quarta-feira, 11 de novembro de 2020

As guerras desastradas de Jair Bolsonaro

Até aqui as bravatas de Jair Bolsonaro no campo da política internacional eram motivo de piada, mas agora a coisa ficou muito séria. O pior presidente que o Brasil já teve mandou pólvora nessa conversa. Ainda não está havendo convocação de reservistas, não deram início aos exercícios com a população civil para ataques aéreos, até porque a declaração de guerra aos Estados Unidos foi feita pelo ex-capitão de modo informal, mas foi brutal a ameaça aos americanos.

Nesta terça-feira, comentando a intenção de Joe Biden de aplicar aplicar sanções comerciais caso o Brasil não mude sua política ambiental, Bolsonaro disse que se não der pra resolver na “saliva”, “tem que ter pólvora”.

Vamos à fala do valente na íntegra: “Assistimos há pouco um grande candidato a chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas na diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos”.

A ameaça de conflito já se espalha pelo mundo. A Agência Reuters distribuiu a notícia do presidente brasileiro alertando Joe Biden que “diplomacy is not enough, there must be gunpowder” — “a diplomacia não é suficiente, é preciso pólvora”, na língua dos nossos bravos combatentes, comandados pelos generais bolsonaristas de pijama. Talvez Bolsonaro também conte com tropas de discípulos do guru Olavo de Carvalho, atualmente agrupado na Virgínia, de onde todos os dias dispara fake news pelo Twitter e pelo Facebook, atacando as fraudes contra o ídolo Donald Trump.

Destaque-se na declaração de guerra desse sujeito sem noção o trecho em que ele fala em “grande candidato a chefia de Estado”. Bolsonaro ainda não botou em sua cabeça dura que a partir de janeiro o presidente dos Estados Unidos será Joe Biden.

Ele meteu-se em uma jogada absolutamente contrária aos interesses do Brasil ao se envolver com a tentativa de tapeação de Donald Trump na eleição nos Estados Unidos. Desde que assumiu o cargo, por sinal, Bolsonaro vem contrariando normas básicas de relações internacionais, uma delas muito simples, que é pautar-se pelas regras e formalidades usuais entre as nações, sem acreditar que pode-se dar um jeitinho criando atalhos com supostas relações de amizade.

Eu poderia dizer inclusive que relações pessoais não contam especialmente com os Estados Unidos, país que não hesita em passar por cima de parceiros conforme manda sua conveniência, ressaltando que essa política de olhos nos olhos vale menos ainda com alguém como Trump, um sátrapa que não garante respeito pessoal nem para Melania, mas o fato é que independente de quem habita a Casa Branca, jamais se deve colocar questões pessoais onde decisões não obedecerão ao foro íntimo de nenhuma das partes.

E claro que é cinismo qualquer papo de relação pessoal que venha de um sujeito como Bolsonaro, conhecido por esfaquear pelas costas vários parceiros fundamentais para sua eleição. O caso dele com Trump foi apenas um golpe equivocado de um espertalhão mal informado, que conta inclusive com uma assessoria muito capaz de dar mais peso às suas decisões erradas.

Seu governo já está todo encrencado internacionalmente, com sérias dificuldades de relacionamento que envolvem países do nosso continente e vão até as complicações com a China, importante parceiro comercial que tem recebido de governistas de destaque até gozação com o sotaque de seu povo, além das graves acusações de que o vírus da pandemia é chinês.

Agora aparece esta declaração de guerra ao presidente eleito dos Estados Unidos, que, desconsiderando o que tem de ridículo na ameaça, não deixa de ser uma atitude de hostilidade, quando o que deveria estar sendo colocado em campo é o uso da diplomacia para consertar tantos desarranjos anteriores. Em linguagem militar, o momento é de construir pontes e não de dinamitá-las. Mas parece que não tem jeito. O bolsonarismo vive em estado de guerra contra o bom senso.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires



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