quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O bom negócio da censura

Roberto Carlos quer censurar mais um livro e desta vez não é uma biografia dele. Esta nova tentativa de censura vem ajudar a comprovar a necessidade da derrubada do artigo do Código Civil que permite a censura-prévia de livros no Brasil. Alegando invasão de privacidade os advogados do cantor entraram na Justiça para barrar "Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude". A publicação nasceu de uma tese de mestrado e trata da influência dos artistas sobre a juventude. E como o centro da obra é a Jovem Guarda é claro que tem que ter Roberto Carlos. No entanto a autora do livro, Maíra Zimmermann, disse que não há menção à vida íntima de nenhum artista. "Meu foco é a construção da cultura nos anos de 1960", ela disse. Roberto Carlos exigiu a retirada do livro do mercado.

O cantor já tem contrato assinado com a editora Leya para a publicação de uma biografia autorizada, prevista para daqui cinco anos. No projeto tem também um filme sobre sua vida. E dessa forma vai se esclarecendo que o plano de Roberto Carlos é limpar o mercado de qualquer conteúdo que faça concorrência comercial com um livro de propriedade dele que vem por aí. Dessa forma ele pode ter não só o controle sobre sua imagem como também ganhar muito mais. O mercado vai ser só dele. A jogada não é biografia autorizada, mas sim biografia exclusiva.

Não é surpresa este foco de Roberto Carlos nos negócios. Tem sido assim desde que ele apareceu na música brasileira e foi se impondo, sempre tendo por detrás uma grande força comercial, na qual se inclui especialmente a maior rede de emissoras de TV do país, a Rede Globo. A própria Jovem Guarda, objeto de estudo do livro que ele quer proibir, é uma criação publicitária, com todos seus lances criados por uma agência de propaganda, desde seu lançamento em 1965. Roupas, comportamento, tudo saiu da cabeça de publicitários, até mesmo o programa de TV que era apresentado pelo cantor. É óbvio que Roberto Carlos tem muita habilidade para compor sucessos populares, mas a máquina comercial sempre teve um peso tremendo na sua carreira. E foi também favorável aos seus interesses a ação da ditadura militar, que reprimiu artistas e impediu a transgressão de fato, permitindo e até incentivando rebeldes de fachada, que era seu papel na época. Temas assim é que de fato preocupam Roberto Carlos. Defesa da privacidade é só um despiste de seu real interesse.

O que o cantor quer é manter um controle sobre sua imagem construída e ter o benefício comercial exclusivo do lucro que vier disso. E está pouco ligando que suas ações judiciais afetem a liberdade alheia ou criem impedimentos para a publicação da biografia de qualquer outra pessoa e também livros de história, como já vem acontecendo. Não é de hoje que o cantor só tem um tema na vida: ele mesmo. De rei mesmo o que Roberto Carlos tem é apenas o ego.
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Por José Pires

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