O PSDB está evitando um apoio imediato a Michel Temer e por isso começa a tomar algumas cacetadas. Já surgem referências ao hábito do partido de ficar em cima do muro, mas desta vez não acho que seja este o caso. Uma parte dos tucanos vem agindo com sábia ponderação. Não se deve esquecer que o PSDB não apoiou a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara e foram também criticados por isso, até aparecerem as graves denúncias contra o deputado. Pode ser que também agora eles estejam sabendo de algo que no futuro colocar em risco a reputação de quem se aliar sem reservas a um provável governo de Temer. Porém, mesmo que nada de grave surja contra o vice, o mais sensato é mesmo acompanhar de forma crítica a dinâmica da política. Em razão do cuidado dos tucanos, jornalistas já andaram fazendo alusões ao papel do PT durante a formação do governo de Itamar Franco, após a traumática experiência do impeachment de Collor. Aliás, já ficou comum relacionar a situação da presidente Dilma Rousseff com as encrencas de Collor, em 1992. No entanto, as duas situações são muito diferentes, a começar pelo mais importante, que são as dois vices. Quando assumiu o cargo de presidente, Itamar Franco era um político inatacável, com uma longa carreira política sem nenhuma acusação de corrupção. Não é o que ocorre com Temer, que vem enfrentando acusações e sendo citado em delações premiadas da Operação Lava Jato.
Outra diferença muito importante é a posição de cada um nos governos em que formaram a chapa. Os escândalos que levaram a queda de Collor nada tinham a ver com Itamar Franco, que antes da eleição já havia se distanciado do presidente que sofreu impeachment e não teve nenhuma participação em seu governo. O mesmo não se pode dizer de Temer, com o agravante de que ele é vice de um segundo mandato de Dilma e teve participação ativa não só na formação dos dois governos dela como também nos dois mandatos anteriores de Lula. Temer teve oportunidade de acompanhar de perto tudo que levou ao desastre econômico e à impressionante roubalheira descoberta pelo Ministério Público por duas vezes, no mensalão e agora no petrolão. E da sua posição privilegiada ele nunca teve uma palavra de condenação a tais abusos. Se Lula nem Dilma podem dizer que nada sabiam, tampouco o vice-presidente pode alegar este desconhecimento. No mínimo, Temer prevaricou. E isso não é pouco, ainda mais para quem pode tornar-se presidente na grave situação em que está o país.
Até por esta grave crise que assola o país está havendo uma forçação de barra para criar em torno da figura de Temer um sentido de união nacional que não se sustenta em razão das implicações dele na origem desta crise, mesmo que seja de forma indireta. A própria personalidade de Temer não comporta a esperança de que ele possa vir a desempenhar uma liderança para transformações amplas no âmbito da política e da administração pública. É preciso lembrar que, apesar de já ter tido muitas oportunidades para isso antes mesmo de aliar-se ao PT no poder, ele nunca foi além da política tradicional. É muito óbvio que esta dedicação patriótica nunca esteve em seus planos. Mas eu estaria propondo então que se entre nessa nova onda petista de malhar o Temer? Nada disso. A menos que surja um fato que o desabone juridicamente, o impeachment dará a ele legalmente o comando do Governo Federal. Do que discordo é desse andamento político, que pode acabar superestimando seu papel político e de seu governo. Na minha visão, sua atuação já será muito boa se ele trabalhar para simplesmente arrumar a casa, fazendo a transição política até 2018, quando teremos a eleição de um governante com mais legitimidade para maiores transformações.
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POR José Pires