Por
conta das maracutaias em que se mete, o ex-presidente Lula acumula um
desgaste imenso em sua imagem. Tem muita coisa: a mudança da lei de
telecomunicações feita por ele para beneficiar uma transação entre
grandes empresas telefônicas, numa triangulação que acabou beneficiando
seu filho em um negócio de milhões; aconteceu o julgamento do mensalão,
com a condenação de seus amigos que acertavam os subornos a
parlamentares na sala ao lado da sua no Palácio do Planalto; a lista de
malfeitos (como eles dizem para amenizar) é bem grande; é uma longa
esteira de corrupção, que veio até ao governo da sucessora que ele fez
com um dedaço; por causa de corrupção, ela teve que demitir uma porção
de ministros indicados diretamente pelo ex-presidente; o golpe mais
recente no governo Dilma foi o da amiga íntima Rosemary Noronha, nomeada
a mando dele para o escritório da Presidência da República, onde ela e
um bando com cargos nomeados negociavam atestados falsos; foi neste caso
que ficou muito claro publicamente que Lula envolve seu poder político
até nas "amizades íntimas"; em Brasília já se comentava há muitos anos
que os dois eram amantes.
O
acúmulo de lama respingou bem alto na semana que passou, com o pedido
feito à Polícia Federal pela Procuradoria da República do Distrito
Federal para a apuração do envolvimento de Lula no esquema do mensalão,
que fez cair toda a cúpula do PT, envolvida em suborno de parlamentares
Tanto
desgaste exige que marqueteiros se virem para ao menos amenizar a
sujeira grossa. Daí o monte de encontros de Lula com personalidades
variadas, especialmente do mundo artístico. Ele teve reunião recente com
Bono, do U2, um cantor que felizmente nunca foi do meu gosto musical.
Bono é um tipo de artista que fatura bastante em auto-promoção fazendo o
papel de salvador dos pobres. Mesmo se não houvesse má fé de sua parte,
de qualquer forma o resultado não é nada digno.
Já
nesta semana o material de limpeza de imagem para se plantar na mídia
foi produzido em exposição do fotógrafo Sebastião Salgado, uma
retrospectiva de sua obra em Londres. Lula esteve lá e claro que o foco
dos jornalistas teve que ser o recente pedido para que a polícia dê uma
guaribada no que ele andou fazendo na época do mensalão. Ele se negou a
responder sobre o mensalão. E ainda bem que nada falou sobre fotografia,
um dos inumeráveis assuntos de que não entende nada.
Lula
foi à abertura da exposição à convite do próprio fotógrafo. Foi esta a
versão oficial para sua a presença, que acho lamentável. Sempre gostei
das fotos de Sebastião Salgado. Vejo nele uma alta qualidade técnica e
uma admirável disciplina profissional, algo sempre essencial em qualquer
arte e de muito peso na fotografia. A presença do ex-presidente na
exposição não é lamentável por ser o Lula. Podia ser o Fernando Henrique
Cardoso e ainda assim haveria um equívoco de Salgado. Mas é claro que a
forma que Lula foi encaixado no evento torna a coisa bem pior. É
evidente a intenção de destacar uma ligação política entre o político e o
artista, num período de sério desgaste de Lula. E na minha visão é
necessário uma separação nítida entre o compromisso político e a arte.
Mas
não é por isso que vou fazer como a militância azucrinadora e começar a
falar mal das fotografias de Salgado. Continuam boas, mas na carreira
do fotógrafo permanecerá esta nódoa. Ele ficou parecido com marqueteiro.
Em qualquer obra isso deixa sempre uma mancha negativa.
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POR José Pires
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Imagem: Lula e Sebastião Salgado posam para o fotógrafo oficial do ex-presidente, em imagem distribuída pelo Instituto Lula.
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