Hoje os jornais trazem, é claro, o bafafá ocorrido no Senado, quando o senador Pedro Simon foi atacado de modo agressivo por Renan Calheiros e Fernando Collor. O assunto foi para a capa. O
Estadão traz a melhor foto — à frente aparece José Sarney e logo atrás, desfocado na imagem de modo perfeito, está Collor.
A boa foto é de Celso Júnior. Pode ser um retrato atual da República. Nela não falta nem o presidente Lula, pois sua presença em espírito é garantida pelos dois ex-presidentes. Que país é este em que um político de baixa categoria moral como Fernando Collor fala daquele jeito com alguém respeitável como Pedro Simon e não sai dali preso só pelo desrespeito? Aliás, o estado em que se encontra país já é discutível pelo fato de Collor poder ter sido eleito senador.
O senador Pedro Simon, é verdade, é um dos que pecam pela honestidade passiva e que se mostrou omissa nos últimos tempos. Não fosse assim, o Senado não estaria enlameado como está. Precisamos de uma honestidade mais ativa, com ação crítica mais objetiva sobre os males brasileiros, e não só do Senado. Mas é fato que Pedro Simon é um homem de bem, tem a estatura moral exigida, ao menos em teoria, de um Senador e Collor não.
No momento em que sofria os ataques de Collor e Renan Calheiros, talvez pudesse ter passado pela cabeça de Simon o quanto o país perdeu com a falta de rigor de políticos como ele neste período histórico do final da ditadura militar para cá.
José Sarney, Fernando Collor e Lula — esta não é uma cara boa para a nossa República, mas infelizmente é o que somos hoje. Não sou dos que acham que esta é uma característica nacional. Tampouco vejo verdade no refrão que diz que este Congresso Nacional representa o estado em que o país está. Não é bem assim. Devido ao formato político de nossas eleições, estes políticos não são nada representativos. Boa parte desses mandatos se encaixa praticamente na categoria de cargos comprados.
Mas, de fato, a política tornou-se isso que aí está e dificilmente vai se auto-regenerar. A limpeza terá que ser externa. Não há outro jeito.
Mas, enfim, esta é a nossa vida atualmente. Tempos tristes e que me lembram de "A Marcha da Insensatez", o magnífico livro de Barbara W. Tchman, especialmente em um trecho no qual ela escreve sobre a queda moral da Igreja Católica durante a Renascença. Na época vendia-se até vaga no Céu. A Igreja tornara-se uma máquina de fazer dinheiro e os papas viviam entre crimes. No Brasil da atualidade a política é a máquina de fazer dinheiro.
Escrevendo sobre a Igreja na época, Maquiavel afirmava que “quanto mais se aproximam da Igreja de Roma, cabeça de nossa religião, menos religiosas as pessoas ficam”. Troque Igreja pelo lulo-petismo e fica parecido. Quanto mais próximas do partido ou de seu líder máximo, menos éticas as pessoas ficam.
Mas, voltando à Barbara W. Tuchman, sua sabedoria pode ajudar-nos a entender esta corrupção impressionante na política. O nome do livro se encaixa com perfeição no momento. Estamos em uma marcha da insensatez. Enquanto o país ruma para o abismo em questões como meio ambiente, infraestrutura e tantos assuntos mais, os governantes se preocupam em se perpetuar no poder e afanar cada vez mais.
Então, sente-se nas pessoas um desalento, uma sensação coletiva de que o país não tem conserto. Surge até a idéia de que todos estamos tomados por esta falta de ética, vem aquele discurso de que é a mesma coisa estacionar na calçada e assaltar os cofres públicos. E não é a mesma coisa e nem somos todos corruptos. Aí, é até uma questão técnica: a corrupção se tornaria inviável. Só é possível roubar os cofres públicos se houver uma maioria colocando dinheiro neles.
Falando sobre o descalabro ético que tomou conta da Igreja na Renascença, Tuchman diz que nenhuma característica isolada jamais engolfa toda uma sociedade. Enquanto o alto clero era envolvido pela ganância e se dedicava a toda espécie de crime, diz ela, inúmeras pessoas de todas as categrias ainda adoravam a Deus, confiavam nos santos, desejavam apoio espiritual e viviam vidas dignas. É parecido com o Brasil. Enquanto vivemos com dignidade, o alto clero da política rouba.
A maioria das pessoas evidentemente não vive conforme os padrões desses governantes. Lula vai ficar na história como o maior estimulador dessa dissolução moral. E está cercado de suspeita de ser o chefe da roubalheira. É uma homem muito rico, condição estranha para um ex-metalúrgico. À esta altura deve ser um milionário, pois em 2006, quando se elegeu para o segundo mandato, apresentou ao TSE um patrimônio de R$ 839.033,52. Havia dobrado sua fortuna desde o início do primeiro mandato, em 2002, quando dizia ter R$ 422.949,32.
Não à toa, temos aí homens que enriqueceram com a política unidos para evitar que haja sequer a discussão sobre delitos morais terríveis. Lula, como sempre está na melhor companhia: Collor, Sarney, Renan Calheiros. A crise que aí está serve pelo menos para revelar de vez a cara de seu governo. Ele próprio percebeu isso, tanto que já busca descartar Sarney, ou pelo menos desligar sua imagem dos escândalos do senador maranhense eleito pelo Amapá.
Mas parece que já é tarde para isso. A foto na capa do
Estadão mostra bem isso. Nela só estão Sarney e Collor, mas é impossível não perceber a presença de Lula.
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POR
José Pires