E aqui não podemos deixar de apontar a semelhança com a fala sobre a herança de poder repassada por Lula, que o compositor vê como uma qualidade da candidatura de Dilma.

Mas falar fino com ditaduras pode? Pois é o que tem feito Lula nestes oito anos de governo, com sua política que amacia a voz até para ditaduras genocidas, como foi com o Sudão. A voz fina pode também ser acompanhada dos olhos nos olhos (terá sido influência do Chico?) com o iraniano Ahmadinejad, um ditador apoiado por uma teocracia que dirige com mão de ferro um país em que se prende, tortura e mata a oposição democrática.

Chico é um artista que cultiva a imagem de homem tímido e educado, mas pelo menos a segunda condição ele estupora toda vez que dá uma entrevista. Ainda bem que ele fala pouco.

O compositor conhece bem José Serra e sabe que sua história pessoal não é de “falar fino” com Washington. Se fosse assim, o candidato tucano não estaria em 1973 no Chile, apoiando o governo de Salvador Allende, quando o general Pinochet deu seu golpe militar sangrento. Serra teve que fugir também daquele país para não ser assassinado.

Nesta época, Chico Buarque se auto-exilou em um país com menos riscos, ou melhor, nenhum risco. Foi para a Itália, mas esta é outra de sua contradições. Não seria mais apropriado que um homem tão engajado fosse fazer suas canções em países onde a atividade política tivesse um poder mais transformador no sentido de sua ideologia ou atitude política?

Vou dar um exemplo. A relação de Chico Buarque com o regime de Fidel Castro é tão intensa que ele se afastou até um artista cubano e antigo parceiro, como o cantor Pablo Milánes, depois que ele passou a fazer críticas ao castrismo e exigir reformas políticas em seu país.

Não sei o que Chico faria se Milánes fosse preso por isso em Cuba, mas é um fato que o compositor da “Carolina” jamais falou algo contra a falta de liberdade naquele país. Até o escritor português Saramago, um stalinista bem mais antigo que Chico, abandonou o apoio incondicional a Fidel Castro depois do fuzilamento praticamente sumário de três pessoas em 2003.

Já o Chico não deu opinião alguma sobre os fuzilamentos em 2003, nem sobre qualquer outra medida autoritária de Fdel castro e suas consequências, como as dezenas de prisões com torturas e maus-tratos e também a morte recente de um dissidente em greve de fome.

Nem vamos exigir que Chico Buarque passe longas temporadas no Paraguai ou na Bolívia, países citados por ele para vir com esta grosseria de que a oposição “fala fino” com Washington. O compositor tem um apartamento em Paris, onde vive pelo menos seis meses do ano, e aí está uma outra de suas incoerências. Para ser coerente, ele deveria ficar em Cuba, até mesmo em solidariedade ao socialismo cubano, em vez de aproveitar as delícias de um país capitalista, que aliás hoje tem um governo bastante conservador.

São as incoerências de Chico Buarque, que surgem das facilidades que ele tem na vida. Depois do apoio a Dilma ele pode partir para Paris, bem distante das milícias, dos grupos paramilitares que já dominam grandes parcelas inclusive do seu Rio de Janeiro. E mesmo lá no Rio ele deve ter uma casa bem guardada.

Chico pode também ficar longe das grosserias que somos obrigados a viver aqui no Brasil, pois seus companheiros petistas são mesmo de “falar grosso” e não é com Wahshington, não. Vivenciamos isso de perto, recebendo insultos como os que foram ditos por vários dos apoiadores de Dilma no evento de apoio a Dilma, da mesma forma que fez o Chico.

Temos agüentado no cotidiano essas grosserias. Tem coisa mais absurda que ter vivido de forma honesta toda a vida, atuando com seriedade desde os tempos da luta pela democratização do país até agora, para depois de velho ser classificado como "aliado da direita" e que "fala fino" com Washington por gente como o Chico Buarque, que tem a seu lado tipos como o Delúbio Soares, o deputado cassado José Dirceu e a ex-ministra e amiga de Dilma, Erenice Guerra?

Até aqui no blog essa turma aparece, com comentários tentando desqualificar e demonizar quem analisa o país com olhos críticos e sem compadrismos de grupo ou subserviência partidária.

Se não se fizer de songamonga como sempre, Chico deve ter ouvido tudo muito bem no evento de apoio a Dilma. E a tendência é que essas grosserias continuem e talvez até aumentem depois da eleição, independente de quem seja eleito. Mas é provável que aí esse país dividido não chegue aos ouvidos do Chico Buarque lá em Paris.
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POR José Pires

sábado, 16 de outubro de 2010

Minutos de emoção concentrada

Last Minutes with ODEN from phos pictures on Vimeo.


O Let's Blogar foi uma boa surpresa que encontrei na internet, não me lembro agora por quais rumos de navegação, pois sapeio tanto pela WEB que, na maioria das vezes, quando encontro uma boa parada não lembro mais por onde comecei.

O blog é cheio de novidades e tem um bom serviço de correio eletrônico. Está sempre chegando na minha caixa de e-mails com algo bom colhido na internet. Hoje o Let's Blogar trouxe um vídeo que foi o vencedor do 2010 Vimeo Festival Awards. É bem curto e de emocionar quem não tem o coração seco. Não é sempre que a gente pode ver tanta emoção concentrada em poucos minutos.

É falado em inglês e sem legenda, mas não precisa disso para ser entendido. Clique no vídeo, que dá para assistir aqui mesmo no Brasil Limpeza. E depois vá ao Let's Blogar, onde tem muitas outras coisas boas para serem vistas. Caso queira ver os outros concorrentes do festival Vimeo, clique aqui.
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POR José Pires

Armações sem limite

Já começou o encolhe-estica das pesquisas. Primeiro um instituto veio com uma pesquisa que dava empate técnico entre Dilma e Serra e agora o Data Folha colocou Dilma mais acima. Para esta semana que entra já está prevista a divulgação de pesquisa do Ibope contratada pela TV Globo e o jornal O Estado de S. Paulo. Também nesta semana serão divulgadas outras duas pesquisas: CNT/Sensus e Vox Populi.

Bem, se dependesse de todos estes institutos de pesquisas, Dilma só estaria esperando Lula tirar a faixa presidencial “da barriga”, como diz ele. Não haveria segundo turno. O dono do Vox Populi garantia até em artigos que a vitória seria do PT e já no primeiro turno.

As pesquisas eleitorais são um grande problema no processo eleitoral brasileiro. E só uma justiça falha como a nossa permite que haja essa intromissão mais que suspeita nos resultados das eleições. Institutos de pesquisas atuaram sem limites por todo o país, derrubando candidaturas de senadores da oposição e tentando intrometer-se de maneira altamente duvidosa também nas disputas para os governos estaduais.

No Paraná, o Ibope e a TV Globo divulgaram uma pesquisa que deu empate de 49% entre o candidato do PSDB, Beto Richa e o candidato do Lula, Osmar Dias. Pois Richa foi eleito no primeiro turno com 52,44% contra 45,63% do candidato do Lula. Falei disso aqui.

A manipulação óbvia também é ajudada pela vagabundagem ou conivência das nossas redações jornalísticas, que tratam quase como previsões infalíveis os resultados de pesquisas mais que questionáveis.

Até o Data Folha, que já teve alguma credibilidade, hoje pode ser colocado no mesmo caldeirão dos outros institutos, todos pra lá de suspeitos. No caso do Data Folha, por falar nisso, mesmo que sua última pesquisa tenha sido feita com toda correção não concorre para sua credibilidade divulgar ao mesmo tempo uma outra pesquisa colocando a popularidade do presidente Lula nas alturas.

Qual é o sentido de aferir a popularidade de Lula exatamente no meio de uma disputa eleitoral em que ele chefia uma das partes? Como Lula está todos os dias nos programas de TV e de rádio de Dilma, além dos dois participarem juntos de comícios eleitorais por todo o país, trazer o tema da sua popularidade inevitavelmente acaba favorecendo a candidata do PT.
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POR José Pires

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A política como ficção

O artificialismo que domina a comunicação na política acabou criando uma situação muito interessante e que podia estar sendo usado como uma referência para o debate do papel do marketing em nossas eleições, mas infelizmente o fato nem sequer está sendo noticiado. O ator que atua como apresentador do programada da Dilma Rousseff na TV e que foi usado também para atacar a candidatura Serra já havia ancorado o horário político que comemorava os 20 anos do PSDB.

É claro que no programa de aniversário dos tucanos o PSDB foi colocado nas alturas. Como se vê na imagem acima, a propaganda mostra o partido como o grande transformador do país. Já no programa da candidata do PT, como se vê na imagem abaixo, o ator diz que o PSDB é exatamente o contrário.

Logo que foi revelada a dupla atuação do garoto-propaganda, os marqueteiros da Dilma tiraram rapidamente o rapaz de cena. Desde então a única manifestação que apareceu sobre o assunto foi um vídeo pstado no Youtube, muito bem bolado por sinal, que junta os ataques da campanha de Dilma aos tucanos com os trechos em que o ator elogia o PSDB na comemoração dos 20 anos do partido. É bem simples, exatamente na medida que dá a eficiência a esse tipo de criação. Ele pode ser visto aqui.

Os sites jornalísticos ignoraram o assunto do ator fazendo a propaganda do PSDB e depois do PT, o que é um erro danado, pois nesta comunicação conflitante, tendo como centro um mesmo ator atuando para dois grupos que, mais que adversários, hoje são inimigos praticamente inconciliáveis, está o grande tema desta eleição e que infelizmente tomou conta da política brasileira. É a encenação cotidiana da política, com a exclusão de qualquer conteúdo autêntico que não atenda o interesse circunstancial das campanhas.

A coisa está feia. Hoje em dia um candidato ético, que aja com coerência e seja verdadeiro corre um risco danado de ser expulso da campanha pelo marqueteiro.

Já vimos nesta eleição tanto a Dilma batalhando pela eleição de Tancredo Neves quanto o Serra tratando como grande estadista o presidente Lula. E a coisa não melhora: os dois não largam a Bíblia. Os dois lados da disputa tentam minimizar essas questões, mas a verdade é que esse tipo de falsificação histórica e a falta de posicionamento coerente podem ter consequências muito graves e bem além deste período eleitoral.

Esta esterilização da política é tão grave que muitas vezes as campanhas dão guinadas abruptas e mudam de rumo de um dia para o outro, forçando até o abandono de opiniões identificadas historicamente com a candidatura.

Mataram até o velho chavão que identificava militantes e personalidades da política como “atores políticos”. Hoje só tem ator mesmo. Daí as confusões como esta do rapaz que falava bem do PSDB até há pouco tempo e nestas semanas fazia o mesmo sobre o PT.

Esta situação tem uma simbologia excelente desta farsa instalada na vida brasileira. A própria disposição do ator em atuar em campanhas com posições tão diferentes e que até se acusam mutuamente é um sintoma significativo da falta de senso que rege hoje não as relações profissionais nesse meio, mas também a falta de qualquer compromisso real que é a essência do marketing político.

A ação enganadora do ator, desta vez como profissional, ao não revelar ao marqueteiro do PT que antes já havia feito um trabalho semelhante para o partido adversário é um outro sintoma perigoso. Limites foram ultrapassados de tal forma que, hoje em dia, até as relações mais simples começam a ser desestabilizadas.

A situação é tão grave que nem é possível acusar o ator de ter agido com desonestidade, já que o próprio propósito do trabalho para o qual foi contratado pelos dois partidos não tem nada a ver com ética alguma.
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POR José Pires

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Fala, parceirão!

Escrevi no post abaixo que é provável que algum dia alguém venha com uma grande revelação sobre Dilma Roussef. Calma, não é nada sobre sua vida íntima, mas apenas uma curiosidade de todos os brasileiros: afinal o que é que essa candidata sabe fazer direito?

Memória boa ela não tem. Isso é uma coisa que todos sabem, já que ela até se esqueceu que nas décadas de 60 e 70 o grupo armado liderado por ela lutava para implantar uma ditadura comunista no Brasil. O projeto era substituir uma por outra. Dilma poderia ter sido a primeira mulher ditadora da nossa história, mas felizmente isso foi evitado. Mas pelo que ela fala, parece que os planos revolucionários sumiram da sua cachola: ela vive dizendo que eles lutavam pela democracia.

Mas pelo jeito não são apenas as lembranças históricas que não se firmam na cabeça da candidata petista. A memória recente dela também falha bastante. Hoje em Brasília, Dilma deu uma entrevista coletiva para anunciar o apoio formal do PP à sua candidatura. Até aí tudo bem, mas deu um tilt nela no momento do enaltecimento dos aliados: “Eu queria declarar que é muito importante esse apoio do Partido Popular. O PP tem sido grande parceiro do governo do presidente Lula”.

O problema é que o nome do partido não é Partido Popular. O PP é aliado do governo Lula desde o primeiro mandato de Lula. Faltam menos de três meses para completar oito anos deste doce convívio e Dilma ainda não decorou o nome dos parceirões: Partido Progressista.

Continuo achando que também nisso fica valendo aquela especialidade dela de que falei abaixo: é uma excelente neófita.
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POR José Pires

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Afinal, quem é Dilma Roussef?

Dilma Roussef é muito esperta. E pelas histórias que conta, na sua juventude ela fazia parte de um grupo pra lá de esperto. Até comiam farinha com palitinho, o que não é coisa pra qualquer rapaziada. O grupo que está em torno dela agora também é muito esperto, tão ladinos que devem ser capazes até de fazê-la imaginar que, vencendo a eleição, ela é quem estará no comando.

Esta questão do aborto é um bom exemplo da esperteza da tigrada. No plano deles, logo o Brasil inteiro estará pedindo desculpas para a Dilma. O ponto que realmente interessa neste assunto é que a candidata do PT mente. Não, Dilma não “falta com a verdade”, como se costuma dizer quando o verdadeiro sentido das palavras traz um temor de seu uso como contra-ataque pelo adversário. Não estamos atacando ninguém. Só pedindo respeito para com a verdade. Mas o PT está sempre procurando criar este clima de medo no debate político, como se pretendessem dominar até o que sai das nossas bocas.

Neste e em outros assuntos Dilma Roussef não “falta com a verdade”. Ela mente. É mentirosa.

Ela já afirmou que é favorável à descriminação do aborto. Ou, para usar as palavras certas, é pela legalização do aborto. Ela já deu esta afirmação em entrevistas escritas e gravadas. Nada contra, até porque eu tenho a mesma posição. O problema é que ela disse isso quando lhe era conveniente. Deve ter feito então muito sucesso entre a companheirada. E agora desdiz porque o cenário político exige uma outra Dilma.

Bem, sobre a posição favorável ao aborto não há o que discutir. O direito à opinião permite inclusive a luta para que a legalização ocorra. E o bom senso também permite a quem tem posição tão avançada escolher com mais inteligência seus caminhos políticos. Minha candidatura a presidente da República, por exemplo, é só para daqui umas três décadas, quando eu vou estar com a idade do Plínio de Arruda Sampaio. Isso se o Brasil melhorar até lá, é claro.

Voltando, não há nenhum problema em ser favorável ao aborto. Acho até que, tirando a piada, o assunto não seria determinante se as duas candidaturas que estão neste segundo turno fossem mais consistentes. Mas o que não se admite é a mentira oportunista em um debate público. Isso e as encenações posteriores, como o uso do batizado religioso do próprio neto numa das tentativas de manipular a opinião pública e também a ida à basílica de Aparecida, onde disse aos jornalistas que era devota da santa, mas durante a missa fez errado o sinal da cruz. Puxa vida, mas foi-se até o tempo em que cristão-novo sabia mais de religião que os devotos de sempre.

Na foto cima, todo mundo segue a missa direitinho e faz o sinal no momento certo. Dilma só fez depois. A melhor tirada sobre essas mancadas quem fez foi Augusto Nunes, em seu blog no portal da Veja. "É nisso que dá estudar catolicismo com Frei Betto", ele escreveu. Nunes está certo, o Frei Betto é fogo. E o pior é que se ela estudasse guerrilha com ele tomaria bomba do mesmo jeito.

Um dia alguém ainda vai trazer uma grande revelação sobre Dilma, nada escandaloso e nem da sua vida íntima, mas que pode aplacar a curiosidade de muitos: afinal o que é que Dilma sabe fazer?

Por enquanto, em seu trânsito forçado em vários assuntos ela só comprovou uma especialidade: a de neófita.
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POR José Pires

A verdade é uma só: a candidata mente

A questão central, então, não é o aborto em si, mas o fato da posição da candidata Dilma mudar conforme a oportunidade. Aí a coisa fica perigosa, afinal o cargo em disputa é a presidência da República e não o de presidente de uma associação qualquer. Porém, como eu disse, ela é esperta e seu grupo de agora é ainda mais esperto do que seus companheiros de outrora com os quais passava as tardes comendo farinha com palitinho.

Mas esperteza é bom para a prática do estelionato. Na política deve-se exigir outras qualidades, entre as quais uma bem básica e da maior importância é a coerência.

Dilma mente sobre o aborto, mas isso não é novidade. Ela já mentiu bastante sobre seu passado e seu programa político na TV repassa sempre algumas dessas mentiras, como a da sua participação nas lutas pelas democratização do país. Dilma não teve papel relevante em nada do que aconteceu nos últimos anos.

A luta pela democracia, a imprensa anternativa, a organização política e partidária, a campanha das diretas, as primeiras eleições para as capitais e para os governos estaduais, a eleição de Tancredo neves, a primeira eleição para presidente da República, nada disso teve a presença de Dilma.

Ela fez a luta armada, mas até nisso ela não tem sido "assertiva". Pelo contrário, é bem recalcitrante. Segundo o que ela diz, seu papel é dos mais singulares e cheio de contradições. Era da liderança mas nunca pegou sequer num trabuco. Seu grupo roubou o cofre do político Ahemar de Barros, mas ela nada sabe do assunto. São argumentos que soam até como um desrespeito às pessoas que lutavam a seu lado, muitos deles torturados e mortos pela ditadura militar.

Ela mente também sobre sua posição administrativa quanto ao meio ambiente. E acho esta mentira até mais grave que a do aborto, pois o próximo presidente da República terá que definir políticas públicas sobre o meio ambiente numa situação mundial extremanente delicada para todo planeta.

Tanto quanto o seu partido, a candidata do PT nunca teve o menor interesse pelo meio ambiente. A ecologia pode até fazer parte do programa petista, mas há muito tempo que a máquina partidária é dominada por gente que até se gaba de ter um pensamento muito prático, o que significa que o importante é tocar o desenvolvimento pra frente, sempre privilegiando a lavoura de soja sem dar atenção a nenhum cerradinho.

A raiz leninista de todos eles também não permite uma compreensão clara sobre esta questão que a cada dia fica mais difícil de resolver. Capitalismo e marxismo sempre padeceram da mesma ilusão do industrialismo como um redentor da humanidade. O capitalismo ainda permitiu a discussão crítica que permitiu amenizar a destruiçao, mas os países sob o poder do socialismo real implantaram à força políticas agrícolas e industriais que arrasaram o meio ambiente.

Dilma nunca teve respeito algum pela ecologia. Por isso, até ganhou um "Troféu Motosserra" de ambientalistas quando foi secretária no governo do Rio Grande do Sul nos anos 80, época em que estava pendurada em cargos do brizolismo.

O PT tenta se fazer de vítima e conduzir uma discussão sobre coerência política para o plano do respeito à posições pessoais. Para fortalecer esta farsa, os petistas agora até vieram com a conversa de que o que levou Dilma a ser agressiva no debate com Serra na Rede Bandeirantes foi um boato repassado pela internet de que ela seria lésbica.

Bem, eu recebi há pelo menos três meses este e-mail apócrifo onde se conta a história de um processo que Dilma estaria sofrendo de uma mulher que supostamente teria tido um caso amoroso com ela.

O destino deste e-mail foi o mesmo de tantos outros, inclusive de vários outros e-mails, mas muitos mesmo, com ataques terríveis contra o candidato Serra. Esse tipo de coisa vai depressa para a lixeira. Alguns eu nem abro, já que é possível perceber o conteúdo idiota pela linha do assunto.

Mas o que fez Dilma e seu grupo muito esperto? Trouxeram o lixo para a opinião pública. Vale tudo para se fazer de vítima e procurar obscurecer o centro da discussão: o de que Dilma mente.
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POR José Pires

O currículo de quem mentiu a vida toda

O histórico de falsidade de Dilma Rousseff é longo. A candidata já mentiu até em assuntos mais importantes do que este do aborto, como no caso do seu currículo falso, onde apresentava um título de um doutorado nunca concluído. Ali, Dilma mostrou que não respeita nem códigos morais e até legais que sustentam o respeito ao ensino superior.

Quando foi pega na mentira do doutorado, ela tentou usar um estratagema parecido com o de agora. É normal entre petistas. Quando flagrados, fazem-se de vítima e passam a atacar quem busca o esclarecimento.

Eles tentaram de todas as formas se safar da treta curricular. Dilma ainda não era candidata a presidente, mas ocupava a Casa-Civil de Lula. Alegaram até erro de subalternos, que teriam publicado o currículo por engano no site do ministério.

Acontece que Dilma se apresentava pessoalmente como doutora. A mentira da agora candidata foi comprovada quando surgiu, na época da polêmica sobre o falso currículo, o e-mail de um professor da USP narrando um encontro com a então ministra onde fica claro que ela sempre mentiu sobre o doutorado.

O e-mail foi enviado a um grupo de colegas por Ildo Sauer, ex-diretor de gás e petróleo da Petrobrás no governo Lula. A mensagem evidentemente vazou e é totalmente autêntica. Isso já foi confirmado diretamente pelo professor Sauer.
Vale a penas ler na íntegra, inclusive com a grafia do próprio autor. O e-mail é o seguinte:

"Em fins de 2002, todos os membros do grupo de energia (dirigido pelo Lula) do Instituto Cidadania, foram solicitados a entregar o currículo. No dela (Dilma) constava o título de Doutor. Como ela tinha manifestado interesse em estudar os assuntos de regulação, perguntei:
- Você tem o Doutorado?
- Sim.
- Então vou te convidar para participar da banca de doutorado da Sonia Seger Pereira Mercedes, que analisa comparativamente, desde o Império até 2002, a estrutura e regulação das industrias de energia elétrica e saneamento, discutindo os impactos dos ajustes liberais dos anos 90. Você vai ter a chance de se atualizar e contribuir... Resposta:
- NÃO TENHO TEMPO PARA ESTAS COISAS....
Me senti constrangido. Afinal "estas coisas" para as quais ela não tinha sequer tempo, eram o foco principal da vida profissional e vocação de muitos de nós, e, com certo sentimento de orgulho....
HOJE COMPREENDO...
O DESPREZO E O DESDÉM ERAM FERRAMENTAS PARA ENCOBRIR A IMPOSTURA...
HÁ OUTRAS.....
Abraço
Ildo"

É isso. A situação descrita pelo professor é bem verossímil, até pelo desprezo de Dilma pelo trabalho dos outros. Ela já fez isso com Marina Silva e outros ministros. Paulo Bernardo já confessou que recebeu um tratamento duro dela. Teve ministro que saiu chorando de reunião quando ela era a ministra mais prestigiada pelo presidente Lula.

Dilma também já foi grosseira em público com o ex-ministro Carlos Minc, que entrou no ministério do Meio Ambiente no lugar de Marina, que saiu porque facilitava menos o atropelo às leis ambientais.

Um episódio com Minc ocorreu na Conferência do Clima, em Copenhague, onde Dilma estava apenas em razão da sua candidatura. Minc tem vasta experiência nesse tipo de evento. Dilma é uma neófita no assunto, como em tantos outros. Pois quando fazia ponderações numa reunião interna durante a conferência, Minc foi destratado por ela. “Olha menino, isso aqui não é coisa de amador, é para profissionais”, ela disse. Minc tem 59 anos , apenas quatro anos menos que Dilma, e pelo menos 30 de militância ecológica.

A atitude de desprezo é parecida com a narrada pelo professor da USP, na conversa em que ela confirmou com falsidade seu doutorado. O falso currículo foi bastante debatido na época. E foi apenas mais uma entre tantas mentiras, que soma-se agora à sua posição referente ao aborto e que pode ser juntada também à mentira muito grave sobre os objetivos do grupo de luta armada em que ela participava da liderança. É a história da velha argumentação farsa de que eles lutavam pela democracia, quando, na verdade, o que pretendiam era a implantação de uma ditadura comunista no Brasil.

Enfim, mentir já uma prática incorporada na sua vida. É provável até que todos eles tenham essas mentiradas como verdades pétreas. Até não me espantaria em saber que por temor à implacável chefe todo mundo a trate na intimidade como doutora Dilma.
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POR José Pires