quinta-feira, 31 de julho de 2008

As Farc e o governo Lula

Quando o governo da Colômbia começou a divulgar alguns e-mails contidos no computador que foi do líder guerrilheiro Raul Reyes, morto no Equador, eu disse aqui no blog que em Brasília devia ter gente muito preocupada com o que ainda pode surgir dos arquivos. É notória a proximidade de lideranças petistas com as Farc. Também já não é de hoje que é evidente que a relação do governo Lula com o grupo terrorista guarda em si muito mais que tolerância diplomática. Parece haver uma extrema empatia política, que, caso não conhecêssemos a turma, poderíamos até achar estranho entre um governo eleito e uma organização militarista.

Em março o exército da Colômbia matou Reyes e seus comandados com um bombardeio e invadiu o acampamento guerrilheiro, em território do Equador, para se apossar de materiais das Farc. Entre eles estava o que parece ser a peça mais preciosa do butim: o computador de Reyes, com um vasto conteúdo nos arquivos.

Até aqui não se sabe se Reyes fazia guerrilha com um manual do português da anedota. Mas o fato é que este alto comandante das Farc guardava tudo na memória do computador.

Pois é sobre parte desse material que a revista colombiana Câmbio publica hoje uma extensa reportagem. E os jornalistas colombianos descobriram coisas que devem abalar bastante a imagem do governo Lula no plano internacional. A matéria de capa tem o nome de “O dossiê brasileiro”, um dossiê do qual o governo Lula e os petistas não irão gostar nem um pouco.

Câmbio teve acesso a 85 e-mails do computador de Reyes, com mensagens entre fevereiro de 1999 e fevereiro de 2008, e neles descobriu uma estreita aproximação das Farc com as mais altas esferas do governo Lula.
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POR José Pires

Outra denúncia chega à ante-sala

A revista revela que os e-mails comprometem altos dirigentes do PT, além de muita gente graúda do governo. Entre os nomes estão os do chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, do assessor presidencial Selvino Heck, do ex-ministro José Dirceu, de Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, do chanceler Celso Amorim, de Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula, de Paulo Vanucchi, ministro da Secretaria dos Direitos Humanos, e também de Erika Kokay, deputada distrital do PT de Brasília.

As mensagens que embasam a matéria de Câmbio giram em torno do colombiano Olivério Medina, também conhecido como “Padre Camilo”, religioso que está nas Farc desde 1983 e que chegou a ser secretário particular de Manuel Marulanda, o “Tirofijo”, o líder máximo do movimento que morreu em maio aos 80 anos, aparentemente de causas naturais.

Olivério Medina foi preso no Brasil em agosto de 2005, após muita pressão do governo colombiano. Porém, o pedido de sua extradição para a Colômbia acabou sendo negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que, além disso, reconheceu sua condição como refugiado político. Os e-mails levam a crer que existe uma poderosa rede de proteção em torno de Medina, um círculo influente de protetores que chega bem perto do presidente da República. Vai até à famosa ante-sala de Lula.

Em 23 de dezembro, por exemplo, em um e-mail de 23 de dezembro de 2006, Medina informa a Reyes que “é possível que me visite um assessor especial de Lula chamado Silvino Heck, que junto com Gilberto Carvalho tem sido outro que tem nos ajudado bastante”.

A revista lembra que os 85 correios eletrônicos são apenas uma “pequena mostra” do conteúdo do computador em poder do governo Colombiano. E ai que mora o perigo para muitos aqui no Brasil. O que mais surgirá dos arquivos do guerrilheiro morto?

Câmbio informa na reportagem que em 19 de julho, quando Lula esteve na Colômbia, o presidente Álvaro Uribe teve uma conversa reservada com o brasileiro, quando apresentou “um breve resumo sobre uma série de arquivos” encontrados nos computadores de Reyes que comprometiam funcionários do governo brasileiro.

Isso, inclusive, talvez explique o inusitado comportamento de Lula na Colômbia, onde nem fez as gracinhas costumeiras em viagens ao exterior. Chegou sério e voltou mais sério ainda. Está certo que Uribe, conforme informa a revista, até ofereceu uma "aguardiente antioqueño" para esquentar "el frío que calaba los huesos". Mas com a conversa sobre os e-mails, a cana colombiana não deve ter descido nada bem.

A revista afirma também que até o momento o governo colombiano tem poupado o governo petista de denúncias relacionadas ao conteúdo dos computadores apreendidos, ao contrário do que faz com o governo do Equador, que já foi acusado várias vezes de manter relações com as Farc.
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POR José Pires

Salve-se quem puder

A reportagem de Câmbio deve causar um estrago na imagem de Lula e seu governo no exterior. Evidentemente nenhuma hora é boa para algo assim, mas a denúncia piora a má-fase internacional do governo petista. Temos o fracasso da Rodada Doha, onde ficou marcada a infeliz frase do chanceler Celso Amorim, em que ele cita o chefe nazista Goebbels. E temos também o problema criado com o Mercosul causado pela atitude da diplomacia brasileira também em Doha.

Depois de tanto bate-cabeças pelo mundo ainda vem uma paulada dessas. E o pior é que é provável que venham revelações piores por aí. A lógica faz crer que existam muito mais incriminações contra brasileiros nos computadores apreendidos da guerrilha. São milhares de documentos. E como sabemos muito bem das implicações de um certo setor da esquerda brasileira com as Farc, dificilmente não surgirão mais bombas políticas.
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POR José Pires

Publicação é insuspeita

E quanto ao material da Câmbio, os petistas nem poderão alegar alguma obscura conspiração, um levante da “imprensa golpista” contra um governo progressista e amigo dos pobres.

Com Câmbio essa lorota não cola. Além de ser de esquerda, a revista é de propriedade do escritor Gabriel García Márquez. A não ser, claro, que talvez em conluio com a Veja, até García Márquez esteja conspirando contra Lula e seus companheiros.
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POR José Pires

Já pro camarim

E Gilberto Gil finalmente saiu do ministério da Cultura. Na despedida do cargo, o cantor fez tudo certinho. Foi um show, teve até oferecimento de jingle novo para o governo petista. Mas também não é para menos. Foi a demissão mais ensaiada do governo Lula. Tinha que sair afinadíssimo.

E felizmente a platéia não pediu bis depois de sua saída. Pelas barbas do Tinhorão, não! Era capaz do Gil voltar.
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POR José Pires

Colheita diversificada

O jingle que Gilberto Gil disse que pode simbolizar o governo Lula é sua música “Refazenda”. “O governo do presidente Lula significa uma refazenda extraordinária do país. Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão”, disse o cantor, completando sua análise afirmando que o governo Lula “teve esta capacidade de fazer o país compreender o processo da transmutação permanente que se deve fazer da vida”.

Não deixa de ser verdade para um governo que começou prometendo, entre outras coisas, uma lisura ética se precedentes históricos, e acabou enredado em mensalões, aloprados, dólar na cueca, dossiês, nepotismo, assistencialismo, instrumentalização do Estado e outras maracutaias, menores ou maiores.

Uns chamam isso de picaretagem política, como é o caso deste que escreve. Gil pode muito bem dar outro nome, como “processo da transmutação permanente”.

Agora, é bem verdade que, neste governo, quando se espera tomate vem mamão. Ou vice-versa.
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POR José Pires

Quanta coisa

Gilberto Gil, que o finado e insubstituível Joel Silveira chamava de “compositor quântico” em razão do hábito do cantor em envolver com palavreado a superficialidade de seus conhecimentos sobre assuntos complexos, vai agora se dedicar à música. Dedicação que, suponho, se estenderá à física quântica, um dos ramos de seu vasto conhecimento.
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POR José Pires

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Sobre tomates e ações

Parece até reportagem de gaveta. Periodicamente jornais de televisão vem com a conversa de que "o momento é de cautela para investir em ações". O fracasso de Doha trouxe de volta essa conversa.

Como somos leigos em economia, acredito que podemos perguntar: tem algum momento em que não é preciso "cautela" para investir em ações? A dúvida é porque, apesar de não ser especialista em economia, sei por exemplo fazer feira. E a experiência mostra que até para comprar tomates é preciso algum cuidado, senão acabamos levando tomate estragado para casa.

Se tem um determinado momento em que é preciso "cautela para investir em ações", isso só pode significar que no geral o investidor vai simplesmente enchendo a bolsa, sem nenhum temor de levar tomate estragado.

Bem, se for assim, as coisas ficam bem mais fáceis. Dá até para mandar a empregada fazer a feira e depois passar na Bolsa para comprar uma ações.
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POR José Pires

Na liderança

A política externa do governo Lula mudou bastante de categoria depois do fracasso da Rodada Doha: Lula, que pretendia ser o líder dos emergentes, agora está à frente dos submergentes.
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POR José Pires

Por debaixo dos panos

Tucanos e petistas estão ligadinhos nas eleições municipais deste ano. PT e PSDB estão juntos em 1.130 municípios, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

O PSDB é cabeça-de-chapa em 164 cidades e o PT em outras 132. Nas demais, os dois partidos estão juntos nas coligações apoiando candidato de outro partido. De cada cinco cidades brasileiras, em uma petistas e tucanos estão juntos.

Tem gente que diz, com razão, que a política brasileira se emperra, entre outras coisas, pelo fato de PT e PSDB serem primos. Daí o fato de nenhuma contradição entre os dois progredir até o ponto da ruptura.

Bem, esse números provam que se não são primos, são amantes. E dos mais clandestinos e sem-vergonhas.
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POR José Pires

Extensa autoridade

Agenda do presidente Lula. Hoje tem reunião com Clara Ant. Quem é Clara Ant? Clara Ant é “chefe de gabinete-adjunto de Informações em apoio à decisão do Gabinete Pessoal do Presidente da República”. Não é o cargo mais alto da República, mas certamente é o mais longo.
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POR José Pires

Curitiba unida

Curitiba está vivendo uma fenômeno bastante raro em época eleitoral: encontraram a unanimidade. Pelo menos entre os homens. Depois que uma pesquisa da Pfizer realizada pelo Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, mostrou que medate dos curitibanos tem dificuldade de manter a ereção durante as relações sexuais, na capital parananaense não há mais nenhuma divisão.

Agora, cem por cento dos homens garante que faz parte da outra metade. A que mantém a ereção, claro.
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POR José Pires

terça-feira, 29 de julho de 2008

Vai sobrar mamona

O programa do biodiesel do governo Lula está perdendo combustível. A mamona acaba de cair fora. O governo descartou a possibilidade de produzir biodiesel usando apenas o óleo de mamona, porque o excesso de viscosidade impede o uso diretamente nos motores, pois poderia danificá-los.

A mamona foi destaque na propaganda governamental do programa e deixou Lula tão entusiasmado que ele apresentava com orgulho o produto para as visitas que recebia no Palácio do Planalto. A Folha de S. Paulo lembrou uma fala do presidente em cerimônia realizada em Maceió em novembro de 2004.

Na ocasião Lula disse o seguinte: "É com a mesma motivação que estamos lançando o Programa do Biodiesel, que vai utilizar a mamona e a palma para produção de combustível, criando mais uma alternativa para pequenos agricultores do semi-árido nordestino". Lula fazia o de sempre: primeiro a propaganda e depois o estudo e planejamento. Agora, se dependerem do plantio mamona para combustível os agricultores passarão fome.

Porém, apesar de péssima para Lula, a notícia pode ser boa para outros. E não é gente da oposição. Quando andava animadíssimo com o uso do produto, Lula recebeu no Planalto o governador do Paraná, Roberto Requião, e mostrou um vidro com sementes.

De supetão, Requião apanhou uma mãozada de mamona e começou a comer as sementes, sabidamente tóxicas, menos para o sabichão, claro. A cena foi filmada pela televisão e vale a penar ver de novo: para isso, clique aqui. O governador é um sortudo. Agora, com a conclusão de que as sementes não servem para produzir combustível de qualidade, Requião poderá comer mamona à vontade.
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POR José Pires

Ruim de urna

O instituto GPP 800 fez uma pesquisa no Rio de Janeiro em que perguntou ao eleitor se haverá eleição este ano e qual é a disputa. 43% dos entrevistados erraram na resposta.

É como eu digo sempre: os candidatos são muito ruins, mas o eleitorado também não é grande coisa.
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POR José Pires

Está limpo

Corre pela internet a notícia de que o ator Ary Fontoura, o Silveirinha da novela "A Favorita", da Globo, acabou contando que Marcelo, marido de Donatella, foi assassinado por Gonçalo, seu suposto pai. E Marcelo seria filho de Copola com a mulher de Gonçalo.

Por enquanto Daniel Dantas está fora dessa. Mas nunca se sabe o que pode vazar de algum grampo novo.
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POR José Pires

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Delegado Protógenes com blog na internet?

Estou esperando o desmentido, mas tem um blog na internet do delegado Protógenes Queiroz (clique aqui e confira). É bom desconfiar, pois qualquer um pode ter criado o tal blog. Mas se ele for de fato do delegado da PF, aí já é concorrência desleal. Não vai sobrar vazamento inédito pra mais ninguém.
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POR José Pires

Tá tudo dominado

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral anda com a idéia de criar uma força-tarefa para garantir a segurança das eleições no Rio de Janeiro. A força-tarefa teria a participação da Polícia Federal e até do Exército.

E por que não o apoio da forças da ONU como já sugeri aqui?
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POR José Pires

Ziquizira

Apesar de todo o esforço que o DEM e kassabistas tucanos fizeram para minar sua candidatura, Geraldo Alckmin consegiu emplacar como candidato tucano à prefeitura de São Paulo e até que vai bem nas pesquisas.

Mas pelo jeito andaram fazendo um trabalho mais forte na última semana: na madrugada de domingo Alckmin foi internado no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, com quadro de intoxicação alimentar.
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POR José Pires

Lá vem o DEM, o SBT da política

Eu já sabia que tucano é um bicho estranho, sendo um animal político dos mais estrambóticos. Parece ser uma ave, mas tem um comportamento asnático às vezes. O bicho vive acompanhado pelos Democrata, ou DEM, aqueles que foram PFL e mudaram de nome por vergonha do passado.

O DEM, alguém já disse, é o SBT dos partidos políticos. E no caso, o que soa como uma piada é na verdade uma inteligente constatação sociológica. Vejam bem se o partido não parece a grade de programação da televisão do Silvio Santos, uma corrida maluca pela audiência que acaba fazendo da telinha um espaço da incoerência. No SBT tem o programa do Ratinho e outras porcarias, mas na madrugada, o insone zapeador pode dar de cara com um filme de Ingmar Bergman.

É algo como o DEM onde tem o filho do prefeito Cesar Maia, o Rodrigo, presidente do partido com jeito de mauricinho e buscando a modernidade com um logotipo novo, mas você pode topar também − e pior, na madrugada − com o deputado Natalino, do Rio, criando sua franchising (dele! dele!) de milícia paramilitar.

É fogo, Lombardi! Mas você já deve estar se perguntando o que o DEM fez agora. Pois foi em São Paulo, onde governa o mais moderninho do partido, o prefeito Kassab, candidato à reeleição.

Kassab enviou e-mails para subprefeitos de sua administração pedindo uma “ação” de modo a tentar influir na última pesquisa do Datafolha, onde derrapa no terceiro lugar. Kassab, claro, já explicou que fazia isso pelo bem da democracia. Disse que sua intenção era evitar que adversários, especificamente os petistas, influenciassem o levantamento.

Está certo. Como é um moderno Democrata, colocou a máquina pública para zelar pela lisura da estatística eleitoral. Sem usar a máquina pública, claro, como ele próprio já avisou.

Este é o DEM, o SBT dos partidos políticos. Se você vir um dia desses algum deles gritando por aí “quem quer dinheiro?, quem quer dinheiro?”, não vá chamar a polícia ou o fiscal eleitoral. Ou é programa novo ou então algum ato pela democracia.
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POR José Pires

Os bate-cabeças se encontram

Ôpa, parece que em Brasília andam lendo meu blog. Agenda do presidente Lula: logo mais, às dez da manhã, tem Reunião de Descoordenação. Espero que o ministro da Justiça, Tarso Genro, dê uma passadinha para avisar aos companheiros para falar ao telefone sempre como se estivesse sendo grampeado. O país é de todos, claro, e sempre com alguém escutando.
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POR José Pires

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Telefones do governo Lula viraram "rádio comunitária"

Pelo jeito o governo Lula resolveu declarar a política do “relaxa e goza” em relação aos problemas que o brasileiro enfrenta. No caso do sigilo telefônico e o direito à privacidade, eles já desistiram.

Depois do ministro da Justiça, Tarso Genro, dizer que quanto aos grampos ilegais “não tem jeito”, agora é a vez do ministro das Relações Institucionais, José Múcio, jogar a toalha. Vejam o que ele falou agora há pouco: “Hoje não adianta fazer varreduras nos telefones. Estou convencido que o meu telefone é uma rádio comunitária, de maneira que nem faço mais varredura”.
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POR José Pires

Os números do grampo

Não apenas o governo, mas o Brasil todo virou uma “rádio comunitária”. Segundo reportagem do jornal O Globo, no ano passado foram interceptados 409 mil telefones por ordem judicial, segundo as empresas de telecomunicações. Isso dá uma média de 33 mil novos telefones a cada mês, com um aumento de cinco vezes em relação às estimativas para 2004.
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POR José Pires

Debate que vai dar o que falar

Rápido, que ainda dá tempo: agenda do presidente Lula. Só vi agora, pois estava aqui ocupado com outros afazeres. Ele está em Portugal e logo mais, às 15h25, está programada sua participação em um “debate temático sobre Língua Portuguesa”.

Como é que sua assessoria faz um negócio desses? Isso chega perto de ser uma gafe diplomática. Só fico mais tranqüilo porque sabemos que o presidente da República não viaja sem o intérprete para línguas estrangeiras. Acho que ele também pode dar uma mão ao Lula no debate sobre a língua falada em Portugal.
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POR José Pires

Agora vai

É como eu digo, no Brasil não há porque temer o futuro. Temos uma grande garantia: tudo está muito bem estruturado para dar errado.

Com a palavra, o ministro da Justiça, Tarso Genro, que era um daqueles políticos que estavam sempre com artigos saindo nos jornais. Sabe como é, os espaços das publicações precisam ser preenchidos, então é uma correria louca por artigos dessa ou daquela, digamos assim, personalidade. Os políticos, sempre ávidos por aparecer, são fonte certa para ocupar os brancos das páginas.
E Tarso Genro era um dos que não negava fogo, estava sempre com seus artiguinhos nos jornais. O homem é bom para comentar. E parece que continua. Seria bom alguém avisá-lo − talvez na Reunião de Descoordenação − que agora ele é o responsável por soluções e não pela análise do problema.

Mas vejam o que o ministro da justiça falou ontem sobre a invasão da vida privada do cidadão brasileiro: "Não tem jeito. Todo mundo, ao falar ao telefone, tem que tomar cuidado porque pode estar sendo monitorado ou por grampo legal ou ilegal".

Monistro da Justiça é para isso. A fala de Tarso Genro dá uma tranqüilidade ao país: não há motivo para preocupações quanto aos grampos. Eles vão continuar.
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POR José Pires

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Chanceler roda a baiana na Rodada Doha

O chanceler Celso Amorim respondeu rápido ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que disse no Brasil que a Rodada Doha “não servirá para nada”.

Amorim disse que Stephanes deve achar que ele está “se divertindo” nas negociações em Genebra.

É o que eu digo. Assim que Celso Amorim voltar da “diversão”, Lula tem que convocar com urgência uma Reunião de descoordenação.
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POR José Pires

Representatividade discutível

Sobre o post "Prova eleitoral", onde falo sobre os doze candidatos a vereador e um a vice-prefeito que foram reprovados em um exame simplíssimo de língua portuguesa e tiveram as candidaturas indeferidas pelo juiz do TRE que aplicou a prova, Newton Moratto postou um comentário que merece ser destacado. Veja abaixo.

A questão colocada acaba por refletir necessariamente na segunda etapa da eleição, e permite formular o seguinte axioma: se não há qualidade (esta e outras) no candidato, por certo não haverá qualidade no mandato a ser exercido, se eleito for.

Aliás, convém trazer à tona a informação fornecida pelo TSE a respeito do nível educacional dos eleitores, outro ponto que merece consideração e destaque, e está umbilicalmente ligado ao nível dos candidatos, sobretudo porque estes brotam do meio dos eleitores.

A seguinte informação foi divulgada pelo TSE:
"As estatísticas do eleitorado brasileiro em 2008, divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), indicam que, dos mais de 128 milhões de cidadãos aptos a votar nas eleições municipais deste ano, 56% (72 milhões 270 mil 315) têm primeiro grau incompleto.
Do universo de votantes, mais de 8 milhões foram identificados como analfabetos. Alagoas é o estado com maior percentual de eleitores analfabetos (22,5%) e Santa Catarina, o menor (2 %).
Em números absolutos, a Bahia tem a maior quantidade de eleitores analfabetos. São 894 mil 349 eleitores, seguida do estado de São Paulo, que tem 864 mil 885 eleitores que não sabem ler, nem escrever."

Então fica assim: os candidatos são analfabetos, os eleitores também. Qual a conclusão? Se aos representantes, eleitos pelo voto, cabe principalmente participar na elaboração do processo legislativo, teremos, após os debates no parlamento, leis promulgadas por quem? Por analfabetos.

Algo contra os analfabetos? Absolutamente não. Isto é só uma constatação. Os analfabetos ou quase analfabetos devem ser expurgados do processo político? Não, mais uma vez. Só os alfabetizados – e bem alfabetizados – é que devem integrar o quadro representativo da população? Também não.
Mas que há uma grande distorção neste processo que merece reparo, não há duvida.

Pode se dizer que isto é democracia representativa. Será que é mesmo? O nível e a qualidade dos candidatos são os reflexos da própria sociedade? Isto parece certo. Contudo, isto é representação? A representação popular está distorcida todos sabem, mas se não houver urgentemente uma modificação deste cenário, as esperanças de sua melhoria serão nulas.

O voto distrital, misto ou puro, o voto facultativo, e outras formas de representatividade deveriam estar na pauta do Congresso Nacional. Porém, não estão. A razão me parece simples. É por conta de outro analfabetismo pior: o analfabetismo político.
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ENVIADO POR
Newton Moratto

Juntando os bate-cabeças

De vez em quando o presidente Lula tem uma reunião em sua agenda pública, ou “Agenda do Senhor Presidente”, como é chamada pomposamente por sua Secretaria de Imprensa, que chamam de “Reunião - Coordenação”. Já disse aqui que, pelo que o governo mostra à opinião pública, a tal reunião devia ser chamada de “Reunião de descoordenação”.

E mantenho a afirmação. Vejam essa, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, declarou ao jornal O Estado de S. Paulo “que não acredita na Rodada Doha”. Stephanes é aquele ministro que meteu a pecuária nativa na enrascada com países importadores de carne do Brasil. Como sempre, houve tentativa de colocar a esperteza onde o exigido era a seriedade, artimanha que ofendeu países estrangeiros e fez mal à imagem do Brasil. Assim, foi criado mais um problema que levará um tempo para consertar. E do prejuízo com exportações todo mundo sabe.

E agora Stephanes vem desqualificar uma negociação do maior do governo brasileiro e que começou anteontem. Claro que sua fala já chegou aos ouvidos dos representantes dos outros países. O Brasil está lá buscando por meio da diplomacia criar uma situação melhor para a nossa agricultura e a maior autoridade governamental na área desmerece o encontro.

O ministro da Agricultura com sua inoportuna declaração invade a área do colega Celso Amorim, o Chanceler da República que já começou arranjando complicação com a inoportuna declaração em que citou Joseph Goebbels, o ministro da propaganda do Nazismo.

Stephanes diz que a Rodada “não servirá para nada”. Amorim pensa o contrário, é evidente, e até conseguiu fazer Lula se entusiasmar com o assunto. Mas enquanto ele se esforça em Genebra, aqui em casa o ministro da Agricultura diz que a coisa vai “dar em nada”.

É fácil saber de que lado Stephanes está. Ele próprio disse ao jornal O Estado de S. Paulo: "A liberalização de mercados agrícolas e a redução dos subsídios vão acontecer, inevitavelmente. Não em função de rodadas da OMC, mas por razões de mercado”. Bem, Lula colocou na Agricultura um liberal ortodoxo. E faz tempo que essa gente não acredita em ordenamento da economia, muito menos a global. O ministro está cumprindo seu papel: ataca a diplomacia porque não acredita nisso. Acredita no mercado. O problema é que o mercado está nas mãos dos países mais ricos, mas nem uma realidade tão clara o ministro deve aceitar.

Mas pelo menos Lula pode dizer que sobre isso nada sabia. Stephanes não contou para ele. Para o jornal, Stephanes deixou claro que não expôs seu ponto de vista para Lula. Lula é o presidente da República e está animado com os possíveis resultados em Doha.

É óbvio onde está a contradição. Um lado, o de Amorim, busca ordenar uma conjuntura que coloca em risco muito mais do que a economia − pode atingir os países pobres causando até a escassez de alimentos. O outro lado, o de Stephanes, acredita que o mercado se incumbe naturalmente de por ordem na situação. Já ouvimos esse papo e sabemos onde vai dar, não?

Mas o fato é que assim fica difícil de trabalhar. O governo petista precisa fazer com urgência uma Reunião de Descoordenação.
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POR José Pires

Prova eleitoral

Na cidade mineira de Poço Fundo doze candidatos a vereador e um vice-prefeito tiveram as candidaturas indeferidas depois de serem reprovados em uma exame de língua portuguesa bastante simples. O juiz Valter José Vieira passou uma prova simples, dois ditados, cada um com apenas uma frase.

O primeiro ditado foi "O ministro Gilmar Mendes soltou pela segunda vez Daniel Dantas", e o segundo, "A realização de qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral".

Os 13 não conseguiram escrever nenhuma das frases. Com a comprovação do analfabetismo, não podem se candidatar. Ah, se uma prova como essas fosse obrigatória até mesmo para cargos mais altos o Brasil evitaria muitos problemas.
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POR José Pires

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A campanha no Rio pressionada pelo tráfico

O Rio de Janeiro é um local a ser observado com toda a atenção, pois ali vive-se uma trágica realidade cuja tendência é a de se espalhar pelo Brasil. Um desses problemas é a interrelação entre o crime organizado e a política, com políticos e criminosos criando alianças para dominar politicamente as comunidades e a própria cidade.

Na tarde de ontem a candidata a vereadora Ingrid Gerolimich (PT), uma jovem de coragem, acabou criando um fato que colocou em foco esse drama. Para fazer campanha na favela da Rocinha, Geromilich pediu auxílio da Secretaria de Segurança Pública. Teve como segurança, do lado de fora da favela, cerca de quatro policiais e um carro. A candidata foi distribuir seus panfletos acompanhada também por fiscais do Tribunal Regional Eleitoral.

O principal candidato a vereador do lugar é Luiz Cláudio de Oliveira (PSDC), conhecido como Claudinho da Academia. Ele é o presidente da associação de moradores do local.

O jornal carioca O Dia já havia noticiado que a candidatura de Claudinho é investigada pela Polícia Federal, por três delegacias especializadas e pelo TRE. Segundo o jornal, ele teria por trás da candidatura o apoio do traficante conhecido por Nem, apontado como chefe de tráfico local. Teria ficado determinado pelo tráfico que outros candidatos a vereador não podem fazer propaganda eleitoral por ali. Além disso, os moradores estariam obrigados a apoiar Claudinho.

O candidato obviamente nega ter relações com o tráfico, mas os fiscais do TRE viram fortes sinais de que algo está muito errado na Rocinha. Não há uma propaganda eleitoral sequer na favela, um eleitorado bastante cobiçado pelos políticos. Ouvido pelo jornal, o chefe de fiscalização do TRE, Luiz Fernando Santa Brígida, disse que em seis eleições nunca viu isso.

Ingrid Gerolimich ficou pouco na favela, mas sua atitude serviu para revelar a situação extremamente preocupante, não só para o Rio, mas para todo o país, o que era de fato sua intenção. “O objetivo não é só fazer campanha, mas denunciar o que está acontecendo na Rocinha”, ela disse aos jornalistas que acompanharam sua entrada na Rocinha.

O TRE do Rio já havia recebido várias denúncias de candidatos que foram impedidos de entrar em lugares dominados por traficantes e milícias que, evidentemente, tem seus próprios candidatos. Até para candidatos a prefeito a campanha não têm sido fácil. O deputado federal Fernando Gabeira, que concorre à prefeitura, disse que até o momento não teve nenhuma dificuldade para entrar em alguma comunidade, mas afirma que o Rio vive uma campanha perigosa. “Essa história atrapalha a campanha de todos, menos daqueles que eles (traficantes e milicianos) acham que devem entrar”, ele disse.
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POR José Pires

O MST também está na parada

Outra informação de O Dia que merece ser destacada é que Claudinho da Academia e lideranças da Rocinha estão sendo orientados pelo MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Esta é mais uma novidade do MST e parece ser uma notícia exclusiva de O Dia. Não vi o assunto em nenhum outro jornal ou site.

José Rainha, líder nacional do MST, até já esteve fazendo palestras na Rocinha. “Ele vem aqui sempre que pode e faz palestra para cerca de 70 pessoas na associação de moradores”, contou Claudinho ao jornal. Convidado por Rainha, o candidato também esteve no ano passado em visita ao Pontal do Paranapanema, em São Paulo.

Niura Maria Antunes é a militante do MST que, segundo suas próprias palavras, presta “assessoria em formação política” às lideranças comunitárias da Rocinha com suspeita de vínculo com o tráfico. “O objetivo é a conscientização”, diz ela.
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POR José Pires

Maluf faz, Marta também

É interessante ver Marta Suplicy e Paulo Maluf na mesma situação. Não pelo fato de os dois estarem respondendo a processos, nada disso. A ex-prefeita petista evidentemente não se compara à Maluf neste quesito. Aliás, em padrão moral nenhum outro político se compara a ele, que nisso tem a primazia, até pelo peso histórico de sua carreira na ética política deste país.

Mas o interessante é ver os dois indignados com a divulgação de seus processos na página da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) na internet.

Marta até estampa uma nota de repúdio em seu site de campanha. A justificativa é a de sempre: a de que os processos ainda não foram julgados sendo, portanto, nulos de resultado. A nota traz também pelo menos uma clara inverdade, quando diz que a lista da AMB “faz referência a uma ação movida por oposicionistas contra a então prefeita”. A lista traz duas ações por crime da lei de licitação, sendo uma delas do Ministério Público Federal. E, ao que consta, o Ministério Público Federal não faz parte da oposição à ex-prefeita.

Mas o que realmente importa é a defesa da transparência, algo tão caro aos petistas nos tempos da oposição e que hoje, quando ocupam no poder em várias instâncias, torna-se um incômodo.

Acontece que os processos são públicos e por isso não deve existir razão alguma para que eles não sejam divulgados para o eleitor, que tem o direito à informação. Daí ele poderá analisar a procedência ou não das acusações e até cobrar explicações ao candidato. A eleição acontece daqui a menos de três meses. E com o ritmo da nossa Justiça, todos sabem o que acontecerá se formos esperar o resultado final na Justiça para que haja a divulgação de processos.

Mas a página da AMB continua lá. Marta Suplicy talvez até entre com ação para tentar tirá-la do ar, mas isso ainda não aconteceu. Aliás, a petista podia aproveitar o interesse comum entre ela e o ex-adversário e entrar com uma ação conjunta com Maluf. Seria um belo desfecho histórico para uma decadência moral que tem ajuntado petista e malufistas no mesmo saco.
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POR José Pires

Transparência Brasil também monitora políticos

A Transparência Brasil também está com uma página na internet que disponibiliza informações sobre processos nas segundas instâncias das Justiças estaduais e nos Tribunais de Contas. O serviço, chamado de “Projeto Excelências”, que monitora o comportamento dos parlamentares brasileiros, informa também sobre a assiduidades em sessões plenárias e comissões e faz uma boa classificação dos políticos brasileiros por bancadas, relacionados nos quesitos evangélicos, ruralistas, concessionários de rádio e TV, proprietários de escolas, sindicalista e policiais.

Ainda falta cobrir vários estados brasileiros, mas o serviço é bem completo no plano federal. No caso dos estados, o trabalho é prejudicado pela total falta de transparência de vários legislativos estaduais. Segundo o site, a Assembléia Legislativa paranaense, por exemplo, não publica na internet nenhuma informação sobre a atividade parlamentar de seus integrantes. Não informa se comparecem ao trabalho no Plenário e nas Comissões, como gastam os recursos de que dispõem, para onde e por que viajam.

A ong não disponibiliza litígios de natureza privada (como disputas por pensão alimentícia, por exemplo) nem queixas relativas a crimes contra honra, o que dá uma grande credibilidade política às informações.

Alguns dados da Transparência Brasil chegam a impressionar. No Senado Federal, por exemplo, 28% dos parlamentares detêm concessão de rádio ou TV. Ou os dois, claro. Já os ruralistas têm 16% da Câmara dos Deputados e 19% do Senado Federal. E os sindicalistas, com um peso enorme no governo Lula, até que não possuem tantos representantes na Câmara dos Deputados e no Senado. No primeiro caso, eles somam 7%, e no segundo, 5%.

Para acessar o página do “Projeto Excelências”, da Transparência Brasil, clique aqui.
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POR José Pires

Justa homenagem

Em Carazinho, no Rio Grande do Sul, a Câmara de Vereadores local aprovou uma homenagem a um prostíbulo. Bem, até aí tudo bem, sendo coerência um valor raro em políticos, uma homenagem da Casa legislativa a uma, digamos assim, Casa “recreativa” da cidade deveria causar espanto é pela expressão de caráter tão incomum na classe. A dos políticos, digo. Mas não, tem gente que não gostou.

E a homenagem envolve uma Casa com certa tradição na cidade, a de prostituição, claro. Como o prostíbulo já tem nove anos, algum significado cultural, e até moral, por quê não?, ele deve ter na cidade. Além disso sabemos que os nove anos da casa certamente contam com um lastro histórico no qual não conta apenas esse ou aquele estabelecimento. Não, o que vale é o todo da atividade, o peso peso cultural qua a Casa apenas simboliza. E a Casa estou falando do prostíbulo parece até bacana, em estilo mais à antiga. Fica fora da cidade, a cerca de cinco quilômetros do centro, e é toda pintada de vermelho.

E a homenagem pelo jeito foi destinada a uma velha representante da classe (atenção, é a dona do prostíbulo), Maria Gorete Souza, da Danceteria Garotas da Gogo. “Gogo” deve ser ela, claro, apelido carinhoso que alguns cidadãos de Carazinho devem murmurar até com um certo carinho.

Eu disse “recreativa”? Ponha recreativa nisso. Pois leiam um trecho do texto aprovado na sessão de 15 de julho que chegou a nós: “Externamos nossas congratulações a esta empresa e toda sua equipe de funcionárias que proporcionam momentos de descontração aos clientes”. Então por aí vocês vêem que lá em Carazinho chamam isso de “descontração”, o que não deixa de ser uma boa desculpa para chegar em casa de madrugada: “O que é isso, mulher? Eu estava apenas me descontraindo com os amigos”.

O vereador autor da proposta é um tucano, um tucano saidinho, o que é raro. E o estranho, como eu dizia, é a polêmica que que a homenagem causa em Carazinho que, pelo que se lê no diário gaúcho Zero Hora, parece ter uma comunidade que zela pela moral. Há cerca de um mês um vereador chegou a discursar contra a abertura de supermercados no domingo porque “provocaria a desestruturação da família”.

E aí até concordo. Muito mercado desestrutura de fato a economia da família, o que hoje em dia não é pouca coisa. Mas é de estranhar que haja gente descontente com a homenagem ao negócio de Maria Gorete Souza, a Gogo, e suas meninas. Sabemos que não é possível contentar a todos em assunto algum, mas os cidadãos de Carazinho deviam aplaudir seus representantes. Não é sempre que essa gente se aplica nessas questões de coerência.
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POR José Pires

terça-feira, 22 de julho de 2008

Cenas da vida real


É o Iraque? Não, a cena é do Rio de Janeiro em foto tirada na última sexta-feira e divulgada pelo prefeito da cidade, César Maia, em seu Ex-Blog, o informativo que ele escreve diariamente e manda pelo correio eletrônico.

As trincheiras feitas com sacos de areia foram colocadas na parte frontal do Complexo do Alemão, bairro da zona norte bem barra-pesada, e estão ali para proteger os soldados da Força Nacional em serviço no Rio.
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POR José Pires

Pintou sujeira

A Associação dos Magistrados Brasileiro está divulgando em seu site os nomes dos candidatos a prefeito e a vice-prefeito das 26 capitais do país que respondem na Justiça a processos de origem criminal ou eleitoral. A seção será atualizada periodicamente.

O candidato Paulo Maluf (PP), de São paulo, é o campeão com o recorde de sete processos judiciais, mas tem candidato sujo de todos os partidos. Para não decepcionar, Maluf faz o serviço completo com a chapa toda suja: sua vice, Aline Corrêa (PP), também responde a processo por crimes contra a paz pública e contra o sistema financeiro nacional.

Já do PT a mais famosa é Marta Suplicy, que também concorre a prefeitura de São Paulo. Ela responde a dois processos por crime da lei de licitação.

Clique aqui e confira se a sua cidade também não tem candidato sujo.
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POR José Pires

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Aloprações internacionais

O chanceler Celso Amorim já pediu desculpas por ter citado um nazista, aliás, talvez o líder mais importante depois de Adolf Hitler. Ele citou Joseph Goebbels. Em entrevista coletiva no sábado na sede da OMC (Organização Mundial do Comércio), local de reuniões preparatórias para o encontro que começa hoje, Amorim disse o seguinte: "O autor não é bom, mas é verdade: uma mentira dita muitas vezes vira verdade". O endereço do insulto eram os países ricos acusados por ele de usar a desinformação para se livrarem de compromissos nas negociações comerciais da Rodada Doha.

Bem, com uma frase dessas, o alvo só pode sentir-se de fato como acusado de posicionar-se como um nazista. Tem outra leitura? Goebbels foi o chefe de propaganda do regime nazista da Alemanha. E obviamente ninguém gosta de ser comparado com tal figura. E o interessante é que no Brasil os petistas fazem isso o tempo todo: as palavras "nazista", "fascista", ou outra forte definição histórica, servem para desqualificar o adversário em qualquer polêmica, sempre citadas fora de contexto e evidentemente desalinhadas com a história do insultado. O problema é que a tática aqui deu certo: eles estão no poder. E isso é de deixar o bico torto.

Mas lá fora não tem disso não. Primeiro que, ao contrário do que eles pensam acontecer aqui, no exterior a História não começou com o PT. E depois, também por lá as palavras têm valor.

Não é o que o pensa, ou pensava, o nosso chanceler. Parece que o homem está contaminado pelo chefe, o presidente Lula, que fala o que lhe dá na telha, acusando, ameaçando e fazendo piadas tolas, sem atinar para as conseqüências sociais do discurso de um chefe de Governo. O mal que sai da boca de Lula não faz bem para os brasileiros. O resultado já está no ar. A população brasileira está sendo contaminada pelo boquirroto: hoje em dia a palavra vale pouco entre os brasileiros. Mas o discurso lulista estará contaminando também a nossa diplomacia?. Torço para que não, pois de aloprados, bastam os internos.

Mas algum mal a política interna deve estar fazendo para o ministro das Relações Exteriores. Sem oposição e com a falta de uma Justiça séria para encarcerar delinqüentes políticos, o uísque do Planalto está descendo fácil e criando uma confusão entre as atitudes internas e as relações externas. Há muito tempo Lula vem agindo de modo deletério em questões internacionais com suas falas infelizes, mas neste caso o efeito talvez seja de longo prazo, já que em assuntos internacionais raramente o presidente da República − pelo menos esse aí − participa diretamente de algo decisivo. Essas coisas são para diplomatas, como Amorim.

E o que ele acha de sua frase infeliz? Vamos ver. “Quem cobriu política no Brasil sabe que isso é dito milhões de vezes sem ofensa a ninguém”, ele disse. Ah, quisera que pudéssemos rir de uma besteira dessas. Mas não dá, pois as conseqüências são péssimas para o Brasil. Os Estados Unidos, por exemplo, já estão usando o deslize para desqualificar a posição do Brasil na Rodada de Doha. E hoje é o início de uma negociação crucial.

Alguém podia avisar Amorim que ele não está lidando com tucanos. Seu deslize foi sério e mostra uma incapacidade estranha para alguém com tanto chão de trabalho diplomático − ao menos em tempo de carreira, claro. É preciso avisá-lo também que em qualquer encontro internacional é praticamente impossível não encontrar alguém que teve a família atingida pelos nazistas.

Bem, ele já sabe. A principal negociadora de comércio dos EUA, Susan Schwab, é filha de sobreviventes do Holocausto. E é claro que a fala de Amorim ofendeu-a muito. Mas Amorim continua falando. Pediu desculpas, mas em vez de esquecer o assunto ainda tenta levar vantagem enveredando por uma discussão teórica em torno do sentido da frase infeliz. “Eu sinto muito", ele disse, "Comecei meus comentários desqualificando o autor. Talvez se eu tivesse dito o mesmo, sem mencionar o autor, o que seria uma espécie de plágio, não haveria reação”.

Ó, céus, existe pouca coisa mais patética que um ator envergonhando a platéia. Mas isso não deixa de ser um talento. Celso Amorim daria um bom ministro da Cultura. Ou presidente da República petista. São cargos nos quais o discurso não tem conseqüência alguma e, no caso da Cultura, a platéia até se encanta com essas discussões lingüísticas. Será que o Gilberto Gil não está pensando de novo em sair? Ou esqueçamos a "mãe do PAC", Amorim para presidente. Amorim é o cara.
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POR José Pires

Tema quente

Notícias da Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República: o tema do 7 de setembro será “valores brasileiros”. Só não explicam se os valores são aqueles flagrados na cueca, na mala ou em paraísos fiscais.
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POR José Pires

Rotina

E qual é a treta do PT para esta semana? Toda semana é uma. Ah, até sábado aparece alguma. Preparem as notas oficiais. Combinem os desmentidos. E sem precisar se preocupar com oposição.
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POR José Pires

Tem tucano na muda?

E a oposição? Cadê aquele pessoal que ia fazer o Lula sangrar? Toc, toc, toc. Tem alguém aí?

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POR José Pires


sexta-feira, 18 de julho de 2008

O sonho acabou, agora o negócio é grana

Os petistas sonharam com o socialismo, O sonho acabou. Então acordaram e resolveram fundar o capitalismo de Estado. É um modelo revolucionário, em que o Estado entra com o capital e a iniciativa privada para rapar os lucros.

Será só isso? É bem mais, claro, pois nesse novo modelo entra a elite do PT, líderes que dominam a máquina partidária e redirecionaram o projeto político do partido em função de interesses pessoais e de grupo. Entra também a família Silva, claro, pois o modelo é popular.

No caso do partido, isso resulta em uma terrível luta intestinal, as entranhas do PT se agitam em agressões bem mais fortes que antes, quando também existiam discordâncias, mas em torno de programas. A discussão não é mais com a Heloísa Helena ou qualquer outro doido que até rasga dinheiro.

Hoje tudo gira em torno do poder e da grana, os dois desempenhando um papel unitário. E pelo que se vê é muita grana. Imagine então o que não deixam a Polícia Federal nos mostrar.
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POR José Pires

Dantas em todas, até no PT

Qual é o ponto essencial do esquema de Daniel Dantas que atinge até o Palácio do Planalto? Foi o acerto na compra da Brasil Telecom pela Oi, negócio fechado com o governo Lula agindo como corretor, agente jurídico e financiador. A criação da megaempresa passava por um acordo com o grupo Opportunity, de Dantas. No final o banqueiro levou R$ 1 bilhão.

Quando foi anunciada a estranha fusão, o jornalista Rubens Glasberg, da revista e site Teletime, fez uma série de esclarecedoras perguntas, daquelas que dispensam respostas para o entendimento da questão. Numa delas ele estranhava a necessidade da criação da empresa passar pelo acordo com o Opportunity e perguntava: Por que não processar o Opportunity por tudo o que se pensa que ele fez de errado e, uma vez decidido na Justiça, avaliar o cenário? O texto de Glasberg é de abril. A resposta acabou vindo agora, em julho, com as algemas da PF.

Para fechar o negócio Lula parece disposto até a arriscar a própria imagem política. O governo petista agiu rápido e com dureza para mudar a legislação das telecomunicações que impedia a venda. Pressionou a Anatel, agência reguladora do setor, e arrancou o empecilho. O gabinete da Casa-Civil virou escritório de representação. Seu chefe-de-gabinete foi flagrado a fazer serviços para o advogado de Dantas, que, por sua vez, tem gente sua encaixada até no Diretório Nacional do PT. Outro ator que entra no enredo − com participações especiais também em outros casos − é o compadre de Lula, o Roberto Teixeira, a alma generosa que cedeu uma casa para o presidente da República morar de graça por quase dez anos. E advogado de altíssimo prestígio, pelo que se vê de seus polpudos honorários.
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POR José Pires

Modelo com participação ativa do contribuinte

O modelo petista de capitalismo de Estado é popular e muito familiar: nele os Silva lucram. Lulinha, o filho gênio dos games, passou de monitor de jardim zoológico (com salário de cerca de 600 reais) para magnata da informática. Numa só tacada recebeu em sua microempresa, a Gamecorp, um investimento de R$ 5 milhões. O dinheiro veio da Telemar, hoje chamada Oi, mas antes o garoto foi disputado pelo mercado. A Brasil Telecom, empresa na época controlada por Daniel Dantas, também queria por dinheiro na empresa de Lulinha. Ofereceu R$ 6,5 milhões mas a Gamecorp fechou com a Telemar/Oi.

Mas isso não é nada perto dos R$ 4,3 bilhões tomados pela Oi junto ao Banco do Brasil. O empréstimo foi anunciado anteontem e torna a empresa de telefonia o maior tomador de crédito da instituição. O crédito ultrapassa até o limite normal de exposição a um único grupo econômico previsto na política de crédito do banco.

Bem, nem dá vontade de fazer uma certa pergunta, pois se a coisa acontece ainda sobra para a gente a fama de pé-frio, mas vamos lá: e se o negócio der problema? Já explico, a coisa já começa complicada, com denúncias variadas, dinheiro público entrando de forma suspeita. Num caso assim, dá para confiar na capacidade administrativa dessa gente? Eu não confiaria. Por muito menos, o leite da Parmalat azedou.

Mas alguém ainda pode dizer: ô cara paranóico, uma empresa grande assim não pode falir de uma hora pra outra sem mais nem menos! É verdade, será uma empresa bem grande, um monopólio que dominará praticamente toda a telefonia e internet do sudeste e a maior parte do Brasil. Bem, mas a Enron também era bem grande. E ainda era norte-americana. E faliu. Então volto a perguntar: e ser der problema? Bem, então você, companheiro contribuinte, paga a conta e não falamos mais nisso. Capitalismo de Estado é assim.

Segundo a Folha de S. Paulo “os R$ 4,3 bilhões também extrapolam o limite de 10% do patrimônio de referência do banco fixado pela diretoria do BB para operações com um mesmo grupo empresarial” Se respeitasse o teto de 10%, revela o jornal, o banco só poderia emprestar R$ 3,6 bilhões à Oi.
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POR José Pires

The end não vem tão cedo

É extraordinário o interesse do governo Lula neste negócio, não acham? A esses R$ 4,3 bilhões do BB devemos juntar os R$ 2,6 bilhões emprestados pelo BNDES, em uma operação classificada por muitos como especial ou fora da rotina do banco estatal. De qualquer modo, é uma bufunfa danada, muito dinheiro público em um negócio privado e, além do mais, movido o tempo todo por ações governamentais que influíram decisivamente em várias etapas da compra. Para um país onde áreas essenciais sofrem com a falta de verba, é mais estranho ainda tanto empenho. E agora soubemos que muita coisa foi feita até nas sombras, como mostrou a Polícia Federal.

Tem outros ingredientes nesta história. O assunto é longo e é preciso puxar pela memória. Poderíamos lembrar, por exemplo, que um dos interessados no negócio, o empresário Andrade Gutierrez, acionista controlador da Oi, é também dono da empreiteira mineira Andrade Gutierrez, a maior financiadora do PT em 2006, ano da reeleição de Lula, com a doação de R$ 6,4 milhões para o partido. Muitos outros fatos, suspeitos uns, descarados outros, formam a carpintaria dessa peça política e empresarial, que não pára aqui, claro. Tem muito mais pela frente que "Lost".

Falta ainda a assinatura do presidente Lula para o negócio se efetuar e o petista, o Brasil sabe, é um homem cheio de histórias sem pé nem cabeça e nas quais ele deixa de ver muita coisa. A novidade petista da formação do capitalismo de Estado ainda vai render muito.
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POR José Pires

Oportunidade saindo pelo ladrão

Uma bem infame enviada pelo leitor Mauro: "Segundo o velho ditado, a Opportunity faz o ladrão". E não venham dizer que ninguém merece, pois essa ladroagem merece, sim.
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POR José Pires

Cana relax

Salvatore Cacciola chegou sem algemas, com apoio de juiz do Supremo Tribunal Federal e com regalias na prisão. No presídio almoçou o mesmo cardápio da diretoria.

Aqui não tem nada daquela cana-dura de Mônaco. O ex-banqueiro está até pensando em adiar o habeas corpus para descansar um pouco.
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POR José Pires

PF pífia

O juiz Fausto De Sanctis, que mandou o banqueiro Daniel Dantas duas vezes para a prisão, disse que que "não dá para ter Polícia Federal de faz-de-conta".

Ora, em país de faz-de-conta não só dá como é a Polícia Federal indicada.
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POR José Pires

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Retrô

Leio que publicitários de todo o país lançaram um manifesto em favor da liberdade de expressão. Foi no IV Congresso de Publicidade. O interessante é que o terceiro foi há 30, isso, trinta!, trinta anos atrás. Isso mesmo, você não leu errado: foi em 1978.

Vamos raciocinar para os publicitários: há trinta anos é que vivíamos numa ditadura. Estão pedindo liberdade de expressão com trinta anos de atraso.
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POR José Pires

Ligue djá!

E você, já ligou para o chefe-de-gabinete da presidência da República, Gilberto Carvalho, para ele resolver aquele probleminha seu? Ele disse que faria para qualquer um o que fez para o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh.
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POR José Pires

Do Planalto para o partido e vice-versa

O trânsito fácil do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, que é empregado de Daniel Dantas e membro do Diretório Nacional do PT, nos altos escalões do governo petista é uma séria complicação para Lula e sua gente. Mesmo que não dê nada na Justiça, fato comum, pois por aqui coisas como essa nunca dão em nada mesmo, o desgaste político é terrível, mesmo que seja mais um escândalo, entre muitos que sujam a imagem de Lula e seu partido.

Há uma parte no diálogo entre Greenhalgh e o chefe-de-gabinete Gilberto Carvalho, no célebre telefonema grampeado pela PF, que é muito revelador do papel do partido na ingerência nos negócios de Estado. Greenhalgh diz a Carvalho que estará no dia seguinte na reunião “do diretório”, que só pode ser o Diretório Nacional do PT, do qual o primeiro faz parte. Carvalho diz que também estará lá, o que soa estranho, pois além de não fazer parte do Diretório Nacional do partido, não seria aconselhável misturar sua condição de assessor direto do presidente da República com os interesses do partido. Como virou moda falar, mas que é o certo mesmo, isso não seria nada republicano.

Nesta caso cai por terra até o distanciamento que Lula pretende mostrar entre governo e partido, uma distância que ele busca destacar especialmente para jogar na responsablidade do partido todo escândalo político. O engodo, que já era claro, tem até uma comprovação como essa, do chefe-de-gabinete do presidente Lula participando em reuniões do Diretório Nacional. Ou Carvalho foi até lá apenas para tomar um cafezinho na ante-sala?

O que uma conversa dessas comprova é que a força política de Greenhalgh para usar a máquina do governo federal em favor de seu chefe, Daniel Dantas, tem como base essencial os laços partidários entre ele e o chefe-de-gabinete da presidência da República e outros integrantes do alto escalão do governo petista, inclusive com o próprio Lula. Portanto, na conversa grampeada pela PF é em um detalhe com peso político aparente menor que está a chave para entender a instrumentalização do Estado feita pelo PT.

Carvalho se defende dizendo que atendeu Greenhalgh como atenderia a qualquer outro, mas sabemos que sem o uso da máquina partidária nenhum dos dois, ele e Greenhalgh, sequer estariam nos cargos que ocupam e muito menos haveria a impressionante interação entre ambos em um negócio que só agora veio à público e à força de uma investigação policial. Este conúbio partidário pode ser, inclusive uma boa explicação para a naturalidade da conversação entre os dois, objetiva e desembaraçada, como se já houvesse um anterior entendimento sobre esta e outras questões ainda não conhecidas.

Daniel Dantas, no caso, é o maior beneficiado, claro. Tem a seu favor a influência de líderes partidários nos negócios de Estado e nem precisa participar das chatas reuniões do PT. Não deixa de ser mais uma grande vantagem.
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POR José Pires

Um governo que se faz de songamonga

Lula costuma se fazer de bobo em certas ocasiões, o que em política pode ser um artifício de muita utilidade. Porém, como tudo que é usado como uma artimanha, isso não pode se tornar um método, uma prática contínua como Lula tem feito, pois então de engenhoso o recurso passa a tolo, perdendo o efeito e até incorrendo no risco de ter um efeito contrário ao pretendido.

E se fazer de bobo no caso do afastamento do delegado responsável pela Operação Satiagraha, Protógenes Queiroz, e equipe, como Lula vem fazendo, não funciona ou pode ter o efeito contrário: o de a opinião pública acreditar que ele deve ter sido feito de bobo mesmo. Ele pensa que é esperto quando vem para a imprensa pedir que o delegado fique no caso ou explique que a decisão de sair foi exclusivamente sua, mas para a opinião pública não colou. O governo tem que ter alguma coisa com a saída do delegado de um caso tão especial, até pelo fato de que, se não for assim, tem algo errado com o governo. Ou com o presidente.

E o negócio é sério. Seu governo se encalacrou com um ato inédito nas investigações da Polícia Federal. O governo barra diretamente uma investigação sobre corrupção e desvio de dinheiro público, numa interferência nunca vista em outro governo e o ato é recebido pela opinião pública como favorável à corrupção. E isso Lula percebeu com rapidez, daí a retórica que pretendia esperta, a do songamonga que nada tem a ver com o caso, mas que soa como tola.

Então o delegado vai sair para fazer um curso, é? Conta outra. E enquanto isso, os detalhes da saída do delegado estão sendo contados, e muito bem contados, no Terra Magazine, que continua fazendo uma ótima cobertura da Operação Satiagraha e a crise política, das mais sérias pois envolve até o Judiciário, que veio com ela. Clique aqui para ler o interessante relato de Bob Fernandes sobre a divisão na Polícia Federal e os incidentes em torno da retirada do delegado do caso.
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POR José Pires

Pelo telefone

Ontem Lula soltou uma sobre a Operação Satiagraha na tentativa de embaralhar a situação política péssima para seu governo. Um jornalista perguntou o que ele acha da conversa entre Gilberto Carvalho e o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh e ele saiu com essa: “Se você ligar para mim quem vai atender vai ser o Gilberto Carvalho. Peça a Deus para seu telefone não estar sendo gravado, senão vai aparecer a sua conversa”.

Bem, quem tinha o telefone grampeado com a permissão da Justiça era o companheiro de Lula, o ex-deputado Greenhalgh. Então, usando o modo de falar do Lula, se você ligar para Greenhalgh, que é do Diretório Nacional do partido de Lula e agia como lobista de Daniel Dantas, aí sim, o risco é maior do que ligar para Carvalho. Ou não?

Mais uma coisa, sempre falando do jeitão do Lula, se você ligar para o Gilberto Carvalho tratando assuntos de Estado de modo ético e sem a necessidade do uso do tráfico de influência ou coisas piores, então pode deixar Deus de lado. Se o telefonema estiver sendo gravado não haverá problema algum. Para os dois lados da conversa.
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POR José Pires

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Deu chabu na festança petista


Vocês perceberam que o foguetório parou? E não estou falando do barulho das festas juninas, mas da comemoração que petistas e chapas-brancas começaram a fazer com as prisões feitas pela Polícia Federal na Operação Satiagraha.

A precipitada alegria despontou porque pensavam que a prisão de Daniel Dantas atingiria os tucanos. O raciocínio era mais que simpes, era simplista: com a prisão do banqueiro haveria uma reversão política aos escândalos da privatização das teles no governo de Fernando Henrique Cardoso. Caso isso ocorresse, era mesmo pra petista soltar foguete. Além de atingir os tucanos, um resultado desses ainda viria a calhar para encobrir a crise política eterna do governo Lula.

Mas a alegria durou pouco. Com abertura do inquérito policial a sigla que mais apareceu foi a do PT. O escândalo bateu até na ante-sala do presidente Lula, com seu amigo e chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, agindo para proteger interesses de Dantas. E o resultado frustrou até mesmo a esperança de blogueiros chapas-brancas de que as investigações e grampos da PF colhessem provas contra jornalistas e blogueiros da oposição.

Os petistas esperavam uma lista de pagamentos do banqueiro do Opportunity que desmoralizasse adversários e o que se viu é que onde Dantas criou grupos de apoio foi no próprio PT. E o banqueiro não pensou pequeno. Nada de comprar opinião dos menores; foi buscar empregados nas altas esferas do partido. Luiz Eduardo Greenhalgh, por exemplo, é do Diretório Nacional do PT. E fez um trabalho tão eficiente para Dantas nos altos escalões do governo Lula, que envolveu desde o chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, até a ministra-chefe do Gabinete Civil, Dilma Roussef.

Quanto ao que Greenhalgh fazia, o que se pergunta é o que ainda pode aparecer. Cada dia é uma. Hoje surgiu a transcrição de um grampo sobre um plano de montar “uma estratégia de aproximação” entre Dantas e o Palácio do Planalto. Para isso, ele pretendia usar a influência do ex-deputado petista Sigmaringa Seixas, amigo pessoal de Lula.

  • No alto, imagem da tradicional festa junina na Granja do Torto, onde naturalmente a quadrilha tem todo o destaque. À direita de Lula está seu amigo e braço-direito, o chefe-de-gabinete Gilberto Carvalho, flagrado em grampo da PF ajudando de modo diligente o advogado de Dantas.
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POR José Pires

E Amorim, o ex-ídolo dos petistas?

Deu chabu mesmo. A tendência é que o silêncio se espalhe entre os chapa-brancas. Será algo parecido com a indignação em torno da demissão de Paulo Henrique Amorim do provedor IG. Com a notícia da dispensa de Amorim, na época um ídolo incondicional dos petistas, houve um início de indignação em sites e blogs chapas-brancas. Foi cogitado até de ser feita uma campanha de boicote ao IG pela internet.

Mas a revolta foi abafada com rapidez e hoje Amorim já é tratado como inimigo. Acontece que a causa da demissão do blogueiro foi a compra da Brasil Telecom pela Oi, coincidentemente uma fusão do interesse do governo Lula e que tem que passar por cima da legislação e na qual Daniel Dantas é uma peça especial.

Amorim está feliz da vida, é claro. O negócio se complicou e ele foi um dos primeiros a gritar contra a supeita fusão da Brasil Telecom com a Oi, que ele chama de "BRoi". Ele continua na ativa, mandando artilharia de seu novo endereço na internet. Mas as hordas petistas não comparecem mais para aplaudi-lo nos comentários
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POR José Pires

Mais um maioral petista na lista

Ocorre que a compra da Brasil Telecom pela Oi é do interesse do próprio governo Lula, que para isso pressionou a Anatel, agência reguladora do setor, para que fosse mudada a legislação que rege as teles.

E o partido também deixou para trás suas teorias contra a privatização e contra o monopólio privado, que é o que a nova empresa pode se tornar. A empresa que nasce com a fusão abocanha a maior parte da telefonia e da internet no Brasil. E para que o monstrengo nasça, falta apenas a assinatura do presidente da República.

Mas a onda de influência de Daniel Dantas na alta cúpula do PT não fica apenas no ex-deputado Greenhalgh. É muita água em direção ao moinho petista. Dá a impressão de um maremoto do Opportunity que envolve os maiorais do partido. A Folha de S. Paulo de hoje traz uma reportagem em que mostra que o deputado José Eduardo Cardozo (SP), atual secretário-geral do PT, usou prerrogativas de seu mandato para defender interesses do banqueiro Daniel Dantas.

E é exatamente por isso, por não saber até onde as investigações podem chegar, temendo até que passem da ante-sala da Presidência da República (lá já chegou) que precisam arrumar um curso para afastar o delegado que comanda a operação. E também é uma razão para os blogueiros oficiais e semi-oficiais baixarem a bola. É... tudo indica que vai ser um silêncio ensurdecedor.
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POR José Pires

Dantas, o sortudo

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, havia dito que o tribunal tem concedido um grande número de habeas corpus. A Folha de S. Paulo foi atrás do assunto e prova com números que isso não é verdade.

Na semana passada, quando Mendes mandou soltar Daniel Dantas pela segunda vez, o procurador da República Rodrigo Grandis, condutor da Operação Satiagraha, havia criticado a decisão como algo sem qualquer precedente na jurisprudência do STF. O procurador disse também que a ordem do ministro do STF “criou foro privilegiado para banqueiro”.

E agora, baseado em balanço feito pelo próprio tribunal, a Folha prova que os habeas corpus concedidos ao banqueiro do Opportunity são uma exceção na estatística de casos julgados pelo STF. Um levantamento obtido pelo jornal mostra que houve 4.089 habeas corpus julgados no mérito e outros 1.996 com decisão liminar.

No primeiro caso, apenas 9,2% (385) foram concedidos, enquanto o restante (90,8%) foi negado ou voltou a instâncias inferiores. Cerca de 80% das liminares foram negadas.

Estão aí os números que provam: Daniel Dantas é um homem de sorte, muita sorte...
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POR José Pires

terça-feira, 15 de julho de 2008

Relatório da PF, o vazamento final

Leitura boa para um final de tarde. O site Consultor Jurídico disponibilizou o relatório completo da Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Desse modo, o site democratizou o vazamento que até o momento vinha sendo feito por partes e tornou a tarde brasileira de hoje bastante quente. Em várias partes do País teve gente lendo com lupa o relatório ou em busca do próprio nome ou do nome de adversários. Ou então procurando encontrar evidências ou até mesmo simples insinuações para atingir adversários.

A operação da Polícia Federal, que levou à prisão do banqueiro do Opportunity, Daniel Dantas, do megaespeculador Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta, além do comando do grupo financeiro de Dantas, deflagrou uma guerra política e também uma guerra jornalística que envolve jornais, revistas e blogueiros.

Políticos e jornalistas são citados em conversas grampeadas que fazem parte do relatório e a Polícia Federal acredita que Dantas dispunha de uma rede de apoio na mídia, com jornalistas que seriam pagos por ele para difundir notícias de seu interesse.
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POR José Pires

A trinca de ouro de Dantas

O relatório de 210 páginas tem que ser analisado à moda do Dr. Frankenstein: por partes. Um trecho interessante trata do que a polícia chama de “equipe de apoio” de Daniel Dantas. Composta por Guilherme Henrique Sodré Martins, Humberto Braz e o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, a trinca tinha um papel de muita importância.

Foi para proteger o assecla Braz que Greenhalgh telefonou para o chefe-de-gabinete da Presidência da República para pedir que ele buscasse informações junto ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. E Carvalho fez o serviço para Greenhalg, que advoga para o banqueiro do Opportunity. E ainda quer convencer que isto não é tráfico de inlfuência.

O relatório da PF diz que essas pessoas foram contratadas por Dantas para “obter informações de interesse do grupo, realizar contatos com pessoas importantes, inclusive políticos (deputados federais e senadores) e Ministros de Estado, e com a mídia, objetivando sua manipulação, e principalmente, influenciar decisões de autoridades relacionadas a assuntos do grupo”.

Segundo a polícia, os três tinham relações diretas com Dantas, mas Braz era o contato mais freqüente e quem distribuía os trabalhos ordenados pelo banqueiro. As tarefas, sempre segundo o documento, eram relacionadas a todo o tipo de ilícito, desde corrupção até espionagem.
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POR José Pires

Trinca chegava perto de Lula

Com a atividade dos três a rede de contatos chegava até a ante-sala do presidente da República e atingia também o Congresso Nacional e partidos políticos, com "contatos amistosos" na cúpula do Judiciário Federal, em especial o STJ e o STF.

Luiz Eduardo Greenhalgh, diz o relatório, era chamado de Gomes ou LEG, e os serviços prestados a Dantas “passavam longe da assessoria jurídica”. Para isso o banqueiro tinha outras pessoas. A PF diz que Gomes, ou LEG ou, como é mais conhecido, Greenhalgh, usava seu “trânsito fácil” nos gabinetes de ministros do STF e STJ para buscar decisões favoráveis ao grupo.

Usando sua condição de ex-deputado federal e membro poderoso do Partido dos Trabalhadores, fazendo parte do Diretório Nacional, Greenhalgh tinha acesso ao Palácio do Planalto. O relatório afirma que ele freqüentava a ante-sala do presidente Lula e “buscava apoio para negócios ilícitos do grupo notadamente no gabinete da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef”. Segundo o texto, isso também era feito com Gilberto Carvalho. Greenhalgh ainda seria “intimamente próximo ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu”.

Conforme o relatório, o trabalho do grupo em que Greenhalgh tinha papel destacado foi fundamental na negociação da venda da Brasil Telecom para a Oi. Atualmente os três agiam para dificultar o trabalho da as investigações sobre Dantas e tinham o intuito de paralisar o trabalho da polícia.
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POR José Pires

A briga perdida de Obama

Barack Obama está fazendo o que de pior um político pode fazer. Não estou falando de roubo, coisa comum em política. A questão é outra. O candidato democrata a presidência dos Estados Unidos está brigando com a piada.

Obama ficou indignado com a capa da edição desta semana da revista The New Yorker que traz uma caricatura dele com sua mulher, Michelle, vestidos como muçulmanos fundamentalistas. No desenho, os dois estão em uma sala da Casa Branca enfeitada com um retrato de Osama Bin-Laden. Michele está vestida como uma guerrilheira e porta uma metralhadora.

A publicação é uma das mais antigas dos Estados Unidos, foi fundada em 1925, e tem sua história colada à esquerda norte-americano e ao pensamento liberal naquele país.

O porta-voz da campanha de Obama, Bill Bustron, disse que a capa é “de mau gosto e ofensiva”. O editor da revista, David Remnick, replica que o desenho apenas ilustra o tema principal da edição, que critica a “campanha de medo” que tem sido feita pelos adversários na tentativa de grudar no candidato a imagem de simpático aos fundamentalistas islâmicos e ligado à militância negra radical.

A justificativa de Remnick parece justa, tanto que a revista traz um texto escrito por Obama, onde ele relata o início de sua carreira. A edição traz também um artigo sobre as mudanças de postura do democrata, que não tem mostrado coerência e firmeza em opiniões sobre importantes temas políticos.

Mas seja de quem for a razão, o estrago foi feito e já está criado o problema habitual que acontece quando se briga com a piada: não há como ganhar. A capa ganhou mais audiência do que aconteceria naturalmente e colocou em foco a real ambigüidade de Obama em relação ao racismo expressado por radicais do movimento negro e as suspeitas de falta de firmeza do candidato com os terroristas islâmicos.

A crítica da campanha de Obama toca em um valor muito especial na formação dos Estados Unidos: a liberdade de expressão. A reação à capa da The New Yorker mostrou-se tão desastrada que em seu repúdio Obama recebeu até a solidariedade do candidato John McCain. O porta-voz do candidato republicano, Tucker Bounds, criticou a revista nos mesmo termos dos assessores equipe do democrata. Para quem precisa dos votos do eleitorado liberal, é uma companhia pior do que sair mal em qualquer capa.
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POR José Pires

O compadre dos rolos

E o compadre do Lula, o Roberto Teixeira, aquele que cedeu uma casa para ele morar de graça durante quase dez anos, também está no rolo do Daniel Dantas.

Documentos da auditoria interna da Brasil Telecom de 2005, quando o banqueiro do Opportunity detinha o controle da companhia telefônica revelam pagamentos de R$ 1,2 milhão para Teixeira.

E a auditoria não localizou nenhuma comprovação de prestação de serviços advocatícios do generoso compadre. Mas isso não importa. O que importa mesmo é que o compadre Lula já era presidente da República. Será que disso ele sabia?
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POR José Pires

A pátria de maiô

Para não dizerem que sou contra o Estado de Direito e um sem coração que se delicia com a Polícia Federal botando algemas no Daniel Dantas, vamos mudar de assunto.

Um refresco nas intempéries de Hugo Chávez: a venezuelana Dayana Mendoza, venceu no domingo o concurso de Miss Universo no Vietnã. A representante da Colômbia, sei lá o nome que é, ficou em segundo lugar.

Uma prova de que, a exemplo dos esportes, o Miss Universo também aproxima povos e países foi que as representantes da Venezuela e Colômbia enfrentaram a competição de mãozinhas dadas. "Nós duas nos demos as mãos e rezamos juntas (...) nossos países são vizinhos, somos todos irmãos", disse uma delas, dando um exemplo para Chávez e Álvaro Uribe também enfrentarem as adversidades de mãos dadas.

O problema foi com o Brasil, cuja representante, Natália Anderle, nem chegou a se classificar entre as 15 finalistas do concurso. Não pegamos nem o Miss Simpatia ou o prêmio de melhor traje típico, fatos que naturalmente não impedem a Playboy de tirar a roupa da moça para a brava gente brasileira, longe vá temor servil, conferir o material. Se a pátria decidir, acredito que Lula pode recorrer às cortes internacionais. Ou ligar para o Bush.
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POR José Pires

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Um puro na ante-sala

A Polícia Federal mostra em seu relatório da Operação Satiagraha que Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete de Lula e seu amigo pessoa,l conferiu junto ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República se havia alguma ação contra Humberto Braz, assessor de Daniel Dantas. Fez isso a pedido do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, seu colega de partido.

Em nota, Gilberto Carvalho confirmou ter feito a checagem, mas nega ter feito tráfico de influência.

Agora no final da tarde Gilberto Carvalho lançou uma nota explicando o ocorrido. Leiam e sintam a pureza do faz-tudo de Lula:

"No dia 28 de maio, o Dr. Luiz Eduardo Greenhalgh informou-me que um cliente seu, Humberto Braz, cuja identidade até então eu desconhecia, fora seguido no Rio de Janeiro, após deixar os filhos na escola, e que, interceptado pela Polícia do Rio, o condutor do carro que pretensamente lhe fazia a perseguição se apresentou como Tenente da Polícia Militar de Minas Gerais exibindo documentos que diziam estar a serviço da Presidência da República. Dr. Greenhalgh me indagou se procedia esta informação, uma vez que poderia se tratar de tentativa de seqüestro comum, com uso de documentação falsa.

Procurei o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Fui informado de que o referido Tenente estava credenciado pelo GSI, mas o trabalho que realizava nada tinha a ver com o cidadão citado. Repassei pelo telefone esta informação ao Dr. Greenghalg, que na ocasião, pediu que eu obtivesse mais informações junto à Polícia Federal. Como já havia dado a informação essencial ao Advogado no que dizia respeito à segurança pessoal de seu cliente, não fiz contato algum nem com o Ministério da Justiça e nem com a direção ou qualquer integrante da Polícia Federal, conforme já declarado pelas respectivas Autoridades.

Gilberto Carvalho

Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República"


Agora comecei mesmo a ficar preocupado com o Lula e, mais que isso, com o País. O presidente da República tem um chefe-de-gabinete ingênuo demais. Isso é um perigo para a Nação!
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POR José Pires

sexta-feira, 11 de julho de 2008

E disso Lula sabia?

Vamos lá. Leia a transcrição da conversa entre o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalg e o chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, gravada em um grampo da Polícia Federal. Abre aspas:

"Greenhalgh: Alô...

MNI: Luiz Eduardo Greenhalgh?

Greenhalgh: Sim...

MNI: É o Senhor Gilberto só um momento.

Gilberto: Luiz?

Greenhalgh: Oi...

Gilberto: O general me deu o retorno agora... é o seguinte não há nenhuma pessoa designada na Presidência...na Abin...com esse nome, a placa do carro não existe é fria, tá? Eles aqui acham que a única alternativa é que tenha sido caso de falsificarem documento...eles não consideram possível que seja da Abin, eu não falei com o Luiz Fernando ainda, mas não tem jeito... a polícia federal não usa a PM, eles não se misturam de jeito nenhum, ta... então eu acho que o mais provável é que o cara tava armando mesmo alguma coisa... mas com documento falso que também no Rio é muito comum, porque daqui não tem, eu pedi, insisti, fiz com o máximo cuidado tal.

Greenhalgh: Deixa eu te falar uma coisa. Tá ouvindo o grito da menina?

Gilberto: O grito da vida.

Greenhalgh: Isso é o grito da vida realmente, linda, mas deixa eu te falar seria bom dar um toque no Luiz Fernando também hein?

Gilberto: Eu vou dá, eu vou dá, amanhã cedo eu tenho que
falar com ele vou levantar isso dai também.

Greenhalgh: Tem um delegado chamado Protogenes Queiroz que parece que é um cara meio descontrolado.

Gilberto: Ele tá onde o Protogenes agora?

Greenhalgh: Ai, tá ai em Brasília.

Gilberto: Ah aqui em Brasília.

Greenhalgh: É o que saiu na Folha na matéria da Andrea

Michael. Mas eu tô indo amanhã pra a reunião do diretório.

Gilberto: Eu te vejo lá, eu to indo no diretório também.

Greenhalgh: Legal...

Gilberto: Que hora que tá marcada mesmo a reunião?

Greenhalgh: Nove horas.

Gilberto: Tá. Eu vejo você lá.

Greenhalgh: Grande abraço.

Gilberto: Valeu Luiz...

Greenhalgh: Obrigado."

Papo interessante, não? E o cenário político dá uma boa mudada. Os petistas, que estavam bastante animados com a ação da Polícia Federal, agora estão vendo a coisa bem diferente. Acabou a animação e começa a preocupação. O grampo mostra o assessor mais próximo do presidente, além de seu amigo pessoal, agindo em favor de Daniel Dantas. Começam a aparecer elos fortes entre o banqueiro do Opportunity e o Planalto (veja aqui uma interessante matéria do Valor Econômico sobre o assunto).

Se ainda não chegou exatamente ao presidente da República, a crise já está na sala ao lado, bem próximo dos olhos de Lula. É tão perto que mesmo alguém ceguinho como o petista é capaz de ter visto alguma coisa.
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POR José Pires

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Por antecipação


Isso é que é acertar uma manchete. Vivemos em um país com a síndrome do comentarista de futebol, todo mundo buscando influir na opinião do vizinho, do companheiro de boteco ou então na opinião pública. Até aí tudo bem, é desse modo mesmo devem ser exercidas as relações em sociedade, ainda que saibamos que gritar da sala de casa com o beque ou o goleiro na TV não influencia em nada no resultado da partida.

Mas até juiz de um tribunal superior dando pitaco em uma questão relativa à decisões sob seu poder? Só no país da jabuticaba. Ou, como soubemos agora com a prisão de Daniel Dantas, país também do Jabuticaba, apelido de seu companheiro de cela, o notório Celso Pitta.
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POR José Pires

Festa antecipada

Hoje, dia 10 de julho, é o Dia da Pizza.
Mas pelo jeito resolveram comemorar ontem.
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POR José Pires

Inédito: sinceridade de um político

Só mesmo por vias tortas é possível colher sinceridade na fala de um político. O jornal O Globo fez uma matéria com a declaração de renda do candidato à Justiça Eleitoral do prefeito do Rio Marcelo Crivella, da Igreja Universal e senador desde 2003.

O senador não tem imóvel próprio. Isso mesmo, nenhum. Mora em apartamento alugado. Crivella declarou à Justiça Eleitoral ter em seu nome dois carros — um Polo 1.6, modelo 2007, no valor de R$ 45 mil, e um Nissan Sentra 2.0, modelo 2007, no valor de R$ 55.900 — além de uma conta bancária de R$ 180.900.

Mas não é aí evidentemente que ele mostrou franqueza. A sinceridade involuntária está numa resposta dele sobre uma empresa na qual tinha participação, a Canaã Produções Artísticas, que acabou fechando.

“Fundei a gravadora para que o dinheiro fosse doado às crianças, mas ela só durou até eu ser eleito senador”, disse Crivella. E mais não disse. E nem precisa.
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POR José Pires

Na surdina, senadores criam mais gastos pessoais

Não é que eu ache que haja combinação, mas o que aconteceu ontem no Senado é bastante simbólico do estado a que chegamos. Ou Estado a que chegamos.

Enquanto alguns senadores protestavam contra o fato de policiais colocarem algemas em maiorais do mercado financeiro, o Senado aprovava na surdina a criação de mais um cargo de confiança para os 81 senadores.

Bem rápido, numa reunião às escondidas, a Mesa Diretora decidiu pela contratação de mais um “assessor técnico” para cada senador. O salário é de R$ 9.979,24, que somado aos gastos que cada senador já tem com pessoal, mais os das lideranças partidárias e membros da mesa, vai dar em R$ 900 mil mensais. Por ano a despesa vai para cerca de R$ 11,7 milhões.

E todo esse novo gasto milionário, que nós pagamos, foi resolvido ligeiro e à portas fechadas. Dá para entender a razão de os senadores ficarem nervosos com as cenas de ricos e poderosos sendo algemados pela Polícia Federal.
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POR José Pires

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Cana suave

Pronto, o Supremo Tribunal Federal mandou soltar Daniel Dantas, o banqueiro do Opportunity. A decisão, que aconteceu agora há pouco, foi do presidente do tribunal, Gilmar Mendes, e atinge todo o alto-comando da empresa que havia sido preso junto com Dantas.

Na terça-feira de manhã, quando aconteceram as prisões, eu disse o seguinte: "Quanto tempo ficarão presos? Com certeza na casa dos três a rotina, inclusive a doméstica, nada muda. A probabilidade de que ainda hoje jantem em casa é mais ou menos do tamanho de suas contas bancárias".

Os três de que falo são Dantas, o ex-prefeito Celso Pitta e o especulador Naji Nahas. Errei por pouco a soltura de Dantas. Os outros dois certamente logo mais também estarão em casa.
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POR José Pires

Algemas só para pobre

Como se não bastassem os ganhos políticos que o governo Lula já está tendo com a prisão do banqueiro do Opportunity, do megaespeculador Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta, os senadores da oposição ainda resolveram dar uma mãozinha nesta tarde.

O Brasil nunca tinha visto políticos pedirem publicamente tratamento privilegiado para criminosos de colarinho branco e foi o que senadores tucanos fizeram em plenário. Sérgio Guerra, presidente do PSDB e Tasso Jereissati, maioral histórico do partido, reclamaram do que julgam ser atitudes “policialescas” da PF. Parece que querem mais educação por parte da polícia na prisão de bacanas.

Segundo o blog de Ricardo Noblat, o único que se insurgiu contra a defesa dos tubarões foi o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que disse o seguinte: “O que a gente sente é a sociedade, hoje, revoltada, no sentido de que uma elite não é atingida nunca e o povão só conhece a cadeia. A Polícia Federal está agindo”.

O líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio, chegou a interromper Simon de forma agressiva e contra as normas regimentais. Teve que sair do microfone a pedido do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN. A prisão de Daniel Dantas tem deixado mesmo muita gente nervosa. Tanto que até se descuidam das péssimas conseqüências políticas e eleitorais que certas atitudes podem causar.

Em um país em que até mesmo com provas em contrário pobre é tratado como culpado pela polícia, os senadores tucanos querem abolir o uso de algemas na prisão de gente rica e poderosa. E estão dando esse espetáculo há menos de três meses de uma eleição municipal e com cerca de dois anos para a outra, a principal, para presidente da República.

Dá a impressão de que os tucanos se cansaram definitivamente de esperar o Lula sangrar em praça pública. E resolveram cortar os próprios pulsos.
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POR José Pires

Justiça afinal

Os senadores podem então fazer uma lei protegendo gente bacana da grosseria da polícia. Mas como é que o policial vai saber qual é o elemento que fica dispensado?

Vou ajudar. Se é para aperfeiçoar nossa Justiça, eu dou, opa, uma mão. É muito simples, é só combinar com o pessoal do colarinho branco. Quem estiver usando relógio Rolex − legítimo, não vale para falsificações − fica livre de algemas.
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POR José Pires

Inovação na corrupção

Tem uma novidade interessante no esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal na Operação Satiagraha. Além de laranjas, o esquema tem até jabuticaba. É o ex-prefeito Celso Pitta, conhecido pelos companheiros como Jabuticaba.
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POR José Pires

Jabátman está com tudo

Só dá o filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas" em todo lugar. No domingo, como já previsto, os jornais trouxeram matérias sobre o assunto. A Folha de S. Paulo trouxe o filme na capa do caderno de cultura em página inteira. Na abertura, em letras grande, dizem que "Heat Ledger cria um Coringa definitivo: punk, sinistro, sadomasoquista e completamente fora de controle".

Uau! Porém, com as menores letras da página, abaixo do texto, está o aviso: O repórter viajou a convite da Warner Brothers". A convite? Não deviam dizer que foi com tudo pago?

Mas, deixa pra lá. Nada disso é novidade, claro. O Jabátman já é coisa natural na mídia brasileira.
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POR José Pires

Fruta nativa

Os grampos feitos pela Polícia Federal em telefonemas das pessoas investigadas na Operação Satiagraha revelam que o o ex-prefeito Celso Pitta, um dos que foram presos ontem, é chamado nas conversas de “Jabuticaba”. Até o momento nenhum grupo anti-racista se manifestou.
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POR José Pires

Jogo de azar

A credibilidade da Justiça no Brasil é tamanha que já tem blog da internet fazendo enquete perguntando quando Daniel Dantas será solto. E tem até sorteio de Ipod entre os que acertarem.

Mais um pouco e criam o bolão da prisão de Dantas.
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POR José Pires

terça-feira, 8 de julho de 2008

Prisão murcha uns e anima outros

Estranho silêncio no blog do blogueiro mais visível da revista Veja e também seu mais agressivo jornalista. Reinaldo Azevedo passou a manhã sem dar um pio, o que é estranho em um profissional prolífico e que age com rapidez quando o assunto lhe interessa. Até o momento, duas da tarde, Azevedo, que mantêm um blog no portal da revista, nada publicou sobre as prisões feitas pela Polícia Federal.

O silêncio e falta de atividade contrasta com a ligeireza de Luís Nassif que, às 09:13, já noticiava a prisão de Daniel Dantas. Logo depois, próximo das dez da manhã, Nassif aproveitou para desencavar de seus arquivos a série que escreve sobre a Veja, com várias e graves acusações de manipulação de informações contra a revista.

Nassif trouxe de volta capítulos em que acusa Diogo Mainardi, colunista da revista, de fazer lobby para Daniel Dantas na mídia com a intenção, segundo ele, de “intimidar críticos e influenciar o Judiciário”.

A polêmica entre Nassif de um lado e Azevedo e Mainardi do outro, na qual Dantas exerce um papel de destaque, tem sido feroz, inclusive com ataques pessoais de ambas as partes.

Aparentemente a prisão de Daniel Dantas complica a situação para Mainardi e Azevedo, o que deixa Nassif bastante animado. E o silêncio de Azevedo em seu blog faz parecer que o golpe foi bastante sentido.
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POR José Pires

Tempo ruim em Brasília

As prisões feitas pela Polícia Federal nesta manhã levaram inquietação à Brasília. As capturas começaram às seis da manhã, com 24 mandados de prisão, além de 56 ordens de busca e apreensão. O nervosismo em Brasília é menos pelos figurões presos e mais pelo temor sobre o que a PF descobriu até agora na chamada Operação Satiagraha.

As investigações têm relação com o caso do “Mensalão” que, sempre é bom recordar, envolveu lideranças importantes do primeiro escalão do governo Lula e de seu partido, o PT, no pagamento de propinas à base aliada do governo. O inquérito corre no Supremo Tribunal Federal tendo como acusado, entre outros o ex-ministro da Casa Civil de Lula, José Dirceu, figura extremamente importante na carreira política do presidente da República.

Em agosto de 2005, o STF deu início ao julgamento de 40 acusados, entre eles a cúpula do PT na época, incluindo lideranças petistas no Congresso Nacional e representantes da base aliada e ex-ministros de Lula. Dirceu, o homem mais importante do governo petista depois de Lula, definido no inquérito como o “chefe do organograma delituoso”, responde como réu por corrupção ativa.
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POR José Pires

Voltam vários casos vergonhosos

Hoje foram presos, em ações da PF nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e em Brasília, o banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, o especulador Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Do grupo Opportunity foram presos também a irmã de Dantas, Verônica e seu ex-cunhado e dirigente, Carlos Rodenburg, o também diretor Arthur de Carvalho, e o presidente do grupo, Dório Ferman. Maria Alice de Carvalho Dantas, mulher de Dantas, também foi presa.

Entres os crimes que ocasionaram as prisões estão formação de quadrilha, gestão fraudulenta, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.

Daniel Dantas é certamente o mais graúdo entre os capturados. E pode ser um elemento de ligação não só com o “Mensalão”, mas também com outros conhecidos escândalos.

Com negócios que envolvem somas altíssimas − recentemente vendeu suas participações da Brasil Telecom e Telemar/OI por cerca de 1 bilhão de dólares −, o banqueiro tem uma carreira cercada de complicações e que atravessou pelo menos dois governos, o de Fernando Henrique Cardoso e Lula.

A investigação da PF também abrange um amplo número de denúncias de corrupção. Está na mira até o caso Banestado, escândalo de desvio de dinheiro público, lavagem de dinheiro e evasão de divisas para paraísos fiscais entre 1996 e 2002, que envolveu o extinto banco estatal do Paraná e que incomoda muitos governos. O caso foi inclusive objeto de uma CPI da Câmra dos Deputados. Mais de US$ 84 bilhões foram retirados indevidamente do país.

Para ser ter uma idéia da importância do Caso Banestado, sua divulgação na época foi inclusive uma das razões da pressão que levou à demissão de Boris Casoy na TV Record, onde comandava um prestigiado noticiário. O apresentador criou dois jargões famosos sobre a corrupção: "passar o Brasil a limpo" e "isto é vergonha".

A demissão de Casoy aconteceu após pressões do Gabinete da Casa Civil de Lula, na época comandado por José Dirceu. O governo teria até ameaçado retirar da emissora toda a publicidade do governo. O jornalista disse que o governo Lula não queria que ele tocasse em três assuntos: as denúncias contra o compadre de Lula, Roberto Teixeira, o assassinato do prefeito Celso Daniel e o Caso Banestado.
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POR José Pires

A melhor fonte

Quem tem seguido muito bem até agora a história de Dantas é o jornalista Bob Fernandes, primeiro na revista Carta Capital, editada por Mino Carta e onde ele foi redator-chefe até 2004, e agora na página da internet Terra Magazine, abrigada no portal Terra.

Outro jornalista também muito bem informado sobre a carreira do dono do Oportunitty é Samuel Possebon, editor da revista Teletime, especializada no mercado de telecomunicações. Os dois acompanham os movimentos de Dantas desde a privatização da Telepar, em 1998, no govero tucano.

Desde o início da manhã o Terra Magazine tem publicado o melhor material sobre as prisões deste 8 de julho, muito bem definidas por Bob Fernandes como “o mais profundo mergulho nos intestinos do Brasil”, e promete boas informações no seguimento desta ação que, com certeza, vai remexer bastante nas entranhas da política e do mercado financeiro.

Comece lendo o perfil de Daniel Dantas, escrito por Bob Fernandes e Samuel Possebon, clicando aqui, e depois coloque o Terra Magazine nos seus favoritos. Este é um assunto que tão cedo não morre e sobre isso a página editada por Fernandes é a melhor fonte de informações até o momento.
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POR José Pires