Existe hoje em dia uma dificuldade que me parece muito grande, enorme mesmo, na definição dos fatos. “Assim é, se lhe parece” é uma frase ótima de Luigi Pirandello, escritor italiano que infelizmente anda esquecido. É um autor desse nosso tempo. A frase é um conceito genial sobre a realidade e a aparência. Mas com isso Pirandello fazia arte. Hoje estão criando fraudes.
Tem muita coisa por aí que não é o que parece. Manifestação de protesto, por exemplo, é qualquer coisa que o jornalista decida, o que pelo jeito é regido pela preguiça em eliminar acontecimentos que valeriam no máximo apenas uma notinha de curiosidade. Isso aconteceu neste episódio da prisão de manifestantes violentos no Rio de Janeiro, quando fizeram a cretinice de entrar no consulado do Uruguai para pedir asilo político. Seria para rir, se não fosse trágico, mas o que me chamou a atenção foi uma notícia sobre "manifestação" de apoio aos pretensos asilados na frente do consulado.
É claro que cliquei para ver a multidão de cariocas nas ruas exigindo justiça para os perseguidos políticos do terceiro milênio. Porém, o que vi foram quatro pessoas — isso mesmo, quatro — com dizeres escritos às pressas em cartolinas. Uma das fotos inclusive mostra os "manifestantes" escrevendo na hora as palavras de ordem para fazer a foto. Pode até ser coisa dos próprios jornalistas, uma sugestão de cena para levar algo, digamos assim, mais substancial para a redação. Não é nem um pouco ético jornalista influir desse jeito na realidade que ele tem a obrigação de relatar ao leito, mas essas coisas têm acontecido demais. É um viés de esquerda desta profissão, entende? E lá estavam as quatro pessoas, que na notícia foram transformadas em "manifestação". E o site ainda publicou as falas de alguns deles, sem a preocupação de informar ao leitor o que eles fazem na vida e o que, afinal, representam.
Isso foi um acontecimento brasileiro — espere, esqueci as aspas — "acontecimento brasileiro", mas já vi esse tipo de farsa em fatos — as aspas, sô! — "fatos" do exterior que foram depois influenciar atitudes pelo mundo afora. Um exemplo: numa das ações do Femen, na Rússia, fui lá ver o que se passava e dei com cena parecida com a dos gatos pingados do consulado uruguaio. Era uma meia dúzia de garotas de seios de fora. Numa das fotos elas tiveram que se juntar para dar uma imagem melhorzinha. Mas é assim agora. E no caso do Femen, essa ação sem representatividade alguma virou notícia internacional, levando outras gatinhas exibicionistas (ou nem tão gatinhas assim) a mostrar os peitinhos em outros países. Sempre protegidas socialmente, é claro, que ninguém é de ferro.
Citei esses exemplo, mas a falta de noção da imprensa tem gerado uma porção de ilusões semelhantes. São atos sem nenhuma representatividade, nos quais uma minoria de pessoas mais ousadas ou mesmo doidinhas fazem uma performance de grupo e viram notícia política. E já sabendo que os jornalistas estão desse jeito — aceitando qualquer encenação como se fosse um fato real — partidecos oportunistas e irresponsáveis como o Psol e o PSTU armam confusões com jovens abilolados e acabam aparecendo como se fossem partido atuantes da atualidade.
A imprensa brasileira precisa retomar sua responsabilidade na definição séria do que acontece no Brasil, um país, aliás, que num passado recente, manifestação pra ser respeitada tinha que juntar muita gente e ter liderança séria. Mais que petulância juvenil e seios pra fora, é necessário substância política e representatividade que justifique a notícia. É a mesma exigência que deve ser feita antes de tratar como herói do povo qualquer maluco que joga uma pedra numa vitrine ou toca fogo em alguns papéis nas ruas. O brasileiro precisa reaprender a dar o nome certo à coisa certa.
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POR José Pires
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Imagem- Manifestação? Não é, mesmo que lhe pareça.