Uma
decisão da Justiça divulgada na última quarta-feira serve para
demonstrar o nível do jornalismo que vem sendo feito pelos setores
governistas da imprensa. A Rede Record foi condenada a pagar uma
indenização de R$ 50 mil por danos morais ao jornalista William Waack,
da TV Globo, por ter insinuado numa reportagem que ele trabalhava como
espião da CIA, a agência de inteligência do governo dos Estados Unidos.
A mentira sobre Waack foi produzida a partir dos documentos obtidos
pelo site Wikileaks e depois vazados pelo mundo todo. O site criou fama
em 2010, quando passou a divulgar documentos confidenciais do governo
americano. Os documentos teriam sido entregues pelo soldado americano
Bradley Manning, atualmente preso nos Estados Unidos. O fundador do
Wikileaks, Julian Assange, está hoje asilado na embaixada do Equador, na
Inglaterra. Assange tenta fugir da prestação de contas à Justiça em um
problema que nada tem a ver com politica: é acusado de crimes sexuais.
No
Brasil, foi seletivo o vazamento de documentos confidenciais pelo
Wikileaks, buscando atingir políticos da oposição e jornalistas
independentes, como foi o caso de William Waack. Sobre o jornalista da
Globo eles tinham um relatório da embaixada americana no Brasil falando
de um encontro entre o embaixador e o jornalista, que é especialista em
política internacional. Na época, Waack fazia também um ótimo blog sobre
assuntos internacionais.
Nada
existe de inusitado na narrativa do embaixador sobre o que os dois
conversaram, mas logo formou-se nos sites governistas e blogs da
militância uma corrente de difamação apontando Waack como colaborador
dos Estados Unidos. E na Rede Record saiu este absurdo da insinuação de
que ele é colaborador da CIA.
Desde
o governo Lula a emissora da Igreja Universal do Reino de Deus vem
fazendo este papel de usar seu jornalismo em apoio aos interesses do
governo. Blogs e sites ligados ao governo também fizeram ataques feios
ao jornalista da Globo, usando o encontro entre ele e o embaixador
americano.
Esta
demolição de reputações que esse pessoal tenta fazer com qualquer um
que não atue em favor do interesse do governo tem também a intenção de
atemorizar o conjunto da opinião pública. E neste caso trata-se também
de uma vendeta antiga da esquerda. Waack é autor de "Camaradas", uma
obra demolidora do papel da esquerda na política brasileira, falando de
suas primeiras burradas em 1935, com a Intentona Comunista organizada
pelo antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). O lvro é de 1993 e acaba
com o romantismo sobre aquele acontecimento. Mostra que o PCB atuava em
território brasileiro a serviço de uma nação estrangeira, a União
Soviética. E obedecia ordens diretamente do Kremlin. Essa revelação do
caráter subalterno da esquerda veio de documentos liberados pelos
próprio governo soviético.
Portanto,
são contas antigas. Mas acrescidas do caráter profissional independente
de Waack em relação ao governo do PT. A decisão da Justiça contra a
Rede Record ainda é em primeira instância, mas é difícil que não haja
uma condenação definitiva. Afinal, se o encontro entre um jornalista e
um embaixador servir para insinuar que o jornalista é agente da CIA
ficará muito difícil fazer jornalismo sério no Brasil.
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POR José Pires