segunda-feira, 3 de abril de 2017

Separação mais que amigável

É de gargalhar a história do rompimento entre o presidente Michel Temer e o senador Renan Calheiros. O que não faz necessidade de encher espaço na internet. Os dois políticos são do PMDB e jamais foram formuladores de coisa alguma, a não ser de pressão e chantagem para a garantia de benefícios pessoais. Os dois são milionários. Renan é coronel político nordestino. De moderno tem apenas a etiqueta do que veste e nos modos em público. É um dos jagunços de Hermés, a perfeita definição que o grande jornalista Lucas Mendes deu a Fernando Collor, quando Collor ainda era paparicado pelas elites empresariais como estadista de larga visão. Foi na construção fraudulenta da imagem de Collor, por sinal, a origem também do poder pessoal de Renan.

Já o Temer é coronel do sudeste. Ficou rico na política. Na última eleição, como vice de Dilma Rousseff, sua declaração de renda mostrava que no oficial ele tinha mais dinheiro que todos os outros candidatos individualmente, os vices e cabeças de chapa. Fez carreira nos bastidores da política, com a habilidade de manter o comando interno de um partido, no caso o PMDB, que concentra todos os defeitos da política brasileira numa sigla só. No mercado de Brasília, o balcão do PMDB é o que garante maiores lucros. E lá, no controle do caixa, é que ele sempre esteve. Na vida e na política, o lado de Temer foi sempre onde ele podia tirar maior proveito — de Orestes Quércia a Lula, até usar o pescoço da pupila dele, Dilma, como escada para afinal ir para a ribalta, embora infelizmente no papel principal não consiga encantar a plateia com os velhos truques de bastidores.

Ambos foram bandidos providenciais, de utilidade para livrar o país do mal pior que foi o PT. No entanto, nenhum foi pego para estimação, como faz a esquerda com seus bandidos do peito. Renan e Temer atuam em conformidade com aquela teoria que dá completude sociológica à política brasileira: da farinha do mesmo saco. Então, como é que poderiam romper? De forma alguma. Estão no velho jogo, no qual cada um deles tem memorizada a marca de cada carta. Temer leva certa vantagem, agora com o poder executivo sobre o baralho, mas depende o tempo todo de um bom descarte de Renan para não sair do jogo. Não tem rompimento algum. É a antiga encenação de fingir que está saindo poder exigir um pagamento maior para ficar.
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POR José Pires

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