domingo, 21 de agosto de 2011

As faxinas que nunca são feitas

Os que acreditam que a presidente Dilma Rousseff está mesmo fazendo uma faxina ética deviam pedir que ela e a cúpula de seu partido não interfiram na faxina que está sendo muito bem feita em Campinas pelos vereadores da cidade. Ontem eles cassaram o prefeito Hélio Oliveira Santos (PDT), o Dr. Hélio.

O prefeito cassado foi eleito duas vezes com o apoio do ex- presidente Lula já instalado na presidência da República, ou seja, fazendo campanha do modo vergonhoso de sempre, com a faixa presidencial no peito ou "na barriga", no seu caso. Além de aliados os dois são amigos bem próximos, tão próximos que no escândalo de corrupção de Campinas surgiram até depoimentos vinculando Lula com a corrupção municipal.

Durante todo o período do escândalo de corrupção em Campinas Lula usou sua projeção nacional para falar do caso sempre em defesa do prefeito que foi afastado. Esse é o partido da presidente que tentam vender como faxineira ética.

A situação em Campinas é das mais graves. Parece tão séria que a defesa que Lula fez nacionalmente do prefeito cassado não convenceu nem os três vereadores que o PT tem na Câmara. A cassação do Dr. Hélio foi aprovada por 32 votos a um. Apenas um vereador do PCdoB foi contra a cassação.


Ameaçado de cassação,
o prefeito mandou recado
aos poderosos petistas

São muito fortes as relações do cassado Dr. Hélio com a alta cúpula do PT. Numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em junho ele cita até a presidente Dilma Rousseff para mostrar que teria fortes apoios para escapar da crise em Campinas.

Segundo o Estadão, a entrevista foi feita com Dr. Hélio ladeado por advogados especialistas em causas criminais e direito eleitoral e administrativo. Um de seus defensores é José Roberto Batochio, que foi presidente da OAB entre 1993 a 1995. Batochio é advogado de Paulo Maluf e também do ex-ministro Antonio Palocci.

Na entrevista, feita para tentar se desvencilhar do escândalo que resultou em sua cassação, Dr. Hélio disse que Lula estava do seu lado. Sua fala ao jornal: "O presidente Lula está comigo, ele passou por situação assemelhada. A Dilma também está comigo. O Zé (José Dirceu) me telefonou”.

Como diz o jargão, para bom entendedor... Não é preciso pensar muito para ver que se trata de um recado. E dois dias depois o Dr. Hélio teve pronta resposta tanto de Lula quanto do poderoso chefe petista José Dirceu.

Num encontro nacional do partido ele foi defendido por Lula com um discurso inflamado em que acusava a oposição de “achincalhar” o PT e seus aliados. Dirceu também fez uma veemente defesa do prefeito cassado.


O misterioso e forte elo
de Lula com o prefeito
que acabou sendo cassado

O enrosco em Campinas é sério. Já falei que nem os vereadores do PT aceitaram a argumentação de Lula favorável ao prefeito. E o fato de o PT ter apenas três vereadores pode ser revelador da imagem do partido na cidade.

Mas por que então Lula defende com tanta ênfase o prefeito cassado? Por muito menos ele deixou na estrada companheiros históricos do PT. É estranho que agora não largue o Dr. Hélio, que nem petista é. O Ministério Público aponta a mulher do Dr. Hélio, Roseli Nassim dos Santos, é apontada como a cabeça da suposta organização criminosa desmantelada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Campinas. A ex-primeira-dama era também chefe de gabinete do prefeito e chegou a ter a prisão preventiva decretada.

Com a cassação do prefeito assume o vice, que é o petista Demétrio Vilagra. Ocorre que Vilagra também está encalacrado em denúncias de corrupção. Ele já foi até preso recentemente por isso. Na Câmara Municipal já tem um pedido da instalação de uma Comissão processante para cassar seu mandato.

Outra relação de Lula com
Campinas é no assassinato
não esclarecido do prefeito

Rolos do PT em Campinas não é coisa nova. Foi nesta cidade que foi morto um petista importante, o prefeito Toninho do PT, um dos crimes que desesperadamente o PT quer deixar para trás, mas não consegue.

O crime aconteceu em 2001, pouco antes de Lula obter sua primeira vitória para a presidência da República. Foi bem próximo também da morte de Celso Daniel, quando ele era prefeito de Santo André e acabou sendo seqüestrado, torturado e morto. Toninho foi assassinado em 10 de setembro de 2001 e Daniel em 20 de janeiro de 2002.

As duas mortes foram em contextos semelhantes envolvendo grossa corrupção. Os casos são parecidos principalmente pelo interesse do partido em encerrar ambos com a definição de crime comum. A conclusão da morte de Toninho do PT é praticamente inédita. Ele teria sido morto por “atrapalhar a fuga” de bandidos.

É de estranhar muito o esforço que vem sendo feito para fechar de qualquer jeito os dois casos, até porque um aprofundamento das investigações livraria o PT de ter esses crimes fixados em sua história, como agora acontece. São dois fantasmas perpétuos do partido. É estranho também que o deixa pra lá seja feito exatamente por amigos das vítimas, inclusive de Lula, que era amigo tanto de Daniel quanto de Toninho do PT.

Repetindo o hiperbólico presidente, nunca neste país um partido teve tantos rolos que envolvem até assassinatos. E nisso não dá para culpar heranças malditas, já que tudo é coisa exclusiva do PT.


Lula prometeu à viúva investigar
melhor o crime, mas depois de
eleito se negou a recebê-la

Lula chegou até a prometer aos familiares de Toninho do PT que tornaria federal a investigação do assassinato do prefeito de Campinas, mas não quis saber mais do caso depois de eleito. Recusou-se até a receber a viúva do companheiro do partido, que luta até hoje para ver esclarecida a morte do marido.

É uma estranha maneira de tratar a viúva de um companheiro morto, não é mesmo? Roseana Garcia, a viúva do prefeito assassinado hoje nem quer ouvir falar mais do PT. Em setembro de 2007, numa matéria do Estadão sobre os seis anos da morte de seu marido, ela desabafou: "Caso Antonio ainda estivesse vivo, teria 55 anos (...). Ele não teria compactuado jamais com as falcatruas que o PT vem fazendo. Como político, ele mesmo dizia que não tinha o rabo preso com ninguém".


Faxina tem que começar de
baixo ou a sujeira acumula
e toma conta de tudo

Mas o que esses crimes têm a ver com a cassação do Dr. Hélio e com a alegada faxina de Dilma Rousseff? Tem tudo a ver. Os dois crimes têm relação com corrupção nos municípios e uma provável ligação com o engordamento de caixas de campanha. Na morte de Celso Daniel sua família cita inclusive que o dinheiro estaria sendo entregue na época para pessoas bem próxima a Lula.

Outra questão é que se referem aos municípios brasileiros, onde se atam incontáveis nós que estruturam a pesada corrupção nacional. Não adianta fazer de conta que existe uma faxina só porque um ou outro ministro cai depois de denúncias da imprensa.
É preciso atacar a corrupção no cotidiano e sem um sério compromisso ético nos municípios não existe faxina que dê jeito nisso que está aí.

É onde entra Campinas. O assassinato de Toninho do PT teria tido relação à corrupção na prefeitura que ele estava lutando para interromper. Isso é o que diz a própria viúva do prefeito, que depois de eleito presidente Lula recusou-se a receber. A viúva também fala ago interessante na entrevista que citei acima, que é a possibilidade de Toninho do PT ter sido reeleito prefeito se não fosse morto. Bem, a quem interessaria um prefeito que, ao que parece, estava desmontando esquemas de corrupção?

A morte de Toninho do PT foi em setembro de 2001. No ano que mês vai completar dez anos. Desde então o PT tem impedido o aprofundamento da investigação. Na verdade nem quer saber do assunto. Se lá atrás o assunto fosse tratado com rigor, quem é que pode dizer que muita coisa de ruim não teria sido evitada para a cidade de Campinas?

Ainda hoje o crime é um trauma político na cidade. E é claro que a morte do prefeito foi um incentivo que os corruptos acolheram com imensa satisfação.

É essa forma de fazer política sem aprofundar assunto algum que faz crescer a corrupção no país. Especialmente quando é algum caso delicado que pode ter efeito negativo em carreiras políticas de chefões, os partidos buscam abafar os escândalos e evitar investigações sérias.

Foi isso o que aconteceu lá atrás em Campinas, uma das tantas cidades brasileiras que não pode prosseguir de forma equilibrada com sua vida política porque a corrupção impede. E agora, quando vereadores campineiros trabalhavam arduamente (a sessão de cassação durou 44 horas ininterruptas) para limpar sua cidade, o que o PT fazia? O de sempre: apoiava que era denunciado como corrupto.

O marketing tenta vender a imagem de Dilma como faxineira ética, mas o que seu partido e seus poderosos companheiros fazem é tentar esconder o lixo debaixo do tapete.

O partido vem acobertando a corrupção pelo país afora. Em muitas cidades brasileiras o que fazem é se aliar ao que tem de mais anacrônico na política, juntando-se inclusive ao que existe de pior em vários municípios brasileiros.

É o que o PT vem fazendo há muitos anos e repetiu agora no caso de Campinas. Faxina é lorota de marqueteiro: a história recente da nossa política comprova que o que esse pessoal vem produzindo de fato é lixo mesmo.
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POR José Pires

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