Duas
mortes de personalidades de destaque na política mundial servem como
referência para uma questão importante no debate público: qual é o tom
aceitável de crítica diante da morte? Na morte do venezuelano Hugo
Chávez aconteceram alguns excessos, na confusão que alguns fazem entre a
análise da ação política do dirigente político e o ódio pessoal que
pode ser gerado pelo que ele fez. Agora, na morte da
ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, o clima ficou bem
mais pesado. A esquerda parece ter menos capacidade de conter os mais
abusados ou talvez não queira que haja moderação nem nas ocasiões
fúnebres.
Nas
redes sociais a militância azucrinadora vibra com a morte como se fosse
uma queda política de Tatcher e não sua ida pelo caminho que todos
deveremos seguir um dia. Da Inglaterra vieram fotos de ingleses
comemorando com champanhe. Repete-se uma grotesca euforia que vimos
também na morte de Chávez. Foi em dose muito menor, como eu já disse.
Não teve nem champanhe.
Mas
seja da direita ou da esquerda, são equivocos com o mesmo teor
espantoso de desumanidade e também do mesmo peso em ignorância política.
Mira-se na pessoa e não no que ela fez ou nos conceitos políticos e
morais que deixou como legado.
Comemorar
a morte de Chávez, de Thatcher ou de qualquer outro político não faz
sentido algum, antes de tudo pela desumanidade do gesto. E quanto aos
dois citados, suas obras estão completadas e isso é o que interessa.
Sobre a morte de Chávez é preciso até lamentar que ele tenha ido embora
sem arcar com as conseqüências do desastroso regime imposto na
Venezuela. E quanto à Margareth Thatcher, só alguém muito tolo pode
comemorar sua morte. Esta completou de fato sua obra, que acredito que
até o esquerdista mais ferrenho terá a obrigação de concordar que é
imensamente maior que a do venezuelano.
Concordando
ou não com o que Tatcher fez, seu legado transformou o mundo de uma
forma que nenhum outro governante realizou no final do século passado.
Comparável com as mudanças promovidas por ela só tem o que foi feito na
década de 80 por Mikhail Gorbachev, que resultou no desmantelamento do
comunismo na União Soviética. Não só por coincidência, foi em período
semelhante ao de Tatcher como primeira-ministra britânica. A derrocada
do comunismo deve-se também ao papel dela no mundo e essa é uma das
coisas que a esquerda não perdoará jamais. Outro que deu uma mãozona
para a direitização do mundo neste período foi o americano Ronald
Reagan, mas a marca liberal na economia mundial ficou mesmo por conta de
Thatcher.
Ela
viveu bastante para ver sua obra em andamento e influenciando a
economia do mundo. Foi tão sortuda que ainda teve a satisfação de ver
interpretando seu papel num filme de Holywood a grande atriz Meryl
Streep, que até ganhou um Oscar por isso. Quem abre champanhe para
celebrar a morte de Thatcher, na verdade está comemorando a própria
derrota.
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POR José Pires
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Imagem:
Margareth Thatcher em caricatura das mais ácidas feitas pelo grande
desenhista inglês Gerald Scarfe. Ela devora um adversário político, o
que foi usual durante seus anos de poder. Nem é preciso dizer o que
desenhista achava dela, não é mesmo? Scarfe é também autor dos
admiráveis desenhos que marcam o filme "The Wall", que Alan Parker fez
em 1982 com a banda inglesa Pink Floyd.
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