sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O filme da Lava Jato completa a biografia de Lula

O sucesso de público do filme sobre a investigação da Operação Lava Jato serve como indicativo do apoio da população ao combate à imensa corrupção instalada no Brasil pelo governo do PT. “Polícia Federal - A lei é para todos” teve a melhor estreia do ano em bilheteria, alcançando um público de 470 mil pessoas. É o terceiro filme nacional a superar a marca de 1 milhão de espectadores em 2017. Como comparação de popularidade, dá para fazer também uma relação deste filme com outra obra de teor político, inspirada no líder do esquema de poder que deu origem à roubalheira descoberta pela Lava Jato.

Baseado na vida do ex-presidente Lula, “Lula, o filho do Brasil” estreou em janeiro de 2010. Foi a obra de produção mais cara da história do cinema nacional, com gastos em torno de R$ 40 milhões e teve todo o suporte da máquina de comunicação do governo Lula, que na época era muito forte. Era claramente uma peça de propaganda da construção do mito Lula e teve todo o jeito de ter sido planejado como marketing para a eleição da sucessora do então presidente, Dilma Rousseff. A produção foi de Luiz Carlos Barreto, o conhecido "Barretão", magnata do cinema que fez fortuna com financiamentos públicos, desde a Embrafilme, no tempo da ditadura militar. Entre os patrocinadores da história filmada da vida de Lula estão as empreiteiras Odebrecht, Camargo Corrêa e OAS, depois investigadas pela operação da Polícia Federal e do Ministério Público.

Apesar da expectativa criada por vasta propaganda e triste cumplicidade da imprensa com uma história falseada mitificando Lula mesmo já tendo havido o escândalo de corrupção do mensalão, o filme foi um dos maiores fracassos de bilheteria e também de crítica. Depois da estreia parte dos jornalistas tomou vergonha, cumprindo então com a obrigação de apontar aos leitores as graves distorções da obra. “Lula, o filho do Brasil” não serve hoje nem como referência histórica, seja como cinema ou no aspecto da biografia de um líder político.

O filme sobre o chefão petista já era muito ruim quando foi lançado e com o tempo teve sua reputação piorada, a partir da trajetória do próprio Lula, que como disse seu ex-ministro Antonio Palocci e o Brasil inteiro já sabia, “sucumbiu ao pior da política”. Do ponto de vista da realidade, esta fraude cinematográfica sofreu também o efeito do exemplar trabalho do Ministério Público, da Polícia Federal e de juízes decentes como Sergio Moro, que por sua vez serviram como inspiração para o aclamado “Polícia Federal - A lei é para todos”, este sim o verdadeiro filme sobre a vida e a obra de Lula.
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POR José Pires

O fim do "rei das fake news"

É impressionante como acontecem coisas muitos estranhas em torno do presidente Donald Trump. O escritor Paul Horner, o chamado "rei das fake news" foi encontrado morto neste quinta-feira. Morreu aos 38 anos e a polícia acredita que foi por "overdose acidental". Horner tinha histórico de uso excessivo de remédios.

O escritor ficou bastante conhecido por disseminar notícias falsas na internet, que durante a campanha presidencial americana serviam de ataque aos adversários de Trump. Foi quando nasceu o termo “fake news”, sempre repetido por Trump, mas que o favoreceu muito mais do que a qualquer outro político. Entre as notícias falsas mais conhecidas criadas por Horner estava a de que o presidente Barack Obama era muçulmano. Este tipo de notícia falsa com títulos chamativos é até hoje um grande problema, muito pernicioso para a comunicação pela internet. É algo que dá muito dinheiro, com o clique de desavisados e o apoio inclusive financeiro de interessados em que a calúnia e a difamação se espalhe pelas redes sociais.

Durante campanhas políticas esse material recebe estímulos por meio de manipulações que incentivam o clique e o compartilhamento, como ocorreu na disputa entre Trump e Hillary Clinton. O conteúdo falso e favorável a Trump criado por Horner teve muita divulgação de seguidores do candidato republicano, entre os quais tinham trânsito fácil. O eleitor de Trump nunca checava as informações. "Eles postam e acreditam em qualquer coisa", disse na época o escritor, que citava sempre a importância que seu trabalho sujo teve na campanha presidencial americana. Horner dizia que sem ele Trump não seria eleito presidente.

É claro que a notícia dessa morte repentina e trágica já viralizou na internet e sobre ela circula todo tipo de suspeita, com histórias de alto teor conspirativo. A vida de Paul Horner termina de um modo parecido ao que ele fez na internet nos últimos anos. Sua morte é real, mas terá sempre uma cara de fake news.
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POR José Pires

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Imagem- Foto de Paul Horner que encontrei na internet. Está sem identificação e parece uma montagem. Ou seja, é a imagem ideal do “rei das fake news”

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Lula passando recibo

E tem mais algumas novidades no complicado aluguel do apartamento do ex-presidente Lula, aquele que ele nem sabia se a Marisa tinha guardadinho em casa algum recibo para confirmar que não foi presente de empreiteira como propina. O site O Antagonista descobriu que Glaucos da Costamarques estava em Los Angeles em 6 de janeiro de 2014, data de assinatura de um dos recibos entregues pela defesa de Lula. Ele viajou em 12 de dezembro de 2013 e voltou ao Brasil no dia 9 de janeiro do ano seguinte. O recibo é datado de 6 de janeiro. Outro recibo tem a data coincidindo com a chegada de Glaucos Costamarques do exterior. O primo de Bumlai desembarcou no Aeroporto de Guarulhos às 20h16. Conforme comentou O Antagonista, a falecida teria que estar à espera dele no aeroporto para pegar o comprovante do aluguel daquele mês. Ou então, digo eu, a família Lula da Silva paga aluguel próximo da meia noite.

Isso dá muita piada. É tanta história difícil de engolir que Lula virou um escracho nacional. Esses recibos podem complicar juridicamente a vida do chefão petista, mas sua imagem já foi pro ralo. Ainda mais com ele jogando a culpa de tudo sobre sua falecida mulher. Como Marisa já não está mais entre nós, o jornal O Estado de S. Paulo foi conferir com Glaucos da Costamarques, que tem sua assinatura nos recibos. E ele confirmou que é verdade o que disse no depoimento ao juiz Sergio Moro, quando afirmou que os aluguéis não foram pagos. Só falta esses recibos serem falsos. Lula terá então passado recibo de que é um grande paspalho. Será a primeira vez na história deste país que alguém entrega a um juiz o recibo de um crime.
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POR José Pires

PT e Aécio Neves: enfim juntos

Se alguém ainda tinha dúvida de que Aécio Neves é culpado, agora com a carta de solidariedade do PT acabou qualquer confiança no senador tucano. Ora, quando o PT defende algum político, com certeza o cara aprontou bastante. Como já aprendeu o ex-ministro Antonio Palocci, o partido do qual ele pediu hoje a desfiliação só é solidário com quem respeitaa a omertà. Aécio teve o mandato suspenso e também está proibido de sair de casa à noite, o que no caso de alguém com a, digamos, personalidade dele pode até ser classificado como uma crueldade do STF.

É espantoso, mas de fato o PT emitiu nota oficial de apoio, com a exigência de que o Senado entre em ação para repor o mandato do tucano. O texto tem seu lero lero para acalmar o público interno petista. Como preâmbulo, dão um severo pito no senador, com aquela notória exaltação petista e os exageros de sempre — o acusam de ser “um dos maiores responsáveis pela crise política e econômica do país” e todo aquele blá-blá-blá —, mas o principal é que querem ajudar Aécio se safar de mais essa, com um chega pra lá dos senadores no STF.

É claro que tem safadeza nisso, o que é natural, senão não seria coisa do PT. A nota tem a mãozinha trêmula da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, que pretende criar uma situação que lhe dê uma espécie de isonomia em relação a Aécio Neves. Caso o Senado o salve do STF, a petista cognominada de “Amante” na planilha da Odebrecht terá o mesmo direito, se esta alta corte resolver afastá-la também. Ré em um processo que pode lhe dar até pena de prisão, Gleisi age em causa própria com este apoio. Tudo bem, politicamente não deixa de ser um abraço de afogados, mas com este abraço ela pretende evitar que ambos afundem sob o peso da lei.
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POR José Pires

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O alongamento da cana do bravo José Dirceu

Na semana passada, quando o ex-ministro José Dirceu fez pouco caso de seu ex-colega Antonio Palocci, em razão do depoimento dele ao juiz Sergio Moro apontando várias ilegalidades do chefão Lula, eu disse que um aumento da pena de Dirceu pelo TRF4 seria uma oportunidade para uma demonstração prática de sua alegada coragem e da capacidade de sacrifício da qual se gabou. Palocci está negociando uma delação premiada. Por isso, o antigo capitão da equipe de Lula disse que prefere morrer que delatar como seu ex-colega de governo.

Pois na tarde desta terça-feira foi confirmado pelo TRF4 o aumento da pena de Dirceu para 30 anos e 9 meses. Do juiz Sergio Moro ele recebeu menos tempo de prisão: 20 anos e dez meses. Como é uma condenação de segunda instância, Dirceu terá de ir para a prisão. Algum juiz amigo do STF pode até conceder-lhe um habeas corpus, mas ele sabe que chegará em breve o momento de ir definitivamente para a prisão. Dirceu aprontou demais. Aliás, uma causa do aumento da pena foi que ele tinha maus antecedentes, o que no caso do ex-ministro de Lula é comprovadíssimo. Conforme o chefe já havia elogiado, o sujeito é esforçado. Mesmo depois de pego pela Justiça com o mensalão ele continuou na gandaia com da corrupção.

Logo o valente terá tempo de sobra para testar sua bravura. Pelo andamento de seus processos é muito difícil que seja possível dar um jeitinho por cima para se livrar do xilindró. Será uma cana dura. Dirceu sabe muito bem que a estratégia de vitimização e de exaltação dos condenados do partido como heróis é um recurso de propaganda que gorou. Não existe clima algum para reverter as sentenças pela pressão da militância nas ruas e muito menos o partido tem força política para isso. Por sinal, com a condenação de hoje, Dirceu teve oportunidade de sentir o nível de seu prestígio. De destaque teve a solidariedade da senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT e ela mesma encalacrada como ré no STF, com o risco de ir pra cadeia. Gleisi mandou um recadinho entusiasmado pelo Twitter. Na cadeia certamente o companheiro terá de encontrar outra forma de receber tanta emoção.
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POR José Pires

Os recibos suspeitos de Lula

A apresentação de recibos do pagamento do aluguel de Lula aumentou a encrenca, trouxe piada nova para o vasto prontuário petista de bobagens e também serve como documentação da extraordinária incompetência da defesa do ex-presidente. Já indo para o final deste processo, o Ministério Público afirma que a Odebrecht deu o apartamento para Lula como propina. É óbvio que a apresentação de uns poucos documentos — do tipo que qualquer pessoa mantém guardadinho numa gaveta — obrigariam o MP a desistir do caso logo no início.

Glaucos Costamarques declarou em depoimento ao juiz Sergio Moro que não recebeu pagamento de aluguel entre fevereiro de 2011 e novembro de 2015. Ou ele mentiu ou a defesa de Lula forjou documentos. De qualquer forma, a encrenca é séria. Mesmo que Glaucos Costamarques de fato tenha mentido, tem que haver um motivo, que pode não ser bom para Lula.

A piada que veio com os recibos foi a referência do vencimento no dia 31 de um mês com apenas 30 dias. É um erro estranho, porque Costamarques é antigo no ramo imobiliário. No mínimo, isso é coisa feita às pressas, o que não costuma acontecer com recibos verdadeiros. Porém, mesmo que tenha sido apenas um deslize, o advogado de Lula tinha a obrigação de ter conferido e apontado esse problema ao juiz.

Seja o que tenham aprontado desta vez, a polêmica criada por Lula em torno de simples recibos de aluguel serve como comprovação do cinismo desse político e também da sua dificuldade até para ser desonesto. É inacreditável a cena de um ex-presidente da República e fundador de um partido com quase 40 anos dizendo em depoimento ao juiz Sergio Moro que não sabia se havia recibo de aluguel do apartamento. A resposta é mais um exemplo da desfaçatez de Lula: “Recibo deve ter, posso procurar com os contadores para saber se tem”. E para tornar tudo ainda mais suspeito, ao lado do cliente estava Cristiano Zanin, o advogado mais falante de toda a Lava-Jato. Manteve-se calado sobre este assunto. E logo depois apareceram esses recibos.
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POR José Pires

Cuba apoia Lula

Réu em vários processos por corrupção e já condenado em primeira instância, o ex-presidente Lula é hoje em dia um político isolado internacionalmente, a não ser pelos parceiros do esquema de poder continental que tramavam em sociedade, com o teor “bolivarianista” que resultou na trágica situação da Venezuela e no ciclo de governos petistas que no Brasil deixou um rastro de destruição moral e econômica, mesmo com o impeachment de Dilma Rousseff. Hoje em dia o PT está com Maduro, que é ligado ao regime cubano, que por sua vez mantém o apoio a Lula e ao PT. Isso é que é círculo vicioso.

Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, defendeu Lula em discurso na ONU e expressou o apoio de Cuba à candidatura do petista à presidência da República. O chanceler cubano fala igual advogado defesa. Segundo ele, Lula é “vítima de perseguição política”. Veja na imagem o trecho completo. A notícia saiu no Granmma, o jornal diário da ditadura cubana que já foi muito bem definido pelo jornalista argentino Jacobo Timerman como “uma degradação do ato de ler”. Agora a degradação é publicada em tradução para o português na internet.

Citando discurso do ditador Raul Castro, Parrilla reafirmou o apoio do regime cubano à “Revolução Bolivariana e Chavista”. A definição é do ditador cubano, que diz que existe “agressão e violência golpista contra a Venezuela”. Não só por coincidência, no mesmo período em que Lula recebeu o apoio cubano, Nicolás Maduro esteve na ilha, onde ficou três dias. Como não tem nada para ser visto em Cuba, muito menos por Maduro, que é da casa, o ditador venezuelano só pode ter passado esses dias traçando planos com o irmão de Fidel Castro para manter-se no poder na Venezuela. E é claro que a volta de Lula é essencial na estratégia dos dois ditadores. Ainda que abalado pelo final desastroso de vários governos seus na América Latina, o Foro de São Paulo mantém os antigos laços que no nosso código penal recebe o nome de “formação de quadrilha”.
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POR José Pires
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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A direita sem nada na cabeça

Com o avanço da direita populista na Alemanha vai ter gente no Brasil fazendo relação com as chances eleitorais da direita em 2018. Por certo aparecerá o nome do deputado Jair Bolsonaro nessas, digamos, análises políticas que usam qualquer coisa para criar um tom de credibilidade em previsões que nem à marretadas encaixam com a realidade daqui, seja qual for a situação eleitoral estrangeira. Já foi feita relação parecida com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e chegou-se até a tentar fazer do sucesso do francês Emmanuel Macron um exemplo do que poderia acontecer no Brasil.

No caso da situação política da Alemanha as comparações também não tem nenhum valor analítico. A direita alemã, representada pelo partido nacional-populista Alternativa para a Alemanha (AfD), ficou como terceira força no parlamento alemão, o Bundestag, O AfD obteve 12,6% dos votos. Para se ter uma ideia do peso político desses números, o partido União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, teve 33% dos votos. É essencial ressaltar que a posição da direita alemã foi conquistada a partir de um debate acirrado sobre o islamismo, o euro e a crítica agressiva à política atual com os imigrantes. E o papo lá é sério.

As posições políticas na Alemanha são firmes, com partidos comprometidos historicamente com programas políticos que vão servir de base na formação do novo governo. Os temas de campanha não são escolhidos como mera propaganda de ocasião. Também não se troca de lado depois da eleição, com a facilidade que isso é feito no Brasil. Aí é que está o ponto para crer que a vitória desta direita populista terá um peso político definidor na política européia. Mas é leviano avaliar essa perspectiva no caso do Brasil, onde de fato não existe uma direita com sólidos compromissos políticos, administrativos, econômicos e também culturais.

Bolsonaro não é de direita coisa nenhuma e muito menos um conservador. Sua única diferença com a porção de políticos oportunistas à cata de qualquer coisa para ganhar votos é seu sucesso, numa dimensão que foi inesperada até para ele mesmo. Sua vitoriosa caminhada vem de um discurso genérico, com o uso de temas escolhidos para ganhar voto para deputado e eleger também seus filhos. Subiu na vida política sem que ele próprio tivesse controle direto disso, beneficiado por acasos e a contraposição também oportunista de políticos da esquerda com os quais bateu boca.

Disso resultou a impressionante projeção política que fez dele um presidenciável que aparece bem nas pesquisas. Na verdade, o encapetado ex-capitão tem pouca condição intelectual de representar ideias de direita e não só por falta de estofo próprio. Neste aspecto, cercou-se de seguidores carentes de um real pensamento político e até mais doidos do que ele, ainda que desse para imaginar que isso não seria possível. No geral, o caráter inflamado pela sua presença e que também lhe atiça o fogo é muito perigoso e será bastante problemático para o país, mas politicamente está longe de representar um projeto político com base para a implantação de um governo de direita.
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POR José Pires

São Francisco, um rio em perigo de morte

Leio uma matéria do jornal Diário de Minas sobre o Rio São Francisco e a imagem do futuro que as informações me passam agora é de um apocalipse acompanhando o curso dessas águas maltratadas durante tanto tempo. O jornal teve acesso a um amplo estudo feito pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos e pela Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) que chegou a conclusões assustadoras. Quando se fala no São Francisco vem logo à cabeça a insistência política na transposição deste rio. Pois é o São Francisco que precisa receber urgente água de outros rios, conforme uma proposta desse trabalho para conter o assoreamento e aumentar o volume de seu leito.

O chamado Velho Chico está com o mais baixo volume em seu 513 anos de história, que se completam neste mês de outubro. O rio está para morrer da degradação que em grande parte se deve ao impressionante assoreamento. Seu leito recebe por ano 23 milhões de toneladas de sedimentos. É como se fossem lançadas nas águas a cada ano um milhão de carretas de detritos. A causa disso é a ação humana, como o desmatamento. Segundo o estudo, a erosão natural das margens é mínima. O problema é causado pelas áreas produtivas, pela irrigação, a urbanização e infraestrutura envolvendo o rio.

O estudo propõe intervenções para fazer frente ao problema, mas até a divulgação dessas informações impactantes pouca coisa vem sendo feita. Em um trecho do rio, a Agência Nacional de Águas (ANA) proibe a captação de água uma vez por semana, o que já causa reclamações de produtores que dependem diretamente do São Francisco. Na prática, esta é a primeira ação de racionamento na história de seu canal principal. Porém, conforme o próprio nome do rio, nem a fé no santo é capaz de fazer alguém acreditar que não virão problemas ainda mais graves. Nesta triste situação cultural do Brasil é improvável que se crie condições desde já para um trabalho amplo de recuperação dessas águas

E quanto mais demorar a ação, maiores serão os custos e as dificuldades até para criar a estrutura e encontrar quem dê conta do trabalho. Reverter um processo de degradação ambiental, reconduzindo o ambiente a uma condição de relativa qualidade é tarefa que leva muito tempo e evidentemente quanto mais demorar, mais difícil será a ação. Maior será o custo e haverá ainda mais dificuldade com a tecnologia e o conhecimento humano para a tarefa.

Pense na degradação do próprio São Francisco se ampliando, com os brasileiros tomando consciência da necessidade crucial de afinal salvar o rio, mas esta decisão sendo tomada só dentro de 10 ou vinte anos. Onde estarão os recursos humanos exigidos para este trabalho? E a tecnologia? Se levar tanto tempo para que o Brasil se dê contra da tragédia, é evidente que pelo padrão do desmazelo é impossível que em conjunto com o descuido ambiental a sociedade brasileira esteja formando pessoas capacitadas para lidar com o problema. Também é óbvio que o país não estará criando e guardando tecnologia durante a agonia das águas.

Mas imagine situação ainda mais difícil, que é até natural em paralelo ao descuido com a natureza. Pense em rios que correm na atualidade em terras ainda agricultáveis e boas para a criação de animais, com todo o capital e o lucro que envolve essas atividades. Se não for feito agora o trabalho de proteção ambiental e de recuperação do que já foi destruído, de que forma aparecerão essas verbas quando esses ambientes estiverem muito prejudicados e por consequência sem possibilidade de exploração comercial? Ora, se pouca coisa é feita agora, enquanto existe capacidade de investimento, quando essas terras estiverem improdutivas será ainda mais difícil arranjar dinheiro para refazer o que foi destruído.
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POR José Pires

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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Queermuseu: MBL e o curador da exposição afinal se encontram

A rádio Guaíba, de Porto Alegre, conseguiu juntar representantes do MBL e Gaudêncio Fidelis, para debater os acontecimentos que levaram ao fechamento da mostra “Queermuseu”, que virou notícia nacional depois da medida tomada pelo banco Santander, patrocinador da exposição. O encontro foi no programa "Esfera pública". O debate é inédito e deve ficar por aí, porque é improvável que Fidelis, curador da exposição, queira ver de novo frente a frente algum integrante do movimento de rua.

Uma situação tão rara poderia ter sido melhor explorada, mas faltou habilidade profissional aos dois apresentadores do programa para conduzir com equilíbrio o debate de assunto tão quente, ainda mais com gente envolvida em um conflito político agressivo como este. Os apresentadores Juremir Machado e Taline Oppitz não tiveram o devido distanciamento. Machado até que se conteve em boa parte do programa, mas Oppitz parecia fazer parte da equipe do curador Fidelis. Ela é do tipo que não deixa ninguém falar. Foi bastante agressiva com a dupla do MBL, em especial contra Arthur do Val, o youtuber que ficou conhecido na internet com suas intervenções em manifestações políticas de esquerda, de onde extrai um bom material, criando discussões com entrevistas provocadoras, com situações às vezes explosivas e altamente reveladoras.

Também pelo MBL, no debate estava Paula Cassol, coordenadora estadual do MBL gaúcho. Teve boa participação, conduzindo-se com equilíbrio e mostrando uma qualidade rara hoje em dia, que é saber ouvir. É também bem articulada, sabendo também colocar muito bem seu pensamento. Na discussão, tanto ela quanto do Val mantiveram-se no aspecto político, sem se envolverem nas questões artísticas do tema. Em teoria, na questão cultural o curador Fidelis é quem se daria melhor, mas ele ficou muito aquém dessa expectativa, trazendo pouca fundamentação para uma melhor compreensão dos aspectos conceituais da polêmica exposição.

Tenho visto entrevistas do curador da “Queermuseu” e em nenhuma delas é possível obter dele boas avaliações no ponto cultural deste debate. Por sinal, é a primeira vez que vejo um curador indignado com a repercussão de algo de sua criação. E não estou com ironias. O sujeito fez uma mostra que tem como fundo a política de gênero, assunto que não é de hoje que vem criando muita polêmica. Mas parece que ele não gosta nem um pouco que haja divergência sobre sua forma de ver e expor a sexualidade nos dias de hoje. Está sempre insistindo em desqualificar o MBL e fica só nisso. Não amplia o debate cultural e ainda acusa o MBL por algo que o movimento não vem fazendo, que é censura. Não tenho nenhuma identificação política com o MBL, mas no caso dessa exposição o movimento não vem fazendo nada mais do que qualquer instituição parecida faz no mundo todo, inclusive movimentos de esquerda, que mesmo no Brasil já fizeram até pior.

Fidelis tem dificuldade de enfrentar um debate. Quase abandonou o programa no meio, durante a transmissão ao vivo. Chegou a se levantar e sair da mesa por duas vezes. Voltou só depois de apelos dos apresentadores. No programa da Guaíba esteve também Álvaro Clark, filho de Lygia Clark, artista já falecida, que tem uma obra na exposição. Pode-se até achar que não faria sentido sua presença num debate como este, mas do ponto de vista da arte ele trouxe elementos importantes sobre a obra de Lygia Clark, uma das que estão no centro da polêmica. E o interessante é que sua explicação sobre esta obra não confere com a interpretação de Fidelis, exposta na apresentação do projeto do “Queermuseu”. A obra é de 1967, bem distante das preocupações atuais da esquerda com política de gênero, que é base do conceito desta exposição.
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POR José Pires

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Imagem- O curador se levanta para sair, numa das vezes que abandonou o debate

quinta-feira, 14 de setembro de 2017


José Dirceu: herói do povo brasileiro só no gogó

A pena do ex-ministro José Dirceu no processo do recebimento de R$ 10 milhões em propinas da empreiteira Engevix pode sofrer um aumento no TRF4. Esta é a opinião da maioria dos juízes, com a decisão do relator João Pedro Gebran Neto de aumentar para 41 anos e quatro meses e o revisor Leandro Paulsen para 27 anos, 4 meses e 20 dias. Em maio do ano passado, já houve a condenação pelo juiz Sergio Moro a uma pena de 20 anos e dez meses de prisão. Os dois juízes consideram que existem "inúmeras provas testemunhais e materiais” contra o político petista que Lula dizia ser o “capitão” de sua equipe de governo. Falta o voto apenas do terceiro magistrado, Victor Luiz dos Santos Laus, que pediu vista do processo.

Essa notícia sobre o provável aumento de pena vem logo após ele fazer pouco caso de seu antigo colega de governo e da cúpula petista, o ex-ministro Antonio Palocci, que resolveu delatar crimes do partido e do chefão Lula. Em notícia obviamente vazada pelo próprio Dirceu, ele disse ainda que “só luta por uma causa quem tem valor”. Achei muito bacana, ainda que existam informações suficientes para desconfiar que isso é só bravata.

A história pessoal de Dirceu não confere com esta exibição de bravura. E não estou falando dos anos de poder nos governos do PT, mas de muito antes. Depois do famoso Congresso da UNE de 1968, tentativa de reunir na clandestinidade cerca de mil estudantes numa cidade do interior paulista, que acabou com todo mundo preso, o ex-ministro foi para Cuba, onde teve treinamento militar e formação política. Votou depois ao Brasil para montar uma guerrilha, como continuidade do plano de Fidel Castro de estender a revolução comunista cubana para todo o continente latino-americano.

Acontece que em vez de ir literalmente à luta, Dirceu montou uma loja de armarinhos em Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Ninguém sabe com que dinheiro. Na pequena cidade casou com uma mulher que nada sabia de seu passado e por lá ficou de 1975 a 1979, sem participar de nenhuma ação política, até que veio a anistia política no Brasil. São acontecimentos comprovados de sua vida, que não revelam disposição de morrer pela causa. E isso numa época muito violenta, na qual companheiros seus foram torturados e até mortos.

Nesta fase muito quente da vida do país não houve em paralelo no histórico de Dirceu este engajamento vital de que ele falou para desmerecer o ex-colega de partido. O valente passou detrás de um pacato balcão de loja todo este período que costuma ser chamado de “anos de chumbo”. Daí que este aumento de pena de prisão pode ser uma oportuna chance para uma demonstração prática de sua alegada coragem e da capacidade de sacrifício pela “causa”. Ele terá tempo de sobra para isso.
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POR José Pires

Corrupto na rua

Até que enfim alguém resolveu se manifestar contra a bandalheira que corre solta no país. E foi uma manifestação bastante objetiva. Os movimentos de rua não têm feito nada ultimamente, nem que fosse apenas para protestar contra a sem-vergonhice que rola. O MBL, como se sabe, resolveu virar polícia de costumes e os outros movimentos se calaram exatamente quando corre solto o debate sobre a corrupção.

Mas quem tomou posição firme contra a bandalheira foi a mulher de Ricardo Saud, delator da JBS, que está na prisão por decisão do ministro Edson Fachin, do STF. Antes de ser preso, Saud foi expulso de casa pela esposa, que ficou indignada com o conteúdo da gravação da conversa entre ele e Joesley Batista, em que os dois falam sobre autoridades, de manipulações para burlar a Justiça e também sobre mulheres. Depois disso, Saud foi posto fora de casa. Bem, já era hora de alguém tomar uma medida prática para expressar a indignação dos brasileiros com tanta safadeza.
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POR José Pires

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A esquerda sempre no poder na cultura

De Belo Horizonte vem uma notícia, daquelas que costumo dizer que traz informação às avessas. Juca Ferreira disse à Folha de S. Paulo que a capital mineira talvez possa receber a exposição “Queermuseu”, que foi cancelada pelo Santander, em Porto Alegre. Ele diz que estão estudando a proposta da exposição para ver se “seria viável”. Espere aí, mas quem é Juca Ferreira?

Juca Ferreira foi ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma Rousseff e enquanto não ocupava oficialmente o comando da pasta foi braço-direito de Gilberto Gil, também no Ministério da Cultura, onde tinha tanto poder quanto o cantor baiano. Na prática, Ferreira é que tocava o ministério. Atualmente ele é secretário de Cultura de Belo Horizonte. Esse pessoal não fica no sereno. O eleitorado pode tirar pelo voto sua base de sustentação material ou o governo que os abriga ser retirado do poder por ilegalidades, como ocorreu com sua chefe Dilma Rousseff, que logo eles já estão ocupando o poder em outras administrações. Os imortais da cultura brasileira não estão na Academia. São da esquerda.

O aparecimento do homem da cultura nos 13 anos de governo do PT neste caso polêmico talvez sirva para uma melhor avaliação sobre o que ocorreu em Porto Alegre, que não pode ser restringido a um mero caso de censura. A questão é mais complexa, envolvendo uma batalha ideológica na qual, apesar da aparência até o momento, a esquerda é que vem levando vantagem. É provável que o pessoal do MBL gaúcho não tenha consciência da dimensão do que eles fizeram, pelo menos até o assunto ganhar o noticiário nacional, criando um debate cultural que não se via há muito tempo no Brasil. Mas as manifestações que levaram ao fechamento da mostra “Queermuseu” praticamente inauguram um processo político-cultural que terá muito peso no país, ainda mais com um ano eleitoral decisivo pela frente.

O debate deve esquentar. Se esta discussão fosse desenvolvida em bons termos, até que seria muito bom para o país. Mas com certeza não será em meio à calmaria que o MBL e setores da sociedade com uma visão política parecida a deste movimento discutirão cultura com a esquerda brasileira, que tem um espírito tão agressivo quanto o da turma que atuou contra a exposição em Porto Alegre. A diferença entre os dois lados é que a esquerda ocupa praticamente todos os espaços da cultura no país, inclusive na iniciativa privada, por meio de uma burocracia cultural fortalecida como nunca nos anos em que o PT ocupou o poder. Isso talvez possa explicar a bobeada da diretoria do Santander em promover a exposição e provavelmente traga uma luz para entender seu fechamento abrupto. Alguém da diretoria pode ter ficado muito irritado de ter tido a confiança traída.

Nesses 13 anos de poder do PT no governo federal, a esquerda brasileira foi tomando gradativamente todos os setores culturais pelo país afora. Tradicionalmente a cultura neste país sempre teve esse peso esquerdista. Com o projeto petista de poder, o domínio foi tomando fortes contornos ideológicos e adquirindo uma importância estratégica essencial. A cultura está sempre a serviço da agenda política da esquerda, conforme é o caso da mostra gaúcha no Santander, mas pode ser visto também em outras atividades culturais pelo país afora. E da cultura eles também se servem para manter seus quadros em atividade, com conforto material e poder, abrindo espaço apenas para quem pinta, dança, escreve e faz qualquer coisa da área da arte conforme a cartilha. O ressurgimento do ex-ministro Juca Ferreira — que andava sumido, mas agora acena com entusiasmo para o colega petista gaúcho — mostra que o projeto continua dominando o palco.
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POR José Pires

A favor de Lula fraudam até assinatura de bispo

Com a derrocada de Lula e seu partido, que rolam para patamares cada vez mais baixos de credibilidade e respeito, os petistas procuram forjar todo tipo de fraude para mascarar a situação. Estão falsificando até cartas de apoio a Lula, sem poupar o nome de ninguém. A vítima mais recente é o bispo de Garanhuns, Dom Paulo Jackson. Uma carta de apoio ao ex-presidente condenado por corrupção repassada na internet vem sendo atribuída falsamente ao religioso. No entanto, o bispo já desmentiu a autoria. E ficou muito bravo por seu nome ter sido usado.

A carta com a falsa assinatura chegou a ser publicada em sites de jornais do Nordeste e corre pela internet. Ela traz elogios entusiasmados a Lula, como no trecho em que diz que “Lula é uma causa a ser defendida, muito mais do que sua figura humana”. Um jornalista deve ter responsabilidade com a informação, além da obrigação de saber que bastaria um breve telefonema à Diocese de Garanhuns ou mesmo um e-mail para verificar a autenticidade do documento. Foi o que disse o próprio bispo, em mensagem a um jornal que veiculou a carta, dando um exemplar puxão de orelhas nos, digamos, profissionais: “Vocês simplesmente fizeram mau jornalismo. Precisam retornar às primeiras aulas de jornalismo”.

O pito de Dom Paulo Jackson serve como alerta contra o hábito de repassar de tudo pela internet sem conferir a veracidade. Esta fraude mostra também que é preciso tomar ainda mais cuidado agora, na hora desse desespero da militância petista. Eles não estão perdoando nada, nem bispos.
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POR José Pires

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Veja aqui o desmentido de Dom Paulo Jackson

Acalmando a nação

O governo lançou uma nota afirmando que "o presidente Michel Temer não participou e nem participa de nenhuma quadrilha". Isso mesmo, uma nota oficial avisando que o presidente não é ladrão. Aqui está ela, na íntegra:

“O presidente Michel Temer não participou e nem participa de nenhuma quadrilha, como foi publicado pela imprensa, neste 11 de setembro. O presidente tampouco fez parte de qualquer ‘estrutura com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagens indevidas em órgãos da administração pública’. O presidente Temer lamenta que insinuações descabidas, com intuito de tentar denegrir a honra e a imagem pública, sejam vazadas à imprensa antes da devida apreciação pela Justiça.”

É muito tranquilizador saber que não temos um presidente da República participando de nenhuma quadrilha nem obtendo vantagens indevidas. Tem que manter isso, viu?
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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mostra "Queermuseu": bravatas e azucrinação à esquerda e à direita

A tal da mostra “Queermuseu”, patrocinada pelo Banco Santander em Porto Alegre e logo repudiada pelo próprio Banco, que mandou fechá-la antes que completasse um mês de exibição, é um espetáculo interessante que serve de reflexão sobre o atual momento cultural brasileiro.

Não é de hoje que este banco espanhol tem dificuldades na sua relação política e cultural com o Brasil. Anteriormente a diretoria do banco já havia demonstrado espantosa incompetência, seguida de uma covardia que reforçou a impressão de falta de responsabilidade. Foi naquele episódio no primeiro mandato de Dilma Rousseff, da carta enviada pelo banco a seus correntistas com um alerta sobre dificuldades na economia brasileira. Como se viu depois, a avaliação era correta. Ocorre que na época o Santander voltou atrás e demitiu a funcionária que redigiu a carta, depois de Lula reclamar em público, com aquela fineza peculiar dele, quando seu partido estava no poder. Tirem as crianças da sala, que lá vai o que o Lula disse: “essa moça não entende porra nenhuma de Brasil e de governo Dilma”.

Da mesma forma que agora, recuando diante de previsíveis pressões o Santander demonstrou uma tremenda incompetência de planejamento. Não dá para saber o que o banco pretendia com aquela avaliação rigorosa sobre economia, ainda mais indo de encontro a um governo autoritário. E também é um mistério o objetivo do patrocínio de um projeto de tendência artística claramente da militância homossexual radical. Sim, isto existe. E faz mais mal do que bem ao debate sobre direitos civis. Mas, quanto à exposição, nenhuma pessoa mais responsável da diretoria do banco teve a ideia de dar uma passadinha na mostra antes da abertura ao público?

E neste ponto, creio que já é hora de pedir calma às militâncias. Que a esquerda não jogue pedra em mim nem a direita me aplauda. Parafraseando o guru petista, os dois lados não entendem porra nenhuma de cultura, muito menos de arte. Tudo que eu não quero na cultura do meu país é a influência determinante de um curador de esquerda, com carteirinha de partido, como essa figura que dirige a mostra, Gaudêncio Fidélis, grudado em cargo nomeado em governos de esquerda no Rio Grande do Sul desde o governo brizolista de Alceu Colares, até o governo petista de Tarso Genro. Imaginem a liberdade artística de sua equipe. Mas também não quero movimentos de rua decidindo o que eu posso ver e determinando qual é o papel da arte. Kim Kataguiri não me representa como curador, nem seus colegas de movimento, que por sinal não foi pra isso que recebeu apoio nas ruas.

Mas, voltando, o banco Santander parece dirigido por idiotas políticos e os artistas da mostra são uns bravateiros. Vejam uma explicação do banco para acabar com a exibição: "O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia”. Mas, espera aí, como se faz para debater “grandes questões do mundo contemporâneo” sem “gerar desrespeito ou discórdia”, ainda mais organizando uma exposição de fundo gay, lésbico e transgênero? É desse modo que ela vinha sendo apresentada, antes do quiproquó que levou ao fechamento. Com o pega-pra-capar que direita e esquerda vem fazendo com este tema, talvez o Santander pretendesse finalmente apaziguar os espíritos com esta mostra.

E quanto aos responsáveis pela mostra, cabe um questionamento sobre os objetivos, digamos, de seu conceito de arte, que pelo pouco que deu para ser visto na internet é um projeto provocativo, com um radicalismo pouco visto na cultura brasileira. Vocês já devem ter ouvido falar dos quadros da “criança viada” e da imagem de Cristo usada ironicamente. Parece coisa inventada pela direita, não é mesmo? Pois esse negócio da “criança viada” existe mesmo, em quadros muito ruins, que se baseiam em um projeto anterior muito estranho. Publico um deles para vocês sentirem a barra. Imaginem as outras “obras” que não deu pra ver.

Ora, articulando em uma grande mostra materiais de alto teor explosivo de provocação, pode-se concluir então que a reação agressiva comandada pelo MBL fez os organizadores e artistas atingirem seu propósito. Mas não é nada disso. Esse é o pessoal que vive tentando repetir o que foi feito por Marcel Duchamp, o que é exatamente o contrário do que ele propôs. É o problema de toda leitura torta. E cabe lembrar que Duchamp correu riscos. E o centro da proposta desse pessoal bravateiro é ter o risco apenas na aparência. É uma das atividades mais bacanas que existe, o radicalismo bancado pelo Estado e pela burocracia cultural de esquerda que domina hoje em dia inclusive o acesso às verbas culturais da iniciativa privada.

Dessa forma, cuspir nos outros virou um meio de vida, que até agora eles vinham levando na maciota, sem a consequência do radicalismo verdadeiro e também sem a coragem de verdadeiros criadores que abriram caminhos muito interessantes na ampliação da liberdade de percepção artística. Como eu disse, não se sabe o que o Santander pretendia com o patrocínio dessa coisa, mas somos nós que teremos agora de suportar um debate com muita ignorância e agressividade dos dois lados — esquerda e direita —, que aproveitam o assunto para tentar um controle sobre a vida dos outros. É a valentia de bravateiros até agora escudados em verbas oficiais e do outro lado um movimento de rua que está indo “além das sandálias”, para fechar com a significativa frase do lendário pintor Apeles ao sapateiro que depois de uma explicação técnica sobre calçados queria também opinar na feitura do quadro que ele estava pintando.
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POR José Pires

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Imagem- Obras da mostra “Queermuseu”; imaginem o resto

Conspirações em desordem

Alguém precisa sistematizar as conspirações em andamento ou pelo menos as mais importantes, porque está difícil acompanhar. Antes do impeachment de Dilma Rousseff era mais simples. Tudo se dividia do jeitão tradicional que a esquerda faz: nós e eles. Naquele tempo, pelo ponto de vista dos petistas até o sol costumava nascer de vez em quando só para perseguir o PT. Porém, com Michel Temer ocupando a presidência da República ampliou-se bastante o âmbito das conspirações. Tem até conspiração de antigos adversários da esquerda, agora para fazer chover na horta do PT.

É claro que está mantida a conspiração contra o PT, que segundo os petistas recebeu a adesão agora até de Antonio Palocci, este trânsfuga que foi de herói do partido a traidor da causa. Pior ainda, o "Italiano" está com Sergio Moro nesta mais nova conspiração nova. Tem também várias conspirações contra Temer, com destaque para a que tem por detrás o procurador Rodrigo Janot e da qual participam os irmãos Batista. Sobre esta conspiração, em especial, não se sabe se vem antes ou depois do encontro noturno entre Temer e Joesley.

As conspirações contra Temer criam situações bastante delicadas. Muito cuidado. Um post no Facebook ou às vezes apenas um comentário falando sobre gatunos da equipe de Temer ou de ilegalidades do próprio presidente pode incluir de imediato seu nome numa conspiração que só não tem o governo americano por detrás, porque como todo mundo sabe, é contra o PT que os americanos conspiram.

E como existem conspirações contra Temer, por consequência tinha que ter alguma coisa armada para livrar o Temer. O ministro Gilmar Mendes está nessa, como todo mundo sabe. No entanto, este complô tem também suas complexidades, o que exige muita atenção. Desse modo, também neste caso pode surgir a acusação de envolvimento em um plano maquiavélico para favorecer o PT, bastando para isso, por exemplo, você achar que não é correto o braço-direito de Temer sair por aí rodando uma mala cheia de dinheiro pelas calçadas. Ou então ter opinião típica de conspirador, que costumam achar que não é bacana um presidente da República ouvir relato de crimes e dizer que “tem que manter isso”.

Estão vendo como está complicado se situar em meio a tantas tramas secretas? Isso não está certo. É mais que urgente a necessidade de organizar direitinho todas essas mancomunações, sistematizando de forma muito clara o papel de cada conspiração, deixando claro qual delas têm a nossa participação. Precisamos saber com exatidão o nosso papel nesses conluios ardilosos. Até porque em uma dessas conspirações algum pilantra pode estar ficando com a nossa parte em dinheiro.
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POR José Pires