quarta-feira, 13 de agosto de 2008

É russo?

O escritor Alexander Soljenitsin morreu na semana passada, em 3 de agosto. Foi o grande denunciador do regime soviético, revelou os Gulags comunistas em uma literatura de altíssima qualidade. Perseguido, exilado, viveu o suficiente para ver o regime comunista sucumbir.

Teve tempo também de ver a sua Rússia dominada por gangues políticas e criminosas, sob o domínio da interminável era Putin. No domingo passado a Folha de S. Paulo trouxe uma interessante entrevista do escritor, publicada no ano passado no jornal The Independent. Na transcrição da Folha – como sempre, infelizmente, bastante cortada – tem um trecho em que há uma observação interessante para os dias de hoje, com a Rússia metida na invasão da Geórgia.

Soljenitsin falava da culpa do passado comunista soviético, buscando defender o povo russo de “críticas vindas de fora”. O escritor buscava também isolar a Nação da responsabilidade das lideranças políticas. Queria absolver os russos dos malfeitos do comunismo.

Dizia Soljenitsin o seguinte: “Não devemos atribuir os malfeitos de líderes ou regimes políticos individuais a um defeito inato do povo russo ou de seu país. Não devemos atribuir isso à ‘psicologia doentia’ dos russos, como freqüentemente é feito no Ocidente”.

Se Soljenitsin tem razão ou não quando à inocência do povo russo em relação aos crimes ocorridos no regime comunista é uma longa discussão, que exige tempo e muito mas espaço que o de um blog. Mas é fato que a liderança de Vladmir Putin leva ao fortalecimento da desconfiança do Ocidente de que um “defeito do povo russo e de seu país” é que incute na Rússia a agressividade vista tantas vezes e que agora ressurge na invasão da Geórgia.
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POR José Pires

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