Em “Honoráveis Bandidos”, Palmério conta a história do poder regional da família Sarney e também lances reveladores sobre os métodos do atual presidente do Senado e ex-presidente da República para empalmar o poder no nível federal, desde sua altamente lucrativa vassalagem com a Ditadura Militar, passando pela tretas no Maranhão e chegando até os arranjos com o lulo-petismo para afastar os riscos de que a cadeia também passasse a fazer parte da história do clã.
É Palmério quem conta no livro: “Em 2008, o senador José Sarney voltou a ser manchete, principalmente das páginas policiais, quando revelada a organização criminosa da qual seu filho fazia parte. Para não deixar o filho ir para a cadeia, ele teve de disputar no ano seguinte a presidência do Senado. Foi preciso colocar a cara para bater. O poderoso coronel voltou para dar forças aos filhos, para salvá-los".
Daí foi o que se viu. Uma vergonhosa associação entre a esquerda estabelecida no poder e o setor mais atrasado da política brasileira para defender Sarney nos escândalos que começaram a surgir depois que ele sentou pela terceira vez na cadeira de presidente do Senado. Até a candidata de Lula à presidência, Dilma Rousseff, se encalacrou na maracutaia, com o pedido para que a Receita Federal aliviasse a situação da família Sarney.
Não deixa de ser triste o que se passou. Em razão do interesse pessoal de Lula, blogs da internet, políticos que até então se mantinham fora da esfera sarneysista, e também diversos jornalistas e acadêmicos saíram na defesa direta de Sarney ou em manobras asquerosas para embaralhar os fatos, com tentativas inclusive de desqualificar os críticos da corrupção sarneysista.
O pessoal é malandro e só vê seus interesses pessoais, eu sei. Mas o que acontece é que isso destrói conceitos sociais de ética muito preciosos e que nesses anos todos exigiram muito esforço para sua construção.
Acho até que o reguardo petista de Sarney foi bem além do que poderia ser aceito como tática política. Até revogou-se o irrevogável. E saiu da boca volúvel de Lula a notória definição de Sarney como alguém acima das “pessoas comuns”. Muita gente vê nos gestos do lulo-petismo de defesa das falcatruas do senador maranhense eleito pelo Amapá apenas como uma tática como parte do plano para criar uma forte base para a estratégia eleitoral de 2010.
Eu não vejo assim. E acho que a análise indo por este lado até qualificaria esta atitude nojenta de Lula e seus companheiros. Isso até valorizaria Lula e o bando de sem-vergonhas à sua volta. O que Lula tem mesmo é muita dívida com Sarney. Costumo dizer que mais que um arquivo vivo, Sarney é do tipo que é um arquivo muito vivo. A impressão que dá é que ele tanto sobre o petista e seus companheiros que basta pegar o telefone e ligar para o presidente da República exigindo solidariedade.
Mas voltemos a “Honoráveis Bandidos”. Palmério Dória conta a história de Sarney, mas não esperem aquela biografia linear, com a ponderação do jornalista vestindo casaca de historiador, algo muito comum em livros sobre a nossa política.
O título do livro já mostra o que tem dentro. “Honoráveis Bandidos” é uma maravilha de nome, que fecha o conceito sobre esta cambada de ladrões de forma admirável. E a foto de capa dá até vontade de perguntar para o Palmério como é que ele conseguiu convencer Sarney a posar em estúdio para colaborar na edição do livro.
Palmério tem estilo destravado. Sabe extrair sabor, expõe com ironia o cotidiano farsesco dessas pessoas que fingem ser altas figuras. Dessa forma, o que ele escreve acaba sendo bom de ler, em um ritmo que envolve o leitor e revela muito, mas muito mais mesmo do que certos livros que observam a História com formalismo.
Tenho uns trechos de “Honoráveis Bandidos” para mostrar pra vocês. Cliquem aqui e folheiem esta ótima obra, antes que o Sarney mande censurar.
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POR José Pires