quarta-feira, 5 de abril de 2017

Facebook, suas bolhas e falsidades


A Folha de S. Paulo fez uma entrevista com Campbell Brown, contratada pelo Facebook para atuar na área de jornalismo. Ela chefia um departamento com o estranho nome de “Parcerias Jornalísticas”. De início, seu serviço é o de descascar os baitas abacaxis criados pelo Facebook, como a proliferação de notícias falsas e tantas outras complicações. É provável que tenham planos para mais adiante, sendo duvidoso que essas ideias posteriores estejam fora do caráter monopolista do Facebook. Eles querem abraçar o mundo. Recentemente Mark Zuckerberg até estava dando entrevista dizendo que sua empresa tem um projeto de pesquisas que vai acabar com todas doenças. É sério. O egoísta não pretende deixar nem uma pereba para os concorrentes.

A chefe do “Parcerias Jornalísticas” teve uma conversa mamão com açúcar com a Folha. Ganhou a oportunidade de falar mais como relações públicas do Facebook, sem cobranças sérias acerca da responsabilidade de lidar com problemas graves criados mundo afora pela própria empresa que a contratou, notadamente no Brasil, onde, por sinal, os internautas dão uma importância ao Facebook muito acima de todos os outros países. Esse extremo apego dos brasileiros tem sua explicação, uma delas com o fato da popularização da internet em nosso país ter corrido em paralelo à marcantes transformações políticas. Outra é a subida do PT ao poder, servindo-se dessa plataforma como palanque do governo petista. Depois, o Facebook foi recebendo naturalmente a oposição de pessoas inconformadas com os desmandos, a roubalheira e a incompetência do triste ciclo de governos nesses 13 anos. E foi o quiproquó que todos conhecem.

Foi um tremendo azar que o PT tenha ido para governo exatamente no ponto em que a internet começava a alcançar alta popularização, inclusive com a entrada massiva do jornalismo impresso. O uso agressivo como instrumento partidário foi do pior tipo, com o ataque a adversários inclusive com notícias falsas, em níveis de manipulação nunca vistos na história recente do país a não ser na ditadura militar. Isso colaborou imensamente como estímulo ao crescimento deformado da internet brasileira, com o Facebook recebendo ainda com maior força este impacto negativo. Tem também o problema sério da baixa cultura do brasileiro. E não estou falando em escolaridade. Mesmo com pouca escolaridade, uma pessoa pode saber que deve agir com educação e respeito à opinião contrária. Mas quando segue uma cartilha ideológica não tem como o sujeito não ter mentalidade única.

Sem o embalo nocivo criado pelo uso do partido e pela máquina do governo do PT este espaço seria diferente. Mas é claro que ajudou muito no serviço sujo o hábito tradicional de grande parte dos brasileiros de ouvir e aceitar apenas o que é do seu interesse imediato. Isso facilitou a criação de um clima de intolerância que, primeiro afastou muita gente que realmente tinha algo a dizer e sabia como fazê-lo. E depois criou as chamadas “bolhas de informação”, problema internacional do Facebook, mas que acredito que afeta em dimensão maior e muito mais chata o Brasil. Campbell Brown tem isso também para resolver.

Essas "bolhas" de informação colocam os usuários acessados apenas a quem pensa de forma igual. Esse é um problema sério no Facebook, porque tecnicamente acaba por inviabilizá-lo como instrumento de informação. Conhecimento e debate sério, nem pensar. E claro que também não é um estímulo à inteligência manter-se cercado de amigos de Facebook apoiando a mesma coisa. Pode ser do gosto de caça-cliques, mas não tem sabor para quem tem interesse pela informação e o conhecimento e até o interesse naquilo que antigamente era chamado de amizade sincera. No âmbito do que ocorreu no Brasil, eu penso que essa uniformização de pensamento foi uma das encrencas criadas pelo PT, que atingiu o próprio partido e seu projeto de poder. O partido nunca detectou que o que viam como força era nada mais que concentrações de militantes em suas próprias bolhas. Deixaram de notar que a mensagem ideológica não saía dessas bolhas, havendo transferência mais ampla apenas na forma de conflitos. O que ficou para todos, no final, foi o contágio de mais uma herança maldita, neste caso na internet.
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POR José Pires

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