quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Solidariedade só de bate-boca

Nesta bizarra cultura que vem tomando conta do Brasil uma das coisas mais difíceis de aturar é o não-acontecimento, que são esses fatos sem importância alguma que costumam virar uma sensação na internet. Geralmente o sucesso é alcançado com alguma tosca filmagem feita por celular, afinal ninguém quer encarar a labuta de produzir algo mais aprofundado ou organizar ações políticas que podem bastante tempo para ter algum alcance. Raramente o que se oferece tem alguma qualidade, seja na filmagem ou na ação. Intelectualmente o nível do pessoal é de CQC pra baixo ou de uma grosseria parecida com a dos pseudo-humoristas do Pânico.
Esta semana tivemos um não-acontecimento de peso, com a breve discussão numa rua do Rio de Janeiro entre um grupo de rapazes e Chico Buarque. O cantor foi abordado e alguém filmou a baixaria e postou o vídeo. Foi então que algo que era para ficar restrito a um grupo de bobalhões acabou sendo tomado como um fato de merecida repercussão. Até parece que temos pouca coisa séria exigindo um debate nacional. É preciso cuidar antes do bate-boca entre Chico Buarque e alguns moços bem de vida, como se eles fossem grandes protagonistas da história. Beber mal pode também ter esse efeito, mas o que é que milhões de brasileiros têm a ver com um furdunço idiota desses?
O breve entrevero com Chico Buarque era algo para a gente nem ficar sabendo. Mas é impossível hoje em dia ter controle sobre um não-acontecimento, ainda mais com a própria imprensa contribuindo para a algazarra inconsequente que virou a internet brasileira. O descontrole é ainda maior quando um oportunista como o ex-presidente Lula entra no assunto. Ainda que venha dele, parece inacreditável, mas o ex-presidente lançou uma nota em solidariedade a Chico Buarque. Lula vem desonrando de forma impressionante o valor institucional do cargo que ocupou, mas nunca antes na história deste país se viu um ex-presidente tentar fazer de um bate-boca de rua um grande fato nacional. Até dá para entender que o chefão do PT está precisando puxar qualquer assunto para tirar a atenção da sua imagem enlameada, mas essa foi demais.
Mas já que o ex-presidente fala em solidariedade, convém lembrar que isso também não é o forte dele. O desprezo de Lula pela solidariedade tem comprovação na sua carreira política, com sua fama histórica de abandono de companheiros nas piores situações. São inúmeras as situações em que Lula largou para trás companheiros importantes até para sua própria carreira, mas vou citar apenas dois casos de destaque, nos quais ele não teve nenhuma solidariedade.
Lula negou qualquer apoio à viúva do ex-prefeito Toninho do PT, de Campinas, cujo assassinato a tiros em 2001 numa estrada paulista jamais foi solucionado. Antes de ser eleito presidente, Lula havia prometido se empenhar no esclarecimento do crime à viúva do prefeito, Roseana Garcia. Porém, já no cargo de presidente da República ele se negou a recebê-la. Os familiares de Toninho do PT acreditam que a morte do ex-prefeito foi um crime político e queriam apenas que, na qualidade de presidente, Lula buscasse esclarecer o crime. Mas não houve solidariedade alguma dele com o companheiro de partido assassinado.
Solidariedade também foi o que ele não teve com o amigo Celso Daniel, o prefeito de Santo André que era seu coordenador na campanha para presidente, na época em que foi sequestrado e morto com vários tiros depois de ser torturado. A morte foi em 2002 e desde então políticos muito próximos de Lula vem fazendo o maior esforço para fechar o caso como crime comum. Não é o que a família de Celso Daniel pensa sobre o assassinato, que denunciam como crime político. Como presidente da República e chefe incontestável do PT, Lula nada fez para esclarecer a morte terrível do amigo. Ao contrário, assessores dele batalharam pelo fechamento do caso, que voltou agora nas revelações da Lava Jato de que dinheiro de propina da Petrobras teria sido usado para evitar chantagens políticas com a morte do ex-prefeito.
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POR José Pires

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

E Levy deu mesmo o fora

Joaquim Levy garantiu pelo menos para ele um 2016 melhor que este ano interminável. Não terá mais que suportar a presidente Dilma Rousseff, o que não é nada fácil na opinião inclusive de petistas. Ele está fora do Ministério da Fazenda e sua saída surpreende apenas por ter demorado uns meses a mais que o previsto. A bem da verdade, logo que entrou ele já estava com cara de quem queria sair, mas estando ali como funcionário cumprindo tarefa de seu empregador, o banco Bradesco, procurou ser profissional. Logo que assumiu o segundo mandato Dilma queria seu chefe, Luiz Carlos Trabuco, que recusou o convite da presidente e certamente indicou Levy.
Dilma estava naquela necessidade de “acalmar o mercado”, o que acontece com todo governante latino-americano que faz muita burrada no poder, então ficou mesmo com o subordinado do banqueiro Trabuco, que poderia cumprir esta função pelos laços com o Bradesco. São ossos do ofício, mas o resultado mostrou que mesmo a um banqueiro falta resistência estomacal para engolir os desaforos cotidianos de Dilma e a implicância de seus companheiros. Neste ano que passou como ministro a realização de Levy foi quase nula. Não emplacou reforma alguma e até teve que participar de um ato histórico do ponto de vista da negação do que foi fazer no cargo. O governo Dilma apresentou a meta mais estranha já vista neste país: um orçamento com déficit. E não é que Levy não tenha tentado coisa melhor. Mas logo tinha a sua opinião contrariada por Dilma e todo o PT. E não podia ser diferente para quem ainda teima em achar que tudo estava sendo conduzido da forma certa não só no mandato passado como nos anteriores de Lula. Nem a comprovação prática de que foi daquele monte de besteiras que nasceu a crise atual é capaz de convencer esse pessoal que basta mais um pouco daquilo para que entremos de vez na rota econômica da Venezuela.
No final, uma serventia de Levy como ministro foi a de alimentar a notória esquizofrenia política do PT, que continuou usufruindo dos benefícios do poder e ainda teve um projeto econômico para atacar. Culpa do Levy, é claro. Mesmo não tendo sido articulado, não há porque duvidar que funcionou bem para uma militância que faz das ruas seu hospício. O PT tinha seu próprio neoliberal para fritar junto às massas em cerimônias revolucionárias. Foi também um remédio apropriado para consciências abaladas com o apoio de mais de uma dezena de anos a um governo que se revelou um antro de gatunos e de uma criminosa incompetência. Levy serviu para adoçar o bico da militância, no “Fora Levy” presente nas manifestações contra o impeachment. O desatino é grave: Dilma fica, mas o Levy tem que sair. Esta falta de lógica poderia até ser engraçada, se fosse apenas um jogo político para o uso em propaganda. Mas tudo indica que eles acreditam que antes de Levy estava em andamento um plano econômico viável. E se você pensa que já é doidice demais, guarde o espanto para depois das festas de fim de ano. O país pode entrar em janeiro com os companheiros tentando fazer de novo tudo aquilo que já não deu certo.
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POR José Pires

Ao lado do poder petista

Com a situação esquentando, mesmo quem vinha até agora forjando ares de independente vai sendo obrigado a tomar posição de apoio explícito ao poder petista. Na foto, Tico Santa Cruz encontra sua musa, aquela que estimula seus neurônios nos debates de Facebook. Dilma Rousseff enfim encontrou um fã à sua altura. E quem achava que o cantor de rock era apenas alguém de opinião independente que interferia no debate sem nenhum interesse político, aí está a comprovação de qual é o seu lado. O encontro do abilolado pensador e sua musa idem foi num evento de apoio à Dilma Rousseff realizado no Palácio do Planalto. O beija-mão palaciano foi da Frente Brasil Popular, responsável pela organização de sindicatos e instituições chapas-brancas nas manifestações de nível profissional (e bastante caro, diga-se também) da última quarta-feira. No encontro festivo de apoio e articulação contra o impeachment estava inclusive o chefão do MST, o exército de Stédile, usado pelo presidente Lula para ameaçar quem é contra a roubalheira e a incompetência criminosa desse governo. E tudo isso, repito, no Palácio do Planalto.
A coisa está mesmo braba. Além de usarem o prédio público mais importante da administração federal, o evento ainda aconteceu em horário de trabalho. Ou seja, enquanto o Brasil rola pela pirambeira brutal da crise, com empresas quebrando, empregos sendo eliminados e o país sendo rebaixado em tudo quanto é índice internacional de confiabilidade econômica, a presidente da República cuida de seu interesse particular, maquinando para manter-se à frente de um governo que já está mais que comprovado que ela não sabe comandar. E a foto foi distribuída pela própria Presidência da República, que é para atestar de forma absoluta que o poder neste país pode ser usado da forma que eles quiserem, com o contribuinte pagando até a a conta da defesa deles.
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POR José Pires

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Brasil no vermelho

Não tiveram impacto as manifestações pró-Dilma Rousseff e não foi só pelo reduzido número de pessoas que saíram às ruas em defesa do governo nesta quarta-feira. Os marqueteiros do PT definitivamente perderam a mão. Os governistas não conseguem disfarçar os esquemas profissionais do sindicalismo que sustentam essas idas às ruas, ao contrário das manifestações pelo impeachment, que transmitem espontaneidade. Outro problema grave para os governistas é o excesso de determinada cor e a ausência de outra, mas isso fica difícil de resolver. Tem vermelho demais. Esta foto que estou publicando mostra o estrago na imagem. Parece uma manifestação chavista chorando a derrota de Maduro. A foto foi distribuída pela Agência PT. Nela fica claro que é ato de profissionais da política, com a profusão de material da CUT e de sindicatos que estamos acostumados a ver arrumando confusão para criar pautas políticas na tentativa de desviar a atenção das roubalheiras petistas e da incompetência.
Com a tremenda crise que está desgraçando a vida dos brasileiros, dá até piada: esse pessoal quer manter o Brasil no vermelho. Não sabem de nada, os inocentes. Eles até poderiam amenizar o uso dessa cor, que atualmente a população associa de imediato às situações difíceis vividas por outros países tomados pelo populismo, especialmente a Venezuela, mas a ausência de outra cor eles não conseguirão resolver. Falta o verde-amarelo. Mas este símbolo nacional já está associado aos movimentos que começaram saindo às ruas em protesto de milhões de pessoas contra a roubalheira do governo do PT e hoje pedem o impeachment da presidente Dilma. E não tem jeito do PT roubar essa cor dos partidários do impeachment. As cores do Brasil hoje simbolizam um sentimento contrário ao governo. Os petistas vão ter que se virar mesmo só com o vermelho.
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POR José Pires

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A sucateada nova geração do PT

Venho falando faz tempo sobre a péssima formação que o PT vem dando aos jovens de seu quadro partidário. Os chefões do partido do Lula cometeram crimes graves contra o Brasil, pelos quais inclusive petistas históricos já foram pra cadeia. Mas além da lamentável demolição promovida na política e na máquina pública, os dirigentes petistas também quebraram o próprio partido em sua estrutura interna, atingindo o que é de maior importância: o elemento humano.
Um exemplo desse sucateamento na formação da juventude foi o aparecimento no noticiário da própria neta de Lula, Bia Lula, fazendo um ataque mentiroso ao jornal "O Globo", com a difamação direta a uma jornalista. O problema de educação revela-se não só por ela ser neta de Lula como também pelo cargo ocupado pela mocinha, forte indicativo do tipo de continuidade pretendido pelo grupo que obedece ao avô. Bia Lula inventou uma história ofensiva à credibilidade do jornal e que poderia ter prejudicado profissionalmente a jornalista, caso não tivesse sido possível comprovar que que ela agiu corretamente. O ataque da neta de Lula foi publicado pelo site do PT, fazendo um corte eliminando na foto um gesto obsceno da menina, no entanto o jornal tinha o registro da conversação com a neta de Lula.
Para conhecer na prática o projeto político do PT para o Brasil, basta observar mais atentamente o que os chefões políticos fizeram dentro do partido. Já faz tempo que por lá existe uma ditadura, com poder determinante de um pequeno grupo sobre todas as instâncias partidárias. O partido serve apenas ao interesse desse grupo comandado pelo ex-presidente Lula e que em parte acabou sendo desmontado com as condenações na Justiça por corrupção que levaram à cadeia dirigentes como José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino, além de fazer aquietar as ambições de vários componentes do comando autoritário que domina o partido há mais de uma década. No entanto, como sempre o soberano dessa ditadura é Lula.
Costumo tocar nesta questão interna da ditadura lulista, pois vejo nisso um ponto essencial para compreender o desastre produzido pelos petistas no governo federal. Essa ditadura calou qualquer voz divergente ou mesmo de aliados que exigissem mais qualidade e respeito à democracia na condução política. O grupo do Lula fez no PT o que eles teriam a maior satisfação em fazer com o Brasil. Excluiram pessoas importantes e de maior qualidade humana e profissional do que os que dominam a burocracia interna. Expulsaram militantes históricos, difamaram ex-companheiros e relegaram muitos militantes mais antigos a um final de vida amargurado.
Sobre a nova geração de petistas esse processo teve consequências destruidoras para a renovação do discurso partidário e a capacidade de governo. O resultado pode ser visto no desastroso ciclo de governos petistas que tem seu ápice lamentável agora, com a estupidez política e administrativa do governo Dilma Rousseff. A própria Dilma, aliás, é uma consequência do desmonte interno do partido, ela que nunca teve vínculo histórico algum com a construção do PT e sempre fez o que Lula mandava. Foi a atuação ditatorial desse grupo lulista que impediu a ascenção de políticos da geração de Lula ou José Dirceu, gente que poderia dar ao partido capacidade de governo. Com isso, o que o PT tem na atualidade é uma juventude muito despreparada e de gênio ruim.
É claro que no que fez contra "O Globo" a neta do Lula estava apenas imitando os mais velhos, talvez até sendo instruída por eles. O lamentável destaque dela no noticiário é resultado de uma política partidária interna em que a juventude petista vem sendo submetida durante anos ao papel de mera massa de manobra, servindo apenas ao atendimento da ambição pessoal de quem manda no partido. E neste processo, dentre os mais jovens adquirem destaque político no PT apenas os que estão prontos para dar continuidade aos malfeitos já bem antigos.
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POR José Pires

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Imagem- A mentira publicada no site do PT, sobre a foto original do Facebook da neta de Lula. Neste link, o jornal “O Globo” desmonta com fatos a versão petista: http://oglobo.globo.com/…/neta-de-lula-faz-falsas-acusacoes…

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Cristina Kirchner, uma ausência que não deixa saudades

Vindo de Cristina Kirchner uma grosseria tem que ser vista dentro da normalidade, porém mesmo no padrão da governante que agravou ainda mais o caráter deletério do peronismo na Argentina, sua ausência nesta quinta-feira na cerimônia de posse de Maurício Macri foi além do limite. Com a atitude mesquinha ela evitou o ritual democrático da transferência da faixa presidencial. Mas a festa dos argentinos foi muito bonita, com a emoção própria das finalizações de um período ruim da vida. E neste caso, além de preencher uma lacuna, como se costuma dizer, a ausência de Cristina serviu para fortalecer ainda mais a sensação da Argentina estar deixando para trás um período nefasto.
Não era à toa que um vizinho que a conhece bem, o ex-presidente uruguaio José Mujica, dizia que “esta vieja es peor que el tuerto”, referindo-se também ao coisa ruim do marido dela, Nestor Kirchner. Isso que ela fez com Macri é coisa de quem não sabe perder e que já havia mostrado que não sabe ganhar. Cristina Kischner teve pessoalmente duas chances para a realização de um projeto político, qualquer um deles, e só promoveu a desgraça em todos os setores da vida argentina. Foram dois mandatos sucessivos, além dela ter recebido o cargo como herança política de um longo tempo anterior de poder de seu marido. O resultado dos governos do casal é um país falido e sem nenhuma estrutura para a necessária reconstrução nacional. Seu sucessor terá que consertar quase tudo, sem ter recebido dela sequer as condições materiais básicas para isso. Como é mesmo que se diz herança maldita em espanhol?
É tudo muito parecido com o que aguentamos aqui, no Brasil, com o mesmo populismo patético e explorador das necessidades das pessoas mais pobres, a cizânia, a roubalheira, a incompetência, além dos sucessivos mandatos que foram impondo gradativamente uma crise moral e econômica sem precedentes. Lula não fez da própria mulher sua sucessora, mas ela se elegeu também por meio de um dedaço. A semelhança está inclusive no final lamentável de um ciclo de governos de despreparados, nesta derrocada de Dilma Rousseff, para quem só falta a definição da data de desocupação do Palácio do Planalto, de onde com certeza ela também irá embora emburrada. Ainda nas parecenças entre nós, a atitude tacanha de Cristina Kirchner faz lembrar o comportamento de João Batista Figueiredo, o general que foi o último ditador do período do regime militar, que caiu fora sem entregar a faixa para o sucessor, José Sarney. Entre Figueiredo e Cristina Kirchner é mais ou menos equivalente o nível de grosseria e desapreço pela democracia.
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POR José Pires

Caixa Econômica Federal no jogo do toma-lá-dá-cá

Nesta quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff demitiu Fábio Ferreira Cleto do cargo de vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Aliado do deputado Eduardo Cunha, ele era responsável pelas loterias federais e os fundos instituídos pelo governo federal. Essa saída é bem típica do nível de transparência vigente e da forma de agir dos políticos. Só temos notícia sobre as presenças obscuras na máquina pública quando acontece um conflito político ou denúncia que força sua saída. Quantos mais estão ainda bem quietinhos na Caixa e em outros lugares? São esses hábitos antigos que impossibilitam desenvolver uma administração séria ou pelo menos com um funcionamento regular. E a coisa vem de longos tempos. Não é preciso ouvir gritaria de militante manejado por cordéis poderosos para que a gente saiba que o clientelismo não surgiu com o PT. Mas acontece que o partido do Lula fez isso tomar uma dimensão além do suportável, engripando todas as engrenagens e dificultando demais a administração até em seus aspectos mais básicos. É uma das explicações para essa falência administrativa geral que aí está.
A revelação do poder de Cunha neste banco estatal mostra também quanta investigação ainda não precisa ser feita no emaranhado de favorecimentos que o governo do PT usou até embolar o funcionamento da administração federal. Na chantagem feita com Cunha para forçá-lo a brecar o impeachment deve ter entrado essa boca-rica. A caixa tem sido usada de um modo abusivo, bem além das pedaladas da Dilma. Um dos políticos mais poderosos nesta instituição pública era o ex-deputado federal petista André Vargas, que por ali reinava antes de ser pego pelo Ministério Público. Hoje ele cumpre pena, condenado a 14 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A sentença foi determinada por crimes que envolvem o pagamento de propinas em contratos de publicidade da Caixa. Vejam a foto que estou publicando, com ele discursando no lançamento de um plano de transporte no Paraná, onde era obrigatória sua presença em eventos da Caixa nas mais variadas áreas, como o projeto "Minha Casa, Minha Vida", assinatura de patrocinios oficiais e outras atividades direcionadas à população. Vargas era o protagonista até de inauguração de agências bancárias no interior paranaense.
Este tratamento preferencial era sua cota de privilégio político no governo do PT, com a qual reforçava os planos da sua eleição ao Senado em 2014, candidatura que seria dele no PT do Paraná, sob o domínio de um grupo que tem até hoje na chefia o ex-ministro Paulo Bernardo. Vargas estava à toda nesse planejamento. Meses antes de sua prisão, o ex-deputado estava à frente de um grande projeto de transporte urbano em Londrina, orçado em R$ 143 milhões, todo financiado com dinheiro da Caixa. Na parceria com ele estava a senadora e candidata ao governo, Gleisi Hoffmann, ambos na preparação de uma boa alavanca eleitoral no interior paranaense para suas candidaturas. Mas foi só o deputado ser preso e o projeto acabou. Pelo visto, o caixa-alta era ele. Mas foi melhor para Londrina e para o Brasil. E até para a Caixa. Dá para imaginar o desastre que o sucesso político desse sujeito seria para todos os brasileiros.
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POR José Pires

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Um alerta que vale para o Brasil

O que aconteceu nesta semana na China deveria servir como um alerta aos brasileiros sobre o modelo de desenvolvimento que vem sendo aplicado por décadas em nosso país, sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade. Pela primeira vez na história, Pequim declarou alerta vermelho por contaminação. Desde o início da terça-feira (segunda-feira no Brasil) foram suspensas na cidade obras em construção, escolas suspenderam aulas e o tráfego de veículos sofre severas restrições. A contaminação chegou a 275 microgramas por metro cúbico de ar, dez vezes a mais que o máximo considerado tolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Se o nosso país não adotar logo um modelo equilibrado de desenvolvimento, problemas como este vivido hoje na China podem se tornar rotina também por aqui, onde mesmo com índices baixos de crescimento já temos graves problemas de meio ambiente.
Até agora, os altos índices do crescimento chinês — com seus impressionantes saltos do PIB — são noticiados sem nenhum senso crítico, faltando sempre esclarecimento sobre as consequências desastrosas deste sucesso, alcançado a um custo altíssimo em danos ao meio ambiente e à saúde humana. Várias cidades chinesas já convivem há anos com excessiva poluição atmosférica, a contaminação da água e a destruição do solo. Parcelas imensas do território chinês tiveram o solo esgotado por uma agricultura sem o respeito ao limite do uso de agrotóxico, a necessidade de regeneração da terra e também com a extinção de recursos hídricos por causa do uso ilimitado e a falta de cuidados ambientais. Áreas extensas tornaram-se desérticas de forma irremediável. São conhecidas as cenas de tempestades de areia em algumas cidades chinesas, com as poucas pessoas que ousam sair às ruas tendo que usar máscaras.
O alerta vermelho de Pequim tinha que ser usado como um alerta à consciência dos brasileiros, até pelo fato do crescimento econômico chinês servir sempre como um exemplo positivo em análises que o comparam às nossas dificuldades econômicas. Em economia, a China não serve de modo algum como um bom exemplo. O país vive sob políticas destrutivas à natureza, que alavancam o crescimento com o prejuízo da qualidade de vida de populações inteiras. É um modelo predatório, que usa sem nenhum cuidado os recursos naturais, sem levar em consideração a necessidade do respeito ao meio ambiente como um elemento básico na condução do desenvolvimento, de forma sustentada. E costumam ser muito graves os efeitos dos planos de governo nesta estranha sociedade que combina capitalismo selvagem e um comunismo altamente restritivo aos direitos humanos e à liberdade de expressão. A falta de liberdade de expressão, por sinal, é uma das razões que permite aos burocratas poderosos implantar sem nenhum questionamento seus planos destrutivos. Outra questão para o Brasil prestar mais atenção ao desastre no meio ambiente chinês é o interesse deles em terras brasileiras para a agricultura e pecuária. O governo chinês vem comprando vastas extensões de terras em nosso país e também tem adquirido o controle de empresas instaladas no Brasil. Ora, ninguém deve esperar que um governo que comete tamanhos crimes com sua própria gente vá ter respeito na terra dos outros.
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POR José Pires

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Imagem- Cena de rua em Pequim em setembro deste ano, em foto extraída do site Environment Today

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Trinca do barulho


Num governo em que a produção de piadas prontas só tem rival na criação contínua de escândalos de corrupção, apareceu nesta semana um produto de humor involuntário que parece imbatível. O eterno presidenciável Ciro Gomes se juntou ao ex-ministro Carlos Lupi, mais o governador do Maranhão, Flavio Dino, e a trinca fundou uma auto-intitulada “Rede da Legalidade”, contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O nome da coisa é referente ao histórico movimento liderado por Leonel Brizola no governo do Rio Grande do Sul, em 1961, em defesa da posse do presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros.
Como se costuma dizer nas redes sociais, é muito “fake” tentar se apossar de um nome com esse peso histórico, ainda mais numa situação que em vez da necessidade de coragem exige apenas falta de caráter. Mas não deixa de ser curioso a presença de Ciro Gomes em algo assim, ele que tem origem política ainda na ditadura militar nos quadros do PDS, partido que recebeu uma logotipagem moderninha para escamotear sua verdadeira identidade: era a Arena, que sempre defendeu o regime dos militares. Quando era vivo, Brizola costumava chamar esse tipo de político de “filhote da ditadura”. O estilo truculento do ex-deputado cearense não nega o berço. Ciro Gomes entrou há poucos dias no PDT, o sexto partido na sua carreira política. Já foi inclusive do PSDB e só não foi do PT porque não é necessário. Serve como avulso ao partido de Lula deste o primeiro ano de poder petista.
Outra figura do patético trio, o governador Flavio Dino, também não tem currículo condizente com o respeito à democracia. Esse pessoal que defende Dilma se apegou ao argumento mentiroso de que o impeachment é um golpe. Pois o partido de Dino, que é do notório PCdoB, tem como fato mais marcante de sua história uma das piores tentativas de golpe que já houve no Brasil, a Guerrilha do Araguaia, movimento armado que ocorreu entre os estados de Tocantins e Pará, entre 1972 e 1975. O partido de Flavio Dino tenta fazer colar nessa história a lorota de que a luta era contra a ditadura. É mentira. O plano do PCdoB era o da implantação de uma ditadura comunista, que dependendo dos humores do partido poderia ser de inspiração do comunismo chines ou apoiada nas ideias de Enver Hodja, ditador comunista que durante décadas manteve a Albânia como um país miserável, mesmo estando situado na Europa. Hodja é um dos ídolos históricos dos comunistas do PCdoB, junto com Josef Stálin. Na atualidade um país considerado por eles um exemplo político é a Coréia do Norte.
Para completar a ficha, outro integrante da liderança da tal “Rede da Legalidade” é figura manjada da política brasileira, um daqueles sujeitos que toda vez que aparece uma grande sujeira política pergunta-se se o nome dele já apareceu no meio. Carlos Lupi é chefão do PDT e um defensor da legalidade ao nível de Dilma, a presidente que já confessou que dá suas pedaladas. E ela conhece muito bem esse seu guerreiro, herói do povo brasileiro. Ministro do Trabalho no primeiro mandato da sucessora de Lula, ele se destacou na onda de demissões que teve logo no primeiro ano. Foi o sexto ministro a cair por causa de corrupção. Esse baluarte da legalidade que agora reaparece ao lado de Ciro Gomes e de Flavio Dino é aquele que depois de apontado como corrupto dizia que só o tiravam do ministério "abatido à bala". No entanto, não foi preciso desperdiçar chumbo. Ele foi obrigado a pedir demissão, senão a presidente Dilma (mesmo ela sendo a Dilma) seria obrigada a chutá-lo pra fora do governo. Agora, a presidente conta com ele e mais os outros dois na defesa de seu mandato. Ou "da legalidade", como eles dizem. Pra alguém como ela, até que é legal.
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POR José Pires

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Falta alguém na derrota do chavismo



Na derrota histórica do chavismo na Venezuela dá para sentir a falta de alguém. É da oposição brasileira. Onde foram parar os parlamentares da oposição que, tendo como figura de destaque o senador Aécio Neves, foram um dia até a Venezuela para prestar solidariedade ao líder da oposição venezuelana Henrique Capriles, preso pelo governo de Nicolás Maduro? Isso foi há quase seis meses e depois os oposicionistas descuidaram de criar ações efetivas que mantivessem uma relação sólida com o que foi se desenvolvendo politicamente entre os venezuelanos, até esta derrota de agora. Recentemente o senador Aécio Neves disse em entrevista que "o impeachment não pode ser a pauta única de um partido". O dele, evidentemente.
É claro que não dá para discordar do senador mineiro, até pela necessidade do país ter uma oposição que na política seja uma aliada firme da sociedade civil na busca de uma saída ao desastre criado pelo PT, havendo ou não o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O PSDB então que crie pautas de qualidade ou ao menos mantenha as pautas em que entra de supetão, como foi a da luta da oposição venezuelana contra o regime chavista. Os senadores viajaram para a Venezuela naquela ocasião e na continuidade não se viu um desenvolvimento político do assunto, que acabou restrito a um ou outro discurso de parlamentares da oposição.
Essa dificuldade em persistir politicamente é habitual entre os tucanos, defeito que no geral é de toda a oposição. Eles se regem pela reação ao que a imprensa traz, pelo que o governo do PT apronta ou pelas roubalheiras descobertas pela polícia. Essa falta de iniciativa faz a oposição perder a oportunidade de aumentar sua credibilidade, deixando escapar importantes ganhos políticos que poderiam fortalecer a luta pelo respeito à democracia e o combate à corrupção em nosso país. É o que ocorre agora com esta vitória democrática na Venezuela, que poderia estimular muito mais a batalha dos brasileiros pela decência na política, mas para isso a nossa oposição teria que ter a preocupação de manter firmes os laços de solidariedade com a luta dos venezuelanos contra o chavismo. Tem a ver com o papo de Aécio Neves sobre a importância de boas pautas para um partido. E se relaciona também à necessidade do país ter uma oposição com objetivos claros e firmeza de propósito.
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POR José Pires

sábado, 5 de dezembro de 2015

A interrogação da Argentina de Macri

Tenho percebido entre brasileiros uma certa euforia com a eleição na Argentina do oposicionista Maurício Macri. Até entendo, afinal tivemos com isso a derrota de Cristina Kirchner. Porém, eu penso que é sempre bom ter cautela com o que acontece neste país vizinho, mesmo quando os sinais parecem ser de uma melhoria na situação política por lá. E como a empatia espontânea por ele entre nós vem na totalidade de brasileiros oposicionistas, a cautela tem que ser redobrada, tendo em vista que o sucesso político e administrativo de Macri após a derrota eleitoral do populismo pode ter um grande peso nas mudanças em nosso país, assim como pode ser muito ruim para nós caso essa possibilidade de tirar os argentinos do sufoco seja desmoralizada pela atuação dos partidários do kirchnerismo, que logo estarão na oposição e prontos para uma briga muito suja.
Cabe lembrar que estamos falando do país de Fernando de la Rúa, presidente argentino que foi obrigado a renunciar na metade de seu governo, em razão da oposição cerrada feita pelo peronismo, com o uso agressivo de sindicatos e de sua militância nas ruas. A renúncia foi em 2001 e deste caos muito bem planejado é que veio o kirchnerismo. Aqui mesmo no Brasil já tivemos fatos que servem como demonstração da situação de um governo federal que sofra o ataque dessas forças populistas que hoje temem perder o poder no Brasil. As manifestações dessa semana em São Paulo contra o plano de reestruturação de escolas do governo de Geraldo Alckmin foram apenas um aperitivo, e bastante leve, do que pode acontecer no plano nacional, especialmente se após a saída do PT tivermos no comando político do país alguém sem uma proposta claramente divergente do que aí está e que seja um político com firmeza de personalidade.
Ao contrário do que muitos vêm falando, a eleicão de Maurício Macri não traz nenhuma garantia de uma mudança de qualidade na política da Argentina e muito menos uma transferência quase que natural dessas esperadas boas transformações para nós, aqui no Brasil. Ao contrário disso, se Macri não tiver um objetivo claro e pulso firme para chegar lá, pode ocorrer entre os argentinos um processo de fortalecimento do populismo, forçado por ações do kirchnerismo, que na continuidade do também duradouro peronismo é capaz de fazer o diabo para prejudicar o adversário. Macri tomará posse num país em estado de penúria, inclusive moral, numa situação muito parecida com a da nossa terra. Cristina Kirchner só não teve uma Petrobras para roubar. Pode parecer que haverá uma condenação ao governo que ora termina, mas ocorre que depois de sair do poder os populistas costumam ter um bom aproveitamento até das más condições em que eles deixam o país. Aí então eles usam a miséria de seu próprio legado como arma contra o adversário. Dessa forma, se beneficiam da sua própria herança maldita.
Na análise política não se deve ter juízo absoluto, como vejo tanta gente fazendo o tempo todo. Como obra em progresso, a política exige um acompanhamento que pode ir transformando nosso pensamento e pode-se inclusive mudar de opinião no curso dos acontecimento, desde que isso não rompa princípios éticos. A não ser, é claro, que a pessoa tenha a cabeça bitolada por um partidarismo. Por todos os riscos que deve enfrentar, o governo Maurício Macri exige ainda mais essa forma de análise. Apesar de ter achado ótimo a derrota de Cristina Kirchner, o que sei do presidente eleito da Argentina não me dá impressão de que ele tenha rigor suficiente para o desmonte das imoralidades feitas até agora. Por enquanto, para mim "cambiemos" foi só slogan de propaganda. Mas, como eu disse, a obra está em andamento. Espero sinceramente que o autor faça eu mudar essa opinião.
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POR José Pires

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O impeachment na ordem institucional

Haja paciência para as tolices governistas, mas vamos lá. Com o devido respeito por quem pode estar caindo de boa fé na lorota, é muito idiota a tentativa de desqualificar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pela via do ataque ao presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, destacando sua indiscutível má qualidade. Cabe aqui lembrar que ele já era capaz de tremendas sujeiras quando estava na base de apoio do governo. Aliás, foi cacifado pelo poder do partido do Lula que ele aprontou as maracutaias que só agora a militância petista começa a apontar.
Mas sigamos na demonstração da idiotice de mais esta hipocrisia governista. Os brasileiros não poderiam fazer absolutamente nada em defesa da ética e da democracia se fossem depender de um presidente digno na Câmara Federal. O processo eleitoral brasileiro é precário no aspecto representativo e o que é feito depois nos bastidores do Congresso Nacional é ainda pior. Por isso, os presidentes da Câmara sempre foram muito ruins, péssimos mesmo, agindo na condução do Legislativo como mero instrumento do Executivo. A lista de cafajestes é triste. Fiquemos apenas neste periodo petista, desde a subida de Lula ao poder em 2002: Pela ordem, Efraim Morais (PFL), Severino Cavalcanti (PP), João Paulo Cunha (PT), Aldo Rabelo PCdoB), Arlindo Chinaglia (PT), Michel Temer (PMDB), Marco Maia (PT), Henrique Alves (PMDB) e finalmente Eduardo Cunha (PMDB).
Note que na lista de presidentes todos são ligados ao esquema de poder do PT, condição abjeta em que estava o próprio deputado Eduardo Cunha até há bem pouco tempo. E são referências exemplares da qualidade desta lista dois nomes muito próximos até afetivamente do poder petista. São os ex-deputados Severino Cavalcanti e João Paulo Cunha, o primeiro foi retirado à força da presidência da Câmara por corrupção — mas defendido em palanque até agora pelo ex-presidente Lula e jamais atacado pelo PT — e o segundo foi um dos chefes do esquema político do mensalão, tendo sido da cúpula do PT e íntimo de Lula, José Dirceu e outros maiorais petistas. Como todos sabem, ele foi condenado pelo STF e preso por corrupção. Como se vê, para poder atuar pela ética no Brasil só resta a opção de se fixar no papel institucional do presidente da Câmara Federal, que é o que está sendo feito agora com este impeachment.
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POR José Pires

Gilmar Mendes de novo não facilita pro PT

Até mesmo o petista mais empedernido terá de concordar que não é fácil encarar um confronto com o ministro Gilmar Mendes. Ontem o PT protocolou a desistência de um mandado de segurança contra a decisão de Eduardo Cunha de aceitar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. E fizeram isso depois do ministro ter sido escolhido relator pelo sorteio eletrônico. Vejam que não é só pelas tantas delações premiadas que os companheiros do 13 andam numa maré de azar. Com tanto ministro boa praça nomeado pelo Lula e pela Dilma e foi dar logo Gilmar Mendes. Logo que soube da notícia, eu achei desrespeitosa a atitude dos advogados do PT, até pelo fato de ter ficado parecendo que se fosse outro o resultado do sorteio eles teriam levado adiante ação.
Mas teve a reação de Gilmar Mendes, noticiada nesta sexta-feira. O ministro negou o pedido de desistência dos petistas e ainda levou o caso à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que seja apurado eventual responsabilidade disciplinar do advogado da causa. Na sua decisão, o ministro foi claro sobre o desrespeito à Corte, classificando a manobra como "tentativa de fraude à distribuição processual". Segundo ele, “Ninguém pode escolher seu juiz de acordo com sua conveniência”. Esta não é a primeira vez que o PT recebe de volta de Gilmar Mendes um bom revide às suas costumeiras tentativas de embaralhar o debate político, o que fazem inclusive dentro dos tribunais. Todo mundo sabe que muita coisa que fizeram na forma jurídica durante o julgamento do mensalão eram apenas suportes para que a máquina de comunicacão e propaganda petista aproveitasse o fato.
Por sinal, durante este histórico julgamento Gilmar Mendes deu um exemplar chega-pra-lá no próprio Lula, ainda como presidente da República, quando em entrevista revelou uma visita secreta do chefe petista ao seu escritório, onde ele tentou chantageá-lo, pressionando em favor dos mensaleiros da cúpula do PT, que foram depois condenados à prisão por corrupção. Lula deve ter ouvido umas boas nesse dia. Na época, a denúncia foi importante para conter os arroubos petistas. E essa atitude de agora do ministro vem em boa hora, pois com esta derrocada petista existe sempre a tentação de alguma aprontação. Dessa forma, já estão avisados e no popular: não vem que não tem. Ou melhor, com o Gilmar Mendes tem.
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POR José Pires

O fim da Cosac Naify e outras perdas



Nesses dias o fundador da editora Cosac Naify revelou que vai fechar sua empresa, fundada em 1997. Em quase vinte anos, a editora nunca deu lucro. E no geral seus livros são extremamente custosos. Só estão fazendo a última liquidação de estoque, para que esse projeto brilhante de Charles Cosac seja mais um fator de orgulho na história cultural do nosso país, apenas isso e ainda assim na memória de poucos, que é como anda a situação deste país. Charles Cosac é uma figura de impressionante vitalidade, dessas pessoas que passaram boa parte de sua vida fora do país vivendo com intensidade e acolhendo com atenção em seu espírito e no intelecto qualidades que depois procurou implantar em sua editora. Como se vê, um cara esquisito para o Brasil. Quem ele pensa que é? Talvez ele tenha escolhido o lugar errado para expor na prática suas evidentes qualidades existenciais, porque se tivesse sido feita num país europeu ou em qualquer outra sociedade realmente moderna a Cosac Naify seria um mito mundial. Mas, enfim, foi aqui que essa genial criação se deu e mesmo com seu final talvez ainda seja possível extrair qualidades na arte e no intelecto de que esta terra tanto precisa.
Esta conversa toda em torno do dono da editora que fechou tem o sentido de destacá-la na sua identidade exata, como uma obra autoral, como acontecia bastante até agora na área das editoras. No caso da Cosac Naify é bem mais marcante este fator individual. E a editora do Charles Cosac foi uma obra-prima. Tenho alguns livros dela, menos do que eu gostaria por causas financeiras, no entanto quando uma editora está na altura dessa criação de Charles Cosac sua influência não se estabelece apena com a posse do objeto físico que ela fabrica. O bom livro tem sempre emanações que vão além do objeto. A Cosac Naify teve um interação com a cultura brasileira e uma importância especialmente com os que fazem cultura e vivem disso na sua totalidade. É a ponta mais fina da pirâmide, de onde qualquer país irá extrair vitalidade para se construir e na qual as partes mais amplas terá sustentação de qualidade para viver a vida e fazer coisas. Uma sociedade avançada só é feita a partir da compreensão de que a base de sustentação da pirâmide tem que ser invertida.
Sua queda não pode ser vista no aspecto econômico, se é que isoladamente a economia seja um fator para a avaliação de qualquer outra coisa. Como esta editora tem toda uma interrelação com a alta cultura, com ligação com a indústria cultural e a criação artística, não temos aqui uma mera falência comercial. O salto admiravel proposto por Charles Cosac e interrompido no ar pode revelar problemas graves na construção de algo muito mais importante do que uns pontinhos no PIB, ainda que não sejam alcançados com sorrateiras pedaladas.
Pela característica muito especial em meio à banalidade e precariedade intelectual e criativa que virou a nossa indústria cultural, a falência da Cosac Naify merecia mais atenção. Essas portas fechadas são um alerta que está além do sinal vermelho da deterioração perigosa que beira o irremediável. E mesmo assim (ou por isso mesmo) este fechamento não vem tendo a devida atenção. As razões do descaso inclusive profissional no aspecto jornalístico e na recepção dos leitores estão exatamente na condição que levou ao fim da editora. Na morte da Cosav Naify estão causas e sintomas de uma doença que pode estar matando aquilo que teria de ser um caráter nacional e que já tinha boas bases estabelecidas por gerações anteriores. O que virou a nossa imprensa e o que é a internet brasileira pode dar a base para uma meditação sobre o que estou falando. Não sobrou ninguém? Além do mais, quem ainda mantém as tais antenas (que hoje em dia é até "cult" ter estilosamente aparadas) deve estar com uma dificuldade tremenda para brigar por um espaço dentre ampla cobertura das estrepolias forjadas nos bastidores daquele programa de calouros que traz como jurados três dos piores e mais chatos cantores da nossa abalada MPB — até que venha o novo BBB, é claro, ou um novo filme do James Bond.
A Cosac Naify já era pra ter ido fechada há bastante tempo. Só manteve-se viva pela insistência do dono, que parece ter muito dinheiro e com certeza uma grandeza espiritual que anda cada vez mais rara por essas terras. Charles Cosac se insere numa tradição brasileira de gente muito rica que vinha turbinando a capacidade de se fazer um país. Usando o próprio dinheiro para por em prática ideias mais amplas, geralmente aprendidas fora do país. Isso aconteceu por aqui em todo o século 20 e serviu até para aprendermos a posição correta de uma pintura moderna na parede. Tivemos ricos desse jeito bem menos que em outros países que subiram feito foguete, como nos Estados Unidos. Mas alguns apareceram e foram definidores em qualidade no que pode ser chamado de identidade nacional. Era gente como Joaquim Nabuco, um Paulo Prado, em cuja casa o grande Blaise Cendrars, escritor francês que veio ao Brasil na década de 20 nos dar uns toques, disse que almoçava todos os dias e “estava sempre enfurnado na sua biblioteca”. Ah, puxa vida, qual o rico brasileiro hoje em dia com uma biblioteca onde um homem como Blaise Cendrars poderia se enfurnar?
A esquerda pode espernear, mas o que de fato deu sustentação até agora ao país foi feito assim. Sem o indivíduo, na sua mais profunda percepção de empenho, liberdade e espírito, nada se faz. Algum esforço do Estado também ajuda, desde, é claro, que isso não seja focado em suporte financeiro desperdiçado com artistas e intelectuais de edital. O fim deste projeto visionário da Cosac Naify precisa ser visto na sua característica mais profunda, de demolição de valores essenciais para a feitura de um país e do desconsolo social que já beira o abandono da razão de viver. Só espero que essa análise não venha muito tarde, em memórias futuras sobre o rescaldo do que poderia ter existido um dia.
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POR José Pires

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Laços do passado

De hospedeiro terminal até pulga salta fora. A hora é de apear do poder petista e quem teve benefícios políticos e oportunidade até de aumento de riqueza faz isso com a maior facilidade. Soube da notícia de que o senador Blairo Maggi foi sondado por emissários do Palácio do Planalto para ocupar a liderança no Senado do governo Dilma Roussef. O titular do cargo, como se sabe, foi preso. Maggi recusou o convite. E como só um lado teria o interesse de divulgar a negativa, fica muito fácil adivinhar quem vazou a notícia.
Maggi é um desses políticos que faz carreira bancado por muito dinheiro. É um dos favorecidos por este nosso sistema eleitoral, em que a grana manda. Ele é fazendeiro, um dos ricaços brasileiros que aproveitaram bem este período petista e pelo material que sobrou da boa relação com o PT nota-se que de braços com o partido ensaiava inclusive passos internacionais para aumentar sua fortuna. A imagem dele com o ex-presidente Lula, felizes num campo de soja, foi feita em Cuba. Não é um fato antigo. A viagem ao país de Fidel Castro foi em fevereiro de 2014, quando já se sabia muito bem o significado moral do projeto político comandado por Lula. E o senador devia ter conhecimento também do desastre econômico que estava montado.
A foto foi divulgada pela própria assessoria de Lula, como parte da manipulação de propaganda para parecer que tudo ia bem em nosso país. Foi o ano em que Dilma ganhou seu segundo mandato. Como dá pra ver, Maggi não viu problema em colaborar com a fraude. Mas acontece que nessa época, apesar da desgraça que inevitavelmente cairia sobre as cabeças dos brasileiros, parecia que o PT poderia se recuperar politicamente e manter o poder, até com a volta de Lula à presidência da República. Daí a extrema boa vontade do senador fazendeiro, bastante explícita na fotografia. Mas agora os tempos são outros, quando relações estreitas com este governo que aí está não trazem mais benefícios imediatos. Ao contrário, o melhor é nem aparecer na fotografia. Daí a recusa ao cargo tão significativo. Acho até que o senador Maggi não aceitaria hoje em dia posar com Lula num campo de soja de qualquer lugar. E muito menos em Cuba.
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POR José Pires

Fim de linha para o partido do Lula

Pode-se até pensar no antigo chavão do "Só mesmo no Brasil!", mas seria injustiça para com o nosso país atribuir ao caráter nacional as exageradas patifarias que tomaram conta da política. Esta última, de um líder do governo no Senado discutindo mesada para calar a boca de investigado pela Justiça e rotas de fuga para escapar da lei, é aquele tipo de coisa que mesmo em filme pode parecer muito fora de lógica. Mas a política no Brasil só ficou desse jeito tão abusada depois do PT chegar ao poder. Os dirigentes petistas e seus derradeiros defensores na internet costumam tentar dar uma recosturada na história brasileira quando acontece um flagrante criminal com um deles, que aliás é uma rotina neste ciclo petista. Agora, por exemplo, depois de ser preso o senador petista Delcídio do Amaral teve até sua biografia reformulada, passando a ser um antigo tucano. Estava infiltrado então no PT e na função de líder de governo? São o máximo esses tucanos, hein? Com um adversário tão ladino é um espanto que Dilma ainda não tenha caído. Este é um papo que não cola mais, porque até as pessoas mais desligadas de uma análise política aprofundada já sabem que um governo de quatro mandatos poderia ter mandado todo o PSDB para a cadeia se o partido tivesse feito só a metade do que os petistas inventam.
A coisa está feia, mas não é uma situação de "Só mesmo no Brasil!". Eu diria “Só mesmo o PT!”. Nosso país sempre sofreu de um sério desvirtuamento moral na política, porém os limites morais nunca haviam sido rompidos de tal maneira. Política do jeito que o PT faz só havia aparecido no Brasil no curto período de Fernando Collor que, coitado, não tinha um partido e nem contava com o amplo apoio em sindicatos e instituições que os petistas tiveram até agora para manter seu modelo de governo. Aliciaram até o Collor que, como todos sabem, lá atrás foi brecado a tempo. O PT teve espaço para desenvolver seu projeto destrutivo, contando com uma tolerância da sociedade civil que muitas vezes beirou a convivência e em muitos casos foi até cumplicidade. Por exemplo, não se via o empresariado reclamando enquanto parecia que poderia haver benefício econômico com o projeto político que aí está — mesmo com toda a imoralidade e o risco para a democracia.
Lembram daquele papo de "o PT tem que ter a sua vez" quando Lula estava para ganhar a primeira eleição? Pois é, naquela época eu já questionava este argumento, perguntando como faríamos se eles não quisessem mais sair do poder. É claro que logo eu era tachado de pessimista. E aqui estamos nesta situação de "Só mesmo o PT!", o jargão mais apropriado para o que está acontecendo. E o plano deles de perenização no poder só está indo à breca pela autofagia criada pela péssima administração do próprio projeto politico. Não é por uma reação externa que o PT esta sendo derrotado. Se houvesse lideranças mais hábeis no partido e menos dominadas pela ambição do dinheiro, o PT ainda ficaria por décadas no poder.
E mesmo com a coisa para o lado deles estando muito feia é bom não achar que podemos alcançar uma relativa normalidade no curto prazo. O Brasil tem uma facilidade enorme em aceitar os piores absurdos como se fossem processos naturais sobre os quais nada se pode fazer. Senão não estaríamos desse jeito. Para quem quiser ter uma ideia melhor da condição absurda que está nossa terra, tente ver nossa vida com um olhar de fora, como se estivesse acontecendo num daqueles longínquos lugares da África. Pois é, a expressão que vem à mente é "O horror, o horror!", não é mesmo? E nem comece a achar as coisas não possam ficar piores. Eles ainda não começaram a se matar.
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POR José Pires