A Comissão da Verdade foi instalada e me chama atenção uma foto publicada na internet, que traz à esquerda da imagem Marco Aurélio Garcia, o assessor especial para assuntos internacionais da presidente Dilma Rousseff e que ocupou o mesmo cargo nos dois governos de Lula.
Como a comissão traz a palavra verdade no nome, creio que cabe lembrar aqui algumas verdades. Nem vou buscar saber o que é que Garcia faz no meio do grupo de ex-presidentes que chega para a instalação da comissão. Mas a presença dele me trouxe algumas lembranças que fui conferir nos livros que tenho sobre a época da luta armada no Brasil.
Em 1971, com o desmantelamento dos grupos de esquerda que faziam a luta armada no Brasil vários de seus componentes correram para o Chile, o que foi uma desgraça para o governo de Salvador Allende. O presidente chileno, que acabou sendo derrubado por um golpe militar em setembro de 73, já tinha muitos problemas internos causados pela extrema esquerda chilena. Receber esta leva de brasileiros em fuga de seu país depois da tentativa de tomar o poder pelas armas só ajudaria a engrossar as fileiras da militância extremista chilena que tinha dificuldade em aceitar o pragmatismo político exigido na situação do Chile.
Um dos movimentos mais radicais era o MIR chileno, dito Movimiento de Izquierda Revolucionária. O MIR aprontava ações extremistas o tempo todo, criando um clima político que fortalecia o golpismo da direita chilena e dos militares. Este MIR é o mesmo que depois veio ao Brasil fazer o sequestro de Abílio Diniz exatamente na época da nossa primeira eleição direta para presidente, em 1989. Mesmo dizendo-se prejudicado pela ação, o PT estranhamente sempre tratou com a maior solidariedade os sequestradores, que depois foram presos. Esta é uma daquelas histórias do PT que jamais foram bem explicadas.
Mas, voltando às ações do MIR, vários participantes brasileiros da luta armada foram se incorporar a esta organização extremista no Chile, depois de saírem corridos do Brasil. Ou seja, como se não bastassem os problemas criados por eles para a oposição democrática em seu país, os extremistas brasileiros foram se meter nas questões internas do Chile, que vivia então um período altamente crítico, tão grave que teve como consequência o sangrento golpe militar comandado pelo general Augusto Pinochet.
Pois Marco Aurélio Garcia foi um dos brasileiros que se incorporaram ao MIR. Sabe-se pouco o que ele aprontou por lá, mas o que ficou claro é que ele e seus companheiros do MIR eram apenas bravateiros que bagunçavam no governo de Allende, pois não mostraram capacidade militar alguma para a resistência ao golpe que acabou acontecendo.
A presença de Marco Aurélio Garcia na instalação daComissão da Verdade reforça, portanto, este significado de que a credibilidade da comissão depende da investigação profunda de todos os lados dessa página muito ruim da nossa história. Direita e esquerda cometeram excessos e também seus crimes, que não podemos analisar apenas tendo em vista a violência de fato, mas também em relação à violência contra a democracia no Brasil, que acabaria sendo vitimada caso houvesse a vitória da luta armada de esquerda.
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POR José Pires
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Como a comissão traz a palavra verdade no nome, creio que cabe lembrar aqui algumas verdades. Nem vou buscar saber o que é que Garcia faz no meio do grupo de ex-presidentes que chega para a instalação da comissão. Mas a presença dele me trouxe algumas lembranças que fui conferir nos livros que tenho sobre a época da luta armada no Brasil.
Em 1971, com o desmantelamento dos grupos de esquerda que faziam a luta armada no Brasil vários de seus componentes correram para o Chile, o que foi uma desgraça para o governo de Salvador Allende. O presidente chileno, que acabou sendo derrubado por um golpe militar em setembro de 73, já tinha muitos problemas internos causados pela extrema esquerda chilena. Receber esta leva de brasileiros em fuga de seu país depois da tentativa de tomar o poder pelas armas só ajudaria a engrossar as fileiras da militância extremista chilena que tinha dificuldade em aceitar o pragmatismo político exigido na situação do Chile.
Um dos movimentos mais radicais era o MIR chileno, dito Movimiento de Izquierda Revolucionária. O MIR aprontava ações extremistas o tempo todo, criando um clima político que fortalecia o golpismo da direita chilena e dos militares. Este MIR é o mesmo que depois veio ao Brasil fazer o sequestro de Abílio Diniz exatamente na época da nossa primeira eleição direta para presidente, em 1989. Mesmo dizendo-se prejudicado pela ação, o PT estranhamente sempre tratou com a maior solidariedade os sequestradores, que depois foram presos. Esta é uma daquelas histórias do PT que jamais foram bem explicadas.
Mas, voltando às ações do MIR, vários participantes brasileiros da luta armada foram se incorporar a esta organização extremista no Chile, depois de saírem corridos do Brasil. Ou seja, como se não bastassem os problemas criados por eles para a oposição democrática em seu país, os extremistas brasileiros foram se meter nas questões internas do Chile, que vivia então um período altamente crítico, tão grave que teve como consequência o sangrento golpe militar comandado pelo general Augusto Pinochet.
Pois Marco Aurélio Garcia foi um dos brasileiros que se incorporaram ao MIR. Sabe-se pouco o que ele aprontou por lá, mas o que ficou claro é que ele e seus companheiros do MIR eram apenas bravateiros que bagunçavam no governo de Allende, pois não mostraram capacidade militar alguma para a resistência ao golpe que acabou acontecendo.
A presença de Marco Aurélio Garcia na instalação daComissão da Verdade reforça, portanto, este significado de que a credibilidade da comissão depende da investigação profunda de todos os lados dessa página muito ruim da nossa história. Direita e esquerda cometeram excessos e também seus crimes, que não podemos analisar apenas tendo em vista a violência de fato, mas também em relação à violência contra a democracia no Brasil, que acabaria sendo vitimada caso houvesse a vitória da luta armada de esquerda.
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POR José Pires
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Imagem: Na instalação da Comissão da Verdade, Marco Aurélio Garcia e a presidente Dilma Roussseff, dois participantes da luta armada num período de trevas do país. A foto foi distribuída pela comunicação da Presidência da República.
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