Foram tantas mortes nas últimas semanas e ocorridas de forma tão horrorosa que passou quase desapercebida a morte a tiros de duas pessoas no dia 2 de janeiro em Assunção, no Paraguai. Para mim, este crime tem muito a ver com a condição da maioria dos brasileiros, nós que estamos totalmente de fora da bandidagem. O fato é que acabamos todos no meio do fogo cruzado criado pelo caos na segurança pública, de responsabilidade dos nossos vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e do presidente da República. Nesta situação, uma pequena desatenção ou às vezes apenas o fato de estar casualmente no lugar errado pode ser fatal.
O crime de que estou falando tem relação com um atentado impressionante que ocorreu também no Paraguai contra o narcotraficante Jorge Rafaat, em junho de 2016. Ele foi morto em Pedro Juan Caballero, a menos de 500 metros da fronteira com o Brasil. Estava em um carro blindado, que não resistiu ao armamento de guerra usado pelos assassinos, uma metralhadora ponto 50, como o poder de derrubar aviões. Rafaat dominava até então o tráfico na fronteira do Brasil com o Paraguai. O suspeito de mandar matá-lo é o brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, que está preso no Paraguai, respondendo por outro crime. As duas pessoas que morreram na entrada do Ano Novo foram Pablo Jacques Silveira, de 41 anos, e sua namorada Millena Soares, de 26 anos. Silveira tinha ligação com o criminoso preso no Paraguai, atuando como empresário. Já Millena nada tinha a ver com o que causou sua morte. Era só uma moça feliz por ter arrumado um namorado que parecia bacana.
A jovem é de Dourados e estudava medicina em uma faculdade da região. Conheceu Silveira dias antes do atentado e estava com ele a passeio no Paraguai, onde passaram o Ano Novo na companhia da irmã dela. No dia 2 eles foram metralhados na caminhonete de Silveira. A irmã de Mirella estava no banco de trás e foi a única que sobreviveu. Os assassinos ocupavam outros dois veículos e eram brasileiros, o que foi possível saber por eles terem falado rapidamente com a irmã de Millena. Eles estavam atrás apenas de Silveira, tanto é que Millena morreu com um único tiro na cabeça e ele recebeu trinta tiros. Pouparam também a irmã, apesar do contato verbal feito com ela.
Mas o que é que nós temos a ver com tudo isso? Bem, primeiro que esse fato não é isolado, como costuma raciocinar aquele ministro que gosta de cortar pé de maconha com facão e tampouco foi um acidente, ainda que tenha sido pavoroso. Essa guerra não é só do Paraguai. Em junho, a morte do chefão do narcotráfico permitia prever as consequências que agora podem ser vistas nos massacres recentes, inclusive na morte do casal de brasileiros em Assunção. Já faz tempo que o mundo do crime aterroriza diretamente o cotidiano de milhões de brasileiros mais pobres. Pois preparem-se para conviver com este drama no dia-a-dia da totalidade do país.
Outro fato que nos liga à esta questão é a situação da jovem Millena. Ela nada tinha a ver com a guerra entre os criminosos. Na verdade, morreu só por estar no lugar errado. E do jeito que vai o Brasil, hoje em dia qualquer um de nós pode também se machucar seriamente, mesmo sem ter envolvimento emocional com bandido. Com a insegurança criada nos 13 anos de governo do PT e agora com a incompetência do governo Temer em lidar com essa herança maldita, o perigo fez morada permanente em qualquer esquina brasileira. Como o pessoal costuma dizer nas redes sociais, por mais que nos cuidemos, somos todos Millena.
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POR José Pires
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