terça-feira, 8 de outubro de 2013

Um político muito coerente

Um cuidado que é preciso tomar com a palavra "coerente" é que ela depende totalmente da atitude de quem sai por aí espalhando o autoelogio. Um exemplo significativo disso é Adolf Hitler, ele mesmo, o líder e criador do nazismo, que foi uma das pessoas mais coerentes que já passou pela face da Terra.

De vez em quando me aparece alguém com alguma teoria estrambótica acerca de Hitler, fazendo elaboradas teorias sobre supostas origens do grande mal que ele representou. Quase todas essas teorias pecam porque não contam com um traço de personalidade muito firme de Hitler: sua coerência.

Tudo o que ele fez na Alemanha e depois tentou impor ao resto do mundo está no livro "Mein Kampf", um documento muito claro sobre sua visão política e seus projetos como governante. Está lá inclusive o ódio absoluto pelos judeus. O livro foi publicado muito antes de sua subida ao poder, numa época que seria impossível prever que o cabo do exército que vinha de uma guerra perdida e pintor dos mais medíocres alcançaria a expressão política que conquistou.

Qualquer leitor sensato que pegasse o livro de Hitler logo que foi lançado suspeitaria do risco que havia do horror que de fato aconteceu depois. Bastava ponderar sobre a tragédia que seria o estabelecimento de um governo coerente com as ideias que autor colocou no papel. Mas acontece que "Mein Kampf" pode ser lido também como uma peça de ficção alucinada, onde impera o ódio e a desumanidade, de tal forma que indicava ser improvável que um político fosse capaz de formar um governo coerente com as barbaridades que estavam escritas ali. Mas Hitler fez isso. Afinal, ele era um político muito coerente.
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Por José Pires

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