Jair Bolsonaro não vai mais a Nova York. Nesta sexta-feira a Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou uma nota informando que foi cancelada a viagem que o presidente faria para ser homenageado pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Estragaram a festa de Bolsonaro. Empresas desistiram do patrocínio do evento depois de forte rejeição nas redes sociais e manifestações contrárias, inclusive do prefeito da cidade. A festa teve que mudar duas vezes de lugar, começando pelo Museu de História Natural de Nova York, cuja diretoria justificou a desistência argumentando que a homenagem a Bolsonaro seria "uma mancha na reputação do museu".
Logo que a homenagem foi anunciada, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, classificou Bolsonaro como “um ser humano perigoso” e pediu a um dos lugares escolhidos que não aceitasse o evento. O senador estadual democrata de Nova York Brad Hoylman disse que o único prêmio que Bolsonaro merece é o de "intolerante do ano". Com o anúncio de que Bolsonaro desistiu da viagem, o prefeito já fez uma zoação pelo Twitter. “Ele fugiu”, escreveu na mensagem: “Sem supresas — covardes não costumam aguentar um soco”. Escreveu também que "seu ódio" não é bem vindo em Nova York.
É óbvio que Bolsonaro seria recebido não com tapete vermelho, mas com protestos na porta do evento. Escrevi aqui sobre o assunto. Na minha opinião, a rejeição criada dificultaria até a escolha de um americano que deveria também receber homenagem, conforme a praxe do evento, marcado para 14 de maio. Até hoje não se soube de um gringo que topasse encarar a cerimônia na companhia do presidente brasileiro. Nem Steve Bannon apareceu para dar uma mãozinha. A homenagem ocorre durante um jantar de gala com a presença de mil convidados. A entrada individual custa 30 mil dólares. É óbvio que o público não compareceu. Que empresário seria doido de querer o nome de sua empresa associado a esta persona non grata?
A nota do governo brasileiro é puro mimimi, como costuma dizer a moçada. Eles dizem que a viagem foi cancelada “porque ficou caracterizada a ideologização da atividade”. O texto afirma que Bolsonaro desistiu “em face da resistência e dos ataques deliberados do Prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente”.
Ora, mas pelo que se sabe é exatamente por esta linha que Bolsonaro escolheu fazer política, confrontando de forma pesada assuntos polêmicos, atuando agressivamente contra adversários, reais ou de mentira, mas de qualquer forma sempre com um discurso violento e às vezes até com muito ódio. O prefeito de Nova York não deixa de ter razão no Twitter em que dizia que Bolsonaro é um fujão. Agora que encontrou uma reação à altura era o momento do líder da direita brasileira mostrar na prática a valentia que ele e seus seguidores trombeteiam o tempo todo.
A alegação sobre a ação de “grupos de interesses”, além de revelar a frouxidão do bolsonarismo quando encontra a reação de gente determinada, demonstra ignorância sobre o efeito internacional do que o governo Bolsonaro vem fazendo em várias áreas e também da rejeição que as falas do próprio presidente vem alimentando em todo o mundo. De fato, os tais “grupos de interesse” são muito fortes nos Estados Unidos e na Europa, o que faz parte de democracias mais bem estabelecidas.
Bolsonaro perdeu uma boa chance para mostrar que é valente de fato, encarando esses opositores com mesma agressividade e até a crueldade que usa com todos que discordam dele aqui no Brasil. No entanto, essa tarefa é muito mais difícil do que insultar jornalistas brasileiros, que por imposição do papel profissional, não podem colocá-lo em seu devido lugar. Também não é a mesma moleza que insultar minorias, ofender mulheres, desmerecer o trabalho sério das pessoas e seus direitos.
Como se costuma dizer, Bolsonaro fugiu do pau. E com essa vergonhosa covardia selou de vez sua condição de presidente que não poderá mais fazer com tranquilidade nenhuma viagem ao exterior, por medo da reação que pode encontrar de estrangeiros decentes que tem a coragem de se contrapor à sua arrogância e grosseria.
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POR José Pires