quinta-feira, 12 de julho de 2018

Passado e futuro se perdem na confusão da esquerda

Quanta doidice da esquerda brasileira, que acabou enroscada nesta confusão criada em torno da figura do ex-presidente Lula, um enredo destrambelhado sem amarração alguma e cuja falta de sentido colocou o pensamento de esquerda em níveis tão baixos que complica a credibilidade da sua própria história antes do PT chegar ao Governo Federal. Em razão do longo tempo de poder em anos recentes e também da ousadia própria dos idiotas, os petistas acabaram adquirindo um peso superestimado na história da esquerda brasileira, mas na verdade o PT é apenas um episódio nesta trajetória, embora não se possa negar o tremendo peso do partido do Lula na derrocada política e moral dessa esquerda e na construção de um conceito altamente negativo, que pode ser irremediável por muitos anos.

Estava pensando nisso outro dia, enquanto avaliava informações sobre a luta pela redemocratização do país e passava pelas páginas da imprensa alternativa da época da ditadura militar, revendo informações em bravas publicações como a revista Versus, os jornais Movimento, Opinião e o Ex, além de jornais mais abertos da então chamada "grande imprensa", como a Folha de S. Paulo e o Jornal do Brasil, que davam mais espaço para a criatividade, todos tão importantes na cronologia da construção do jornalismo moderno no país e da retomada da liberdade de expressão na história brasileira. Participei diretamente dessa história, trabalhando ainda jovem em algumas dessas publicações e conheci por experiência pessoal o valor da coragem e da criatividade daqueles jornalistas, fotógrafos, artistas e acadêmicos.

Foi uma história bonita, vigorosa, no entanto o discurso desconexo e oportunista da esquerda nesses últimos anos acabou misturando de tal forma os acontecimentos da época com fatos atuais que fica difícil estabelecer uma compreensão do que realmente foram aqueles tempos, especialmente no entendimento de equívocos na avaliação da geopolítica mundial naquele contexto anterior à queda do Muro de Berlim, além da falta de percepção sobre mudancas de comportamento, transformações para as quais tínhamos a mente tapada pela escuridão de então e a dificuldade de obter informações num país fechado ao conhecimento.

A juventude de hoje pode pensar que aquilo se dava exclusivamente em um clima de oportunismo político e de sentido autoritário, além da ladroagem, do aparelhamento político e da tremenda burrice, como é a cara atual da esquerda. É duro encarar a dificuldade que é restaurar a credibilidade do que fizemos na época, altamente prejudicada pelo mistureba conceitual, político e histórico feito por estes oportunistas amalucados e incompetentes liderados por este gatuno disfarçado de líder político que é o Lula.

Neste clima de ignorância perde-se a oportunidade de entender os valores da época, com os méritos e erros dentro de seu próprio contexto. Com isso, vai se agravando o tradicional desalinhamento da cabeça dos brasileiros que impede que tenhamos um sentido de história com uma ordem básica na avaliação do passado e do que está sendo feito no presente. E nem vou falar do futuro, pois com essa bagunça vai ficando cada vez mais difícil dar qualquer passo adiante.
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POR José Pires


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Imagem- Cartum meu para a capa do semanário Folhetim, da Folha de S. Paulo, de junho de 1978. Era época da ditadura. Que país era aquele?

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