quarta-feira, 31 de março de 2010

Relações pra lá de estranhas

Já vêm de longe as evidências de que a política externa do governo Lula é uma grande burrada. Havia até gente, que apesar de ter restrições ao governo, vinha com a conversa de que o rumo empreendido por Lula nas relações externas tinha lá seu acerto. Bem, acredito que os últimos passos de Lula devem ter desencantado até essas pessoas.

A coisa tem seu lado cômico. Manuel Zelaya de chapelão e com as botas sobre as cadeiras de pano de nossa embaixada em Honduras ilustra bem este lado. Apesar de já estar cercado de malucos como Chavez, Morales, Ortega e Rafael Correa. Lula ainda foi atrás do maluco hondurenho. Era de mau gosto, mas no final era apenas uma piada. Não é o caso de Ahmadinejad, um maluco que é mais pra chorar que pra rir. Aqui o Brasil entra numa área de risco.

Lula enganou enquanto pode, até que resolveu exercitar toda sua verve. Me parece que o plano traçado não levava em conta os arroubos do Apedeuta Maior. O cara é fogo, como dizia seu antigo capitão, o José Dirceu.

Fez a bobajada de tratar os conflitos pós-eleitorais como se fossem um jogo de futebol. E a verdade é que as divergências no regime dos aiatolás permanecem até hoje e terão ainda outras conseqüências.

Depois foi fazer fotos com Fidel Castro à beira da piscina enquanto um dissidente cubano morria em greve de fome. No meio disso, não podemos esquecer a passagem por Israel, onde deu uma piorada em sua imagem externa.

Muita gente se enganou com Lula, especialmente os europeus, que viram nele o líder terceiro-mundista que ele nunca foi. Obama, por exemplo, recuou rápido da intimidade ensaiada nos primeiros encontros com o petista. É provável que hoje se falem apenas formalmente. Se é que se falam. Nem adianta Lula acordar enfezado pois o telefone do lado de lá não deve atender.

O jornal El País foi um dos desenganados. O diário espanhol, que até havia dado um prêmio para Lula, saltou fora recentemente depois dos abraços e risos do presidente brasileiro com Fidel Castro e seu irmão, Raul Castro.

Não é de agora que a ditadura cubana sofre um esboroamento interno. Este descontentamento já não tem mais nada a ver com os exilados de Miami ou com as pressões do governo dos Estados Unidos. A abertura cubana já devia ter sido feita há muito tempo, mas Fidel Castro nunca quis este caminho. Manteve fechado o regime até que o desgaste da saúde força-lo a abandonar a farda verde-oliva. E fechamento se mantém, pois a linha-dura do regime é que está atualmente no poder. E o irmão de Castro não tem nada de liberal. Ao contrário, dizem que Raul Castro é o mais linha-dura da família.

Que Lula e comitiva saia do Brasil num momento deste para ir abraçar essa gente e ainda distribuam para a imprensa as fotos do congraçamento com os ditadores, só dá para entender como pagamento de dívida política. E dívida bem pesada. Um esforço inoportuno desses, assim como o excessivo comprometimento com um tipo como Ahmadinejad, trazem à memória denúuncias antigas de dinheiro vindo de Cuba ou do Irã, mas deixa pra lá.

Até os cantores cubanos Silvio Rodriguez e Pablo Milanés andam dando entrevistas criticando a falta de mudanças políticas na ilha. A manifestação destes dois ícones políticos e culturais da Revolução Cubana mostra bem como anda o clima político em Cuba. O depoimento dos dois também revela de forma especial a fria em que se meteu Lula ao expressar irrestrito apoio a uma ditadura moribunda.

Silvio Rodriguez disse que é “aos gritos” que Cuba está pedindo reformas. "Tenho escutado que estão sendo feitas revisões, sempre extraoficialmente, lamentavelmente nunca em nossa imprensa. Deus queira que isso seja verdade, ele disse. E este “Deus” encaixado no desabafo dimensiona de forma curiosa o fracasso da revolução comunista de Castro.

Tanto Milanés quanto Rodriguez cresceram com a revolução e sempre deram um apoio enfático ao regime. Que os dois já não suportem o que ocorre em seu país, mostra que o descontentamento em Cuba já ficou impossível de ser contido. E que dificilmente os cubanos vão aceitar o próprio regime administre a abertura política. Já dá para ouvir o dique se rompendo.

Milanes já vinha criticando a falta da abertura do regime cubano nos últimos meses. No ano passado andei lendo algumas reportagens em jornais de fala espanhola em que ele revelava ainda de forma cuidadosa que as coisas não iam bem na sua opinião. Nos últimos dias o tom se elevou bsastante. Recentemente, ele disse que "o sol enorme que nasceu em 1959 encheu-se de manchas ao envelhecer".

No Brasil, Milanés é mais conhecido como o compositor de "Yolanda", uma bela canção de amor, das tantas que ele fez. Mas ele também é o compositor de "Canción por la unidade latinoamericana", que tem uma versão brasileira feita por Chico Buarque e gravada junto com Milton Nascimento em 1978.

Na versão brasileira Chico Buarque deu uma amaciada no conteúdo político da música. Na canção original de Milanés tem uma parte na qual ele canta que ‘Bolívar lançou uma estrella que junto a Marti brilló, Fidel la dignificó para andar por esta tierras”.

Pois o fraseado do artista mudou bastante. Agora ele afirma que não está de acordo com a atitude do governo cubano em relação aos dissidentes políticos e também critica Raul Castro por não colocar em prática as reformas prometidas. Milanes disse também que é a favor dos direitos humanos, da livre expressão, do direito à greve de fome ou da liberdade para o cubano sair do país.

Só falta o Chico Buarque saltar do barco furado em que se meteu. Mas aí vai demorar bem mais. As reações do compositor brasileiro são conhecidamente demoradas. Sobre o próprio governo Lula, para o qual fez até propaganda eleitoral dirigida elo marqueteiro Duda Mendonça, até agora não se sabe de nenhuma manifestação sua condenando qualquer uma maracuraia da vasta enxurrada de escândalos petistas.

As falas dos dois artistas cubanos são bem claras. Dão a impressão de que perceberam as transformações passam agora dos gabinetes para as ruas cubanas.

Lula e seu séquito é que não entenderam nada do que se passa na ilha. O cara não é tido como muito perceptivo e dono de uma intuição admirável? Pois neste caso boiou no assunto.

Quando devia ter ouvido a voz das ruas estava aos risos e abraços à beira da piscina com os dois irmãos ditadores. Historicamente é tarde para um recuo do governo petista. Fidel morre abraçado com Lula, que deve estar torcendo bastante para que nada de mais grave ocorra em Cuba até que a eleição brasileira esteja resolvida. Uma crise que aconteça por lá neste período bate com certeza em Lula e na sua candidata. Vão ter que explicar suas estreitas relações com regime castrista.

Falando em problema até as eleições, Lula deve também estar rezando — para Deus ou Alá, não importa — para que também o Irã se mantenha imune a acontecimentos de maior gravidade, o que é bastante improvável para um regime político tão encrenqueiro. Lá no Irã também não pode acontecer nada de ruim até outubro, senão Lula e sua candidata terão muito para explicar sobre mais este conceito explosivo de relações externas.

E desde o anúncio da viagem de Lula para o Irã só piora a situação para os lados do companheiro Ahmadinejad. Notícias de hoje adiantam que Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha já teriam decido sobre as sanções ao Irã que serão apresentadas ao Conselho de Segurança da ONU. Desse modo, Lula deve chegar em maio em um país ainda mais isolado que hoje. Com certeza não vai faltar assunto para debater com Ahmadinejad.
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POR José Pires

domingo, 28 de março de 2010

Caindo na real

Já comentei aqui sobre o absurdo dos colunistas políticos e das seções de política criticando o governador José Serra porque ele não se lançou candidato e ainda não colocou a campanha na rua. Teve até senador do PSDB exigindo isso. Foi o senador Jereissati, pois não, sempre dando uma mão ao adversário e já irritado pelo fato da candidatura de seu partido continuar forte. Pois não teve nenhum jornal para colocar um senão à fala do senador: a campanha não poderia ser colocada na rua, pois isso seria ilegal.

Deram um imenso espaço para o senador cearense, um político que sem o espaço nacional conferido pelo seu partido seria, cá pra nós, um senador do baixo clero. Está aí registrado: um senador da República reclamando que o virtual candidato de seu partido cumpre a lei. E pedindo uma ilegalidade. E isso não é falta de decoro? Uma imprensa que acolhe tal opinião sem nenhum senso crítico não está se comportando corretamente.

As críticas ao governador já duram meses. Um dia, caso este país tome jeito, essas páginas vão ser vistas com muita vergonha. Deviam criticar o presidente Lula e sua candidata, que estão usando a máquina pública de uma forma nunca vista para fazer campanha eleitoral muito antes do prazo legal e com a candidata ainda em um cargo público. Mas atacam o tucano por não fazer o mesmo.

Ninguém é ingênuo. Sabemos que o Brasil é uma lugar onde a inversão de valores é que se tornou norma. Mas é novidade a imprensa embarcar dessa forma neste desvirtuamento.

Nossa imprensa nunca foi boa em cobertura eleitoral. Sempre optou mais pela espetacularização das campanhas do que pela análise rigorosa e o acompanhamento equilibrado dos acontecimentos. Vale mais a fofoca sensacional do que o fato sólido que não traga espanto e supostamente mais leitores. Talvez seja por isso que gostam mais de certos políticos.

Com a internet essa predileção pelo espetáculo piorou. Qualquer coisinha sem nenhuma apuração já salta para as manchetes, pois a regra é dar rápido a notícia. A qualidade é uma questão de segundo plano.

A parcialidade é enorme. Vale mais o interesse do veículo do que o respeito ao leitor. Com isso, acabam sendo antidemocráticos e não só com seus leitores. Agora, por exemplo, já elegeram como foco do noticiário as candidaturas tucana e petista. Até preferiam Aécio Neves no lugar do governador paulista. O governador mineiro sempre esteve atrás de todos, mas por alguma razão todos queriam ele como candidato tucano. Mas não teve jeito do eleitor concordar.

Será que o problema é o Serra não gostar de conversa fiada? Bem, mas o fato é que mesmo com toda a torcida não foi possível desfazer a realidade de uma reputação política sólida. Esse Serra não ajuda mesmo. E ainda não pàra de crescer. Então não há o que fazer: terão de encontrar assunto com ele mesmo.

Mas não temos apenas os tucanos e petistas no embate. Existe outra candidatura definida e até de alto valor histórico, a de Marina Silva, do PV. E algum jornal dá atenção à ex-ministra do Lula? Nem pensar. Ouvem mais até o boquirroto e neopaulista Ciro Gomes, que não tem nem legenda garantida.

Nossa imprensa está pra lá de mexicana. Resolveram estabelecer um bipartidarismo no país, ay caramba! E até dão a impressào de torcer para o PRI do Lula. E depois, quando algum tribunal faz sua intervenção exigindo um pouco mais de igualdade entre os candidatos, logo berram alegando liberdade de expressão.

Mas agora a imprensa tem outro problema. Serra não começou a campanha e vem o Datafolha da Folha de S. Paulo, reconhecidamente o instituto de pesquisas de maior credibilidade, e detecta o tucano em crescimento e bem na frente da candidata de Lula.

Os jornais e seus colunistas já estão se esforçando para achar um defeito nesta situação, mas não deixa de ser um problema trazido pela candidatura Serra: como é que algo que nem começou já está tão à frente? E todas as análises feitas até agora por essa gente que queria Serra nos palanques acabaram sendo furadas pela realidade.

Estão batendo as cabeças. Alguns, como o colunista Clóvis Rossi, da Folha, estão próximos do desespero. "Mas o que houve para que Serra subisse? Não vi nada no noticiário, a menos que tenha perdido algo por viajar frequentemente para o exterior, o que às vezes faz com que leia apenas superficialmente os jornais brasileiros", ele escreveu hoje.

Chega a ser impressionante que não vejam coisas simples como a própria desistência de Aécio Neves. Mais cedo ou mais tarde, este efeito seria sentido nas pesquisas, não? E por esta via é evidente que a candidatura de Serra ainda tem muito a ganhar.

Tivemos também o escândalo do Bancoop, uma dos esquemas mais revoltantes já bolados pelos sindicalista petistas, já que ali foram surrupiados seus próprios colegas. E este é apenas um escândalo novo. No baú de falcatruas petistas ainda tem muita maracutaia que não foi resolvida.

Existem muito mais motivos para a candidatura petista se preocupar. E ainda mal começou a movimentação que estes fatos podem trazer para a eleição presidencial e até nas outras disputas que a imprensa até agora mantém em segundo plano no noticiário.

É preciso se profundar mais. E para alguns profissionais, como o surpreso Rossi, da Folha, não bastaria ler detalhadamente o próprio jornal em que trabalha. Pelo que o seu jornal publicou até agora, ele pode achar que o melhor candidato tucano ainda é o Aécio Neves.

Teve colunista que até se apoiou na acuidade política de Lula, naquela tão falada "intuição" sábia e profética. Jornais e sites também embarcavam na fanfarronice lulista de que a eleição já estaria praticamente ganha. E poucos pensaram na questão mais simples: temos ainda sete meses pela frente. E como é que algum jornalista com a cabeça no lugar pode achar que um governo como o de Lula, de onde sempre está jorrando a lama da corrupção, pode garantir solidez à candidatura oficial?

Mas está aí um exercício bem útil para a nossa imprensa. Algo que os jornalistas deveriam fazer com maior frequência. Trabalhar a partir da realidade e não movidos unicamente pela própria opinião ou por melindres ou simpatias pessoais com este ou aquele candidato. Ah, sim, e sem torcer para candidatura alguma.
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POR José Pires

terça-feira, 23 de março de 2010

Caseiro

O deputado Paulo Maluf (PP-SP) teve seu nome colocado na famosa lista vermelha pela Interpol. A difusão vermelha é o nível máximo de alerta da Interpol. Quem está nele vai em cana se ingressar em território que integra a Polícia Internacional.

Maluf, é claro, já soltou nota ameaçando de processo e dizendo-se inocente. Diz também que é vítima de retaliação. Enquanto finge indignação, vai ficando por aqui, onde está protegido inclusive pelo foro privilegiado. E mesmo fazendo parte da Interpol o nosso país não permite a extradição de brasileiros. Viajar para o exterior, ah, mas isso é coisa que o pepista não vai fazer tão cedo.
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POR José Pires

Desidratação

O jornalismo brasileiro inventa cada coisa. Leio no site do Estadão uma chamada que diz o seguinte: "Prioridade no PT Paulista é desidratar PSB". É claro que corro lá para saber que negócio novo é este de "desidratar" partidos.

Neologismo por neologismo, eu acho que seria melhor para a política brasileira que partidos como o PSB fossem “deletados”. Mas o partido de Lula jamais faria isso. O aluguel do PSB rende bem.

Mas esses jornalistas estão cada vez mais parecidos com os políticos que têm como tema. Prometem, mas não cumprem. Na coluna que fala em “desidratar” temos o de sempre. O PT deve usar o poder federal (a caneta que infelizmente está na mão do presidente Lula) para barrar a possibilidade do PSB fechar coligações em São Paulo para a disputa do governo estadual. Isto é, ou veja, vão isolar o PSB. Só isso e o de sempre: não vão "desidratar" coisa alguma.

Para que a novidade para definir uma tática velha como essa? “Desidratar” não dá. Tomara que não pegue. Já é tanto jargão nas colunas políticas que algumas vezes, como aconteceu agora, até quem é do ramo acaba tendo a sensação de estar entrando em um gueto.

Teve um tempo nas editorias políticas em que chamavam as coisas pelo nome. Bons tempos aqueles, como dizia Dom Rossé Cavaca. E como ganhávamos pouco. Colunistas como Carlos Castelo Branco, Fernando Pedreira e outros que faziam um bom jornalismo iam no ponto certo. Tanto é que sua colunas valem como leitura ainda hoje.

Tenho pelo menos três livros de Fernando Pedreira que podem ser lidos como se tivessem sidos escritos hoje de manhã.

Ainda temos um Janio de Freitas, é verdade, mas tirando ele e uns poucos, bem poucos, está difícil ler coluna política. E a maior parte dessas colunas já não servem mais como referência histótica. O jornal de sábado não dura mais nem até segunda-feira. Na internet, muitas colunas matinais já não importam nada depois das duas da tarde.

Agora é assim. Certos assuntos são tão fechados em um contexto restrito, muitas vezes bem pequeno mesmo, que se você pega um jornal do ano passado ou alguma notícia antiga da internet, alguns textos parecem saídos de algum país estrangeiro. Isso quando não “desidratam” a linguagem. Aí é que não mesmo não dá para digerir.
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POR José Pires

Empacado

A ONG Contas abertas checou o andamento do Programa de Aceleração do Crescimento, o marqueteiro PAC de Lula. De 2007 para cá só 11,3% das obras foram concluídas. É tão impressionante que até parece erro de digitação, mas é isso mesmo. Terminaram apenas 11,3% das obras.

A ONG informou que, de acordo com relatórios estaduais divulgados na sexta-feira pelo comitê gestor do PAC, dos 12.163 empreendimentos, 54% não saíram do papel e apenas 1.378 foram concluídos depois de três anos de implantação.

Essa informação bate de frente com a suposta qualidade que Lula tenta vender como grande diferença de sua candidata: a administradora eficiente e tocadora de obras, aquela história de "mãe do PAC".

É que ele sabe que Dilma Rousseff não é de grande capacidade de oratória, não tem história política boa para vender em eleição, não tem carisma, não é nada simpática, enfim é difícil do eleitorado engolir. Eles tem a máquina, é claro. Mas é preciso um pouco mais que isso para vencer uma eleição.

E é aí que entra a história dela ser uma administradora muito capaz. Mas os números mostram que isso é tão falso quanto seu título de doutora.
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POR José Pires

terça-feira, 16 de março de 2010

Visita indelicada

Lula visitou o Museu do Holocausto, em Israel. Para ele é um visita “quase obrigatória”. Não sei o que ele quer dizer com esse “quase”. Será que é algo como ir a Roma e “quase” não visitar o papa?

O cara está cheio de dedos depois de levar um chega pra lá de deputados israelenses e até de ter sido boicotado pelo ministro de Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, que faltou propositadamente a uma reunião pelo fato do presidente brasileiro ter se recusado a uma visita ao túmulo de Theodor Herzl, o fundador do movimento sionista.

Lula é um fenômeno. Esta é a primeira visita oficial de um presidente brasileiro a Israel. Pelo efeito político conquistado, era melhor que continuasse do jeito que estava. Na realidade a passagem por Israel é parte da demagogia internacional do governo petista. Como já estão de viagem marcada para o Irã, entrou Israel no roteiro para amenizar o mal estar da futura visita ao doido do Ahmadinejad.

Poucas vezes Lula passou tanto aperto na vida. Mas pra quem gosta de ser o primeiro em tudo, tem uma compensação: os israelenses já informaram que ele é o primeiro chefe de estado a se recusar a prestar a homenagem em Israel da visita ao túmulo de Herzl .

E os assessores do presidente que se apressem a evitar que ele cometa a gafe de falar no Irã sobre a visita ao Museu do Holocausto. O dono da casa pode achar que é lorota dele, pois se Ahmadinejad não acredita que o Holocausto existiu certamente também não deve acreditar em Museu do Holocausto.
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POR José Pires

segunda-feira, 15 de março de 2010

Interiorização política

Não é só piada quando eu digo que o deputado que virou paulista, Ciro Gomes, é o meu tipo inesquecível. Não há como não apreciar um homem que por ter tantas características dos políticos brasileiros acaba sendo o próprio símbolo da... bem, quase que escrevo categoria, mas pode parecer ironia, então vai coisa mesmo: ele é o próprio símbolo dessa coisa que é fazer política no Brasil.

É engomado como um Collor, mas ao mesmo tempo traz latente a grosseria do Lula. E na última sexta-feira ele demonstrou que tem inclusive uma capacidade de autoavaliação que também não é de muitos, não. Nosso ex-cearense é mesmo singular.

Afirmando em entrevista à rádio Eldorado,de São Paulo, que vai largar a vida de deputado, explicou de forma bem sincera como tomou a importante decisão.

Olha o que ele disse: "Nunca mais vou ser deputado na vida. Não tenho mais paciência de passar nove horas conversando fiado e não fazendo nada pela vida de ninguém".

Autoconhecimento é tudo e não apenas na política. Como diz o pessoal da auto-ajuda, é uma ferramenta essencial para a vida. Conhece-te a ti mesmo, já dizia o mestre grego. Pois na mala de ferramentas do neopaulista é garantido que esse negócio não está em falta não.
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POR José Pires

Agora vai

Eu até pensava que nossos políticos não iam chegar a nenhuma solução para o problema gravíssimo da violência no país. Em alguma cidade brasileira é possível andar com tranqüilidade na rua? Está bem, está bem: tranqüilidade, tranqüilidade mesmo, nem dentro de casa.

A violência está instalada até em cidades pequenas. Noutras cidades importantes como Rio e São Paulo existem setores urbanos cada vez mais amplos onde os criminosos mandam: seqüestram, julgam, matam. Comunidades inteiras estão sob o poder de quadrilhas, das quais dependem até para coisas básicas como um botijão de gás.

A lei evidentemente não existe. Os assassinatos já entram nas estatísticas como ações diárias. Milícias agem impunemente, com a conivência da polícia ou até mesmo a participação de policiais corruptos.

E a violência também já está em estado avançado como um dado cultural instalado na mente das pessoas. Dá a impressão de que é normal o convívio com tanta barbaridade e que mudar-se para condomínios fechados e escurecer cada vez mais os vidros dos carros é o suficiente para isolar o mal que está instalado em nossas cidades.

O brasileiro faz de conta que não sabe que a violência está perto de todos e que até a morte violenta começa a deixar de ser exceção. Já parece uma regra em um país com medo, muito medo. Quem não conhece alguém que já sofreu algum tipo de violência criminosa?

Bem, mas a população não está totalmente abandonada. Temos aí zelando por nós o Senado, por exemplo, que agora na quarta-feira deve votar um projeto que torna obrigatória a instalação de cãmeras de filmagem em shopping centers em qualquer ponto do País.
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POR José Pires

sexta-feira, 12 de março de 2010

Mataram o nosso moleque

Estávamos na sala dos desenhistas da Folha de S. Paulo em 1979 quando o Glauco apareceu com o ótimo cartum ao lado dizendo que tinham pedido para ele fazer o cartaz do Salão de Humor de Piracicaba daquele ano, mas que estava com dificuldade com a edição gráfica. Então fiz a programação visual do cartaz. As letras que formam a identificação do salão, em inglês e português, foram coladas uma a uma. Este era o único modo de montar um título com espaçamento correto naqueles tempos mais que pré-computador. Estavamos atrasados em tudo. Até na democracia.

A ditadura militar já capengava no Brasil, mas ainda não era fácil trabalhar na imprensa brasileira. O Salão de Humor de Piracicaba era um dos poucos espaços naqueles daqueles tempos de sufoco, um período muito difícil para a liberdade de opinião. Na Folha de S. Paulo as charges e cartuns sofriam uma cuidadosa auto-censura interna. Todos os jornais e revistas faziam isso.

O Salão de Piracicaba era também uma oportunidade de diversão, para encontrar os colegas numa situação de debate político e profissional, mas também da farra de beber na beira do rio Piracicaba e aprontar uns com os outros.

Nós cartunistas eramos todos moleques naquela época. Menos o Millôr Fernandes, é claro. Vejo aqui nesta notícia que bate na minha tela já de manhã que eu era até mais novo que o Glauco, que foi asssassinado na madrugada desta sexta-feira em São Paulo aos 53 anos. Mas o Glauco era certamente mais moleque que eu.

Era o mais moleque de todos, mas também sempre foi uma pessoa bastante gentil, incapaz de qualquer maldade com o próximo. E não quero que isso pareça discurso à beira da cova, mas foi até o fim um moleque atrevido. Seu comportamento brincalhão, sempre pregando peças nos colegas, tinha muito do cartunista Henfil, assim como seu traço simples e ligeiro.

Ele até morou com Henfil em São Paulo, quando o cartunista do Pasquim mudou-se para a capital paulista e resolveu juntar cartunistas da cidade em um trabalho coletivo junto ao movimento sindical. Cheguei a participar brevemente disso, mas caí fora logo que percebi que na realidade o grupo estava sendo usado por sindicalistas pelegos.

Fazia tempo que eu não via o Glauco. Para mim é novidade até essa notícia de que ele havia fundado uma igreja em São Paulo ligada ao tal do Santo Daime, algo que sempre vi com uma desconfiança que um crime desses só faz crescer.

No entanto, sempre foi perceptível nos trabalhos publicados pelo Glauco que esta função religiosa não amenizava em nada seu humor.

E para o cartum brasileiro sua grande contribuição foi a irreverência com que tratava qualquer assunto. Pode-se dizer que o Glauco trouxe um jogo de cintura comportamental e até no traço para os desenhistas de São Paulo.

Pensávamos então o cartum mais como uma ferramenta política. E ele veio com uma forma mais irreverente de lidar com o cartum, fazendo um humor anárquico até na crítica à ditatura militar. Nisso, não poupava o torturador e nem o torturado. Pode-se dizer que ele era anti-políticamente correto antes dessa palavra existir no Brasil.

Naquele final da década de 70 era bem divertido ir de ônibus da capital até Piracicaba. Apesar da ditadura, tudo era bem mais fácil. Com pouco dinheiro e até menos paciência para procurar um hotel, chegamos a dormir na praça para acordar inteiros no dia seguinte e participar dos eventos do Salão.

Hoje alguém dorme na praça em Piracicaba? Duvido, pois é bem grande o risco de não acordar vivo no dia seguinte. E hoje temos este paradoxo de viver em um país onde se tem o direito de ir e vir, mas desde que seja com carro blindado ou guarda-costas.

O crime que vitimou Glauco ainda precisa ser esclarecido, mas pelo que se sabe até agora é bem singular. Parece envolver religiosidade e loucura, dois elementos que quando se juntam sempre dá em degraça.

Mas para mim a morte do cartunista se insere neste padrão que faz da morte violenta uma banalidade neste país. Mata-se com facilidade demais no Brasil. Os últimos dados brasileiros são de 2006: 26,6 assassinatos por 100 mil. Em números atuais, no Rio de Janeiro a média é de 34,6 para cada grupo de 100 mil habitantes. É uma mortandade que todos fazem de conta que não estão vendo, até que a morte chegue perto.

Mataram o moleque do cartum. Que o assassinato do colega que levou quatro tiros, ele e seu filho, os dois mortos em um país onde todos vivem com medo, pelo menos sirva para uma profunda meditação sobre o alto grau de violência que tomou conta da vida brasileira.
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Por José Pires

Dando o nome

Como sempre o Blog do Noblat publica um artigo de José Dirceu. Só no Brasil e em países em que a ética é algo quase que supérfluo que alguém com o currículo do antigo capitão de equipe do governo Lula é tratado desse jeito, como se nada tivesse acontecido em sua vida e ele tivesse se metido em escândalos de corrupção como o mensalão, crime pelo qual responde como réu no STF.

Mas está lá o artigo do José Dirceu com o título "A defesa dos interesses nacionais". Bem, o Ricardo Noblat que publique quem ele quiser, mas tenho que repetir uma crítica que já fiz aqui. Que pelo menos o jornalista identifique de forma clara seus colaboradores.

Na identificação do articulista está lá: "José Dirceu, 63, é advogado e ex-ministro da Casa Civil". As qualificações estão até de certo modo corretas, apesar de que, historicamente, José Dirceu jamais praticou a advocacia. Pode ser, no máximo, formado em Direito.

Mas tem mais falhas nesta identificação: José Dirceu é deputado cassado por falta de decoro. Se informação é tudo, informação honesta é sempre um pouco mais.
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Por José Pires

quinta-feira, 11 de março de 2010

Em contrato anual sem licitação, empresa de Luís Nassif ganha R$ 1,28 milhão da TV Brasil, a TV do Lula

Não costumo publicar clipping aqui no blog, mas esta notícia da Folha de S. Paulo tem tudo a ver com o contexto da discussão que venho travando sobre o comportamento da blogosfera de apoio ao governo Lula. É claro que depois vou comentar.


EBC paga R$ 1,2 mi a jornalista pró-governo

Luís Nassif diz que "notória especialização" justifica contratação sem licitação pela estatal que mantém TV Brasil

O jornalista e empresário Luís Nassif mantém um contrato anual, fechado sem licitação, de R$ 1,28 milhão com a estatal EBC (Empresa Brasil de Comunicação), vinculada ao Palácio do Planalto e responsável pela TV Brasil.

A empresa de Nassif, Dinheiro Vivo Agência de Informações, produz um debate semanal, de uma hora, e cinco filmetes semanais de três minutos.

Do R$ 1,28 milhão do contrato, o jornalista fica com R$ 660 mil anuais a título de remuneração, o que equivale a salário de R$ 55 mil. Os pagamentos começaram em agosto. O programa estreou segunda-feira.

À Folha, por e-mail, Nassif afirmou que os insumos de produção cresceram de forma "não prevista no contrato original", por conta de "demandas adicionais da EBC", e que a parte destinada à Dinheiro Vivo corresponde a R$ 49 mil brutos mensais (ou R$ 39 mil líquidos), e não R$ 55 mil.

Os outros R$ 558 mil do contrato são destinados ao pagamento de uma equipe de nove pessoas e à compra de equipamentos. A gravação do debate é feita no estúdio da EBC, que também custeia deslocamento e hospedagem de convidados.

Em seu blog, Nassif tem se posicionado a favor do governo em várias polêmicas, discussões e escândalos. A página também se caracteriza por críticas a jornais e jornalistas.

Após a Folha ter revelado, no mês passado, que a Eletronet, empresa interessada em atos do governo, pagou R$ 620 mil ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, Nassif tentou desqualificar os jornalistas e fez a defesa de Dirceu.

LEIA MAIS AQUI

quarta-feira, 10 de março de 2010

Baixando nas filmagens

Estão acontececendo coisas na filmagem do longa sobre a vida de Chico Xavier, o famoso líder espírita brasileiro. Atores estão tendo arrepios, vendo coisas. O ator Nelson Xavier está impressionado com o que anda acontecendo. Ele diz que andou sentindo a presença do médium durante a gravação.

Mas o ator não é comunista? Para mim ele era do Partidão, o antigo Partido Comunista Brasileiro. Bem, depois da queda do muro, tudo pode acontecer. Mas o problema é baixar o espírito de Luís Carlos Prestes por lá. Ou de Lenin, Stalin, um fantasma desses. Aí o comunismo estará desmoralizado de vez.

Já uma atriz disse que viu o espírito de Chico Xavier ao lado de Nelson Xavier, o que pode vir a comprovar a tese de que, como tem pouca coisa pra fazer no limbo, espíritos gostam de freqüentar locação de filme brasileiro.

Porém, fiquemos com as versões. Mas se tanta coisa estranha acontece na filmagem da vida de Chico Xavier por que durante a filmagem da vida do Lula não teve nenhuma novidade? Mas também é verdade que se no filme do Lula baixasse em algum ator a vontade de esconder dólares na cueca com certeza o caso seria abafado imediatamente.
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POR José Pires

terça-feira, 9 de março de 2010

Para onde vão os bebês?

Lula fala. E a gente escuta, fazer o quê, não? Mesmo que ele não comprenda que só ouvimos em respeito ao cargo que ele ocupa. Vejam a última do Supremo Apedeuta:

"Se uma mulher é capaz de parir um político, por que também não é capaz de parir uma administração mais competente do que o político que ela conseguiu colocar no mundo?"

Uma frase dessas, por mais que esteja integrada nas outras lulices, parece coisa de marqueteiro. Tem alguém por detrás forçando eleitoralmente a condição feminina da candidatura presidencial decidida por Lula. Já estão pedindo às companheiras para forçar a barra na internet com páginas exclusivas de mulheres e outras frases do gênero já apareceram. Bem, pelo perfil truculento e o, digamos assim, jeitão, a candidata do Lula nem se enquadra no universo feminino. A não ser pra quem acha que é correto que, ao ocupar espaços profissionais, as mulheres assumam posturas que mesmo nos homens já são criticadas há muito tempo.

Mas vamos às parideiras de políticos. Primeiro que mulher alguma dá à luz políticos ou arquitetos ou encanadores ou mesmo metalúrgicos. As crianças nascem e depois tem um relativo livre arbítrio para decidir o que querem ser na vida. Ser político, aliás, principalmente depois desses anos todos do PT no poder, é um futuro que mãe alguma deseja para o filho. Até porque no final elas sabem que os palavrões sobram para elas.

Quanto à parir político, a mãe do Lula parece ter sido uma das poucas que fez isso. Além de ter nascido analfabeta, é claro. Ou Lula fez outra coisa na vida que não política? Tirando alguns poucos anos de metalúrgico, o que ele fez foi só política. E até com uma singularidade: ganhou salário do partido durante anos. E com registro em carteira.

É claro que isso é uma forçação de barra para destacar na candidatura um lado sexista que influencie pelo menos um bloco de eleitores. Mas é preciso explicar à coordenação da campanha da candidata do Lula e também ao próprio chefe que os bebês são feitos por um homem e uma mulher. É um trabalho de parceria, companheiros.
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POR José Pires

segunda-feira, 8 de março de 2010

Photoshop eleitoral

Tem uns blogs muito divertidos que publicam imagens com o uso errado do recurso do Photoshop. Na tentativa de melhorar a imagem, essa ferramentazinha danada pode causar muito estrago em fotografias. Mulheres viram bonecas de plástico, cortam-se pernas, braços, orelhas ou simplesmente exagera-se ao tentar embelezar o que já nasceu torto.

A página criada por amigas e simpatizantes da candidata do Lula logo vai cair num desses blogs como um dos piores exemplos do uso do Photoshop. Vejam a amostra ao lado da cabeça da página que estampa de lado a lado uma das muitas frases banais da ministra.

Se dessem para um adversário executar o serviço, dificilmente ele faria estrago pior. Mas como a página foi lançada por mulheres, vítimas preferenciais das barbaridades feitas com Photoshop, pode ser que haja uma mensagem subliminar na ca..., espera lá, olha o respeito, na caprichada que deram na cara da candidata.

Que mensagem? Sei lá, mas quem quiser conferir e tentar adivinhar, corra pra lá.
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POR José Pires

Extra! Extra!


Em um furo de reportagem, o nosso Departamento de Sapear na Internet (DSI) localizou uma fotografia feita em estúdio durante a segunda campanha presidencial de Lula. Nossos hackers são uns vagabundos, mas quando largam os games e vão pra luta eles são fogo. Na época a foto sofreu um photoshop rigoroso. Retocaram bastante o fundo e só foi distribuida pelos marqueteiros depois de eliminada a sombra do petista. Pois conseguimos obter com exclusividade a imagem sem a malandragem do retoque.

Sinônimo

Estas armações feitas para forçar um resultado nas pesquisas do Google são sempre divertidas. Digite a palavra Mentiroso no Google. E na primeira linha vai aparecer o cara. Até que o suprido departamento petista para a internet se mexa para estragar a piada dá para divertir-se um pouco. Corra para ver.
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POR José Pires

Puxando pela memória

A cúpula da campanha da candidata do Lula deve estar debruçada sobre o discurso do governador José Serra sobre o centenário de Tancredo Neves. Ali está resumido de forma clara e inteligente a linha de sua campanha para presidente.

O discurso é muito bom, de qualidade rara em nossa política, apesar de que isso não é elogio que se faça, já que nossos políticos falam bem mal e escrevem pior. Mas o elogio ao discurso de Serra é ainda mais válido, já que ele próprio pensa e escreve o que sai de sua boca, coisa raríssima por aqui.

No discurso ele lança uma idéia boa, um resgate histórico do mérito dos que realmente fizeram o Brasil não sair dos trilhos e descarrilar de vez na política e na economia. Serra fechou este período em um ciclo de 25 anos que vem do advento da Nova República para cá.

Em sua fala, o governador paulista cita nomes importantes como Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Leonel Brizola, Teotônio Vilela, José Richa, Mário Covas, Sobral Pinto, Raimundo Faoro e Celso Furtado. Podia puxar mais gente nesta memória, pois são muitos os que se esforçaram para que o Brasil não caísse em desgraça.

É muita gente que ficou para trás e que vem morrendo na memória brasileira, primeiro por incapacidade dos tucanos e da oposição. De nós todos, é verdade. Depois por um trabalho canalha e persistente dos petistas, que enterram tudo que não é parte de seus interesses particulares calcados no partido.

Isso tem dado certo para seus propósitos políticos. Estão com o poder. Muitos deles ficaram ricos em pouco tempo. Mas essa estratégia que eles procuram implantar é um desastre para a construção da memória política de um país como o Brasl, que talvez precise mais que os outros de entender e valorizar o que aconteceu nos últimos trinta anos.

Serra traz de volta estes nomes e dá um realce ao de Franco Montoro, uma das figuras mais importantes da história recente do país e que os tucanos com sua idiotia política nunca tiveram a grandeza de exaltar.

Mas, também não deve ser nada fácil agregar a importância política de um Montoro a um partido liderado nacionalmente por senadores como Sérgio Guerra, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio — este último bastante sumido ultimamente, o que não deixa de ser bom para os tucanos.

Será que um curso de seis meses basta para Jereissati, Guerra e Virgílio entenderem o significado de Franco Montoro? Duvido. E ainda é capaz de um deles alegar que o ex-governador paulista, um dos poucos governadores deste país que foi realmente um Estadista, poderia ter rejeição entre o eleitorado.

Mas voltemos à fala de Serra, que mostra que provavelmente ele irá trabalhar com a memória do que foi feito neste ciclo de um quarto de século, o período exato da Nova República. Com isso pode-se acabar com a mentira que os petistas pretendem aplicar aos eleitores de que os avanços neste país são da autoria exclusiva deles.

A mentira é ainda mais grave porque se dependesse do PT estaríamos em situação bem pior hoje. Mais ainda, o país poderia ter se desencaminhado de vez lá atrás. Não teríamos Nova República, mas sim um Brasil governado pelo Paulo Maluf. Isso se fosse seguida a linha programática do PT na época.

Na foto mais conhecida das diretas, temos no palanque um Lula com ar constrangido, de cigarro na boca para mostrar melhor o nervosismo. Então, para o PT, os que estavam ao lado de seu líder representavam a "oposição burguesa" ou até "da direita".
Pois o PT só entrou na campanha das Diretas Já quando o trem já estava andando. E a Constituição de 88 só tem o jamegão do PT porque Ulisses Guimarães (outro líder importante que as bestas dos tucanos esqueceram) insistiu junto a Lula para que os petistas não contribuíssem para melar um processo político vital para a nossa recente democracia.

A ausência do PT em fatos políticos definidores da nossa história forma uma lista bem grande. É certo que em muitos deles, a ausência de Lula e seus companheiros preencheu uma lacuna. Pelo menos não atrapalharam. Mas isso não os absolve da extrema irresponsabilidade política.

A história mostra que se prevalecesse a vontade política dos petistas, não haveria sequer espaço para uma vitória eleitoral de Lula. Talvez nem para a candidatura. É possível até que nem tivéssemos mais eleições, pois não é difícil supor o que faria um Paulo Maluf como um presidente apoiado na direita militar.

Pelo que se vê, Serra pretende reviver a memória dos políticos que evitaram esta tragédia e contribuíram para tivéssemos um país com um equilíbrio econômico e uma democracia que não é exatamente o ideal, mas em história muitas vezes é necessário raciocinar com o que poderia ter acontecido. E com certeza se essas pessoas não tivessem agido... bem, é bom nem pensar.

Bem, esse é um serviço atrasado dos tucanos. Deviam estar fazendo isso há pelo menos duas décadas. Porém, nunca é tarde para começar.

No discurso, Serra diz que o Brasil de hoje tem a cara e o espírito dos fundadores da Nova República. E elenca as qualidades para sustentar a frase: “senso de equilíbrio e proporção; moderação construtiva na edificação de novo pacto social e político; apego à democracia, à liberdade e à tolerância; paixão infatigável pela promoção dos pobres e excluídos, pela eliminação da pobreza e pela redução das desigualdades”.

Está aí um plano de campanha. Se esta base estivesse sendo trabalhada desde a fundação do PSDB, por certo os tucanos teriam até um partido. O discurso tem a vantagem de não ser meramente retórico. Muito menos marqueteiro. Foi isso mesmo que aconteceu e a maioria dos brasileiros que aí estão viveu estes acontecimentos ou tem alguém ao lado que pode contar como foi.
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POR José Pires

sexta-feira, 5 de março de 2010

Do Barulho

Entre os tucanos não funciona aquela história de que mineiro trabalha em silêncio. Que gritaria da mineirada tucana, hein?

Vai lavar teu tcherembó

José Rimabar Bessa Freire escreve em seu site com cara de blog, o Taquiprati, sobre a a política do Amazonas e traz uma expressão de indignação que devia ser implantada nacionalmente. É “Vai lavar teu tcherembó”, uma frase em guarani para ser usada quando alguém vem com alguma proposta indecente, o que é muito comum na política brasileira.

Em uma crônica longa, mas que a gente acompanha com paciência pois é bem escrita, Bessa Freire conta vários fatos interessantes lá daquelas bandas, de política ou não pois sua prosa é de “várias ramas”, como ele diz.

E traz esta expressão ótima: “Vai lavar teu tcherembó”. Nem precisa dizer o que é isso, pois é evidente que a coisa está suja. Além disso, o acento no final dá uma força para a indignação que poucas expressões de branco permitem.

“Vai lavar teu tcherembó” permite também uma diversificação rara. Não é como certos palavrões, que já adquiriram endereço certo ou acabam nulos em eleição disputada por homens e mulheres.

“Vai lavar teu tcherembó”, não. Serve para todos. Até para candidato negro, se aparecer um Obama local, já que tcherembó não tem diferença de cor, sexo ou religião. É um xingamento igualitário.

Pode ser usado por quem não gosta da Dilma Rousseff, do José Serra, também do Ciro Gomes, o neopaulista que ainda nem sabe para onde vai nesta eleição, e até mesmo, como não?, para a pacata Marina Silva.

Quer saber mais sobre esse negócio de lavar o tcherembó? Vai lá no Taquiprati.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Inauguração percentual

Não é novidade que sou contra o lulo-petismo, mas não teria a má-vontade de deixar de ver que eles trouxeram novidades para a política brasileira. O Estadão de hoje conta que o presidente Lula vai inaugurar 25% das obras do PAC na Favela da Rocinha.

Já vai para dois anos do início das obras e a coisa não anda: só fizeram até agora pouco mais de um quarto do projetado, que representam pouco mais de um quarto dos R$ 220 milhões prometidos para a comunidade.

Vejamos como o jornal noticia o fato: "Foram concluídas as obras de um complexo esportivo (18,6% do orçamento previsto) e do Centro de Atendimento à Saúde, chamado pelo governo de “super UPA” (Unidade de Pronto-Atendimento), que oficialmente significou 7,1% do total. Obras do PAC estão em andamento em cinco favelas do Rio e as da Rocinha são as mais atrasadas."

Pois Lula vai lá na próxima segunda-feira cortar a fita de inauguração de 25% da obra. Não deixa de ser uma novidade. Talvez seja esse o tal do "modo petista de governar" que falaram tanto.
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Por José Pires

Lembrando de Rubem Braga

Releio, sei lá pela vez que é, o ótimo livro de José Castello sobre Rubem Braga, "Na Cobertura de Rubem Braga". É edição antiga, de 1996. Me vem à lembrança umas crônicas dele e pego seus livros para procurar. Quando vejo, já estou há mais de uma hora lendo Rubem Braga até que alguém me telefona para falar de outro assunto. O livro feito pelo Castello é um daqueles que não exige ir do começo ao fim. Depois de lido e mesmo antes disso, pode-se entrar por qualquer página que a gente encontra sempre um capítulo que permite uma leitura isolada do resto.

Castello escreveu dois sobre Rubem Braga, os dois muito bons. Escreveu também um sobre o poeta João Cabral de Mello Neto, “João Cabral de Melo Neto: O Homem sem Alma”, que é um dos livros mais preciosos já feitos no Brasil. Chega perto do conceito de obra-prima, talvez já seja uma, apesar de que acho que é preciso de um pouco mais de tempo para resolver isso.

Mas estou falando do livro do Rubem Braga, de um deles, de “Na Cobertura de Rubem Braga”, no qual Castello escreve o que lembra uma extensa crônica com este título simples, mas que ao mesmo tempo — e o trocadilho é inevitável — é uma sacada.

De vez em quando me deparo com uma antiga edição de um livro seu (do Braga, é claro) em algum sebo, por vezes uma daquelas brochuras simples da Editora Sabiá, que era também de sua propriedade com alguns amigos escritores, e me vem na alma uma emoção de cronista. E aí me dá a vontade de levar para casa, mesmo já tendo na minha biblioteca um volume igual, algumas vezes até em duplicata que andei comprando em alguma viagem. E lá estou eu com dois livros iguais do Rubem Braga.

(Não é raro que estando em uma cidade estranha me vem a vontade de ler certo livro. Então eu compro e acabo depois ficando com dois livros iguais numa biblioteca que já avança por todos os cômodos da casa.)

Mas a emoção do cronista. O que o cronista tem de bom — e Rubem Braga exalava como ninguém esta qualidade em seus textos — é a capacidade de ver e entender o significado que as coisas aparentemente simples têm para a vida. Para a satisfação de seus leitores, Braga passava isso em cada texto. E quem lê este tipo de coisa desde cedo acaba vivendo bem melhor porque abre os olhos para o que realmente importa.

Logo que conheci seus textos, e isso foi bem cedo, fiquei maravilhado em saber de um escritor maduro e respeitado que gostava das mesmas coisas que eu: riacho, passarinho, nuvens passando, a criança feliz, a conversa amiga, essas coisas simples que, no final, é o que temos de melhor da vida. Eu até ia dizer “é o que sobra da vida”, mas na verdade não é sobra, não. É essência.

Engraçado que nunca conheci pessoalmente o cronista, mas ele é uma das pessoas de quem mais me lembro. Às vezes vejo uma paisagem e me vem à memória a sua cara fechada e penso; “Acho que o Rubem Braga ia gostar disso”. Sei que isso é um sentimento literário, a marca de um escritor muito importante para mim, mas gosto de pensar neste assunto como se fosse também uma grande amizade.

O livro do José Castello acabou dando ao leitor o que ele pretendia, “uma atmosfera” da vida do escritor, que é, no final, o que a gente procura nessas biografias e nunca acha. Em muitas biografias tem muita fofoca, coisas inventadas que o biógrafo acolhe porque quer mais inventar um pesonagem que entender o ser pesquisado. O Castello não faz isso. E o interessante é que ele não gruda em um mito algum, dos tantos que envolvem a figura arredia do cronista. E nem tenta fabricar um. De forma que quando você termina de ler “Na Cobertura de Rubem Braga” não sai com um Rubem Braga do José Castello. O cronista mantém-se ainda íntegro na sua memória. O que você ganha são vários elementos que fortalecem a estrutura deste espaço sentimental.

Castello até escreve que no fim do livro ainda haverá uma grande biografia do Rubem Braga a ser escrita. Pode até ser, até porque falar de gente assim nunca é demais. Mas não é uma dependência deste livro, que serve integralmente ao que pretende, sem nenhuma perna manca que exija outra obra para equilibrar.

Rubem Braga também escrevia bastante sobre artes plásticas, o que também fazia muito bem. Fazia isso juntando a qualidade do cronista com a do apreciador de arte que entendia como poucos do que era de seu gosto. Porque neste campo o cronista só falava do que gostava. Não era sua intenção ser um crítico de arte. Era mais o amante das artes que também entendia muito bem do assunto.

Alguém já juntou estes textos em um livro? Ainda não vi algo assim, mas não é improvável que já tenham feito, pois de vez em quando surge para mim com ar de novidade algum livro que depois vou saber que já foi editado há dois, três anos.

Mas se ninguém ainda fez um livro só com os escritos de Rubem Braga sobre arte, é uma boa pedida. Do meu lado, garanto que compro um exemplar. Ou até dois ou três, dependendo da vontade que surgir numa dessas viagens que a gente faz de vez em quando.

Segura aí, meu vice

É impressionante como tem jornalista querendo dar uma mão para o governador José Serra. Não é ironia, não. A cada fato novo sobre a candidatura presidencial do tucano, a imprensa começa a trazer inumeráveis planos para facilitar sua chegada ao Palácio do Planalto ou pelo menos impedir uma rasteira do Lula ou da Dilma Rousseff.

E este danado vício de palpitar em vez de analisar de fato não contagiou apenas colunistas políticos. É epidemia. Até em reportagens a mania está instalada. No lugar de informação o leitor encontra receitas miraculosas para salvar o Serra. Todo mundo virou Duda Mendonça.

Já temos idade suficiente para saber que não adianta exigir isenção jornalística, mas será que também é demais pedir bom senso, equilíbrio, ou mesmo que o profissional se atenha ao assunto, sem exercer o ofício de marqueteiro onde se pede jornalismo?

Até quem é atrelado ao governo Lula dá seus pitacos. Outro dia, Mino Carta, que sabidamente detesta Serra, dedicava-se em sua coluna na revista Carta Capital (não confundir com Carta Maior, que também é a favor do governo, mas é um site) a aconselhar o tucano. O jornalista começava dando um tremendo pito no governador por ele estar respeitando a lei e não fazendo campanha desbragadamente como a candidata do Lula. E no meio ia dando suas votiosas dicas.

Aliás, este tem sido um hábito de grande parte dos jornalistas. Em vez de denunciar a ilegalidade da campanha de Dilma Rousseff fora do período eleitoral permitido, eles criticam Serra por não fazer o mesmo.

E agora a queda nas pesquisas criou um coro: Serra, tem que botar a campanha na rua! As orelhas do tucano devem estar ardendo. É conselho demais, muita receita miraculosa. Só falta fornecerem slogan, programa de governo e programa no horário gratuito.

Mas não deixa de ser confortável. Com tanta gente cuidando de sua candidatura, pelo menos ele pode se dedicar ao governo de São Paulo. Mas não dá, pois mesmo entre os seus correligionários em São Paulo há quem tenha lá suas idéias para a coisa melhorar.

O Fernando Henrique Cardoso é um deles. No início da semana ele veio com a melhor: botar o senador cearense Tasso Jereissati de vice para barrar o crescimento da candidatura lulista na região de sua base. É coisa de gênio. O PT tem força no Nordeste por causa do marketing de migrante pobre espalhado por Lula e então os tucanos lançam um político ricaço de vice. E como desta vez os petistas tiveram o bom senso de não aplaudir é até capaz da idéia prosperar.

E eu que pensava que não surgiria entre os tucanos besteira maior que a proposta de apoio a descriminalização das drogas em ano de eleição para presidente da República.

Mas eu até gostei de outra propalada qualidade de Tasso Jereissati que faria dele um excelente vice para Serra. É que sua presença na chapa refrearia os ataques do deputado Ciro Gomes.

Aí eu acho interessante, até porque como ninguém nunca soube muito bem para o que serve um vice numa campanha, isso daria um sentido para esta figura política. Está aí o papel do vice: esse é bom porque segura fulano, aquele segura o sicrano.

E o Tasso Jereissati também não precisaria mais se preocupar com sua imagem histórica. Quando depois de passar pela Rua Tasso Jereissati ou entrar na Escola Tasso Jereissati alguma pessoa fizer a famosa pergunta "Quem é esse cara?" na certa vai receber a resposta na bucha: é o cara que segurava o Ciro Gomes.
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Por José Pires

quarta-feira, 3 de março de 2010

Chapa quente

Em seu blog na Veja, o jornalista Augusto Nunes resolveu dar uma força para a candidatura do ex-cearense Ciro Gomes ao governo de São Paulo. Está fazendo uma enquete para seus leitores escolherem o vice da chapa, que ele chama de "a pior dobradinha de todos os tempos".

Até agora vai dando José Dirceu de vice. E com tamanha vantagem que dificilmente, se depender da vontade dos leitores do blog, não será ele o companheiro de chapa do mais novo político paulista. O antigo capitão do time do Lula já está com 42%.

Eu já votei. Em José Dirceu, é claro. Eu não iria perder esta chance única de votar em um petista. Quem quiser votar também é aqui. E se esses dois ganham a eleição de fato a única dúvida é quem vai ser pego primeiro numa maracutaia.
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Por José Pires

PT quer superfaturar briga com Requião

Já disse aqui que o governador Roberto Requião é bom de briga. Muitas de suas encrencas não chegam ao plano nacional, pois mesmo com a internet nossa mídia não sai da ponte aérea Rio-São Paulo. Pois os brasileiros não sabem o que estão perdendo.

Quando Requião começa uma briga os paranaenses nem se preocupam quem está com a razão. Então é hora de sair pra rua, colocar as cadeiras na calçada. Com certeza virá animação. O Paraná é uma terra entediante e para isso Requião serve: traz agitação em um estado onde a política é feita só de conchavos.

Sua briga com Paulo Bernardo continua animada. Requião só faltou chamar de ladrão o ministro de Lula. Acusou o petista de pedir superfaturamento em um projeto conjunto do Paraná com o Governo Federal.

Bernardo revidou acusando o governador de mentir. Requião reafirmou a denúncia de superfaturamento e ainda disse que o ministro queria favorecer a empresa ALL, que deixaria de pagar R$ 52 milhões por ano por uma concessão ferroviária.

Anteontem o PT oficializou o rompimento com o governo Requião, o que mostra bem o nível político do partido. Isso é que é superfaturar politicamente um rompimento. Arrotam coragem onde existe apenas oportunismo. Faltam apenas nove meses para acabar o governo e dificilmente Requião fará o sucessor. Teriam mesmo que sair da boca. E cargos comissionados que vão disputar eleições teriam mesmo que deixar o governo em poucos meses.

Em nota oficial a executiva estadual do partido, que é dominada pelo grupo de Paulo Bernardo, afirma que "foi acertada a decisão de participar do governo Requião". Mas claro que foi. Mamaram durante anos, estabeleceram com isso forças no interior do estado e agora saem como se fosse em defesa da honra.

Requião não volta atrás. Ameaçado de ser processado por Paulo Bernardo, o governador fez piada dizendo que vai passar a chamar o ministro de “pseudoladrão” e sua proposta de “pseudomaracutaia” para escapar de uma condenação.

Uma revelação que surge da briga é o imenso número de comissionados que o PT encaixou no governo paranaense: as estimativas dizem que são cerca de 600.

E isso só vem comprovar aquilo que foi dito pelo ex-governador Anthony Garotinho. Na época o PT carioca também abandonava seu governo no Rio de Janeiro depois de mamar bastante nas tetas do Estado. O PT, disse garotinho, é o “Partido da Boquinha”. Foi uma das únicas verdades saídas da boca de Garotinho e, talvez até por isso, virou uma frase histórica.
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Por José Pires