quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Da corrupção nasce a luz

A descoberta de uma quadrilha no ministério do Turismo serviu ao menos para mostrar que o ministério existe. Deve ter alguma atividade por lá, senão não daria para sumirem com os três milhões de reais que foram surrupiados. Na chamada Operação Voucher a Polícia Federal pegou Mário Moysés, que foi braço-direito de Marta Suplicy quando ela comandou a pasta em 2007 e deixou de marcante a recomendação do “relaxa e goza” para os brasileiros que sofriam nos aeroportos com o caos aéreo.

Não deve ter sido a intenção da PF, mas de certa forma a prisão do aliado de Marta democratiza a crise política do governo Dilma, de onde saem larápios por todos os lados. Quando metem no xilindró um corrupto do PT tão próximo dos maioriais do partido, está dado recado que não existe nenhuma discriminação com o PR e seus corruptos. Não, não existe uma peérrefobia no governo Dilma.

Marta andava toda serelepe, em campanha antecipada para a prefeitura de São Paulo. Não podia ver um microfone que desandava a falar do tanto que fez quando foi prefeita. Andava bem humorada e muito animada, mas agora amuou. Não pode ver jornalista que corre logo pro banheiro.

Estava tão relaxada que até gozava com perguntas encaixadas para serem embaraçosas. A um dos entrevistadores que lembrou que a vitória dela na eleição para a prefeitura paulistana acabaria dando seu mandato de senadora a um suplente do PR, a senadora disse em tom de piada que “talvez o PR até goste e a Dilma goste de ter uma pessoa do PR para recompor”. Marta estava impossível. Numa de suas falas para tentar convencer que é melhor que ela seja a candidata do PT e não o ministro Haddad como quer Lula, ela disse que Lula "andou com Dilma dois anos embaixo do braço".

A gente até concorda com isso. Lula realmente fez a vitória da sua candidata andando com ela por um bom par de anos embaixo do braço. A gente concorda com a Marta, mas nós somos oposição e a Marta não.

Uma entrevista foi na última quinta-feira, outra foi anteontem, mas em poucos dias a piada já mudou. E Marta com certeza não está achando graça nenhuma. O PR deve estar gostando da queda de Mário Moysés, que além de ter sido o braço-direito de Marta quando ela foi ministra, também é aliado de sempre, participando inclusive das campanhas eleitorais da senadora.

E como Moysés é do PT, pode servir muito bem para a presidente Dilma convencer os caciques do PR que não está de birra com o partido. É bobagem culpar este ou aquele partido. No governo Dilma a corrupção é extra-partidária.

Outra coisa muito útil que apareceu na Operação Voucher foi um dos presos pela PF, o secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva Costa, ensinando um empresário a montar uma entidade de fachada.

No áudio divulgado pela polícia, Costa dá umas dicas bem simples. "Pega um prédio moderno ai, meio andar, diz que tá com uma sede que está em construção, mas por enquanto", foi uma das orientações que ele deu para criar um ar de respeitabilidade numa empresa de fachada que estaria sendo montada para fazer negócios com o governo.

O secretário-executivo do ministério do Turismo dá também outras dicas, como a indicação de que a sede tinha que ser “uma coisa moderna que inspira confiança em relação ao tamanho das coisas que vocês estão fazendo”.

São descobertas que dão a impressão de que a corrupção vai se modernizando, com seus agentes buscando profissionalizar a atividade. Apesar dos ensinamentos terem um ar ainda um tanto tosco, a intenção do secretário-executivo com suas lições para uma boa falcatrua demonstra que existe espaço para a criação de um manual mais extenso aprofundando ensinamentos importantes para evitar crises que surgem quando corruptos são pegos no flagra pela imprensa ou pela Polícia Federal.

A feitura desse manual da boa corrupção pode ser uma excelente ocupação para a base aliada do governo Dilma, com o benefício inclusive de resgatar a união desses alicerces da governabilidade.
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POR José Pires

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