quinta-feira, 14 de maio de 2015

Queimando o próprio filme

Seja qual for o resultado da votação pelo Senado na semana que vem do nome de Luiz Edson Fachin como novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a indicação feita pela presidente Dilma Rousseff já fez uma vítima política importante: o senador Álvaro Dias, do PSDB. O senador paranaense é o relator da indicação de Fachin, de quem vem fazendo uma defesa que está além de seu papel oficial no exame do candidato à vaga de Joaquim Barbosa. A presença de Dias nesta função já é bastante estranha, além de ser extremamente inoportuna para a situação atual de seu partido, que precisa se firmar politicamente frente a um eleitorado cada vez mais indignado com o governo do PT. Nunca se viu um relator da oposição para um serviço como este. E a credibilidade do senador tucano acaba sendo ainda mais afetada pelo fato dessa indicação ser definidora na ampliação do domínio do PT sobre a mais alta corte do país.

Não será um Fachin que dará menos credibilidade a um tribunal que já tem como ministro um Dias Toffoli, advogado tão próximo do esquema de poder petista que já havia até dividido apartamento com o mensaleiro José Dirceu, além de ter sido empregado do partido. Mas esta indicação de agora parece ter simbolizado a consagração do mando petista sobre o STF. É isso pelo menos o que pensa uma parcela expressiva da opinião pública, composta por gente bastante preparada e muito ligada ao debate político nacional. É um vigoroso setor da oposição, com bastante influência inclusive na internet e de atividade intensa nas redes sociais. Aliás, foi essa resistência cotidiana de milhares de pessoas à frente da tela do computador que abriu espaço para a credibilidade e o prestígio de políticos como Alvaro Dias.

Pois é exatamente contra essas pessoas que o senador tucano vem atuando agora, com essa estranha relatoria de uma indicação da qual ele virou até cabo eleitoral. Em discurso na abertura da sabatina desta terça-feira, o senador tucano situou os críticos de Fachin no campo da "irracionalidade, ignorância, vaidade, ódio, esquizofrenia política" além de dizer que eles estão distantes "do bom senso, do discernimento e da ponderação". É muita coisa, não é mesmo? E a ironia histórica é que enquanto disparava tanto insulto contra pessoas a quem deve muito politicamente, tinha ao seu lado tipos como seu arqui-inimigo Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann, senadora petista que sofre pesadas acusações de corrupção na operação Lava Jato.

Esse Fachin deve ser muito precioso, não é mesmo? Essa posição do senador que já foi um ativo oposicionista irá obrigá-lo a encarar uma realidade muito diferente diante de seus antigos admiradores. Sua imagem já foi pro buraco e certamente acabou para ele o trânsito fácil entre os internautas, que facilitava tanto sua carreira política. Os efeitos já podem ser sentidos. Já ficou muito difícil sua aceitação dentre esta parcela da opinião pública que atualmente é bastante ativa na oposição ao governo do PT. Isso já dá para ver na página de Facebook do senador, que foi tomada por milhares de comentários atacando sua posição. Além da indignação que é exposta em posts com qualquer assunto, está havendo também uma evasão impressionante na página. De terça-feira para cá (quando marquei o número de curtidas na página), Álvaro Dias perdeu 4 mil seguidores. E mais do que a perda do grande número de curtidas, ele tem motivos para temer o que esses internautas farão de agora em diante com sua imagem política.
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POR José Pires

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