terça-feira, 24 de novembro de 2020

A China lança um desafio perigoso para os bolsonaristas

Jair Bolsonaro e seus filhos tanto fizeram em afrontas contra a China, acompanhados nisso por figuras importantes do bolsonarismo, que acabaram obtendo uma reação muito firme e evidentemente oficial do governo chinês. A embaixada da China emitiu uma nota exigindo o fim das provocações ou enfrentarão “a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

O comunicado da embaixada foi feito em repúdio a um tuíte do deputado Eduardo Bolsonaro, em que o filho do presidente acusa a China de usar a tecnologia 5G para espionagem. O deputado apagou a postagem pouco depois de postá-la, mas o barulho internacional já estava criado. Nesses dias, Jair Bolsonaro andou falando em “pólvora”, pois depois de tanta azucrinação acabou tendo uma reação explosiva, vinda de um lugar que tem muita pólvora e onde aliás ela foi inventada. A ameaça da China é muito clara no comunicado, que cita diretamente o deputado filho do presidente, também conhecido como Eduardo Bananinha.

Leiam um trecho: “Eduardo Bolsonaro e algumas personalidades têm produzido uma série de declarações infames que, além de desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”.

E a embaixada continua: “Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica de extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e evitar ir longe demais no caminho equivocado. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

As encrencas que o governo de Jair Bolsonaro vem procurando provocar com a China acontecem desde antes da campanha para presidente, quando teorias da conspiração que envolvem o governo chinês tiveram um papel importante para estimular adesões de fanáticos, impulsionando sua candidatura entre os malucos de primeira hora que deram os empurrões iniciais na campanha que acabou sendo vitoriosa.

Já com o governo instalado, teve o caso de Abraham Weintraub, que fez piadas tolas com a forma de um chinês falar o português, usando para isso o personagem Cebolinha, de Maurício de Souza. Weintraub era ministro da Educação quando fez essa provocação idiota a um grande parceiro comercial do Brasil. Como é um tipo que tem a língua como órgão mais dominador que o cérebro, Weintraub criou também outras complicações no cargo, como a ameaça de prender todos no STF. Teve que partir para um exílio mais que dourado no Banco Mundial, onde ganha mais de 100 mil reais por mês.

Mas a coisa não parou nesses quase dois anos de governo, com a maledicência criando complicações ainda mais sérias depois que começou a pandemia do coronavírus, quando embalados pelo discurso de Donald Trump seguidores de Bolsonaro passaram a culpar a China pela proliferação da doença, chegando até a acusar o governo chinês de ter criado propositadamente o vírus. Foi a mais imprudente desfeita dos governistas, que dificilmente não provocará retaliação muito séria porque nenhum governo pode aceitar uma manobra que pode colar em um país o estigma de ter criado criminosamente uma peste.

Não estou dizendo que a nota da embaixada chinesa seja esta resposta, pois acredito que os bolsonaristas ainda terão a ocasião de receber um retorno mais firme a estas acusações muito graves. Mas por enquanto, a nota da embaixada chinesa já serve para conferir a coragem da tigrada da direita bolsonarista. Em linguagem dessa direita tosca, terão que ser muito machos para não afinar depois dessa.

Não é uma questão diplomática fácil de encarar e sua condução política é ainda mais delicada entre os seguidores do mito que esboroou. É impossível enfrentar o desafio chinês e ao mesmo tempo o recuo necessário vai prejudicar seriamente a relação do deputado desastrado e do governo de Bolsonaro com o chamado bolsonarismo de raiz.

É uma questão diplomática muito interessante e cairá bem para um grupo político que estupidamente vem tratando a política internacional como se fosse bate-boca de redes sociais. Embora seja preocupante quanto ao interesse do nosso país, esta reação chinesa pode ter um caráter profilático, saneando em parte a nefasta contaminação da influência muito idiota desta direita sobre a política brasileira e o debate nacional.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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