sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

E a incontroversa participação da Época

A quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa e a participação de setores da mídia no caso é um dos casos mais sórdidos do governo Lula. E vai ficar na história da República entre os piores fatos da política. O depoimento do caseiro foi no dia 16 de março. Um dia depois a notícia de que ele teria movimentação financeira incompatível com a renda saiu no site da Época.

Para publicar com urgência a notícia, com a suposta intenção de abafar o depoimento de Francenildo, a revista lançou naquele dia um blog na internet. O blog foi aberto no dia 17 de março de 2006 postando às 18:45:02 a notícia sobre depósitos na conta do caseiro. Evidentemente a revista não conta como obteve a informação. Hoje o blog está abandonado. Fui ver como ele está agora. A última postagem data de 17 de março de 2007, ou seja, durou exatamente um ano. Dez dias depois, no dia 27, Palocci caiu do ministério.

O procurador da República lista seis telefonemas para a revista Época no dia 17 de março: nos horários de 10h03, 12h33, 12h40, 15h38, 16h43 e 17h40. A notícia saiu no blog às 18:45:02, como disse acima. O dia foi bem corrido, na revista e no ministério. Além disso, um dia antes aconteceram 12 ligações entre Palocci e seu assessor de imprensa. No dia 17 falaram nove vezes.

O primeiro a revelar que o então assessor de imprensa de Palocci, Marcelo Netto, estava envolvido no vazamento do sigilo foi Diogo Mainardi em sua coluna na Veja. No mesmo texto, Mainardi deu também uma importante notícia: um dos filhos de Marcelo Netto, Matheus Leitão, era repórter da Época. Escreveu então Mainardi: “O episódio é ilustrativo dos esquemas de aliciamento, apadrinhamento e cumplicidade do petismo. Um protege o outro. Um defende o outro. Um conluia com o outro. Um contrabandeia mercadoria ilícita para o outro. Toda essa história surgiu porque o caseiro Francenildo Costa não sabia quem era seu pai. O jornalista Matheus Leitão sabe perfeitamente quem é o seu. É Marcelo Netto”.

A alusão ao pai de Francenildo Costa se deve ao fato de que o depósito em sua conta havia sido feito por seu suposto pai (Francenildo teria nascido de uma relação extraconjugal) como parte de um acerto entre os dois. O vazadores do sigilo não tinham tido tempo para saber que, na verdade, o que estava em suas mãos era apenas uma “bombinha” jornalística, cujo efeito ao invés de desmerecer acabou aumentando a credibilidade do caseiro.

Helena Chagas, chefe da sucursal do jornal O Globo em Brasília, também esteve implicada no caso. A jornalista morava, que morava ao lado da mansão do grupo de Palocci, soube da alta movimentação na conta do caseiro. Nem pensou em fazer uma matéria jornalística: passou a informação para Palocci.

Em depoimento à Polícia Federal o ex-ministro Palocci disse que foi por meio de Helena Chagas que tomou conhecimento de que Francenildo Costa tinha uma movimentação atípica em sua conta bancária. À polícia, Palocci disse que a jornalista contou-lhe que seu jardineiro conhecia o caseiro e que este lhe passara a informação. Helena Chagas acabou sendo demitida de O Globo.

A denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, já está na a Justiça. Caso seja acatada, será um empecilho ético para o trânsito fácil do profissional Palocci na política brasileira.
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POR José Pires

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