sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um estilo que o PT não esperava


Um dia ainda vamos saber a causa de ter dado errado o plano do PT em relação ao julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Os petistas vinham tranquilos até meses atrás quando afinal os juízes do STF resolveram encarar o processo. O melhor termômetro para notar que algo estava sendo arranjado para que pelo menos os maiorais não fossem condenados era o comportamento do ex-presidente Lula. Ele não demonstrava nenhuma preocupação. E o Lula só fica desse jeito quando o mundo está girando a seu favor. Do contrário ele fica azedo, deixa de falar com a imprensa, some do noticiário por semanas. E dizem que faz o cotidiano de seus subalternos virar um inferno, já que na intimidade ele não é essa doçura da propaganda. E Lula estava animado até os juízes começarem a se debruçar sobre o processo. Era todo prosa até mesmo quando um jornalista trazia o mensalão para a conversa.

Outro que demonstrou que os petistas tinham razões de sobra para serem otimistas quanto ao andamento do processo foi Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT. No final de 2005 ele chegou a dizer que o caso acabaria virando “piada de salão”. Apesar de transitar entre os graúdos do partido e ter um papel expressivo no esquema, Delúbio não faz parte da chefia. A razão de sua tranquilidade só podia ter por base o que ele deve ter ouvido nas altas rodas do partido e do governo.

Mas no STF o mensalão não está com cara de piada de salão. Então vem batendo o desespero nos petistas. Hoje Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência e que estava ao lado de Lula e José Dirceu quando o esquema foi descoberto, confessou que está de coração partido. Ao pedido dos jornalistas para que comentasse a situação complicada de José Dirceu ele respondeu: “A dor me impede de falar, neste momento, desta questão”.

Carvalho estava na abertura da exposição das obras do italiano Michelangelo Merisi Caravaggio, em Brasília. Caravaggio é um pintor do século XVI e início do XVII que ficou conhecido por colocar a verdade acima da beleza e foi bastante criticado pelos acadêmicos da época por procurar incorporar o gesto verdadeiro na pintura, em oposição às encenações que eram mais bem vistas pelas autoridades religiosas. Foi até censurado por isso, mas no final seu pensamento acabou prevalecendo e até contribuindo para a formação do que hoje é a Igreja Católica.

É claro que aqui já estou indo para uma interpretação pessoal. Não tenho dados para saber se Gilberto Carvalho conhece algo de Caravaggio. Ele podia estar na inauguração da exposição por mera formalidade. E apesar de ser um ex-seminarista, pode ser que ele não tenha prestado maior atenção a este grande pintor religioso. E Carvalho também não me parece um sujeito a quem a verdade emocione de maneira honesta.

Mas podemos relacionar a dor que ele sente à obra deste pintor do qual se conta que era um grande atrevido também em sua vida pessoal. Os petistas esperavam um STF que viesse com um formalismo que disfarça com rituais e maneirismos a falta de vigor para encarar a vida de forma realística e trazendo o mesmo padrão clássico que nunca toca com vigor verdadeiro nos atos humanos. O PT não estava preparado para uma Corte que neste julgamento do mensalão está mais para um Caravaggio.
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POR José Pires


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Imagem: Na impressionante tela de Caravaggio (pintada em 1600), São Tomé mete o dedo nas chagas de Cristo para crer que ele de fato ressuscitou.


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